segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Jackie-O Motherfucker cancelados

Os concertos dos Jackie-O Motherfucker no Porto e em Lisboa, previstos para o final de Dezembro, foram cancelados. A informação é U-Sound Archive, a etiqueta de CD-Rs: «sorry to those in Italy, Spain and Portugal, we had to cancel those shows.»

Mais uma feira do disco na Gare do Oriente

Nos primeiros três fins-de-semana de Dezembro, sexta-feiras incluídas.

Charadas #88

Ver, ouvir e sentir para crer

"Tens que ir lá, tens que ir lá." É uma expressão que gostamos de usar sempre que descobrimos algo que os nossos amigos não conhecem ou, no limite, nunca quiseram conhecer. Podemos estar a falar de uma viagem a um local paradisíaco apenas conhecido por alguns, de um daqueles filmes das nossas vidas que passam numa sala refundida sem que ninguém lhes ligue ou de uma suculenta galinha de cabidela servida numa qualquer tasca com fachada manhosa, algures em Trás-os-Montes.

"Tens que ir lá, tens que ir lá." Por vezes, o mais difícil, no meio de tanto entusiasmo, é conseguir fazer que as nossas palavras tenham um mínimo de credibilidade. Os olhares de desconfiança levantam-se sempre que falo nos Uxu Kalhus e naquele baile no Mercado da Ribeira, em Março deste ano, a minha primeira investida neste cada vez mais popular mundo de danças, música e alegria. Na verdade, também eu terei olhado o L... com desconfiança dessa primeira vez.

"Tens que ir lá, tens que ir lá." No passado sábado, os Uxu Kalhus voltaram ao Mercado. Desta vez, já não era eu o novato, mas deu para sentir a felicidade estampada no rosto daqueles que agora foram os caloiros. O B... já dizia que não queria saber das electrónicas para nada, no intervalo entre uma mazurca e uma chotiça, antes de uma rapariga roliça o puxar para o centro do baile. O P..., que vinha de Almada, assistia com espanto ao rigor estético das centenas de "bailonautas". A C..., repetia insistentemente que não sabia dançar, mas não resistia a um pé de dança no meio dos outros. O N..., que era talvez o mais desconfiado de todos, irradiava um largo sorriso de felicidade. O outro P..., que já não era caloiro, pulava, dançava, gritava, caia...

Hoje, volto a dizer o mesmo que dizia há oito meses. Estar num bailarico destes é uma sensação invulgar. Sem que tenha havido grande promoção, centenas e centenas de excelentes "bailonautas" (a expressão é deles) juntam-se naquela sala do Mercado da Ribeira e durante largas horas entregam-se uns aos outros numa folia imensa de danças europeias (e não só), até que o corpo não possa mais. É o verdadeiro underground que ali acontece, é uma nova face da militância que se os mais velhos recordam da pop nos anos 80. Os principais culpados são os Uxu Kalhus e a associação Pédechumbo. Continuem, se fizerem o favor. De baile para baile, são cada vez mais aqueles que ficam rendidos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2004

Notas breves de algo a que chamamos músicas do mundo

O diabo
É já para a semana que o diabólico acordeonista finlandês Kimmo Pohjonen regressa a Portugal, agora no formato Kluster, que integra ainda Samuli Kosminen (baterista e samplista que já trabalhou com os múm, por exemplo). Dia 1, no TAGV de Coimbra, dia 2, no Forum Lisboa e ainda dia 3, na Casa das Artes de Famalicão.

O planeta dança
Amanhã, sábado, os Uxu Kalhus voltam ao mercado da Ribeira, em Lisboa, para uma noite de viras, corridinhos, mazurcas, chotiças e muito mais. Com selo de garantia aqui do tasco, a noite de amanhã promete dar várias horas de enorme folia.

O encontro das Crónicas
O vizinho Luís Rei, das Crónicas da Terra, volta a promover a sua original iniciativa, um encontro com apreciadores (ou não) das músicas do mundo, onde se poderá ouvir algumas das mais recentes novidades discográficas e, ao mesmo tempo, discutir os mais diversos assuntos, enquanto se bebe um copo. Um ou mais. Amanhã, a partir das 18h30, no Lisboa Bar (entre o largo do Carmo e o da Trindade), ali junto ao Bairro Alto.

Citação gay-mórbida do dia

Rufus Wainwright sobre Jeff Buckley, conforme citado no Y de hoje:
«Não lhe ofereci um broche [risos], mas passei uma noite muito agradável com ele. Nessa noite percebi como a inveja pode ser fútil (*). E, claro, um mês depois ele morreu.»

(*) esta citação vinha em resposta ao facto de Wainwright ter sentido inveja de Buckley no início da sua carreira, num caso que é referido na "breve" do Y.

