terça-feira, 30 de novembro de 2010

Eat Skull! Logo! No Lounge!



Esta noite é noite de Eat Skull. A Filho Único traz ao Lounge esta malta de Portland, em parte descendente dos Hospitals (dois deles fizeram parte do grupo de Adam Stonehouse), mas com uma pop lo-fi (ou canções-farrapo, como lhes chama o Miguel Arsénio do Bodyspace) distante da selvajaria sonora e física daqueles. Ou talvez não tão diferente ao vivo, algo que se poderá perceber mais logo...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Povo que canta nas bancas

Michel-Marie Giacometti morreu há 20 anos, mas o seu nome perdura na memória daqueles que tiveram a sorte de o apanhar, através da televisão, a palmilhar, de gravador em punho, um país em que tudo ficava muito mais longe de tudo o resto, em que as tradições ainda se viviam no trabalho do campo, na faina do mar, em festas e celebrações únicas. Grande parte do que hoje conhecemos da história da música portuguesa, e, de uma forma mais abrangente, dos hábitos culturais e sociais dos portugueses do século passado, principalmente os portugueses que viviam fora dos centros urbanos, devemos ao trabalho coordenado por este etnólogo de origem corsa.

Felizmente, desde os Gaiteiros de Lisboa à família Pereira (tanto o pai, o músico Júlio, como o filho, o realizador Tiago), e entre tanta outra gente, há quem teime em não deixar cair o trabalho de Giacometti no esquecimento. Contudo, além dessas citações e de alguns (poucos) vídeos perdidos no youtube, tem sido difícil encontrar evidências do trabalho de Giacometti. Por absurdo que pudesse parecer, as gerações mais novas tinham até há bem pouco tempo, maior contacto com a folk americana recolhida por outro grandes etnomusicólogo, Alan Lomax, do que com os cantes de trabalho portugueses recolhidos por Giacometti.

Mas isto está a mudar. Hoje mesmo, o Público dá início à venda, com o jornal, de uma colecção de livros, DVDs e CDs onde é recuperada, na íntegra, a série "Povo que Canta", que Giacometti apresentou na RTP entre 1970 e 1974. Inclui ainda dois outros filmes de Giacometti, "Rio de Onor" e "Alar da Rede", e dois trabalhos inéditos em CD, "O Ladrão do Sado" e "Uma Longa Militância". Preço especial de lançamento: 5,9€ (8,9€ nas restantes entregas). É APROVEITAR, GENTE.

Há mais tempo, mas já neste ano de 2010, saiu também para os escaparates uma espécie de revisitação a "Povo Que Canta", com Ivan Dias e Manuel Rocha a repisarem os passos dados por Giacometti e a descobrirem o que aconteceu às tradições recolhidas há quarenta anos. O trabalho foi reunido em seis DVDs e já está à venda.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amanhã, Gala Drop no M

Os Gala Drop acabaram de lançar, pela norte-americana Golf Channel Recordings, o EP "Overcoat Heat" (único formato: 12"). Já se encontra à venda na Flur e na Louie Louie e a banda vai apresentá-lo ao vivo amanhã, no Espaço M (antiga Casa d'Os Dias da Água, na rua D. Estefânia, 175). Do cartaz da festa, que está agendada para iniciar-se às 22h, fazem também parte Magina, que acabou de editar o CD-R "Nazca Lines", e, para o resto da noite, o japonês DJ Kent (Force of Nature e Backwoods).

Com a cortesia dos Gala Drop, e com um agradecimento especial ao António do Vai uma Gasosa pela dica do player, aqui estão os temas de "Overcoat Heat":

1. Drop








2. Rauze








3. Izod








4. Overcoat Heat








quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Hoje é dia de nos metermos nos assuntos dos blues

Já andam aí há alguns anos. Ensinaram-nos que os blues, nos tons mais fiéis ao género original, podem ser interpretados e ouvidos por malta nova. Agora convidam-nos a provar, a quem ainda disso precise, que um disco desta velha coisa do delta do Mississipi pode ocupar com a mesma galhardia o espaço da estante lá em casa.

