quarta-feira, 28 de julho de 2004

Estimados clientes, estamos encerrados para férias

O juramento vai uns dias para Sines e outros para a serra do Soajo. Até lá, tenham cuidado com o calor, com os mosquitos do Nilo e com o XVI Governo Constitucional. Aproveitem os festivais de Sines, de Sendim, de Carviçais, do Sudoeste, Andanças, etc. Se tiverem o azar de ficar por Lisboa, não percam neste próximo sábado os Suicide (será possivelmente a última digressão do duo) e desfrutem mais uma edição do Jazz em Agosto, na Gulbenkian.

É amanhã dia um de Agosto
E tudo em mim é um fogo posto
Sacola às costas, cantante na mão
Enterro os pés no calor do chão


Até daqui a duas semanas!

De onde raio é que vem o nome? #19: Black Flag

(A propósito da charada de hoje, aqui fica a explicação.)
O nome dos Black Flag, o primeiro grupo importante (e, como diriam muitos, o único) de Henry Rollins, é uma referência explícita às bandeiras pretas que são, desde o século XIX, um dos principais símbolos das manifestações anarquistas.

Isto sim, é um blogue

hitdabreakz.blogspot.com/

«No hit da breakz escreve-se sobre diggin'. Para os apaixonados de Hip Hop e todas as outras formas de música onde a colagem desempenha um papel importante. Sejam bem vindos a um mundo de breaks, samples, holy grails e assuntos similares!»

Força, garimpeiros!

A caminho de Sines #9

Actividades paralelas:

FMM na capela
Junto ao Castelo de Sines, a Capela da Misericórdia (mesmo junto ao castelo) volta a acolher um conjunto de eventos integrados na programação do festival. Na verdade, o programa da capela já começou no passado sábado, com a exibição do filme "A Minha Casa", um documentário holandês sobre Cristina Branco e Custódio Castelo. Foram já exibidos, entretanto: "Saudade do Futuro", sobre a vida de músicos de São Paulo; "Gadjo Dilo", o filme de Tony Gatlif com ciganos da Roménia; e "Tom Zé, ou Quem Vai Colocar Dinamite na Cabeça do Século". Hoje, às 21h30, é a vez de "Morabeza", que retrata a vida e música dos cabo-verdianos em Portugal. Nos próximos dias terão lugar as chamadas "conversas", com David Murray (amanhã), Tom Zé (na sexta-feira) e Roberto Juan Rodriguez (no sábado). Sempre às 17h. Há também dois concertos programados para a capela: Vítor Gama, com o seu projecto Pangeia Instrumentos (sexta-feira) e os também portugueses München (sábado). Ambos os concertos estão marcados para as 18h30.

FMM after-hours
A grande novidade deste ano é a inclusão de um programa paralelo de animação junto à praia, na avenida Vasco da Gama, numa estrutura montada abaixo do castelo onde têm lugar os principais espectáculos. Para ali estão programados concertos e sessões de deejaying, que terão lugar antes e depois dos concertos do castelo, até altas horas da madrugada:
Quinta-feira
[dj - 19-21h] a confirmar
[dj - após Warsaw VB] a confirmar
[ao vivo - 1h30] Di Grine Kuzine (Alemanha)
[dj] a confirmar

Sexta-feira
[dj - 19-21h] Nuno Domingos
[dj - após Tom Zé] Ricardo Pita
[ao vivo - 2h30] Nike Ensemble (Portugal)
[dj - após Nike] Raquel Bulha vs Luís "Yggdrasil" Rei

Sábado
[dj - 19-21h] Luís Patta
[dj - após Femi Kuti] Pedro Marques
[ao vivo - 2h30] Refilon (Portugal/Cabo Verde)
[dj - após Refilon] Mário Dias vs Vítor Junqueira (quê? este gajo? já não vou!)

Recorde

O juramentosembandeira.blogspot.com já ultrapassou os quatro mil "unique visitors" neste mês de Julho. É um recorde em termos de meses. Até agora era Abril que tinha tido mais "unique visits", com 3653.

Isto é pior que o futebol...

1) Ricardo Casimiro prepara concerto (reserva de sala, eventual início de comunicação, etc.);
2) O dito concerto não vai para a frente;
3) A Música no Coração pega no concerto.

Já perdi a conta às vezes que assisti a esta situação... Agora voltou a acontecer com a Madonna.
A propósito de Madonna, os bilhetes do espectáculo serão colocados à venda com preços entre 61 e 151 euros... (não acreditam? vejam aqui) Ainda se fosse entre 60 e 150 euros... Agora o euro a mais é que nos lixa as contas... :>

Charadas #37

A caminho de Sines #8

Castelo de Sines
Sábado, 31 de Julho, 00h30
Nome: FEMI KUTI
Origem: Londres / Lagos
Discografia: "Femi Kuti" (95), "Femi Kuti and the Positive Force" (96), "Shoki Shoki" (99), "Fight to Win" (2001), "What Tomorrow Will Bring" (2002)
Site: www.femikutimusic.com
Barómetro de ansiedade: 2/5

Já o chamaram "príncipe do Afro Beat". O monarca, hoje com 42 anos, tem de facto prosseguido o trabalho diplomático de levar o género estabelecido pelo seu pai, Fela Kuti, ao contacto com outras formas de música, nomeadamente a soul, a electrónica de dança ou o hip hop. As paisagens do reino são já muito diferentes daquelas deixadas pelo anterior soberano, mas a agenda política continua carregada de denúncias e espera-se, no sábado, que os quentes ritmos africanos se misturem da melhor forma com o habitual fogo de artíficio, que em clima de festa marcará mais uma vez a despedida do Castelo de Sines desta edição do festival.

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Errata

Obviamente, os concertos de Rokia Traoré e de Roberto Rodriguez em Sines, serão no próximo sábado, 31 de Julho, e não na sexta, 31 de Julho, como aparecia antes nas antevisões dos respectivos espectáculos. Copiar modelos dá azo a que coisas destas aconteçam...

terça-feira, 27 de julho de 2004

A caminho de Sines #7

Castelo de Sines
Sábado, 31 de Julho, 23h00
Nome: ROKIA TRAORÉ
Origem: Mali
Discografia: "Bowmboï", "Wanita", "Mouneïssa"
Site: www.rokiatraore.net
Barómetro de ansiedade: 3/5

Mali. Terra dos "griots", a casta de músicos e poetas que de geração em geração, desde há séculos, transmite a cultura e o saber de um povo. A jovem Rokia Traoré (27 anos) é mais um nome forte da música maliana, a juntar aos de Salif Keita, Mory Kanté, Ali Farka Touré, entre outros. O seu trabalho de fusão com os sons do mundo tem sido reconhecido no Ocidente, com a crítica -- caso da BBC e da Folk Roots, por exemplo -- a colocar os seus discos no topo das listas dos melhores do ano.

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

A frase do dia

«A vida é um circo e nós somos as focas sem sindicato e sem hora de refeição.»

Foi o povd que a deixou um pouco abaixo, nas considerações a propósito da política cultural da CML. Estiveste bem, pá.

A caminho de Sines #6

Castelo de Sines
Sábado, 31 de Julho, 21h30
Nome: SEPTETO ROBERTO RODRIGUEZ
Origem: Cuba/EUA
Discografia: "El Danzón De Moises" (2001), "Baila! Gitano Baila!" (2004)
Barómetro de ansiedade: 4/5

Klezmer e Cuba juntos? O baterista e percussionista Roberto Juan Rodriguez conhece desde cedo ambos os mundos, mas foi a partir de 1998 e da sua participação nos Cubanos Postizos de Marc Ribot que veio a associar-se ao círculo artístico judaico de Nova Iorque que gravita em redor da figura do saxofonista John Zorn, com o qual veio aliás a colaborar, em 99, no disco "Music & Romance, vol.2: Taboo and Exile". Em 2001 chegaria o álbum do seu grupo, "El Danzón de Moises", editado pela Tzadik de Zorn, que este ano voltou a apadrinhar o músico, com o lançamento de "Baila! Gitano Baila!".