Algumas curiosidades do audioscrobbler

Percorrendo algumas das páginas do audioscrobbler (o que é o audioscrobbler? é favor ler mais abaixo), deparamos com algumas curiosidades:

Top de artistas ouvidos pelo "group" Sonic Youth (onde estão inscritos, teoricamente, os admiradores dos SY, portanto):

1 Clutch 8719
2 Sonic Youth 8558
3 Radiohead 6280
4 The Beatles 5046
5 Pixies 3617

Já no "group" dos godspeed you! black emperor:
1 Radiohead 13638
2 Clutch 8150
3 The Smashing Pumpkins 6285
4 Modest Mouse 5554
5 Mogwai 5431

(a pergunta natural que se coloca é: mas que raio fazem os Clutch nestas duas listas?)

E no "group" de Lightning Bolt ouve-se... Beatles:
1 explosions in the sky 623
2 The Advantage 613
3 Elliott Smith 605
4 Neutral Milk Hotel 576
5 The Beatles 522

Que também são ouvidos no "group" dos Einstürzende Neubauten:
1 Sonic Youth 942
2 Einstürzende Neubauten 722
3 The Beatles 638
4 Depeche Mode 591
5 The Flaming Lips 561

Este é o top de faixas, desta semana, em todo o universo audioscrobbler:
1. Franz Ferdinand - Take Me Out (mantém-se)
2. Green Day - Boulevard of Broken Dreams (subiu)
3. The Postal Service - Such Great Heights (desceu)
4. Modest Mouse - Float On (subiu)
5. Green Day - American Idiot (desceu)

Para aceder ao group do Juramento sem Bandeira, basta ir aqui.

Marretas #2

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

Ocasião rara para rever a Sétima Legião

Charadas #87

Rockmusic Challenge 2004: semana três

O tema "O papel das editoras independentes na edição de novos projectos" vai hoje ser debatido na FNAC Norteshopping, a partir das 22h, em mais uma conversa promovida pela corrente edição do concurso Rockmusic Challenge. Na mesa vão estar presentes: Rodrigo Cardoso, da Bor Land, Martinêz, da Matarroa, e Marco Azevedo, da Volume. Isidro Lisboa, da Rádio Nova, vai moderar o debate.
No sábado, decorrerá mais uma eliminatória do concurso. Ao palco do Hard Club vão subir os Pitch Black (Porto), os Quetzal's Feather (Porto) e os Hyubris (Tramagal). Os padrinhos da noite vão ser os aveirenses Anger. A partir das 22h.

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Charadas #86

O audioscrobbler

Há poucos dias, interrogava-me no Forum Sons pelo real significado de um conceito como o TOP da Associação Fonográfica Portuguesa, quando sabemos que meio mundo copia discos que o outro mundo já havia copiado sabe-se lá de onde, que quase toda a gente sabe ir ao pássaro azul ou a qualquer outro p2p descarregar as últimas novidades. Não seria mais interessante, ainda que nada praticável, ter-se o top dos CD-Rs gravados ou dos mp3s descarregados?

Não há dia em que não apareça pela internet um gadget novo que nos permite fazer isto ou aquilo. Alguns são francamente inúteis, outros, pelo contrário, correspondem a necessidades existentes ou abrem ainda novas perspectivas na utilização das tecnologias.

O audioscrobbler é um desses tais novos gadgets que promete dar consistência prática, fácil e eficaz a determinado conceito do dia-a-dia dos amantes da música que poderíamos prosaicamente denominar por "Que estás tu a ouvir?".

«Audioscrobbler is a computer system that builds up a detailed profile of your musical taste. After installing an Audioscrobbler Plugin, your computer sends the name of every song you play to the Audioscrobbler Server. With this information, the Audioscrobbler server builds you a 'Musical Profile'. Statistics from your Musical Profile are shown on your Audioscrobbler User Page, available for everyone to view.»
(in www.audioscrobbler.com)

Mas há mais para além do "Que estás tu a ouvir?". Podemos, com a ajuda do audioscrobbler saber "O que estão ELES a ouvir?", onde o "ELES" pode ser um qualquer grupo de pessoas que, ora se registaram num "group" específico (vejam o que anda a ouvir o Forum Sons, por exemplo), ora partilhem de semelhanças em determinados critérios (vejam, por exemplo, o top dos portugueses registados... argh, evanescence).

O sistema ainda está longe de ser perfeito. O winamp (ou outro leitor da simpática lista de possibilidades que o audioscrobbler oferece) não envia para lá informação a respeito de IDtags que não estejam bem definidas no MP3 (aconteceu-me há pouco com um mp3 de um longínquo tema do Pedro Ayres Magalhães) ou, no caso dos CDs, não reconhece discos que não tenham CD-text ou qualquer registo nas bases de dados internacionais (ou é uma ou outra situação, o que sei é que estou a ouvir a compilação da última Wire e o audioscrobbler não está a registar nada). Já para não falar, obviamente, nos casos em que ouvimos música noutros meios que não o computador... Mas, ainda assim, como aproximação, e perante uma amostra tão grande de melómanos que ouvem discos no PC do trabalho ou de casa, os resultados podem ser, como dizem os estatísticos, representativos.

