quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

terça-feira, 30 de dezembro de 2003

Ahoy mates

Deixem-me saudar, ainda que um pouco tardiamente, a entrada de dois bons amigos na blogoesfera (argh, arranjem-me outro chavão). Um deles, o Luís Guerra, não é estreante nestas lides (gostam mais desta frase feita?). Podem lê-lo em poplimao.blogspot.com. O outro, o Jorge Mourinha, esse sim, um bloguista caloiro, está em mourinha.blogspot.com. Desenrole-se o tapete vermelho aos textos de ambos (esta foi bonita, não?).

Listas de 2003 #14 (tinymixtapes.com)



1. The Wrens - The Meadowlands (Absolutely Kosher)
2. The Books - The Lemon of Pink (Tomlab)
3. The Shins - Chutes Too Narrow (Sub Pop)
4. Broken Social Scene - You Forgot It In People (Arts & Crafts)
5. Lightning Bolt - Wonderful Rainbow (Load)
6. King Geedorah - Take Me to Your Leader (Big Dada)
7. Cat Power - You Are Free (Matador)
8. M83 - Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts (Gooom)
9. Radiohead - Hail to the Thief (Capitol)
10. Single Frame - Wetheads Come Running (Already Gone)

(a lista continua)

Listas de 2003 #13 (playlouder.com)



1. the darkness - permission to land
2. the hidden cameras - the smell of our own
3. four tet - rounds
4. outkast - speakerboxxx/the love below
5. the white stripes - elephant
6. the mars volta - de-loused in the comatorium
7. jane's addiction - strays
8. nick cave - nocturama
9. dizee rascal - boy in da corner
10. british sea power - the decline of british sea power

(a lista continua; além desta há ainda uma outra -- a shitlist -- bastante interessante...)

Blitz 1000

É hoje, terça-feira. Há 1000 semanas que sai o principal semanário musical português. A reedição de "Escrítica Pop", do Miguel Esteves Cardoso, que acompanha este milésimo número do jornal, deverá esgotar rapidamente, prevê-se. Toca a madrugar.
Que o Blitz possa chegar ao número 2000, pelo menos.

Listas de 2003 #12 (popmatters.com)



1. outkast - spaekerboxxx/the love below
2. white stripes - elephant
3. the chins - chutes too narrow
4. fountains of wayne - welcome interstate managers
5. dizee rascal - boy in da corner
6. the strokes - room on fire
7. blur - think tank
8. death cabie for cutie - transatlanticism
9. the constatines - shine a light
10. my morning jacket - it still moves

(a lista prolonga-se; ver no site)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Como diz que disse?

Ontem, o meu caro amigo Luís Pinheiro de Almeida, naquela que deverá ter sido, infelizmente, a derradeira edição do "Mensageiro da Moita", programa de rádio da Voxx que vinha a fazer com Pedro Gonçalves desde há mais de dois anos, dirigiu algumas críticas a alguma imprensa musical portuguesa, designadamente aos suplementos semanais do Público e do DN, relativamente aos critérios editoriais destes. No meio da barafunda que é própria do programa -- e que vai seguramente deixar algumas saudades -- LPA levantou algumas questões relativamente à pertinência de suplementos como estes no contexto da imprensa portuguesa. Concretizando e usando algumas das palavras proferidas por LPA, que sentido faz ter um Y que aborda temas que ninguém conhece? Mais, devem existir suplementos que abordam temas menos acessíveis quando não existem outros que sirvam assuntos mais generalistas? Ou melhor, o leitor de jornais e publicações tem em Portugal a hipótese de ler aquilo que mais sirva aos seus gostos e capacidades melómanas?
As questões lançadas por LPA podem ser pertinentes, mas o mesmo já não se pode dizer das respostas implícitas que o mesmo lhe procurou dar. Isto é, o Y não é o único suplemento de música. O DN+, embora mais acessível, também não. E ambos têm público fiel. Não é preciso estar-se mandatado para defender estas publicações para se perceber que nem o Y, nem o DN+ se dirigem unica e exclusivamente aos umbigos dos jornalistas que lá escrevem, como o próprio LPA quis deixar entender. Se não, e a mero título de exemplo, pegue-se na quantidade de hypes que estas publicações conseguiram alavancar sozinhas nestes últimos anos. Sozinhas, porque estes assuntos não encontram eco, como sabemos, no suporte rádio ou tv. Quem não conhece hoje os Gotan Project? Quem não sabe hoje o que é esse malfadado revivalismo que dá pelo nome de electroclash? Se recuarmos um pouco mais no tempo, onde surgiu o fenómeno The Gift?
LPA até poderia ter razão quando observa que "o mal é não existirem outras publicações que abordem temas menos acessíveis". Que coloque, como ontem dizia, os Oasis ou o Bruce Springsteen na capa. Mas, perante o actual panorama onde assenta a imprensa portuguesa, que tem tanto de inusitado, numa altura de crise como esta, quanto prolífero, as razões de LPA caem por terra. Prolífero, porque há actualemente publicações para todos os gostos, interesses e exigências. Do mainstream moderado e sincrético do Blitz ao rock'n'roll da Mondo Bizarre, do jazz da All Jazz ao rock comercial e teenager da Rocksound, da música de dança da Dance Music à música portuguesa da LusoBeat. Já para não falar de diversos sites portugueses (Disco Digital, A Puta da Subjectividade ou Bodyspace, para citar alguns). Já para não falar da facilidade com que qualquer puto de hoje pode aceder a publicações estrangeiras. Falta de oferta? Como diz que disse?