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Charadas #36


segunda-feira, 26 de julho de 2004

É esta a política cultural deles

A EGEAC -- a empresa municipal de Lisboa que gere as actividades culturais, na sequência da extinção da EBHAL -- vai continuar com concertos no anfiteatro Keil do Amaral, com entrada livre, repito, com entrada livre. Vejamos então o calendário dos espectáculos que se seguem, retirado da cotonete:

31/Julho - Mafalda Veiga
4/Agosto - David Fonseca e Orquestra das Beiras
14/Agosto - Mariza
21/Agosto - Pedro Abrunhosa e os Bandemónio
26/Agosto - João Pedro Pais
2/Setembro - Camané
11/Setembro - Toranja e Da Weasel
18/Setembro - Gabriel o Pensador
25/Setembro - Orquestra Gulbenkian

É só artistas novos, não é? É só artistas pouco consagrados, daqueles que convém dar a conhecer ao povo, não é? Nunca nenhum privado, mesmo com apoios públicos, produziria concertos destes tipos, pois não? Convenhamos, seria um risco demasiado elevado, não seria?
É a isto que estamos entregues...

O melhor ska revival de sempre?

Quando se fala no revival do ska -- leia-se ska bife -- fala-se nos Specials e na sua 2-Tone. Há quem fale ainda, se não entrar pelos meandros do underground, nos Madness, nos Selecter ou, ainda pior, nos The Beat. Mas se o primeiro disco dos Specials é um clássico, há porém uma banda norte-americana -- por sinal, fundanda por um inglês -- que viria a fazer um disco à altura, anos mais tarde, porventura caído na obscuridade, fosse pela nacionalidade do grupo, fosse pela data de lançamento:



The Toasters "Skaboom!" (Moving Target, 1987)

(é daqueles discos que vos fazem passar vergonhas quando são apanhados a dançar sozinhos em frente à aparelhagem...)

A caminho de Sines #5

Castelo de Sines
Sexta-feira, 30 de Julho, 23h
Nome: DAVID MURRAY + PHAROAH SANDERS
Origem: EUA (+Guadalupe)
Barómetro de ansiedade: 3,5/5

É a terceira vez que David Murray (saxofone tenor e clarinete baixo) pisa o palco do Festival de Sines. E se nas anteriores ocasiões foi o casamento entre o jazz e as músicas de Cuba e da África do Sul que ali levou, é com os sons de Guadalupe, rica nos ritmos dos tambores "ka", que se realizará a cerimónia. O cúmplice de Murray em palco será o saxofonista Pharoah Sanders. Os dois juntam-se aos músicos caribenhos para este projecto de fusão designado "Creoule".

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Ah, já cá faltava

Mais dois cancelamentos:

- Esposende Dance Fest (o festival que vinha substituir o CBT)
- Howe Gelb em Paredes de Coura

er... ops...

Entusiasmei-me com o Tom Zé e esqueci-me que, pelo meio, antes do seu concerto e depois do da Savina Yanatou, há David Murray com Pharoah Sanders...
Não faz mal. Faz-se uma pequena troca nas apresentações.

A caminho de Sines #4

Castelo de Sines
Sexta-feira, 30 de Julho, 00h30
Nome: TOM ZÉ
Origem: Brasil, Bahia
Discografia: "Tom Zé" (68), "Tom Zé" (70), "Tom Zé/Se o Caso é Chorar" (72), "Todos os Olhos" (73), "Estudando o Samba" (76), "Correio da Estação do Brás" (78), "Nave Maria" (84), "The Best of Tom Zé" (90), "The Hips of Tradition" (92), "Tom Zé" (94), "Prestígio 7" (94), "20 Preferidas - Tom Zé" (97), "Parabelo" (97), "No Jardim da Política" (98), "Com Defeito de Fabricação" (98), "Postmodern Platos" (99), "Imprensa Cantada" (99), "Jogos de Armar - Faça Você Mesmo" (2000), "Santagustin" (2002), "Imprensa Cantada" (2003)
Site: www.tomze.com.br
Barómetro de ansiedade: 10/5 (é para rebentar com o barómetro, mesmo)

Antônio José Santana Martins, 67 anos, é o grande cabeça-de-cartaz da edição 2004 do Festival de Músicas do Mundo de Sines. Foi um dos "tropicalistas" que em 68, juntamente com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e os Mutantes, entre outros, deu ao mundo uma das maiores obras-primas da música brasileira, "Tropicália ou Panis et Circenses". Experimentalista genuíno, inventor de instrumentos musicais vanguardistas (como o "sampler" artesanal construído com gravadores de cassette e campaínhas das portas), Tom Zé não veio a encontrar durante as décadas seguintes o mesmo reconhecimento nacional e internacional que os seus parceiros "tropicalistas" teriam. Em 1989, porém, tudo muda. O ecléctico David Byrne descobre Tom Zé, que se torna um dos primeiros artistas e uma das figuras fundamentais da história da sua editora, a Luaka Bop. O mundo e o próprio Brasil conhecem a partir de então, finalmente, o génio imenso de Tom Zé. Surgem as digressões internacionais, que o trazem a Portugal na companhia de David Byrne, por exemplo (um inesquecível concerto, ainda que curto, durante a Expo'98). Começa a surgir também o interesse de outros músicos em trabalhar com o bahiano, como naquela vez em que os Tortoise serviram de banda de suporte da sua digressão de 1999 pelos EUA.
A idade e o sucesso não lhe têm suavizado o discurso. Bem pelo contrário. Tom Zé está cada vez mais jovem na forma como se empenha na palavra forte, no atrevimento irreverente que faz das suas canções autênticas armas políticas, especialmente evidente, por exemplo, em "Companheiro Bush", tema que o músico havia gravado para uma editora de MP3 de Thurston Moore, dos Sonic Youth, e que entretanto foi recuperada para o seu mais recente álbum, "Imprensa Cantada". Uma irreverência que não deixa sequer em paz a esquerda brasileira, como contava Tom Zé a Miguel Francisco Cadete, numa fascinante entrevista concedida ao suplemento Y, do Público, na passada sexta-feira. Uma irreverência que surge aliada a um extraordinário sentido de humor, ao qual teremos certamente oportunidade de assistir, quer no concerto de sexta-feira, quer na conversa que Tom Zé terá com o público durante a tarde do mesmo dia, na Capela da Misericórdia, que assim surge apresentada no site do FMM: «Do tropicalismo à globalização, uma conversa aberta sobre a música e o mundo».

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Charadas #35

Regresso às aulas

Magnetic Fields na Aula Magna a 20 de Outubro, num regresso a Lisboa com novo disco na bagagem: "I". Fala-se também de um possível concerto de Nick Cave & The Bad Seeds, igualmente para o próximo Outono.

Uahhh

Três horas de sono (ou menos), por causa do concerto de ontem dos Mão Morta no Festival Tejo... Mas valeu a pena.

sexta-feira, 23 de julho de 2004

A grandeza de um "criador de pequena música"

«Mas acha que eu tenho categoria para ser entrevistado pelo 'Jornal de Letras'?...»

«Categoria... é responsabilidade no mundo da grande arte. Eu sou apenas um guitarrista de pequena música...»

«Sabe, estive a pensar... Ao dar uma entrevista ao 'Jornal de Letras' que é lido por pessoas que se interessam por arte e literatura, pelos problemas ligados à grande cultura, pergunto-me o que posso oferecer-lhes que seja do seu interesse...»

«Nunca fui capaz de traduzir convenientemente o meu pensamento através da palavra falada»

«Não, não pense nisso. Daqui a uns anos já ninguém poderá ouvir esta música de guitarras. Isto vai passar.»

«Oh, o que sou eu ao lado de Theodorakis?!... A minha música não se pode comparar, em grandeza, à de Theodorakis. O Theodorakis utiliza os recursos da música erudita e faz obras que vão perdurar. A minha música só ficará no espírito daqueles que a viveram no seu tempo. Não tem mais seguidores. Inevitavelmente vai passar...»

«Eu pertenço, como é óbvio, ao mundo da pequena música e tenho a experiência suficiente para saber que ela cumpre uma função específica. É que a grande música não deve usar-se em todas as circunstâncias, para seu benefício e de quantos verdadeiramente a apreciam. Por isso, há sempre um lugar em cada canto para a pequena música, um lugar onde ela saberá ser útil, à sua maneira.»

«Normalmente, quando se fala em estética, fala-se sob o ponto de vista da grande arte. Se eu fosse aplicar as preocupações estéticas da música erudita à minha música dava 'bota' de certeza.»

«Há um jovem do rock, estudioso da guitarra eléctrica, que me pediu para lhe ensinar guitarra portuguesa. Esse jovem disse-me que o 'Verdes Anos' lhe sugeria uma paisagem portuguesa. Ora, acontece que estamos todos ligados por sugestões comuns que nos dizem as mesmas coisas. Na música menor forma-se uma série de símbolos que acabam por significar determinadas coisas. A simbologia funciona como uma linguagem comum: uma certa melancolia, um lamento, a raiva... É aí que as pessoas ainda encontram uma linguagem que pode ligar várias gerações.»