Deixo-vos duas ligações adicionais, a minha playlist e a playlist agregada do Juramento Sem Bandeira, grupo que está aberto à inscrição de qualquer um dos leitores aqui do tasco:
www.audioscrobbler.com/user/junqueira/
www.audioscrobbler.com/group/Juramento%2BSem%2BBandeira

terça-feira, 23 de novembro de 2004

Cabeças do futuro


"The Futureheads" (Sire, 2004)

Estes ainda vão deixar os Franz Ferdinand, para os quais, aliás, já abriram concertos, na sombra do campeonato dos revivalistas. O álbum de estreia, produzido pelo Gang of Four Andy Gill respira The Jam, The Jam, The Jam, The Jam, The Jam, The Jam e ainda The Jam por todos os poros. Jovem, se também achas que o Paul Weller anda perdido em cançonetas sensaboronas que te deixam deprimido, eis o teu remédio ideal. As primeiras audições fazem um tipo pôr-se aos pulos. Amanhã, como no caso dos Franz Ferdinand, poderemos ficar cansados. Mas que se lixe.

O drone que veio do frio

Querem mais texturas, depois dos Dead Texan, aqui ontem abordados? Pois oiçam então o terceiro álbum do projecto Es, do finlandês Sami Sänpäkkilä, um habitué do festival Avanto, quer enquanto músico, quer enquanto realizador. Ao contrário das melopeias dos Dead Texan, ideais para se trautearem com todo o tempo do mundo algures na imensidão de um deserto quente americano, daqueles onde a única coisa que se passa é o vento a empurrar velhos arbustos secos, o trabalho de Es remete para uma visão mais sombria, inconsequente e regularmente regular de uma paisagem rural europeia (nórdica?) de outros tempos, onde não faltam sequer os badalos dos rebanhos de animais e os sinos de igreja. Se, e continuando no domínio das imagens que os drones têm por hábito fazer disparar no nosso cérebro, Dead Texan é um western em câmara lentíssima, Es é um Carl Dreyer com muito grão filmado no campo. "Kaikkeuden Kauneus Ja Käsittämättömyys", que segundo Yari, o finlandês mais português que eu conheço, significa qualquer coisa como "A beleza e a inconcebibilidade do todo" (ena!), merece a escuta por ouvidos pouco apressados.
(Es é um dos projectos abordados no artigo da última Wire sobre o underground finlandês, o que deixa perceber que pode ainda haver mais surpresas interessantes a descobrir no país nórdico...)
Site oficial: www.escycle.com

Charadas #85

The Wire #250

Já chegou a Wire de Dezembro. A capa não será imediatamente reconhecível, mas a opção estética escolhida aponta directamente para o principal trabalho desta edição, uma selecção de setenta dos melhores riffs da história da música, desde os Bad Brains aos Stooges, desde o Aphex Twin aos Matmos. Com este número vem ainda mais um Wire Tapper, o nº12 (há uma faixa dos portugueses @c), e ainda artigos sobre a nova vaga underground finlandesa, Marshall Allen, John Peel, Greg Davis, entre outros assuntos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

The Dead Texan em Janeiro



Adam Wiltzie, dos Stars of the Lid (e também técnico de som ao vivo para grupos como Labradford, Flaming Lips ou Mercury Rev), está de volta. A ele junta-se a realizadora Christina Vantzos, no complemento visual das texturas sonoras de Wiltzie, no projecto The Dead Texan, com álbum homónimo acabadinho de sair pela Kranky. Absolutamente recomendado para quem se delicia com as texturas dos Labradford ou dos Stars of the Lid.
E, já agora, fica também a notícia, confirmada via página das digressões da Southern (a distribuidora para a Europa da Kranky), que o duo vai estar em Portugal para três concertos no início do ano que vem: 14 de Janeiro, na ZDB, em Lisboa; e os dias seguintes nas cidades do Porto e de Faro, em locais a anunciar.
Site oficial dos Dead Texan: www.brainwashed.com/sotl/deadtexan/

Charadas #84

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Marretas #1

Hoje não há charadas. Há marretas!
A ideia é a mesma: um ponto para quem acertar no artista escondido e quem chegar aos dez ganha.

Ops... erro na agenda

O concerto dos Rose Blanket na ZDB é hoje, sexta-feira, e não amanhã, como estava erradamente agendado. Porque amanhã há...

MAX TUNDRA!

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Homenagem à Galiza

Porque aqui pelo tasco se gosta muito da irmã Galiza, aqui vai a divulgação deste evento que ocorrerá no próximo sábado:

No próximo sábado, dia 20 de Novembro, vai-se realizar, a partir das 21h, no Espaço Bento Martins, da Junta de Freguesia de Carnide (junto ao Largo da Luz) uma homenagem à Galiza, que consistirá em:
- exposição "Recordar o passado, prevenir o futuro: flashes informativos", elaborada no âmbito das disciplinas de Metodologia do Estudo do Meio, Didáctica das Ciências e Educação Ambiental, do Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE);
projecção do documentário "A Catástrofe do Prestige";
- declamação de poesia galega, a cargo do Centro de Estudos Galegos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa;
- leitura de um manifesto escrito por Manuel Rivas, um dos maiores escritores galegos da actualidade;
- actuação de baile galego e de música galega;
- queimada;
- baile de danças europeias, que será orientado pela Mercedes Prieto, e onde também tocará Paulo Marinho, Diogo Leal, entre outros músicos.