Adeus Enetation, olá Haloscan

Como podem reparar, mandei o outro sistema de comentários às urtigas. Em substituição, entra à experiência o muito recomentado Haloscan. Dêem-lhe trabalho, que é para trabalhar que ele cá está.

Listas de 2003 #11 (pitchforkmedia.com)

Uma lufada de ar fresco, no que toca à lista de listas que têm vindo a ser aqui publicadas. Acho tremendamente exagerado o primeiro lugar e também não entendo como é que os Radiohead estão em quarto lugar, mas acho extremamente curiosa a posição dos M83. Seja como for, não há White Stripes nos dez mais. Aliás, nem sequer estão na lista dos cinquenta melhores discos do ano que a Pitchfork publicou... ;)



1. The Rapture: Echoes
2. The Books: The Lemon Of Pink
3. Sufjan Stevens: Greetings from Michigan: The Great Lake State
4. Radiohead: Hail To The Thief
5. Manitoba: Up In Flames
6. Prefuse 73: One Word Extinguisher and Extinguished: Outtakes
7. The Shins: Chutes Too Narrow
8. M83: Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts
9. Broken Social Scene: You Forgot It In People
10. The Unicorns: Who Will Cut Our Hair When We're Gone?

Listas de 2003 #10 (Mojo)

E continuamos com a pancada White Stripes. Como é que uma faixa -- faixa do ano? -- transforma para tanta gente um álbum no disco do ano?



The White Stripes – Elephant
Outkast – Speakerboxxx/The Love Below
Blur – Think Tank
The Strokes – Room On Fire
My Morning Jacket – It Still Moves
Radiohead – Hail To The Thief
Emmylou Harris – Stumble Into Grace
Robert Wyatt – Cuckooland
Evan Dando – Baby I’m Bored
Wire – Send
Joe Strummer – Streetcore
Terry Hall & Mushtaq – The Hour Of Two Lights
Yeah Yeah Yeahs – Fever To Tell
Kings Of Leon – Youth And Young Manhood
Richard Hawley – Lowedges
Super Furry Animals – Phantom Power
British Sea Power – The Decline Of ….
Belle And Sebastian – Dear Catastrophe Waitress
Cat Power – You Are Free
Gillian Welch – Soul Journey
Rufus Wainwright – Want One
Drive-By Truckers – Decoration Day
The Kills – Keep On Your Mean Side
Rickie Lee Jones – The Evening Of My Best Day
Dizzee Rascal – Boy In Da Corner
The Proclaimers – Born Innocent
The Mars Volta – De-Loused In The Comatorium
Alisdair Roberts – Farewell Sorrow
Josh Rouse – 1972
Songs:Ohia – The Magnolia Electric Company
Damien Rice – O
The Coral – Magic And Medicine
Martina Topley-Bird – Quixotic
Bic Runga – Beautiful Collision
Calexico – Feast Of Wine
Nick Cave – Nocturama
The Thrills – So Much For The City
The Fiery Furnaces – Gallowsbird’s Bark
Ween – Quebec
The Black Keys – Thinkfreakness

Listas de 2003 #9 (Kerrang!)

Oh, oh... Para uma revista com o historial da Kerrang!, esta lista não deixa de ser bastante estranha. Yeah Yeah Yeahs, White Stripes, Killing Joke, Mark Lanegan ou Muse naquele que era o diário da república metálica de todo o mundo? E que dizer dos Darkness em primeiro lugar?!?