«O rock é um fenómeno que temos que aceitar. Consegue pôr a fazer música a juventude de diversos países. Tem que ser considerado como um instrumento de divulgação cultural. Aliás, tenho tido contacto com alguns músicos de rock, lá na zona onde moro, em Benfica.»

«Épico, eu?... Não, meu amigo (sorri como uma criança). E não há arte absoluta. Isto é, não há nenhuma forma de arte que, por si própria, possa emocionar, comover, ou chocar as pessoas; emociona, comove, ou choca, a partir da experiência e da vivência cultural já adquiridas pelo indivíduo que a recebe.»

«Minha mãe e meu pai preocupavam-se muito que eu estudasse música. De tal forma que comecei a tocar guitarra aos 12 anos e era sujeito a uma disciplina de ferro. Este método estava completamente fora do que seria o ideal. Na verdade, a guitarra exige indisciplina... (...) É verdade. Só com uma certa indisciplina é que se chega a dar toda a expressão à guitarra. É a grande diferença entre a guitarra e os outros instrumentos, que requerem uma grande., disciplina. A disciplina na guitarra acabaria por tornar neutro o seu som.»

«[O fado] foi duramente atingido pelo fascismo, a partir da altura em que o António Ferro resolveu assimilá-lo ao turismo e passou, por esse processo, a limitá-lo, a censurá-lo e a comercializá-lo no pior sentido. Porém, outro tipo de fado continuou a tocar-se à margem das casas de fado.»

«Quero ser considerado um pequeno músico e se me conseguir realizar como pequeno músico, sentir-me-ei extremamente satisfeito.»


Pedaços de uma entrevista concedida por Carlos Paredes, em Setembro de 1981, a António Duarte, do Jornal de Letras. Leitura obrigatória.

Funeral realiza-se amanhã em Lisboa

O funeral do guitarrista Carlos Paredes, que faleceu hoje aos 79 anos de idade, sai amanhã às 15h30 para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
O corpo de Carlos Paredes ficará em câmara ardente na Basílica da Estrela até às 14h30 e o funeral sairá uma hora depois, após a celebração de missa de corpo presente.

(continua no Público)

Charadas #34



(É a única charada possível, hoje. Na verdade, nem sequer chega a ser charada. A resposta é por demais única e evidente. Carlos Paredes e a guitarra portuguesa eram -- são -- como um só.)
era o amor
que chegava e partia
estamos os dois
era o calor
que arrefecia
sem antes nem depois
era o segredo
sem ninguém para ouvir
era o engano
e era o medo
a morte a rir
dos nossos verdes anos
no nosso sangue corria
um vento de sermos sós
mas se à noite era dia
e o dia acabava em nós

(letra de Pedro Tamen para "Verdes Anos", composição de Carlos Paredes)
«Portugal teve no Carlos Paredes a genialidade, sensibilidade, poder de composição, uma belíssima técnica, e interpretação. Ele cumpriu os pontos que tinha a cumprir nesta passagem pela terra.»Luísa Amaro, hoje in Público
«Tenham a bondade, senhoras e senhores. Instalem-se bem. Depurem os tímpanos e afaguem a alma, para que não percam uma só nota daquilo que vão ouvir. Estes sons raros e delicados vêm de uma antiquíssima galáxia povoada de gente boa, onde o mais importante são os Amigos e as infinitas formas de partilhar com eles os sentimentos, os afectos, as emoções.
Os Amigos, então. São eles, mais do que a própria guitarra que tanto venera, aquilo que acima de tudo importa no universo de Carlos Paredes. À volta da música surge a conversa, sempre em busca de um superior conhecimento do mundo. Para Mestre Paredes, as coisas são tão simples como respirar: 'As pessoas gostam de me ouvir tocar guitarra, a coisa agrada-lhes e eles aderem. Não há mais nada.' (Público, 20.3.90).
É, pois, normal que Paredes se espante, com as emoções que ele mesmo provoca junto de quem o ouve: 'Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.'» (...)

Viriato Teles, 1998
«Quando o via tocar, o corpo longo e a cabeça e os braços debruçados em curva matricial sobre a guitarra, donde nasciam os mais desvairados, comoventes e imponderáveis sons, pensei que o útero materno de Carlos Paredes tinha a forma da sua guitarra e era a ele que queria sofridamente regressar, era para ele que as composições jorravam e era nele que encontrava o pathos com que dedilhava as cordas. Sublimemente!»
Maria João Seixas
Guitarra
(Carlos Paredes)

A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.

Manuel Alegre

Maior do que tudo


quinta-feira, 22 de julho de 2004

E há mais! E há mais!

A Blues Explosion (é favor chamar-lhe apenas assim agora) também vai estar em Paredes de Coura! E os Los de Abajo!
Isto está a assumir proporções nunca vistas...
Paredes de Coura 2004 já é um dos melhores cartazes de rock alguma vez vistos neste país.

A caminho de Sines #3

Castelo de Sines
Sexta-feira, 30 de Julho, 21h30
Nome: SAVINA YANNATOU
Origem: Grécia, Atenas
Discografia: "Is King Alexander Alive" (83), "Traditional Lullabies" (85), "Spring in Salonica" (95)*, "Mediterranea" (98)*, "Virgin Maries of the World" (99)*, "Rosa das Rosas" (2000), "Pao na Po sto Synnefo" (2002) e "Terra Nostra" (2002)*. (* - álbuns gravados com o grupo Primavera en Salonico)
Site: www.savinayannatou.com
Barómetro de ansiedade: 5/5

É a pérola do cartaz do FMM 2004. Passe o despropósito da comporação, até porque qualquer comparação traz sempre consigo algum inconveniente, Savina é como Lhasa, numa versão erudita. Talvez a sua voz não seja tão quente como a da canadiana, mas a forma, ora poética, ora delicada, ora experimental, com que aborda as tradições provenientes dos mais díspares lugares do mundo é igualmente entusiasmante, igualmente enriquecedor, igualmente apaixonante. Existe a ideia, por exemplo, de que "Virgin Maries of the World", disco onde Savina recolhe louvores à Virgem Maria originais de diferentes culturas, consegue até fazer o maior dos ateus viver, nem que seja por minutos, sublimes experiências religiosas. Não é todos os dias que a música nos afecta assim.

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Carviçais completo?

Aparentemente, e desfazendo de novo informação que saiu recentemente, o Carviçais Rock 2004 vai durar três dias e não quatro como foi avançado. Assim sendo, deverá ser este o cartaz do festival:

Sexta, dia 30 de Julho
Spiritualized
Mão Morta
Unfinished Puzzle

Sábado, dia 31 de Julho
Orishas
Clã
Dealema
Duff

Domingo, dia 1 de Agosto
Anger
Thanatoschizo
Oratory
Prime

Post-it do dia

Não esquecer, logo, na ZDB:

Steve Mackay and the Radon Ensemble
Com:
Kamilsky (República Checa) - bateria, electrónica (colaborador dos Residents, Lydia Lunch, Death in June)
Alejandro Gonzalez Novoa (Argentina) - violoncelo
Scott Nydegger (EUA) - bateria, electrónica (Mécanosphère/Sikhara)

E, nos próximos dias:

Sexta-feira, 23 de Julho - Porto, Maus Hábitos
Steve Mackay
(Steve Mackay lidera uma orquestra de improvisação com elementos de Mécanosphère, Soopa, Stealing Orchestra e Neon Road e ainda Koonda Holaafrom)
Soopa: Miguel Cardoso(baixo, laptop), Filipe Silva (guitarra), Jonathan Saldanha (bateria, metais) e Henrique Fernandes (contrabaixo)
Stealing Orchestra: Gustavo Costa (bateria)
Mécanosphère: Benjamin Bréjon (electrónica) e Scott Nydegger (electrónica)
Neon Road: Sandy Kilpatrick (voz)

Sábado, 24 de Julho - Braga, Deslize
Mécanosphère & Steve Mackay
Com Koonda Holaa

A caminho de Sines #2

Castelo de Sines
Quinta-feira, 29 de Julho, 23h00
Nome: WARSAW VILLAGE BAND (KAPELA ZE WSI WARSZAWA)
Origem: Polónia, Varsóvia
Ano de formação: 1997
Discografia: "Hop Sa Sa" (1998), "People's Spring" (2002)
Site: wvb.terra.pl/
Barómetro de ansiedade: 4,5/5

Ah, trupe maldita de hereges! Os Warsaw Village Band encaixam naquela definição a que frequentemente se alude em grupos como os Hedningarna ou, no caso português, os Gaiteiros de Lisboa: os inteligentes violadores de tumbas. Que quer isto dizer? Quer dizer que há no trabalho dos WVB uma vontade patente de descobrir e perceber tradição, de recuperar a música e os sentimentos mais profundamente enraizados na história da cultura polaca, de trazer esses ensinamentos até hoje e fazer com que hoje se ouça, se sinta, se dança a algo que não cristalizou no tempo, respeitando-se ou, em alternativa, sendo-se subtilmente maroto para com o passado. Os WVB foram a "Revelação" para os BBC3 World Music Awards deste ano.