Chamam-se Nobody's Bizness, contam com a voz de Petra e de Catman (que também pega na harmónica e se senta em frente ao piano, quando é caso disso), as guitarras, o banjo e dobro dos irmãos Luís e Pedro Ferreira, o baixo de Luís Oliveira e a bateria de Isaac Achega. Acabaram de lançar "It's Everybody's Bizness", álbum de estreia produzido a meias entre os próprios e Paulo Miranda, onde reúnem temas clássicos do género e ainda um punhado de originais.

Hoje dá-se o lançamento oficial do disco, com concerto no Maxime, a partir das 23h. Metamo-nos nesse tal assunto dos blues.

(Até lá, aproveitem para ler este belo press release escrito pelo António Pires.)

A História dos blues está feita de encruzilhadas. A lendária encruzilhada na quinta Dockery onde Robert Johnson terá vendido a alma ao diabo em troca de se tornar o melhor guitarrista de sempre. A escolha que foi apresentada pelo destino a T-Bone Walker, John Lee Hooker, B.B. King ou Muddy Waters: continuo a tocar guitarra acústica ou passo para a eléctrica e a minha música chega assim a mais pessoas (e, quem sabe, até mudo o futuro de toda a música popular)? A decisão de vida que Ali Farka Touré teve que tomar: serei para sempre taxista ou mecânico de automóveis ou tenho como missão vir a ser músico profissional e lançar as pontes definitivas entre os blues e a música da África Ocidental? Ou a encruzilhada que Eric Clapton encontrou quando percebeu que a sua vida não podia continuar dependente do álcool e das drogas duras: deixo esta merda ou serei para sempre conhecido como "o drogado que deixou o filho cair da janela e morrer"?

Ao fim de alguns anos a cantar e a tocar as canções dos bluesmen que mais amam e admiram, as questões que os Nobody's Bizness encontraram na sua encruzilhada pessoal não foram tão dramáticas nem tão românticas ou bizarras quanto estas, mas foram, mesmo assim, difíceis de resolver: continuaremos para sempre a fazer versões ou vamos em frente, pomos a cabeça no cepo e mostramos o que valemos também enquanto autores? E foi isso mesmo que fizeram. Ou, pelo menos, a cinquenta por cento. Depois de, em 2005, terem editado um álbum ao vivo gravado na Capela da Misericórdia, em Sines, onde interpretavam temas de Robert Johnson, Willie Dixon ou Lonnie Chatmon, os Nobody's Bizness têm agora um álbum em que seis das doze canções têm assinatura do grupo (com a preciosa ajuda de João MacDonald nas letras de uma delas). E saíram-se brilhantemente da tarefa! Nos seus originais estão toda a paixão e ensinamentos que sempre retiraram dos blues, mas também o amor que têm pela country, pelo bluegrass, pela folk norte-americana (ou por um eventual eixo canadiano que une Leonard Cohen, Neil Young e Joni Mitchell), pelo jazz e por uma visão aberta das músicas do mundo. E, ao lado de várias versões de Willie Dixon (ainda e sempre) ou William Broonzy, aqui estão meia dúzia de originais que põem desde já os Nobody's Bizness num elevadíssimo patamar criativo.

Uma outra encruzilhada, digamos paralela (se é que se pode falar de paralelas quando também se fala de encruzilhadas - mas essa é uma boa questão para os geómetros resolverem), que os Nobody's Bizness encontraram foi a opção de gravar, ou não, em estúdio. Tendo o palco como território natural para a sua música, como é que o brilho da voz de Petra, a magia da harmónica e a profundidade de voz de Catman, as finíssimas filigranas das guitarras e banjos dos irmãos Ferreira e os tapetes voadores de Luís Oliveira e Isaac Achega poderiam ser recriados - porque é de recriar que aqui se trata - em estúdio? A questão era complicada mas resolveu-se de forma fácil: tendo como aliado Paulo Miranda, que com os Nobody's Bizness co-produziu o disco no seu AMP Studio, em Viana do Castelo, o grupo lisboeta rapidamente descobriu no estúdio minhoto uma extensão da sua sala de ensaios onde todos se sentiram confortáveis e a sua música pôde fluir livremente. E, se o primeiro álbum circulou por um grupo restrito de fãs fiéis e habituais, os Nobody's Bizness são agora everybody's bizness, para ouvir de ouvidos limpos e alma aberta.