1) The Darkness - Permission To Land
2) The Mars Volta - De-loused In the Comatorium
3) Cave-In - Antenna
4) Muse - Absolution
5) Rancid - Indestructible
6) The White Stripes - Elephant
7) The Distillers - Coral Fang
8) Alkaline Trio - Good Mourning
9) Akercocke - Choronzon
10) Hot Hot Heat - Make Up the Breakdown
11) Anthrax - We've Come For You All
12) Hell Is For Heroes - The Neon Handshake
13) Yeah yeah Yeahs - Fever To tell
14) KILLING JOKE - KILLING JOKE
15) My Morning Jacket - It Still Moves
16) Poison The Well - You Come Before You
17) Deftones - Deftones.
18) Desert Sessions 9&10
19) AFI - Sing The Sorrow.
20) The Mark Lanegan Band - Here Comes That Weird Chill.

domingo, 28 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #8 (The Wire)

Sai mais um Cuckooland em primeiro. Neste caso, primeiro da lista dos cinquenta discos do ano da revista Wire.



Robert Wyatt - Cuckooland (Hannibal)
David Sylvian - Blemish (Samadhi Sound)
John Fahey - + (Revenant)
Nurse With Wound - Salt Marie Celeste (United Dairies)
Chris Watson - Weather Report (Touch)
Rhythm & Sound - With The Artists (Burial Mix/Indigo)
Dizzee Rascal - Boy In Da Corner (XL)
Four Tet- Rounds (Domino)
Keith Rowe & John Tilbury - Duos For Doris (Erstwhile)
The Bug - Pressure (Rephlex)
Cat Power - You Are Free (Matador)
So - So (Thrill Jockey)
Lightning Bolt - Wonderful Rainbow (Load)
Angels Of Light - Everything Is Good Here/Please Come Home (Young God)
Pandit Pran Nath - Midnight (Just Dreams)
Limescale - Limescale (Incus)
Diamanda Galas - Defixiones, Will And Testament (Mute)
Kraftwerk - Tour De France Soundtracks (EMI)
Broadcast - Haha Sound (Warp)
Matmos - The Civil War (Matador)
Outkast - Speakerboxx/Love Below (Arista)
Laibach - WAT (Mute)
Colleen - Everyone Alive Wants Answers (Leaf)
Kaffe Matthews - cd ebb + flo (Annetteworks)
Henry Flynt - New American Ethnic Music Vol 3: Hillbilly Tape Music (Recorded)
Jaga Jazzist - The Stix (Ninja Tune)
Fennesz - Live In Japan (Headz)
Leafcutter John - The Housebound Spirit (Planet Mu)
Sunburned Hand Of The Man - The Trickle-Down Theory Of Lord Knows What (Eclipse)
Basil Kirchin - Quantum: A Journey Through Sound In Two Parts (Trunk)
John Wall - Hylic (Utterpsalm)
Diamanda Galas - La Serpenta Canta (Mute)
Sightings - Absolutes (Load)
Peaches - Fatherfucker (XL)
Robert Wyatt - Solar Flares Burn For You (Cuneiform)
Shirley Collins - Within Sound (Fledg'ling)
Aki Onda - Bon Voyage! (Cassette Memories Vol 2) (Improvised Music From Japan)
Miles Davis - The Complete Jack Johnson Sessions (Columbia Legacy)
Monade - Socialisme Ou Barbarie: The Bedroom Recordings (Duophonic Super 45s)
Pluramon - Dreams Top Rock (Karaoke Kalk)
Alasdair Roberts - Farewell Sorrow (Rough Trade)
Sketch Show - Tronika (Daisyworld)
Jimmy Lyons - The Box Set (Ayler)
The Silver Mt Zion Memorial Orchestra & The Tra-La-La Band With Choir - This Is Our Punk-Rock, Thee Rusted Satellites Gather And Sing (Constellation)
Michael Schumacher - Room Pieces (XI)
Phill Niblock - Touch Food (Touch)
Sunn0))) - White 1 (Southern Lord)
Yasunao Tone - Yasunao Tone (Asphodel)
Bonnie ÔPrince' Billy - Master And Everyone (Domino)
Noxagt - Turning It Down Since 2001 (Load)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #7 (AnAnAnA)

Ah! Uma pedrada no charco, enfim. Eis a lista votada pelos clientes da AnAnAnA, ou melhor, a lista votada por alguns dos destinatários da newsletter da AnAnAnA.



1. robert wyatt «cuckooland» (hannibal)
2. david sylvian «blemish» (samadhi)
3. four tet «rounds» (domino)
4. john cale «hobo sapiens» (emi)
5. radiohead «hailt to the thief» (emi)
6. madlib «shades of blue» (blue note)
7. outkast «speakerboxxx/the love below» (arista)
8. matt elliott «the mess we made» (domino)
9. lou reed «the raven» (sire)
10. ursula rucker «silver or lead» (k7)
11. the cinematic orchestra «man with a movie camera» (ninja tune)
12. colder «again» (output)
13. bonnie 'prince' billy «master and everyone» (domino)
14. cat power «you are free» (matador)
15. black dice «beaches and canyons» (dfa/fat cat)
16. stephen malkmus «pig lib» (domino)
17. jaga jazzist «the stix» (ninja tune)
18. howe home «the listener» (thril jockey)
19. the matthew herbert big band «goodbye swingtime» (accidental)
20. manitoba «up in flames» (leaf)

Listas de 2003 #6 (Blitz)

Ora, mais uns com a pancada do Elephant...
Curiosa a aparição do Howe Gelb em quarto...