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Mudhoney?

Era o que faltava... Os Mudhoney também vão a Paredes de Coura!
E o calendário que joga contra mim... :(

A caminho de Sines #1

Castelo de Sines
Quinta-feira, 29 de Julho, 21h30
Nome: RONDA DOS QUATRO CAMINHOS
Origem: Portugal, Alentejo
Ano de formação: 1983
Discografia: "Ronda dos Quatro Caminhos" (84), "Cantigas do Sete Estrelo" (85), "Canções Tradicionais Infantis" (85), "Amores de Maio" (86), "Fados Velhos" (87), "O Melhor da Ronda" (89), "Romarias" (91), "Uma Noite de Música Tradicional (Ao Vivo no Teatro S. Luiz em Lisboa)" (93), "Recantos" (97), "Outras Terras" (99), "Alçude" (2000), "Terra de Abrigo" (2003)
Site: www.rondadosquatrocaminhos.com
Barómetro de ansiedade: 3,5/5

É dos mais antigos grupos de música tradicional portuguesa. Ao longo destes vinte e um anos de carreira, a Ronda, de tantos caminhos que percorreu, é também, se quisermos, a Ronda dos quatro cantos do mundo, tantos foram já os sítios onde levou a cultura popular portuguesa de pronúncia alentejana. "Terra de Abrigo", espectáculo que a Ronda vai levar a Sines, supreende à partida pela sua dimensão: no mesmo palco estarão seis grupos corais (Moura, Campo Maior, Évora, Serpa, Baleizão e Aldeia Nova de São Bento), uma orquestra de trinta elementos (Sinfonietta de Lisboa) e os músicos da Ronda dos Quatro Caminhos. Um espectáculo já apresentado no CCB e na Festa do Avante, que tem obtido as melhores reacções. A coisa promete.

Para mais informações sobre o FMM Sines: www.fmm.com.pt

Charadas #33

segunda-feira, 19 de julho de 2004

2ª compilação de 2004



Alinhamento:
1. Uma Thurman. A Few Words from the Bride.
2. Mão Morta. Estilo.
3. Patti Smith. My Blakean Years.
4. Sonic Youth. Kim Gordon and the Arthur Doyle Hand Cream.
5. Mécanosphère. Testes.
6. Xiu Xiu. I Luv the Valley (Oh!).
7. Mission Of Burma. The Setup.
8. Noxagt. Naked in France.
9. Comets on Fire. The Bee & the Crackin' Egg.
10. Fursaxa. I See You.
11. Papa M. She Said Yes.
12. Dat Politics. Si.
13. Pan Sonic. Painovoima/gravity.
14. Beastie Boys. An Open Letter to NYC.
15. The Magnetic Fields. I Thought You Were My Boyfriend.
16. The Wray Gunn. Drunk or Stoned.
17. Devendra Banhart. Will is my Friend.

À disposição dos interessados no Pássaro Azul. A nº 3 está já a caminho.

E, já que se fala de Lhasa

A apresentação que Lhasa fez de um fado de Amália, como vimos há dias, não é exclusiva de Portugal. Num outro concerto, em Cartagena, no festival La Mar de Músicas 2004, aconteceu o mesmo, conforme se pode ler numa reportagem do jornal La Verdad:

«(...)Igualmente hay ese encantador toque francés (J'arrive a la ville) y hasta se atreve con una canción chechena y con un fado de Amália Rodríguez que, atención, descubrió hace unos días en su visita a Portugal. ¿No es una osadía adorable, al tiempo que un bello modo de hacer girar la música? Pues además lo borda, haciéndolo suyo.(...)»(texto completo aqui)

Segue-se uma série de datas pela Europa (Suíça, França, Alemanha, Hungria, França, etc.) e pelo Canadá. Portugueses, espanhóis e outros (através da transmissão online de uma rádio espanhola), ficaram rendidos à versão de "Com que Voz" por Lhasa, como se pode ler também no forum do site francês da artista. Vejamos o que acontece aos outros.

A boa notícia do dia

Há certezas de que a edição de 2004 do Festival Sons Em Trânsito (SET) vai para a frente, na cidade de Aveiro, como seria natural, e com a participação da câmara local no projecto. Ultrapassa-se assim uma situação que se assumia como complicada e que colocava em risco a continuação da importante mostra de música que é o SET.
Ainda não há nomes para o SET, que se realizará assim em Novembro, mas já se sabe que a organização do festival pretende trazer de volta a cantora Lhasa, que tão bem recebida foi pelas plateias portuguesas, lá mais para o final do ano, num conjunto de datas que deverá ser maior do que esta recente mini-digressão por Portugal. No mesmo esquema de digressão, é certo também o regresso do grande nome da edição do ano passado do SET, o finlandês Kimmo Pohjonen.
Óptimas notícias, sem dúvida.

:(

Hoje, enquanto lia notícia no Público a propósito das duas mortes verificadas durante a concentração de motards em Faro neste fim-de-semana, pensava no perigo que se associa normalmente à condução deste tipo de veículos. Pensava nos meus antigos camaradas do Terràvista. No MM, que por uma unha negra não ficou paralítico, na ex-mulher dele, que deu cabo da sua vida, no VS, que passados dois anos ainda anda de muletas. Ironia macabra: acabo de saber que o MV, outro desses meus camaradas, que tanto acreditava nos projectos em que eu trabalhava, e que tanto apoio me dava nos mesmos, chegou ao hospital já sem vida, após um acidente de mota.
Adeus Mauro. :((((

Charadas #31

domingo, 18 de julho de 2004

O ano dos cancelamentos

O mais recente: The Roots (entram para o lugar os escoceses Snow Patrol)
Os outros, já sabidos: 
- Iggy & the Stooges, Bowie e restantes nomes do cartaz do Festival de Lisboa-Dragão-Lisboa (*) 
- Madonna (bom, este não vale, pois deverá mesmo acontecer, um dia depois do que estava inicialmente previsto) 
- Pink 
- Concertos de bandas portuguesas no Forum Lx, em Julho (alguns destes poderão acontecer mais para o final do ano, no mesmo espaço) 
- Seal 
- Eagle-Eye Cherry
etc.
 
(*) isto não saiu, ao que saiba, na imprensa:  uma das razões que ajudou ao cancelamento de todo o festival foi a desistência dos Darkness.  Da mesma forma, dificuldades com a negociação do processo de troca de bilhetes no Pavilhão Atlântico também vieram a contribuir para que outras bandas, que tiveram cachet pago, não tocassem em Portugal.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

#$&%£$!!!

O José Marmeleira teve acesso à lista de datas da digressão de três semanas dos Lightning Bolt pela Europa. Dificilmente poderão passar por Portugal, como se pode perceber: 
 
27/9 - Bruxelas, Ab-Club
28/9 - Roterdão, Worm
29/9 - Groningen, Vera
30/9 - Gotemburgo, Nefertiti
1/10 - Oslo, Cafe Mono
2/10 - Stavenger, Cementen
3/10 - Arhus (tbc)
4/10 - Hamburgo, Hafenklang
5/10 - Berlim, Zentral
6/10 - Munique, Kafe Kult
7/10 - Vienna, B72
8/10 - Milão (tbc)
9/10 - Roma (tbc)
10/10 - Bolonha (tbc)
11/10 - Genebra, Usine
12/10 - Bordéus (tbc)
13/10 - Barcelona, Magic
14/10 - Lyon (tbc)
15/10 - Paris, Point Ephémere
16/10 - Amesterdão, OCCII
17/10 - Kontich (Bélgica), Lintfabriek

E se o espectáculo de Lyon fosse por água abaixo?
Caso contrário, excursão a Barcelona?