O senhor Colin Newman está de volta


Githead "Headgit" (EP Swim, 2004)

O antigo vocalista dos Wire, agora acompanhado por Robin Rimbaud (o senhor Scanner) e Malka Spigel (olha, uma Minimal Compact!), está de volta com um novo projecto, Githead. O EP "Headgit" é um aperitivo para o álbum que sairá para o ano que vem. O estilo vocal é exactamente o mesmo, os restantes instrumentos também lembram Wire, mas o clima geral do disco é mais solarengo, mais acessível. Altamente recomendável.

A revolução de veludo faz quinze anos

Foi em Novembro de 1989, pouco tempo após a queda do muro de Berlim. Milhares de pessoas reuniam-se nas ruas de Praga. Os estudantes não ofereciam resistência e atiravam flores à polícia. Os teatros eram ocupados para discussões públicas. Entre a massa popular sobressaia um porta-voz, Václav Havel, escritor, dramaturgo e... fã dos Velvet Underground. A revolução sem sangue que viria a depor o regime soviético ficaria conhecida para o mundo exterior como a "Velvet Revolution". Dois anos mais tarde, num encontro entre Lou Reed e Václav Havel (que viria a ser presidente da República Checa, até ao ano passado), o último terá dito ao guitarrista: "Did you know that I am president because of you?"

Charadas #83

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Mais um regresso: Gang of Four

O rock'n'roll cada vez se parece mais com um Canal Memória de si mesmo. Se isso é bom ou mau, não conta para agora, sendo que, entre os vagalhões de puro oportunismo capitalista, há sempre uma ou outra onda que volta a bater na areia da praia com um ruído interessante. E, já agora, se há meio mundo a aparecer aí do nada a imitar os padrões rítmicos dos Gang of Four, porque não ouvir o que têm os veteranos a dizer nos dias que correm? É o primeiro regresso do grupo como um todo, desde que abandonaram os palcos em 1981.
Para já, o regresso acontece em cinco palcos ingleses (Manchester, Leeds, Bristol, Birmingham e Londres) no final de Janeiro. Com o tempo, saber-se-á se haverá o disco da praxe e outras digressões.

Morreu John Balance

Um acidente doméstico -- uma queda de cinco metros -- levou a vida a Geff Rusthon, aliás John Balance, o membro fundador dos Coil. Ao longo dos últimos vinte anos, Balance colaborou ainda com outros projectos de uma extensa família artística onde cabiam os C93, os Death in June, Psychic TV, Nurse With Wound, entre outros. Um livro de condolências está a ser preparado em www.thresholdhouse.com.

Charadas #81 (3ª série)



(Como habitualmente, há um ponto em jogo todos os dias para quem acertar. Quem chegar aos dez, ganha.)

Eles vivem

Sexta-feira, ou melhor, madrugada de sábado. Lá para as três da manhã. Na rua da Atalaia, esconde-se por trás de uma porta fechada um antro que naquela noite acolhe uma fauna que se pensava extinta na cidade. Antropólogos musicais têm especulado acerca das comunidades que ainda perduram em certas zonas dos subúrbios, mas naquela noite podiam ter testemunhado a descida da espécie à cidade. E tomar nota nos seus cadernos que se mantêm os hábitos de há quinze anos. Que os espécimens mais velhos continuam a ostentar longas cabeleiras até à zona dos rins. Que continuam feios. Ou ainda mais feios, com o progredir da idade (por outro lado, há mais mulheres que outrora, e mais bonitas). Que entre todos, mesmo entre os mais novos, sobrevive o hábito salutar da air guitar, muitas das vezes ensaiada com o académico whirlwind. Que se mantém o polegar no bolso das calças de ganga elásticas. Os metálicos vivem! Sexta-feira à noite, no Tocsin.

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

O último fim-de-semana do Sons em Trânsito

E, já que se fala no Vasco, convém não esquecer que este é o último dos dois fins-de-semana do festival Sons em Trânsito, que está a decorrer no Teatro Aveirense, na cidade dos ovos moles. Para hoje (ontem já por lá actuou a cubana Omara Portuondo), vamos ter os espanhóis El Bicho e, amanhã, Afel Bocoum, do Mali. Os primeiros fazem parte da galeria de renovadores do flamenco, a par, por exemplo, dos Ojos de Brujo. O último é um discípulo daquele que é provavelmente o nome mais reconhecido do Mali, Ali Farka Touré. Não esquecer: os espectáculos estão agendados para as 21h30.

