É amanhã dia um de Agosto
E tudo em mim é um fogo posto
Sacola às costas, cantante na mão
Enterro os pés no calor do chão
Até daqui a duas semanas!
Já o chamaram "príncipe do Afro Beat". O monarca, hoje com 42 anos, tem de facto prosseguido o trabalho diplomático de levar o género estabelecido pelo seu pai, Fela Kuti, ao contacto com outras formas de música, nomeadamente a soul, a electrónica de dança ou o hip hop. As paisagens do reino são já muito diferentes daquelas deixadas pelo anterior soberano, mas a agenda política continua carregada de denúncias e espera-se, no sábado, que os quentes ritmos africanos se misturem da melhor forma com o habitual fogo de artíficio, que em clima de festa marcará mais uma vez a despedida do Castelo de Sines desta edição do festival.
Mali. Terra dos "griots", a casta de músicos e poetas que de geração em geração, desde há séculos, transmite a cultura e o saber de um povo. A jovem Rokia Traoré (27 anos) é mais um nome forte da música maliana, a juntar aos de Salif Keita, Mory Kanté, Ali Farka Touré, entre outros. O seu trabalho de fusão com os sons do mundo tem sido reconhecido no Ocidente, com a crítica -- caso da BBC e da Folk Roots, por exemplo -- a colocar os seus discos no topo das listas dos melhores do ano.
Klezmer e Cuba juntos? O baterista e percussionista Roberto Juan Rodriguez conhece desde cedo ambos os mundos, mas foi a partir de 1998 e da sua participação nos Cubanos Postizos de Marc Ribot que veio a associar-se ao círculo artístico judaico de Nova Iorque que gravita em redor da figura do saxofonista John Zorn, com o qual veio aliás a colaborar, em 99, no disco "Music & Romance, vol.2: Taboo and Exile". Em 2001 chegaria o álbum do seu grupo, "El Danzón de Moises", editado pela Tzadik de Zorn, que este ano voltou a apadrinhar o músico, com o lançamento de "Baila! Gitano Baila!".
É a terceira vez que David Murray (saxofone tenor e clarinete baixo) pisa o palco do Festival de Sines. E se nas anteriores ocasiões foi o casamento entre o jazz e as músicas de Cuba e da África do Sul que ali levou, é com os sons de Guadalupe, rica nos ritmos dos tambores "ka", que se realizará a cerimónia. O cúmplice de Murray em palco será o saxofonista Pharoah Sanders. Os dois juntam-se aos músicos caribenhos para este projecto de fusão designado "Creoule".
Antônio José Santana Martins, 67 anos, é o grande cabeça-de-cartaz da edição 2004 do Festival de Músicas do Mundo de Sines. Foi um dos "tropicalistas" que em 68, juntamente com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e os Mutantes, entre outros, deu ao mundo uma das maiores obras-primas da música brasileira, "Tropicália ou Panis et Circenses". Experimentalista genuíno, inventor de instrumentos musicais vanguardistas (como o "sampler" artesanal construído com gravadores de cassette e campaínhas das portas), Tom Zé não veio a encontrar durante as décadas seguintes o mesmo reconhecimento nacional e internacional que os seus parceiros "tropicalistas" teriam. Em 1989, porém, tudo muda. O ecléctico David Byrne descobre Tom Zé, que se torna um dos primeiros artistas e uma das figuras fundamentais da história da sua editora, a Luaka Bop. O mundo e o próprio Brasil conhecem a partir de então, finalmente, o génio imenso de Tom Zé. Surgem as digressões internacionais, que o trazem a Portugal na companhia de David Byrne, por exemplo (um inesquecível concerto, ainda que curto, durante a Expo'98). Começa a surgir também o interesse de outros músicos em trabalhar com o bahiano, como naquela vez em que os Tortoise serviram de banda de suporte da sua digressão de 1999 pelos EUA.
Ah, trupe maldita de hereges! Os Warsaw Village Band encaixam naquela definição a que frequentemente se alude em grupos como os Hedningarna ou, no caso português, os Gaiteiros de Lisboa: os inteligentes violadores de tumbas. Que quer isto dizer? Quer dizer que há no trabalho dos WVB uma vontade patente de descobrir e perceber tradição, de recuperar a música e os sentimentos mais profundamente enraizados na história da cultura polaca, de trazer esses ensinamentos até hoje e fazer com que hoje se ouça, se sinta, se dança a algo que não cristalizou no tempo, respeitando-se ou, em alternativa, sendo-se subtilmente maroto para com o passado. Os WVB foram a "Revelação" para os BBC3 World Music Awards deste ano.
Começa hoje, em Lisboa, uma das mini-digressão mais esperadas do ano. Lhasa, ou como agora lhe chamam, Lhasa de Sela, sobe esta noite ao palco do Forum Lisboa (antigo cinema Roma) para apresentar o seu segundo álbum, "The Living Road". A cantora, que nasceu nos EUA, já viveu no México e mantém desde há algum tempo residência em Montréal, no Quebeque, surpreendeu o mundo em 1997 com "La Llorona", magnífica obra-prima cantada em espanhol que arrebatou paixões tanto entre os aficcionados das músicas do mundo como no meio pop alternativo. Depois de alguns anos de silêncio, seguiu-se "The Living Road", onde Lhasa já utiliza também o francês e o inglês, mantendo-se fiel ao estilo ecléctico e apaixonante que lhe conhecíamos. A não perder (se ainda houver bilhetes), a partir de hoje:
Os Birthday Party de Nick Cave, Mick Harvey, Tracy Pew e Rowland Howard, entre outros, foram buscar o seu nome a uma peça do dramaturgo Harold Pinter. "Birthday Party" foi escrita em 1957 e recebeu o título português "Feliz Aniversário" quando, dez anos mais tarde, estreou em Portugal (ver programa ao lado).
Não, o nome dos White Stripes não vem dos uniformes dos reclusos de há 100 anos, como sugeria a charada de hoje, mas sim dos rebuçados de hortelã-pimenta/mentol, que geralmente têm a cor vermelha, traçada por riscas brancas, conforme mostra a imagem. É também esta a razão que leva Jack e Meg White a vestirem-se de vermelho e branco sempre que aparecem em público.