Charadas #30

«As cinco mulheres da Galiza, mulheres de grande valor»


Faltriqueira, "Faltriqueira" (Resistencia, 2002)

Tenho até vergonha de confessar que só agora ouvi o disco das tão faladas Faltriqueiras. E estou quase sem palavras. Respeitosas da tradição galega, como se nota no incontornável "Pandeirada de Tella", mas portadoras da ousadia de quem procura ir mais longe, as Faltriqueira pegaram na tradição de pandereteiras das suas mães e avós e avançaram nas polifonias vocais (que dizem ter aprendido na obra de Zeca Afonso, de quem interpretam, aliás, "As Sete Mulheres do Minho"). Chegam a ser verdadeiramente arrepiantes, estas cinco galegas, como quando cantam "Cantiga Bailada", um tradicional beirão popularizado pela Brigada Victor Jara.
(9/10)

U2: uma história que se repete?

Notícia de abertura do nme.com: os U2 perderam um CD, único, onde estariam gravados os temas que fariam parte do próximo álbum, "Vertigo".

Querem que acreditemos na notícia? Há vinte anos, creio que no "October", ainda podíamos confiar no relato que então se contava de que Bono teria perdido as fitas com as gravações num autocarro (ou teria sido assaltado -- a memória não ajuda). Mas hoje, com a evolução que as tecnologias de gravação levaram (discos rígidos, por exemplo) e com o crescimento profissional, empresarial e económico que a banda irlandesa conheceu, alguém pode acreditar que um passo tão importante dos U2 estivesse confiado a um único CD-R? Acham-nos tansos, não?

quinta-feira, 15 de julho de 2004

Evitem fumar nas casas-de-banho dos festivais

Principalmente depois de lerem esta notícia do NY Daily News:

BLACKSVILLE, W.Va. - Warning: smoking in the toilet can be dangerous. A portable toilet exploded Tuesday after a man who was inside it lit a cigarette.
Emergency workers said the man was not severely injured and drove himself to Clay-Battelle Community Health Center. He was later transferred to Ruby Memorial Hospital. His name and condition were not available Wednesday.
The explosion, which occurred in Blacksville, resulted from a buildup of methane gas inside the portable toilet. The methane did not "take too kindly" to the lit cigarette, said a spokeswoman for Monongalia Emergency Medical Services.

(in http://www.nydailynews.com/news/newsreel/)

Das duas uma, ou não fumem ou não libertem metano nas casas-de-banho.

Current 93 e afilhados de Tibet em Setembro

Acaba de sair para o domínio público a lista de convidados que irão integrar o duplo-espectáculo que os Current 93 vão apresentar, uma vez mais, no magnífico Teatro Ibérico, em Lisboa, nos dias 10 e 11 do próximo mês de Setembro: Baby Dee, Simon Finn e Six Organs of Admittance.
Mais se informa que os "convites" para estes espectáculos de assistência limitada custarão 35 ou 60 euros, conforme se pretenda apenas marcar presença numa ou em duas noites. Os convites poderão ser solicitados via noddy@netcabo.pt.

Mais um que desaparece

Arthur "Killer" Kane, 55 anos, baixista dos New York Dolls. A leucemia de que padecia levou a melhor na passada terça-feira. Os New York Dolls tinham voltado ao activo recentemente, depois de Morrisey -- que há muito, muito tempo, foi presidente do clube de fãs britânico dos Dolls -- tê-los convidado para tocarem no Meltdown por si programado no mês passado. Estavam programados mais concertos do grupo, bem como um novo álbum
(a sair em Setembro, com selo da Attack, de Morrisey), mas nada se sabe ainda sobre o futuro dos Dolls, esperando-se um comunicado do vocalista David Johansen em breve.

Charadas #29

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Mais uns que regressam


Stray Cats, 12 anos depois da última "reunião", estão aí para uma digressão europeia.

Carviçais vezes quatro

Ao contrário do que foi veiculado por alguns orgãos, o Carviçais Rock 2004 não vai ter apenas dois dias, nem sequer os habituais três. A edição deste ano vai decorrer ao longo de quatro dias, de 29 de Julho a 1 de Agosto.

Charadas #28

terça-feira, 13 de julho de 2004

Steve MacKay: três concertos em Portugal

Não teremos -- a não ser que haja uma daquelas reviravoltas inesperadas -- os Stooges a actuar no nosso país, mas um dos músicos que trabalhou em "Funhouse", e membro efectivo da formação com que o grupo de Detroit voltou ao activo, o saxofonista Steve MacKay, vai apresentar-se ao vivo em vários palcos portugueses.

Já não é a primeira vez que MacKay actua no nosso país -- no mês de Abril esteve por cá para uma série de excelentes concertos com os Mécanosphère. É uma vez mais sob o âmbito do seu Radon Ensemble -- um colectivo musical em constante mutação, que acolhe músicos de todas as paragens, entre os quais os Mécanosphère, um pouco à semelhança do Damo Suzuki Network -- que Steve MacKay tem concertos agendados para Lisboa, Porto e Braga. Durante essa semana, Steve MacKay vai estar também a trabalhar com os Mécanosphère e Joe Fossard no estúdio do Lugar Comum (Fábrica da Pólvora) na gravação do próximo álbum dos autores de "Bailarina".

Eis a agenda de concertos de Steve MacKay em Portugal:

Quinta-feira, 22 de Julho - Lisboa, ZDB
Steve Mackay and the Radon Ensemble
Com:
Kamilsky (República Checa) - bateria, electrónica (colaborador dos Residents, Lydia Lunch, Death in June)
Alejandro Gonzalez Novoa (Argentina) - violoncelo
Scott Nydegger (EUA) - bateria, electrónica (Mécanosphère/Sikhara)

Sexta-feira, 23 de Julho - Porto, Maus Hábitos
Steve Mackay
(Steve Mackay lidera uma orquestra de improvisação com elementos de Mécanosphère, Soopa, Stealing Orchestra e Neon Road e ainda Koonda Holaafrom)
Soopa: Miguel Cardoso(baixo, laptop), Filipe Silva (guitarra), Jonathan Saldanha (bateria, metais) e Henrique Fernandes (contrabaixo)
Stealing Orchestra: Gustavo Costa (bateria)
Mécanosphère: Benjamin Bréjon (electrónica) e Scott Nydegger (electrónica)
Neon Road: Sandy Kilpatrick (voz)

Sábado, 24 de Julho - Braga, Deslize
Mécanosphère & Steve Mackay
Com Koonda Holaa

Votação



Que outros cancelamentos gostarias de ver acontecerem?

O cancelamento do pagamento de portagens durante os festivais de Verão?
O cancelamento de reportagens idiotas de TV nos festivais?
O cancelamento da tomada de posse de Santana "Já reparou que temos novo primeiro-ministro?" Lopes?
O cancelamento da reunião da Igreja Maná no Pavilhão Atlântico?
Outros (indicar nos comentários, sff).


O novo AllMusicGuide (3)

Et voilá. Já está online, para o público em geral, a nova versão do AllMusicGuide.

Festival do Tejo: cinco anos e uma compilação

Estávamos em 1999. Recebia um telefonema na redacção da Musicnet de um tal de Hélder Raimundo, que pedia o nosso apoio para uma ideia que ele pretendia montar na zona do Cartaxo, um festival com um cartaz composto em exclusivo por artistas portugueses. Talvez porque o Hélder ainda desse ares, nas conversas por telefone, de um excesso de entusiasmo que é de desconfiar (tantas ideias boas que vimos por aí a nascerem todos os dias e a morrerem nos dias seguintes), e de alguma ingenuidade (o ingénuo, pelos vistos, era eu), não terei posto grande fé no certame, apesar de lhe ter vindo a dar, enquanto pude, todo o apoio possível.
É pois com alegria que vejo o Festival do Tejo a comemorar a sua quinta edição e a atirar-se a novos projectos, como o da compilação que irá sair em breve no Blitz (ver páginas do semanário na sua edição de hoje). Posso ter muitas reservas em relação aos cartazes das diversas edições do Festival do Tejo, como aquele que se segue e que dá conta da edição deste ano, mas há que dar os parabéns à organização pela manutenção do evento ao longo destes anos, esperando que possa continuar e melhorar cada vez mais.