Dead Can Dance e ganham vida



Pois é. Os Dead Can Dance vão voltar ao estúdio e aos palcos. Em Março e Abril do próximo ano, vai passar por várias cidades europeias a digressão de apresentação do novo disco. Mas... não passa por Portugal. O Vasco Sacramento, da Sons Em Trânsito, ainda tentou, mas a digressão já se encontra fechada. Eis as datas.

10/3 Dublin
12/3 Haia
14/3 Paris
16/3 Lille
17/3 Bruxelas
19/3 Bordéus
21/3 Madrid
22/3 Barcelona
24/3 Milão
23/3 Colónia
27/3 Munique
29/3 Berlim
31/3 Varsóvia
1/4 Riga
3/4 Sampetesburgo
6/4 Londres

Das duas, uma: ou aproveitamos as novas viagens aéreas ao preço da chuva da Ryanair ou aceitamos a sugestão da MetalBusTour, que está já a preparar uma excursão a Madrid (como se fazia antigamente).

Um tema que não me sai do ouvido (e da coluna do PC)

"Water from the Same Source", a segunda faixa de "Systems/Layers", dos norte-americanos Rachel's.
Estes são os Rachel's que eu venero em absoluto.

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Sonic Novidades Youth

Allen Ginsberg
"Symphony Poem", que Ginsberg escreveu em 1966 tendo o Vietname como cenário de fundo, foi interpretado ao vivo por vários músicos nova-iorquinos em 1994, na St. Mark's Church. Uma gravação dessa performance foi recentemente editada e inclui, entre outras, as prestações de Lee Ranaldo, Steve Shelley, Arto Lindsay, Philip Glass, David Mansfield, Christian Marclay, Marc Ribot e Lenny Kaye.

Thurston Moore
Moore lançou um split 7" com John Wiese (Bastard Noise, LHD), escreveu um texto para a caixa dos Nirvana, "With the Lights Out", e actuou em conjunto com Jim O'Rourke e Maryanne Amacher numa festa da sua editora, a Ecstatic Peace.

O'Rourke, Kim Gordon e Ikue Mori
O trio vai abrir para os OOIOO na Knitting Factory, neste próximo sábado. Os OOIOO são uma banda da japonesa Yoshimi, dos Boredoms, que esteve também na bateria das Free Kittens, a girls band de Kim Gordon. Começaram por lançar o primeiro álbum na Kill Rock Stars (Unwound, Sleater-Kinney), passaram pela Ipecac (de Mike Patton) e acabam de lançar "Kila Kila Kila" para a Thrill Jockey.

O'Rourke e Nursw With Wound
Os Nurse With Wound vão lançar não um, não dois, mas sim três novos álbuns, que vão, imaginem, contar, todos eles, com a colaboração de Jim O'Rourke. Os três álbuns têm todos eles o mesmo título, "Angry Electric Finger".

Goo 2005
Duplo CD, quádruplo LP. Inclui o álbum original remasterizado, maquetas gravadas em oito pistas e temas que ficaram de fora, além de um livro de vinte e quatro páginas com fotos e ensaios.

SYR 6 (ou 7)
A colecção SYR vai ser aumentada em 2005 com a reedição do primeiro EP do grupo, acompanhada de temas inéditos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Entrevistas imaginárias #3: Tu Dissestes

Vejo que são fãs dos Mão Morta, mas há ali...
...um erro? Não, não há nenhum erro. Nós somos cinco elementos, somos, portanto, os Tu Dissestes. Nem somos propriamente fãs dos Mão Morta, mas o que é que isso interessa?

Nada, nada. Falem-me então um pouco...
...queres saber como é que começámos? Pois, nós tínhamos uma banda de covers, chamada Portantos. Certo dia, o baixista, o Téni, foi estudar para fora e como o nosso baterista dedicava mais do seu tempo ao seu projecto a solo de rock cristão, Jesu, achámos que era melhor parar. Porém, encontrámos uma nova secção rítmica, deixámos o circuito dos bares para trás e aqui estamos com um novo nome.

Que esperam deste vosso...
...álbum de estreia? Bom, nós demorámos dois anos a fazer "Ó jóia, Anda Cá ao Ourive", porque queríamos que fosse um disco conceptual. Retrata, no fundo, todo aquela dimensão de repressão sexual que existe nos backstages em Portugal. Para toda a gente, o livro do rock'n'roll recorre página sim, página sim, a essa mítica personagem da groupie. Nós temos anos e anos de estrada e devo dizer-te que nenhum de nós alguma vez teve sexo gratuito por empunhar uma guitarra em palco. Não pretendemos com este disco mudar as consciências, mas devo dizer que já andamos fartos de ser enganados com tanta conversa de rock'n'roll isto, rock'n'roll aquilo. Onde é que ele anda?

Espero que o encontrem nestes próximos concertos. Existem mais...
...planos para o futuro? Já temos um segundo disco gravado. Manterá o conceito do primeiro e chamar-se-á "Em Busca do Oási".