António Pires
Outubro de 2010


Alinhamento do disco:

1 - I want a little boy (Murray Mercher/Billy Moll)
2 - Don't go no further (Willie Dixon)
3 - Time waster (Nobody's Bizness)
4 - When monday comes (Nobody's Bizness) *
5 - Nobody (no guidance song) (Nobody's Bizness)
6 - This pain in my heart (Willie Dixon)
7 - When the lights go out (Willie Dixon)
8 - Roll mamma (Nobody's Bizness)
9 - Blues for the month of june (João MacDonald/Nobody's Bizness)
10 - The blues don't care (Gwill Owen/Charles Olney)
11 - Black, brown & white (William Broonzy)
12 - Show's up! (Nobody's Bizness)

* Com Francisco Silva (Old Jerusalem) e Ana Figueiras (Unplayable Sofa Guitar) nos coros.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os sete pecados capitais do Barreiro Rocks

Vaidade
O Barreiro Rocks também tem um lado social, quando se transforma em palco para o desfile de personagens como aquelas de que o Nick Nicotine falava ao Mário Lopes, "gente que se destaca entre a multidão, que ignora ou desdenha este ar dos tempos que tanto puxa para a banalidade do politicamente correcto e do 'parecer bem'. Gente que, de alguma forma (habitualmente exuberante), deixa marca". E depois também há os hipsters, que não deixam marca alguma, mas também não fazem mal a ninguém e dão colorido ao fim-de-semana.

Inveja
A gente do Barreiro é gente de trabalho, gente que faz as coisas acontecer, gente que organiza três festivais de categoria (além do BRR, o Out.Fest e o Barreiro Outras Músicas), gente que se multiplica por bandas. E se há coisa que um bom português gosta de fazer, além de chorar pelo que não tem ou pelo que julga que não tem, é de invejar a galinha da vizinha. Os mais inveterados neste pecado fazem melhor em não atravessarem o rio neste fim-de-semana.

Ira
Há melhor forma de descarregar as iras da semana de trabalho do que numa maratona de concertos de rock estrepitante? Há: pegar numa caçadeira e desatar a disparar em todas as direcções, mas não é a mesma coisa. E provoca baixas.

Preguiça
Há quem se vanglorie de ir a festivais de rock no estrangeiro mas que nunca tenha atravessado o rio para ir ao Barreiro Rocks. Ok, ok, as dimensões são diferentes. A oferta é diferente. Mas parecem sempre estranhas aquelas alturas em que o Ferroviário aparenta ter mais espanhóis do que lisboetas. GENTE, HÁ UM BARCO QUE DEMORA VINTE MINUTOS A ATRAVESSAR O RIO.

Ganância
Há vezes, como aquelas em que olhamos para a banca dos discos, que os valores materiais invadem todo o desejo. Nessa alturas, o que mais ambicionamos é poder levar todos aqueles discos para casa.

Gula
Quem vai ao Barreiro Rocks, vai porque tem um desejo insaciável por música. Vai ao que sabe, mas também quer do que não sabe. E quando acaba de tocar o nome principal da noite, quer-se o regabofe da after-party, quer-se ouvir os sete polegadas do Shimmy. Quer-se mais, mais, mais. E a organização não pode sequer imaginar que os barris de cerveja cheguem à última gota, porque não há fim à vista para a gula desta gente.

Luxúria
Ora, é um festival de rock, gente. E o rock é carnal desde o dia em que nasceu, na insinuação ou na prática. O Joca (ex-Green Machine, actual Alto!) chega a escrever na Vice que "há pessoas a foder nas casas-de-banho". É apenas rock'n'ROLL.


Sexta-feira e sábado, no Clube Ferroviário, mesmo ao lado da estação de barcos do Barreiro. Mais informações em www.barreirorocks.org.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Uau. John Cale vezes seis!