Festival do Tejo 2004

Dia 23 de Julho

Palco Tejo
Dealema
Yellow W Van
Xutos & Pontapés

Palco Talentos do Tejo
Zedisaneonlight
Plastica
Loosers

Espaço Artizone
Orson & Welles

Dia 24 de Julho

Palco Tejo
Mesa
Loto
Clã

Palco Talentos do Tejo
Spelling Nadja
Hipnótica
Plaza

Espaço Artizone
Dubadelic Vibrations

Dia 25 de Julho

Palco Tejo
Tara Perdida
Zen
Mão Morta
Ramp

Palco Talentos do Tejo
Qwentin
Paranoid
Three and a Quarter
Fonzie

Espaço Artizone
Orson & Welles

Dia 23 a 25 de Julho
Cinema
Teatro
Workshops
Jogos Tradicionais
Desportos Radicais
Parque de Campismo

Vem aí mais uma edição do Andanças

Aí está a 9ª edição do Andanças, o Festival Internacional de Música e Dança Tradicional, que este ano arranca mais cedo, na primeira semana de Agosto, oferecendo um programa repleto de danças e músicas tradicionais, vindas de todo o mundo. Entre 1 a 7 de Agosto.
Continua no at-tambur.com

Assim não dá

Marca-se o concerto dos Suicide em Lisboa, no Paradise Garage (parece que as negociações com o Lux foram por água abaixo), para dia 31 de Julho (ver Blitz de hoje)? Então e a malta que estará nessa noite no Castelo de Sines a ver a Rokia Traoré e o Femi Kuti? Claro que as duas coisas são diferentes à partida, mas...
Então e como fica a participação dos Suicide no CBT, este ano em Esposende, agendada que estava para o mesmo dia?

Loja do Chico no Carmo

Por estes dias deve já ter aberto a nova Neon Records, na calçada do Carmo, nº 59, em Lisboa. Depois de, ao longo dos últimos anos, a loja de discos (CD e vinilo), ter estado no Centro Comercial Portugália, transfere-se agora para outra zona da cidade, onde repartirá o espaço com a Androm, loja de roupa e acessórios para metálicos, góticos e roqueiros em geral :). A Neon Records é também o quartel-general da editora Sleazey Records.

Charadas #27


segunda-feira, 12 de julho de 2004

Ena pá! Motörhead em Paredes de Coura!

O cartaz de Paredes de Coura está cada vez mais apetecível. A bomba de hoje dá conta de que os Motörhead irão pisar o palco do festival minhoto no dia 18 de Agosto.
Este é o cartaz oficial (a ir conferindo em www.paredesdecoura.com):

dia 17
(Noite Reggae/Roots)
The Roots
Arrested Development
Culture

dia 18
Motörhead
Mark Lanegan Band
DKT-MC5
LCD SoundSystem
(eh lá... os sobreviventes dos MC5 e os Motörhead no mesmo dia...)

dia 19
Scissor Sisters
Black Rebel Motorcycle Club
The Kills

Palco Songwriters

dia 18
Howe Gelb

dia 19
Mark Eitzel

dia 20
Josh Rouse

Cancelado mesmo

A Tournée vai ainda hoje emitir um comunicado.

Eu já não digo nada ou O cancelamento definitivo do Festival de Lisboa?

Parece que não temos de novo Festival de Lisboa...
Quando há minutos fui ao site do Pavilhão Atlântico para conferir o alinhamento do festival, para dar essa informação ao Calvin, que a solicitava num comentário a uma posta anterior, fiquei surpreendido por ver a expressão "CANCELADO" (ver página relativa ao Festival de Lisboa). Havia lá ido esta manhã e não me recordava de a ter visto.
Não consegui chegar ao contacto com ninguém do Atlântico (ou melhor, cheguei num dos casos, mas a pessoa estava de férias :>), mas entretanto outro sinal de alerta afigurou-se-me à vista naquela página, que me leva a concluir que não teremos festival. Se repararem, no programa do dia 17, sábado, estão lá os Charlatans, os Starsailor, a Ute Lemper, etc. Nada de David Bowie. Quer isto dizer que esta página foi feita já depois do cancelamento daquele concerto e do posterior regresso do festival ao Atlântico, anulando a hipótese de esta página ser ainda antiga. Ou seja, a página já terá sido actualizada com o regresso do festival a Lisboa, e ainda posteriormente com este cancelamento...
:(

Faltam quatro dias

O novo AllMusicGuide (2)

Algumas inconfidências (é suposto os beta-testers guardarem silêncio, mas isso não é mais do que uma manobra de marketing):

Pesquisa por banda/artista
Cada ficha de artista tem agora diferentes "tabs". Aquele que aparece primeiro, o "overview", oferece as linhas iniciais da biografia (que tem também "tab" próprio), relações do artista com outros nomes (à semelhança do que o AMG já fazia antes) e ligações para compra de alguns dos discos (que assim regressam ao AMG depois da experiência, há atrasado, com a CDNOW). No "tab" da discografia aparece, de forma bem mais organizada do que aquela que era conhecida até agora, um manancial imenso de informação relativa aos discos, acompanhado de samples de temas (os Lightning Bolt, por exemplo, que no anterior AMG praticamente não tinham informação alguma, agora estão carregados de samples). Uma "tab" curiosa é a "songs", que mostra os destaques (os "highlights"), a lista completa de canções escrita pelo artista (no caso do Johnny Cash, por exemplo, é uma lista que nunca mais acaba), etc. Para terminar, a ficha do artista tem ainda uma outra "tab" curiosa, "charts and awards", que mostra as posições máximas que os discos atingiram na tabela da billboard, bem como eventuais prémios Grammy.

Pesquisa avançada
A pesquisa por "Lisbon" (como "birthplace") devolve apenas dois artistas, Amália Rodrigues e Carlos Zíngaro. Pode vir a ser uma boa inovação, mas enquanto a base de dados não for melhorada a este nível, a pesquisa por local de nascimento terá pouco interesse. O mesmo se passa com outras pesquisas avançadas, como aquela que associa, enquanto critérios, o estilo de música e o instrumento. Se ao cruzar punk nova-iorquino com guitarra só obtemos três nomes (Lou Reed, Sylvain Sylvain e Johnny Thunders), há qualquer coisa que não funciona.



Novidades transmontanas

Nomes já avançados (e confirmados) para o Carviçais Rock, que este ano decorre a 31 de Julho e 1 de Agosto, em Torre de Moncorvo:
Spiritualized, Mão Morta, Clã e Orishas.
Para ir conferindo em www.carvicais.sbc.pt.

O novo AllMusicGuide

O novo formato da maior enciclopédia online de música encontra-se neste momento em fase de "beta testing" e será, em breve, inaugurado publicamente, talvez ainda hoje, segundo anuncia o mail enviado aos "beta-testers".

Há muitas novas funcionalidades. Além da operação plástica que o site levou (de que bem precisava), podemos agora escutar excertos de faixas, aceder a galerias de fotos dos artistas, usar critérios nas pesquisas, etc. Em suma, as novidades estão na informação (mais itens), e nas formas como podemos aceder a essa informação.

Mais tarde, isto é, quando descobrir a minha password (agora é preciso um registo para aceder aos chamados conteúdos Premium), deixarei aqui exemplos de novas funções, novas pesquisas, etc.

Avariações: esclarecimentos em relação ao vídeo

Em sequência do texto publicado ontem, a respeito do espectáculo "Avariações", recebi um mail de um elemento da organização do mesmo, que amavelmente me corrigiu alguns factos relativos ao vídeo que ali foi exibido naquela noite.
Assim sendo, não se tratava inteiramente do documentário da RTP, realizado em 1996 por Maria João Rocha. Para começar, as imagens dos programas do Júlio Isidro, a actuação na praia, o "Visões Ficções" e o Vivamúsica com Rui Pego, pertencem ao arquivo da família de Variações e não estão naquele documentário. Depois, os depoimentos de irmãos, amigos e pessoas que conviveram com o cantor, fazendo parte dele, foram posteriormente editados por Rodrigo Areias, Luís Araújo e João Trabulo, que ainda juntaram os videoclips da EMI, para resultar no trabalho que se viu neste sábado no Maria Matos.
Obrigado pelos esclarecimentos.
Ah, e mantenho: isto devia ser editado.

Charadas #26

domingo, 11 de julho de 2004

«Eu não vos quis impressionar...»

Momentos a realçar na noite de ontem, no tributo ao António Variações:

Pop Dell'Arte: Linha Vida
O original era demasiado espampanante, demasiado "bailarico" para o grupo de João Peste. Por isso, fizeram uma nova base musical, de índole minimal, sem bateria (San Payo marcava o ritmo num tambor) e com Zé Pedro Moura no teclado. Ao fim, ficou Peste a cantar a cappella "Povo que Lavas no Rio", tema de Amália que António Variações gravou no seu single de estreia.

Adolfo Luxúria Canibal e Armando Teixeira: Canção
Adolfo a declamar o poema de Pessoa sobre a banda sonora electrónica com beats lentos de hip hop e electro do mensch-maschine Armando Teixeira.