Pirataria e indústria musical

Para interesse de economistas (e não só), o NBER (National Bureau of Economic Research dos EUA), publicou recentemente um paper desenvolvido por uma equipa de professores da Pennsylvania que aborda o impacto dos downloads ilegais na venda de música. Vou lê-lo e depois trago para aqui as principais conclusões. O paper tem o título "Piracy on the High C?s: Music Downloading, Sales Displacement, and Social Welfare in a Sample of College Students" e esta é a sua sinopse:

Recording industry revenue has fallen sharply in the last three years, and some ? but not all ? observers attribute this to file sharing. We collect new data on albums obtained via purchase and downloading, as well as the consumers? valuations of these albums, among a sample of US college students in 2003. We provide new estimates of sales displacement induced by downloading using both OLS and an instrumental variables approach using access to broadband as a source of exogenous variation in downloading.
Each album download reduces purchases by about 0.2 in our sample, although possibly much more. Our valuation data allow us to measure the effects of downloading on welfare as well as expenditure in a subsample of Penn undergraduates, and we find that downloading reduces their per capita expenditure (on hit albums released 1999-2003) from $126 to $100 but raises per capita consumer welfare by $70.

terça-feira, 9 de novembro de 2004

CocoRosie e Antony novamente no Porto

Devido à grande afluência de público ao concerto de ontem à noite, o Passos Manuel volta hoje a receber CocoRosie e Antony, numa data extraordinária. Amanhã é a vez do Lux, em Lisboa.

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Covers famosas #5: All Along the Watchtower

Autor: Bob Dylan
Ano: 1967
Versão-chave: Jimi Hendrix

O senhor Zimmerman é um dos mais citados autores da música popular dos últimos quarenta anos. De "A Hard Rain's A-Gonna Fall" a "Maggie's Farm", de "Blowin' in the Wind" a "Knockin' on Heaven's Door", dezenas e dezenas de criações suas foram revisitadas nas mãos e vozes de outros. "All Along the Watchtower" é um desses exemplos, e carrega consigo uma curiosa história.

"All Along the Watchtower" era uma das melhores canções de "John Wesley Harding", o álbum que em 1968 marcou o regresso do cantautor, depois de uma ausência motivada em parte por um acidente de mota sofrido dois anos antes. A conversa entre dois prisioneiros, um bobo (joker) e um ladrão, que Dylan canta no tema, é interpretada por alguns como uma referência à indústria musical, meio em que o autor se sentiria cada vez mais asfixiado. É o próprio bobo que diz:

There's too much confusion, I can't get no relief.
Businessmen, they drink my wine, plowmen dig my earth,
None of them along the line know what any of it is worth.


O ladrão, por sua vez, riposta de forma curiosa:

«No reason to get excited, (...)
There are many here among us who feel that life is but a joke.»


Interpretações à parte, até porque a obra de Dylan se presta às mais diversas visões -- existem cursos académicos nos EUA a propósito das suas letras e o seu nome é todos os anos referido como canditado a Nobel da literatura -- a história curiosa que este tema encerra enquanto cover, a tal a que mais acima se aludia, tem como protagonista outro gigante da música popular norte-americana, o guitarrista Jimi Hendrix. Reza a lenda que Hendrix, poucas semanas após o lançamento de "John Wesley Harding", se terá encontrado numa festa com Dave Mason, dos Traffic, e lhe terá dito que queria gravar "All Along the Watchtower". Dito e feito: alguns dias depois, juntar-se-lhes-ia em Londres o baterista Mitch Mitchell, da Jimi Hendrix Experience e com ele fariam uma versão do tema. A citação de Hendrix acabou quase por se tornar a versão oficial, que tem levado ao longo dos anos a que seja pensada por muitos como a versão original. Mas mais interessante ainda é que o próprio Bob Dylan, que achava aquela versão melhor do que a original, alterou a sua maneira de tocar, aproximando-se muito perto da versão mais roqueira, mais selvagem de Hendrix...

Muitos outros artistas deram novas formas a "All Along the Watchtower" ao longo dos tempos. Richie Havens, XTC, U2, Neil Young, Grateful Dead, Saint Etienne, Dave Matthews Band, The Indigo Girls, Taj Mahal, e, mais recentemente, Paul Weller, foram alguns -- uma pequena escolha entre centenas e centenas de nomes -- dos que o fizeram.

Música & bola #4

domingo, 7 de novembro de 2004

Headbanging precoce

O meu Tomás (quase 11 meses) carrega num botão de qualquer um dos seus brinquedos sonoros e, mal ouve as primeiras notas das músicas, põe-se a menear a cabeça para cima e para baixo... HE ROCKS!

sábado, 6 de novembro de 2004

Parabéns Blitz!

Hoje é o teu vigésimo aniversário.
O que é que pagas?