O mês é Fevereiro do ano que vem. John Cale em seis datas (!) no país e nenhuma delas em Lisboa ou Porto (!):

17 - Coimbra, Teatro Gil Vicente
19 - Guimarães, Centro Cultural Vila Flor
20 - Aveiro, Teatro Aveirense
24 - Leiria, Teatro José Lúcio da Silva
25 - Torres Vedras, Teatro Cine
26 - Torres Novas, Teatro Virgínia

(notícia Blitz)

Quando se alinham planetas de galáxias diferentes, tudo pode acontecer

A Crammed continua a explorar (e ainda bem) o seu filão congotrónico. A mais recente novidade explosiva da editora belga tem esta capa:



Foi ontem lançado e é um álbum duplo que reúne nomes como Deerhoof, Animal Collective, Micachu, entre muitos outros, a reinterpretarem o catálogo congotrónico da Crammed (Konono nº1, Kasaï Allstars, etc.). Eis o alinhamento completo:

1. DEERHOOF vs KASAI ALLSTARS : Travel Broadens The Mind
2. ANIMAL COLLECTIVE vs KASAI ALLSTARS : Quick as White
3. ANDREW BIRD vs KONONO N°1 & SOBANZA MIMANISA : Ohnono/Kiwembo
4. TUSSLE vs KONONO N°1 : Soft Crush
5. GLENN KOTCHE vs KONONO N°1 : Traducteur de transmission
6. LONELY DRIFTER KAREN vs KASAI ALLSTARS : Hunting on the Moon
7. JHEREK BISCHOFF vs KONONO N°1 : Kule Kule (Orchestral Version)
8. WOOM vs KASAI ALLSTARS : Enter The Chief
9. JUANA MOLINA vs KASAI ALLSTARS: Hoy supe que viajas
10. MARK ERNESTUS vs KONONO N°1 : Masikulu Dub
11. SKELETONS vs SOBANZA MIMANISA : Kiwembo/Unstuck
12. JOLIE HOLLAND & JOEL HAMILTON vs KASAI ALLSTARS : Nyeka Nyeka
13. AKSAK MABOUL vs KASAI ALLSTARS : Land DisputeDISC 2

1. SHACKLETON vs KASAI ALLSTARS : Mukuba Special
2. HOQUETS vs KONONO N°1 : Likembes
3. MICACHU & THE SHApES vs KONONO N°1 : NO.K
4. MEGAFAUN vs KISANzI KONGO : Conjugal Mirage
5. AU vs MASANKA SANKAYI : Two Labors
6. ALLA vs BASOKIN : Mulu(me)
7. BEAR BONES, LAY LOW vs KONONO N°1 : Kuletronics
8. BURNT FRIEDMAN vs KONONO N°1 : Rubaczech
9. ONEIDA vs KONONO N°1 : Nombre 1!
10. OpTIMO vs KONONO N°1 : Wumbanzanga
11. BASS CLEF vs KASAI ALLSTARS : The Incident At Mbuji-Mayi
12. EYE vs KONONO N°1 : Konono Wa Wa Wa
13. SYLVAIN CHAUVEAU vs KONONO N°1 : Makembe

O primeiro single do álbum, com a versão dos Deerhoof, está disponível para descarga gratuita no site da Crammed. Mais informações aqui.

Fucked Up tocam à mesma

O concerto dos Arcade Fire pode ter sido cancelado, mas há uma boa notícia: os Fucked Up, que vinham fazer a primeira parte ao espectáculo dos seus conterrâneos no Pavilhão Atlântico, vão tocar à mesma em Lisboa. Será no dia 18, na ZDB, com aquecimento a cargo dos vianenses Mr. Miyagi. Os Fucked Up tocam também no Porto, no Plano B, no dia seguinte, integrados na programação do novo festival mensal da Lovers & Lollypops, o NÁICE.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O novo álbum dos Hipnótica

Os Hipnótica andam outra vez pelos palcos do país, agora com novo álbum, "Twelve-Wired Bird of Paradise". Ainda ontem estiveram na primeira parte dos Broken Social Scene, na Aula Magna, e hoje vão fazer o mesmo no concerto do Porto, na Casa da Música. Há meses, pediram-me para redigir o press release do disco, que aqui reproduzo de seguida. Se é verdade que a linguagem de um PR é quase sempre diferente, mesmo que ligeiramente, de uma crítica propriamente dita, acreditem que o álbum é um autêntico estrondo e que tudo que aqui escrevo é absolutamente fiel à opinião com que fiquei deste novo trabalho dos Hipnótica logo desde o primeiro momento em que o escutei.
Os Hipnótica nunca foram de ambientes especialmente soturnos ou carregados, mas dá quase vontade de dizer que, ao quinto álbum de originais, os rapazes que há 16 anos se lançaram para a música no Palco Oriental, em Lisboa, descobriram… a luz do Sol, os passarinhos a cantarem, as cores de uma paisagem relaxante.