Vítor Rua: Caravan
Uma surpresa. De tantas vezes que já vi Vítor Rua ao vivo, nunca o tinha visto propriamente a explorar a técnica de guitarrista, pelo menos, da forma que explorou ontem para uma magnífica versão de "Caravan", de Duke Ellington, de que Variações tanto gostava.

O vídeo
Apesar de alguns problemas técnicos, resolvidos no intervalo do espectáculo, o documentário que a RTP realizou em 96 (?), a propósito de Variações, acabou por ser o rei e senhor da noite. É um trabalho que merece ser revisto e aumentado e -- por favor -- EDITADO! É composto por imagens bestiais, que deviam rapidamente voltar a ser tornadas públicas. Nele cabem magníficas actuações de Variações (nos programas do Júlio Isidro; na praia, com Marco Paulo a aplaudir numa das mesas ao lado; uma arrepiante interpretação de "Visões Ficções"; etc.), nele cabem as entrevistas (como aquela a Rui Pego, que apresentava, de fato e gravata, o Vivamúsica), nele cabem os depoimentos dos irmãos de Variações (uma senhora de maçãs do rosto bem rosadas, por trás de um balcão de retrosaria, um carpinteiro, um executivo de escritório; ...), de colegas de escola ou do cabeleireiro para onde o cantor veio trabalhar, em Lisboa, de profissionais do meio (Carlos Maria Trindade, Toli César Machado, David Ferreira ou Rui Monteiro), etc. EDIÇÃO, porventura revista e aumentada, JÁ!

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Chamavam-lhe totó, vestia de organdó

Há tempos, muitos o chamavam totó por causa do Rockódromo que prometia e não aparecia. Hoje deu razão àqueles que acham que as funções para as quais está mandatado agora são mais inócuas que as da Rainha de Inglaterra...

Pan Sonic, Kesto



Duzentos e trinta e quatro minutos, quarenta e oito segundos e quatro décimos de deleite em composição pura. Sujeito a uso de superlativos em abundância.

Avariações: alinhamento

Decorridos vinte anos da morte de António Variações, o Teatro Maria Matos, em Lisboa, vai receber amanhã, sábado, um conjunto de músicos portugueses que irão homenagear em palco a memória do cantor. Segue-se o alinhamento da noite:

1. Olhei Para trás
Jaime Claro Ribeiro (sobrinho de Variações) e banda
2. Erva Daninha Alastrar
Vozes da Rádio
3. Linha Vida
João Peste e Pop Dell'Arte
4. Anjinho da Guarda
Tucanas
5. Canção
Adolfo Luxuria Canibal com Armando Teixeira
6. Deolinda de Jesus
Filipa Pais voz | Jon Luz guitarra | Quiné percussões
7. Estou Além
Lena D'Água Quarteto
8. Caravan
Vitor Rua
(a versão de Ray Charles para "Caravan" era uma das composições favoritas de Variações)
9. Sempre Ausente
Maria João & Mário Laginha
10. Dar e Receber
Rádio Macau
11. Dar e Receber
Funk Off and Fly

Bilhetes: 10 euros (descontos para menores de 25, maiores de 65 e grupos de mais de 10 pessoas)

Bowie operado ao coração

Afinal, a lesão do ombro que levou David Bowie a cancelar alguns dos seus concertos pela Europa, entre os quais aquele que estava marcado para o Festival do Dragão (agora Festival de Lisboa, a realizar no Pavilhão Atlântico), era mais grave do que se pensava. Os médicos detectaram uma anomalia numa artéria do coração, a qual motivou uma cirurgia de urgência. O músico foi operado no início desta semana e encontra-se em convalescença na sua casa em Nova Iorque. Ver mais aqui ou aqui.

Lisboa, depois Dragão, de novo Lisboa

Afinal, o Festival do Dragão mantém-se, mas vai voltar a receber a designação Festival de Lisboa, pois vai regressar ao Pavilhão Atlântico, para onde estava previsto desde o início. À excepção de David Bowie, mantém-se o cartaz e as respectivas datas. Mais informação no DD.
(Já agora, porque não antes o "Festival do Leão", no Alvalade XXI? :) )

quinta-feira, 8 de julho de 2004

Charadas #25

Meu amor, meu amor

Encontrei o poema que Ary dos Santos escreveu, Alain Oulman musicou e Amália Rodrigues gravou para o seu disco "Com que Voz" e que ontem Lhasa ofereceu à plateia do Forum Lisboa, sendo de esperar que o mesmo se repita durante os restantes concertos desta mini-digressão por Portugal:

Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

A estrada viva

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.


(Pessoa)

Estava-se sensivelmente a meio da primeira parte do espectáculo. Lhasa, que antes havia dito ter andado a aprender umas «palavras de portugueich'», utilizadas aliás na apresentação dos diversos temas, acercava-se uma vez mais do microfone, agora visivelmente tímida e insegura, para anunciar: «hum... hum... (pausa) hum... a próxima canção é... (pausa) portuguesa.» Para surpresa geral, vieram umas notas de guitarra familiares, com Lhasa a cantar «meu amor / meu corpo em movimento / minha voz à procura / do seu próprio lamento». Ela estava a cometer a ousadia de cantar um belíssimo fado escrito por Ary dos Santos para a Amália, perante uma plateia imensa de portugueses! E, não, não soava mesmo nada mal na sua voz, mesmo que, porém, a guitarra estivesse para aquela canção como a lagoa de Óbidos está para o Oceano Atlântico. Foi a mais longa ovação da noite, mas o espectáculo de ontem teve muitos outros momentos de especial intensidade, como aqueles em que Lhasa recuperou alguns dos melhores temas de "La Llorona", bem como do recente "The Living Road", ao longo de um imenso périplo que chegou até à Chechénia, por exemplo, num inédito que se revelou uma das melhores interpretações musicais da noite. Lhasa é a expressão viva do poema de Pessoa, viaja, perde países, perde músicas, perde culturas, é outra constantemente, não tem raízes. Ou então sente-as todas como se fossem suas, assume, como poucos, a condição de cidadã do mundo, de um mundo em que a música é essência fulcral na vida das pessoas, banda sonora para a alegria, para a tristeza, para o entretenimento, para a reflexão, para um fim de ano, para um fim do mundo.
O espectáculo começou e acabou com "The Living Road". "Con toda Palabra" abriu e, já em segundo encore, "Soon This Place Will Be Too Small" encerrou, depois de uma longa introdução em que Lhasa foi buscar um pensamento do seu pai acerca da vida, que não cabe aqui reproduzir, mas que arrancou dos presentes uma enorme ovação, conquistada que estava a simpatia, desde muito cedo, aliás, desde antes do espectáculo, porventura. O único senão da noite prende-se com o grupo que acompanha Lhasa. Podia ter-se chegado ao êxtase, ao nirvana ou a qualquer outro estado de epifania, mas os músicos -- à excepção, porventura, do teclista-melodista-programador -- dificilmente conseguiriam estar à altura da cantora, para tal ser possível. Lhasa é uma espécie de cruzamento de Tom Waits (ou Arthur H) com Edith Piaf, e a crueza, a rudeza, a emoção que imprime à sua forma de cantar não encontrou paralelo na limpidez asséptica e com pouca alma dos restantes instrumentistas. Foi um processo que teve melhorias graduais ao longo da noite, mas não suficientes. Fosse Lhasa uma maçã biológica portuguesa, saborosa, rica e, provavelmente, com aspecto rude, os seus músicos eram como cachos de uvas envernizadas e insípidas. Não deixou, porém, de ser uma óptima salada de frutas exóticas.
(9/10)

quarta-feira, 7 de julho de 2004

Dragão cancelado

Ao mesmo tempo que o Vítor Belanciano, do Público, lançava a hipótese do Festival do Dragão ser cancelado (ver mais abaixo), o Cristiano Pereira, do Jornal de Notícias, foi mais longe e anunciou como certo o cancelamento do evento:

O Festival do Dragão foi cancelado. O anúncio oficial só deverá acontecer nos próximos dias, mas o JN apurou, junto de três fontes distintas ligadas ao processo, que o certame, agendado para os dias 16, 17 e 18 deste mês no estádio do FC Porto, já não irá acontecer.
(ver mais no JN)

A bomba do dia!