A dança das entranhas

Devastador. Depois das armas não convencionais, depois das armas químicas, teremos, um dia destes, alguém do outro lado do Atlântico a exigir que a Finlândia (*) entregue o seu arsenal de armamento sonoro, onde a mais destruidora peça de artilharia são os Pan Sonic, que ontem fizeram parada militar no Lux, por ocasião do Número Festival 2005. A sala começou por se ir esvaziando progressivamente até cerca de um terço da sua lotação, processo que coincidiu mais ou menos com os momentos em que os Pan Sonic estavam, se o adjectivo é permitido neste contexto, mais calmos, ou então, se quisermos, mais ambientais e menos rítmicos. Mas, depois, à medida que a música vinda da cabine onde habitualmente os DJs trabalham (foi a sorte dos Pan Sonic... terem tocado com o débil PA do palco, como estava previsto, seria inglório) começou a ganhar contornos mais violentos, mais opressores, mais pá-tenho-o-corpo-todo-a-tremer, o espaço foi enchendo.
A música do duo finlandês é uma viagem. Não daquelas viagens que um jornalista, quando não tem nada de mais interessante para dizer, gosta de colocar nas suas reportagens. Acha que fica poético, que evoca Corto Maltese ou Sinbad, o Marinheiro, mas não é de todo esse o caso dos Pan Sonic. A viagem a que me refiro é feita com os braços e pernas presos à parte de baixo de um comboio, e os dormentes de madeira passam muito mais rapidamente que as do genérico do "Europa", do Lars von Trier, mas não deixam por isso de ser igualmente hipnotizantes. E se há música para o espírito e outra para bater o pé, a dos Pan Sonic só pode ser para a dança das entranhas. De cada vez que Ilpo Väisänen rodava um potenciómetro de ruído, o pâncreas deslocava-se um centímetro e meio para o lado. Quando Mika Vainio puxava um ritmo grave, daqueles próximos do limite inferior das frequências escutáveis pelo ouvido humano, o estômago palpitava com mais paixão que o coração...
Foi, provavelmente, a melhor das três prestações que os Pan Sonic já fizeram no nosso país. Só assim, se pôde sair ontem da atribulada noite do Número (os atrasos do costume, os problemas técnicos do costume) com um largo sorriso na cara. É que as propostas anteriores (à excepção dos Bulllet, que não tive oportunidade de ver), foram todas elas demasiado fraquinhas.
Pan Sonic (9/10)
Mira Calix (como dj) (7/10)
Dani Sicilianno (5/10)
Juana Molina (5,5/10)

(*) Não vale a pena invadir a Finlândia, no entanto, caros senhores da guerra. Há anos que estes dois suspeitos não habitam aquela região.

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Não havendo palavras, restam as imagens

The day after

Num dia triste como este, não resta vontade de escrever seja o que for. Tanto mais num sítio gerido por um grupo de nerds conservadores e pró-guerra...

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Um palco português (breves notas de optimismo)

Já aqui defendi a tese -- e não encontrei ainda razões para ter outra opinião -- de que a indústria do disco, conforme a conhecemos, vai acabar e que o futuro da música passará essencialmente pelos palcos. De facto, todos os dias nos chegam exemplos de editoras (a médio prazo chamar-lhes-emos "antigas editoras") que despendem mais tempo e mais recursos na carreira dos seus artistas, particularmente nas digressões dos mesmos. Ao mesmo tempo, assistimos ao curioso facto de ver cada vez mais gente nos concertos, num tempo em que cada vez menos discos são vendidos. Se um disco se copia e se partilha com a maior das facilidades, impossíveis serão, por outro lado, as probabilidades de se duplicar a míriade de sensações que se obtém de um concerto, por definição único. Não pretendo alongar-me sobre estas evidências, já anteriormente debatidas, mas proponho a reflexão do assunto, tendo como pano de fundo a evolução do mercado "live" em Portugal, nos últimos tempos.

Por mais que aumentem o número de concertos ou o número de festivais de Verão, o preço dos bilhetes ou a repetição de determinados artistas, ficamos sempre com a ideia, perante as lotações esgotadas que vão acontecendo, que, com um bom cartaz e/ou uma boa promoção, quase tudo é possível. Mas estaremos a falar de algo realmente significativo ou é apenas conversa para inglês ver? Não. Se nos detivermos um pouco para reflectir na agenda de concertos deste ano de 2004, podemos contemplar o imenso salto que foi dado. Senão, vejamos:

No circuito de contornos mais "underground", já cá tivemos este ano nomes como os de Zu, Sole, Mono, Numbers, Deadbeat, Dat Politics, Xiu Xiu (mais do que uma vez), Damo Suzuki, Califone, Calexico, Steve MacKay, Liars, Six Organs of Admittance (mais do que uma vez), Panda Bear, Rosie Thomas, Devendra Banhart, Alias, The Cheese, Kid606, Gang Gang Dance, Elysian Fields, etc. Tudo isto e muito mais em dois ou três espaços (ZDB, Maus Hábitos, Alquimista ou O Meu Mercedes é Maior que o Teu), é certo, mas com perspectivas de se verem acompanhados de outras alternativas em breve. A incidência natural ocorre sobre Lisboa e Porto, mas aqui e ali vão aparecendo exemplos de digressões por outras cidades, como é o caso de Leiria, da Guarda ou da Feira, onde se realizou o "Festival para Gente Sentada".