Não seria inteiramente verdade, teimo, mas quanto mais se ouve “Twelve-Wired Bird of Paradise”, mais fica a certeza de que os Hipnótica abriram uma daquelas janelas que esteve sempre fechada na sala de ensaios e deixaram entrar uma brisa de frescura primaveril nas composições. Entraram na pop sem medos, uma pop leve sem ser ligeira (o musiquês permite estes paradoxos linguísticos), uma pop sofisticada. Talvez agora venhamos a preferir vê-los em concerto à tarde, num piquenique no parque, com crianças (que brinquem no “Playground” da primeira faixa). Não quereremos mais Hipnótica à noite, em salas fumarentas.

Temas como “Playground”, “Black Glove”, “It’s OK to Get Lost”, “Sun Palace” ou “Wild Side” ajudam a ilustrar o que há cima designava, algo pomposamente, por pop sofisticada. Sofisticada porque está lá a leveza das canções, mas, afinal de contas, porque as pessoas continuam a ser as mesmas (ou quase: saiu Eduardo Raon e entrou o guitarrista JP Daniel), também se mantém a preocupação com os arranjos, o cuidado quase doentio pelas harmonias e simpatias entre os instrumentos, entre os instrumentos e a voz de João Branco Kyron, cuidado esse que já era notável no álbum anterior, “New Communities for Better Days”.

Procurando manter as metáforas ao largo, que novidades há nestes arranjos que ajudam a explicar a mudança? Há essencialmente duas que ressaltam destas primeiras audições: a guitarra acústica dedilhada do estreante JP Daniel, omnipresente ao longo do disco e integrada de forma absolutamente feliz no espaço que lhe cabe, muitas das vezes em diálogo com a de Bernard Sushi, que para este disco quase largou os teclados, e as apostas nos loops envolventes que transformam as canções em danças para a mente (e para o corpo, por vezes).

Depois de horas e horas a tentar fugir àquele lugar-comum dos press releases e das críticas de discos novos em que se diz que o artista reinventa-se no álbum em causa, devo admitir: desisto. Os Hipnótica reinventaram-se neste disco. Não há como fugir. E é, provavelmente, o melhor álbum que os Hipnótica gravaram até hoje.

Contrapondo o lugar-comum anterior, deixo uma proposta improvável para fechar um press release, se a banda deixar passar o desafio e o ouvinte estiver a fim (e a tempo) de o experimentar: tente ouvir primeiro, antes de tudo o resto, “Bang Bang Steel Drum”, a última faixa do disco. Sou capaz de apostar que vai depressa querer saber o que se passou nas faixas anteriores. Vai, como que houvesse aqui uma aventura que merece a pena ser experimentada. Uma aventura que chega ao fim neste paraíso caribenho desenhado pelo António Watts no steel drum , o instrumento de percussão mais solarengo (e eu acrescentaria mais nostálgico) que o mundo da música já conheceu. Seja qual for a opção tomada pelo ouvinte, ter este “Bang Bang Steel Drum” a começar ou a fechar é uma massagem encantadora aos canais auditivos e a tudo o que há depois deles a caminho do cérebro. É mais ou menos isto a pop sofisticada de que falava.


Um bom rumor, para desanuviar: Grinderman em Portugal?