Whitesnake, 29 de Setembro, no Pavilhão Atlântico.
Idade mínima: 3 anos.
:)

Um homem desprevenido ainda consegue valer por dois ou a demanda por bilhetes para Lhasa

Estava com poucas expectativas de conseguir bilhete para um espectáculo que se anunciava esgotado. Para descargo de consciência, telefono para o Forum Lisboa: "vamos colocar à venda, às 13h, 44 bilhetes provenientes de uma desistência." Voei para o Forum Lisboa, onde antes da uma da tarde já se encontrava cerca de uma dezena de pessoas, número que foi depois aumentando. A dada altura, alguém na recepção diz: "Só temos 10 bilhetes." Em resposta ao burburinho, a mesma pessoa disse ainda: "tínhamos bilhetes provenientes de uma reserva, mas havia pessoas em lista de espera desde ontem, desde anteontem, desde sabe-se lá quando." Tais palavras caíram mal entre as pessoas que aguardavam por um bilhete. Afinal, se os bilhetes iam ser postos à venda às 13h, como havia sido dito antes, de onde raio vinham essas listas de espera de que ninguém -- todos telefonaram para o mesmo número e daí obtiveram a mesma informação -- sabia? Adiante, que a estas falhas de comunicação já nos habituámos. Chegada a minha vez, havia sete bilhetes ainda. Quis ter trazido cinco, mas nem a senhora da recepção me deixaria comprar mais do que dois, nem a solidariedade para com as pessoas seguintes da fila o permitiria. Sejam, dois. Eu vou conseguir ver a Lhasa ao vivo!!

Charadas #24

Lhasa: começa hoje!

Começa hoje, em Lisboa, uma das mini-digressão mais esperadas do ano. Lhasa, ou como agora lhe chamam, Lhasa de Sela, sobe esta noite ao palco do Forum Lisboa (antigo cinema Roma) para apresentar o seu segundo álbum, "The Living Road". A cantora, que nasceu nos EUA, já viveu no México e mantém desde há algum tempo residência em Montréal, no Quebeque, surpreendeu o mundo em 1997 com "La Llorona", magnífica obra-prima cantada em espanhol que arrebatou paixões tanto entre os aficcionados das músicas do mundo como no meio pop alternativo. Depois de alguns anos de silêncio, seguiu-se "The Living Road", onde Lhasa já utiliza também o francês e o inglês, mantendo-se fiel ao estilo ecléctico e apaixonante que lhe conhecíamos. A não perder (se ainda houver bilhetes), a partir de hoje:
Dia 7 - Lisboa, Forum Lisboa
Dia 8 - Coimbra, Teatro Académico Gil Vicente
Dia 9 - Aveiro, Teatro Aveirense
Dia 10 - Porto, Jardins do Palácio de Cristal

Festival do Dragão em risco

O Festival do Dragão, agendado para a semana no novo estádio do Porto, está em risco de ser cancelado, soube o PÚBLICO de fonte bem informada. Ontem, porém, nem a organizadora, a Tournée, nem o F.C. Porto, responsável pelo recinto, o confirmaram.
(continua no Público)

terça-feira, 6 de julho de 2004

De onde raio é que vem o nome? #18: The Birthday Party

Os Birthday Party de Nick Cave, Mick Harvey, Tracy Pew e Rowland Howard, entre outros, foram buscar o seu nome a uma peça do dramaturgo Harold Pinter. "Birthday Party" foi escrita em 1957 e recebeu o título português "Feliz Aniversário" quando, dez anos mais tarde, estreou em Portugal (ver programa ao lado).

Charadas #23

Novas dos festivais

Na Zambujeira:
Air, Ash (ainda existem?), Clã, Dandy Warhols (para quê?), Da Weasel, Divine Comedy, dEUS (ainda existem II?), Franz Ferdinand, Groove Armada, Kraftwerk, Love (a sério?), Rodrigo Leão, Soulwax, Tim Booth, Zero 7.

Em Coura:
Mark Lanegan Band.

No Meco:
Hipnótica.

segunda-feira, 5 de julho de 2004

De onde raio é que vem o nome? #17: The White Stripes

Não, o nome dos White Stripes não vem dos uniformes dos reclusos de há 100 anos, como sugeria a charada de hoje, mas sim dos rebuçados de hortelã-pimenta/mentol, que geralmente têm a cor vermelha, traçada por riscas brancas, conforme mostra a imagem. É também esta a razão que leva Jack e Meg White a vestirem-se de vermelho e branco sempre que aparecem em público.

Algumas estatísticas

Palavras mais utilizadas em buscas que tenham originado visitas ao Juramento:
1º bandeira (466 - afinal, o juramento também ostentava a sua bandeira como 99% dos portugueses até ontem);
2º juramento (377);
3º sem (210);
Outras palavras, por ordem decrescente de importância: mp3, download, lisboa, portugal, 2004, the, letras, bilhetes, aula, magna, música, concerto, zorn, masada, blog, xwife, fotas, das, imagens, dos, capas, alvalade, rock, porto, john, pedro, vítor, para, rui, 2003, wallpaper, electric, portuguesa, msica, hino, chullage, dealema, biografia, letra, xutos, abril, concertos, lux, junqueira, joo, lisbon, templates.

Sites a partir dos quais foram geradas mais visitas ao Juramento:
www.forumsons.com
ampola.blogspot.com
www.sapo.pt (bah!)
quantumducks.blogspot.com
club-silencio.blogspot.com

Charadas #22

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Marlon Brando 's dead


De onde raio é que vem o nome? #16: Can

Na "bíblia" do krautrock que Julian Cope escreveu, o ex-Teardrop Explodes dá conta de vários significados, em diferentes línguas, para a palavra "Can". Em turco, "can" (lido "chan"), significa "vida" ou "alma". "Kan", em japonês, significa "sentimento" ou "emoção", ao passo que "Chan", na mesma língua e usado numa saudação, se poderá traduzir por "amor". No entanto, e segundo Irmin Schmidt, o teclista dos Can, o significado da designação será mais prosaico: um acrónimo de comunismo, anarquismo e niilismo (como na charada de hoje).

Charadas #21

The Wray Gunn Blues Estrondo!

OH YEAH! Noite incrível a de ontem, na ZDB. Paulo Furtado, Raquel Ralha e companhia partem mesmo a loiça toda. Depois da ténue ideia capturada no Super Rock, ficou ontem a confirmação: são absolutamente geniais em palco. Nota mental: não perder mais Wray Gunn ao vivo.

quinta-feira, 1 de julho de 2004

Curtas em Vila do Conde

À 12ª edição, o Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde volta a surpreender com mais um excelente programa, a decorrer entre os próximos dias 3 e 11 deste mês. Em paralelo com as compitas internacional e nacional, que levarão alguma tela algumas das melhores propostas de curtas metragens, o festival vai proporcionar uma série de eventos, com especial evidência para a música, patente em secções de programação como "Electric Guitar!" ou "Work in Progress". A primeira é uma mostra de filmes e instalações sobre a guitarra eléctrica e alguns dos artistas que a celebraram, como Jimi Hendrix, Led Zeppelin, The Monkees, Andy Warhol e os Velvet Underground, Iggy Pop, Les Paul and Mary, The Cure, entre muitos outros. A segunda trata-se de uma secção iniciada em 2002 onde são exploradas as relações do cinema com outras artes. Transversal a ambas é a realização dos chamados "filmes-concerto", como lhes chama a organização, e outras festas. A programação, no que diz respeito aos concertos, vai decorrer assim:

Sábado, 3 de Julho
Hipnótica
La Chute de la Maison Usher, Jean Epstein e Luis Buñuel, 1928
Auditório Municipal
@c
Solar S. Roque
Plaza
Tota Bar

Quinta, 8 de Julho
Tom Verlaine (Television) e Jimmy Rip
Vários filmes: Fall of the House of Usher, Emar Bakta, Étoile de Mer, Autumn Mist, Ballet Mécanique, They Caught the Ferry
Auditório Municipal
Addictive TV
Tota Bar
The Film Remix Project
(DJs, VJs e artistas de audiovisual a fazerem remisturas de uma série de filmes - "Bruce Li The Invicible", "Nosferatu", "Charada", "Vengeance Valley", "A Noite dos Mortos Vivos" e "Os Sete Samurais")
Quinta, 8 de Julho, 01.30
Tota Bar

Sexta, 9 de Julho
X-Wife
Sleazy Rider
Legendary Tiger Man + Zé Pedro
The Paleface
Auditório Municipal

Sábado, 10 de Julho
Legendary Tiger Man
Solar S. Roque
DJ Food
Head, Cinetrip Re-Score
Local a anunciar

Para mais informações sobre o extenso programa do festival, é favor consultar:

Site oficial do festival
PDF com o programa completo

Charadas #20