Num circuito a meio caminho entre o "undergroud" e o "mainstream", muitos rejubilarão com a vinda dos Mogwai, dos Lambchop, dos Fantômas, dos Pixies, do Rufus Wainwright, do Nick Cave e de mais umas duas boas mãos cheias de nomes que tenham enchido a Aula Magna, o CCB ou o Coliseu do Porto.

No mainstream, são também inúmeros os casos que atestam a apetência do público por ver música (e todo o espectáculo e toda a histeria social promovida pelas marcas comerciais, é certo) em palco. Dos festivais de Verão da Música no Coração (a única má notícia pode ser o fim do Festival de Vilar de Mouros) ao Rock in Rio, de Phil Collins a Madonna, de Caetano Veloso a Maria Rita, encontramos grandes produções, elevadas ao direito de notícias de abertura dos jornais televisivos da hora de jantar e responsáveis pela deslocação de numerosas multidões a espaços como o Pavilhão Atlântico, em Lisboa.

Tematicamente, tivemos (e vamos continuar a ter) propostas de qualidade às quais o público acorre em grandes números redondos. No domínio das músicas do mundo, por exemplo, há a referir o cada vez maior festival de Sines ou, mais recatado por natureza, o Sons em Trânsito de Aveiro (a realizar em breve), para além de uma cada vez maior diversidade de pequenos festivais locais, sem esquecer o caso de sucesso que foi (e promete voltar a ser no próximo mês) a canadiadana Lhasa (não esquecer também o regresso de Kimmo Pohjonen). Nas electrónicas, mantém-se, com algum fausto programativo (não tanto na música, mas nas actividades paralelas) o Número Festival, enquanto outras entidades, como a Matéria Prima, do Porto, ou a Journeys, de Lisboa, mantém programações regulares (se isto continua a acontecer numa época em que toda a gente redescobriu o rock, é caso para dizer que "é obra").

E na música portuguesa? Como estamos? Os Xutos encheram o Pavilhão Atlântico. Os Mão Morta repetem o sucesso da "Carícias Malícias Tour", com as actuais "Sessões de Outono", desdobrando-se em inúmeros espectáculos todos os fins-de-semana. Vários outros grupos, como os X-Wife, os Texabilly Rockers, os Sloppy Joe ou os Loto seguem-lhes as pisadas e fazem ocasionalmente os cartazes de pequenos bares espalhados pelo país. Em Lisboa, nota-se, ainda que muito ligeiramente, uma certa apetência crescente por concertos de novas bandas. E as salas pequenas, fundamentais para a vitalização deste circuito? Em Lisboa, a ZDB parece ter já consolidado a sua acção, com duas ou mais noites de música ao vivo, de referência, a acontecerem todas as semanas, factor essencial para a fixação e, consequentemente, educação de novos públicos. O Santiago Alquimista esforça-se por oferecer uma alternativa a outro nível e promete regressar em força após neste final de ano. Novos espaços, como o Atmosferas, vão aparecendo. No Porto, a oferta parece ser maior, com os mui activos Maus Hábitos, Mercedes ou Hard Club, aos quais se juntará brevemente o novíssimo Passos Manuel. Em Coimbra, o Le Son promete voltar a agitar as águas. Por todo o país parece assistir-se ao reaparecimento de alguns bares, a maior parte deles acabados em "...u's" (Kastru's, Santu's, Ministrus, etc.), com música ao vivo para as populações jovens locais. E, na maior parte das vezes, isto está a acontecer, lembrem-se, sem os viciosos apoios das câmaras...

A conclusão óbvia que se tira deste breve retrato é que houve um salto importante na cultura da "live music". Quanto tempo vai durar este "boom" é uma pergunta difícil, mas o que mais importa agora é saber aproveitar a onda e esquecer, de uma vez por todas, o velho e habitual miserabilismo nacional, já hoje, num palco perto de si.

A não perder, hoje e amanhã

A tradição norte-americana da guitarra acústica (em seis ou doze cordas de aço), que o ausente John Fahey ajudou a perpetuar de forma indelével, encontra-se bem viva, pelas mãos de nomes como o de Ben Chasny (mais conhecido pela designação Six Organs of Admittance), Glenn Jones (dos Cul de Sac -- não confundir com o negro Glenn Jones, do R&B) ou Jack Rose (Pelt). Consideremo-nos sortudos, pois hoje e amanhã, na ZDB e no Aniki Bobó, respectivamente, vamos poder assistir aos dois últimos, Jones e Rose, em palco. Serão por certo duas excelentes e imperdíveis ocasiões para ouvir, ao vivo, estas soberbas interpretações de guitarra.

Curiosamente (e trata-se de uma triste curiosidade), ambos os guitarristas preparam-se para iniciar hoje uma digressão europeia que teria como um dos seus pontos mais importantes a passagem por casa de John Peel, para a gravação de uma "session"...

Apareçam!