É apenas ainda um rumor, mas parece que os Grinderman, de Nick Cave e Warren Ellis, vem a Portugal em Maio do ano que vem...

domingo, 7 de novembro de 2010

Morreu o Cintra

Há meia dúzia de anos, escrevi este pequeno relato de um quotidiano que veio a repetir-se desde então:

Voyeurismo de hora de almoço

De vez em quando, vou almoçar a um café na Barata Salgueiro, um pouco mais abaixo da Cinemateca. Frequentemente, encontro dois indivíduos, cada um com mais de sessenta anos de idade, por certo, sempre na mesma mesa. Um deles usa um boné que diz logo que deve ser um velho intelectual de esquerda, apreciador de jazz, apreciador do bom charuto. O outro fala imensamente alto, de maneira que toda a esplanada do café toma conhecimento das conversas tidas entre os dois. Na mesa, há sempre diversos jornais e revistas, essencialmente publicações de letras, de cinema ou de actualidade, do Record ao Expresso. Entre eles trocam discos, cassettes de vídeo com filmes ou gravações de concertos e, imaginem, recortes de jornais que podem ir de críticas a um determinado filme ou a notícias tão específicas como o "tempo que demorará a viagem de TGV de Madrid a Lisboa". Nas conversas, falam da programação do Musik, daquele filme raríssimo que devia ter uma exibição num qualquer cineclube local, de viagens a Espanha que vão fazer com outras pessoas, não esquecendo de tomar nota da importância do facto de se passar por Badajoz para se comprar charutos.
Era só para dizer que, se chegar à idade deles, quero ser assim.


Ao longo deste tempo, e na partilha do horário do almoço, vim a conhecê-los melhor. Como camaradas de trabalho, quase daria para dizer, pelo menos em relação a um deles, o que usava boné e era apreciador do bom charuto, como dizia no relato. era o Cintra. Manuel Cintra Ferreira, programador da Cinemateca e crítico de cinema no Expresso. O outro, que na verdade só aparecia uma vez por semana, era o Luís, seu compadre e amigo de longa data, desde que se conheceram nos míticos cine-clubes do tempo da outra senhora e nos ajuntamentos de fanáticos pela banda desenhada. Havia uma razão para falarem tão alto. E eu próprio vim, com o tempo, a falar também alto, sempre que almoçava com o Cintra. É que o Cintra ouvia mal, coitado, e porque gostávamos de conversar com ele, víamo-nos obrigados a encher os pulmões e assustar todos os incautos comensais da esplanada. Numa das últimas conversas, falávamos de cinema alemão e eu não tinha uma caneta. Imaginem o que é tentar falar em nomes alemães quase inexprimíveis, mesmo quando o interlocutor tem boa audição, e não ter uma caneta à mão para os escrever na toalha da mesa...

Há meses, o Cintra dizia-me que tinha um tumor no cérebro. Logo a seguir, deixou de aparecer. Foi operado. Voltou mais tarde, para alguns almoços esporádicos, em que me contava histórias da casa de repouso onde tinha passado a residir. Ríamo-nos das tácticas de fuga dos outros velhos.

O Cintra morreu hoje, aos 68 anos (notícia TSF aqui). Não tinha família, pelo menos que falasse dela, mas deixou amigos enlutados.

Como dizia no relato de há seis anos, se chegar à idade deles, quero ser assim.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ZDB faz anos e dá festa

A ZDB faz 16 anos. Parece que foi ontem que abriu as portas. Não, não parece nada. Na verdade, e pelo menos no que diz respeito à música, a oferta em Lisboa ganhou tanto em quantidade, diversidade e qualidade, que o ano de 1994 já parece muito longíquo. E a ZDB teve, justamente, um papel a dizer em toda esta evolução.

A festa de aniversário acontece hoje, nas instalações da rua da Barroca. Ao palco vão subir Sun Araw, Scout Niblett e U.S. Girls. Depois há música escolhida por gente como Gabriel Abrantes, Meghan Remy, Daniel Schmidt e Sérgio Hydalgo. A entrada custa 10 euros.



Fica aqui, já agora, a programação conhecida para o resto do ano:

Sábado, 13/Nov - Daniel Higgs, David Maranha & Gabriel Ferrandini
Sexta, 19/Nov - Variable Geometry Orchestra
Sábado, 26/Nov - Nobuyasu Furuya, Gabriel Ferrandini, Eduardo Lála, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro
Quarta, 1/Dez - Prince Rama | Vítor Lopes
Domingo, 5/Dez - Lower Dens