1. white stripes - elephant
2. outkast - spearboxxx/the love below
3. the thrills - so much for the city
4. howe gelb - the listener
5. black rebel motorcycle club - take them on, on your own
6. blur - think tank
7. ursula rucker - silver or lead
8. dizzee rascal - boy in da corner
9. yeah yeah yeahs - fever to tell
10. azure ray - hold on love
11. bonnie "prince" billy - master and everyone
12. robert wyatt - cuckooland
13. elvis costello - north
14. alva noto/ryuchi sakamoto - vrioon
15. matthew herbert big band - goodbye swingtime
16. belle & sebastian - dear catastrophe waitress
17. spring heel jack - live
17. the strookes - room on fire
19. radiohead - hail to the thief
20. a perfect circle - 13th step
20. matt elliott - the mess we made

segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #5 (Rough Trade)

Uma pausa nas listas de publicações, para a lista dos cem mais da Rough Trade. Ufa, os White Stripes não chegam ao podium nesta...



1. belle and sebastian - dear catastrophe waitress
2. outkast speakerboxx / the love below
3. sufjan stevens - michigan
4. the white stripes - elephant
5. king creosote - kenny and beth's musikal boat rides
6. bonnie prince billy - master and everyone
7. cat power - you are free
8. smog - supper
9. the broken family band - cold water songs
10. willis - come get some
11. gillian welch - soul journey
12. 22-20's - 05 / 03
13. fat truckers - fat truckers
14. yo la tengo - summer sun
15. pitman - it takes a nation of tossers
16. gary jules - trading snakeoil for wolftickets
17. mogwai - happy songs for happy people
18. les georges leningrad - deux hot dogs moutarde chou
19. kings of leon - youth and young manhood
20. evan dando - baby i'm bored
21. the concretes - the concretes
22. yeah yeah yeahs - fever to tell
23. ulrich schnauss - a strangely isolated place
24. grandaddy - sumday
25. richard hawley - low edges
26. raveonettes - chain gang of love
27. dizzee rascal - boy in da corner
28. fruit bats - mouthfuls
29. the postal service - give up
30. matmos - the civil war
31. the be good tanyas - chinatown
32. four tet - rounds
33. the shins - chutes too narrow
34. the kills - keep on your mean side
35. the strokes - room on fire
36. nick cave - and the bad seeds nocturama
37. the fiery furnaces - gallowsbird's bark
38. m83 - dead cities,red seas and lost ghosts
39. joyzipper - the stereo and god
40. the boggs - stitches
41. american analog set - promise of love
42. british sea power - the decline of british sea power
43. calexico - feast of wire
44. colder - again
45. detroit cobras - seven easy pieces
46. dirty three - she has no strings apollo
47. my morning jacket - it still moves
48. spiritualized - amazing grace
49. the darkness - permission to land
50. the rapture - echoes
51. the gossip - movement
52. radiohead - hail to the thief
53. m ward - transfiguration of vincent
54. the go betweens - bright yellow bright orange
55. joe strummer - and the mescaleros streetcore
56. mugison - lonely mountain
57. desert sessions - desert sessions 9 and 10
58. robert wyatt - cuckooland
59. manitoba - up in flames
60. the coral - magic and medicine
61. peaches - fatherfucker
62. broadcast - haha sound
63. jayhawks - rainy day music
64. ed harcourt - from every sphere
65. joss stone - soul sessions
66. the fall - formerly country on the click
67. kraftwerk - tour de france soundtracks
68. the handsome family - singing bones
69. dm and jemini - ghetto pop life
70. various - the neptunes present clones various - the neptunes present clones
71. black keys - thickfreakness
72. goldfrapp - black cherry
73. adam green - friends of mine
74. jeffrey lewis - it's the ones who've cracked that the light shines through
75. nina nastasia - run to ruin
76. tindersticks - waiting for the moon
77. glass candy and the shattered theatre - love love love
78. mountain goats - tallahassee
79. super furry animals - phantom power
80. animal collective - spirit they're gone, spirit they've vanished / danse manatee
81. alasdair roberts - farewell sorrow
82. trachtenburg family slideshow players - vintage slide collections from seattle volume 1
83. the thrills - so much for the city
84. alva noto & riyuchi - sakamoto vrioon
85. erase errata - at crystal palace
86. blur - think tank
87. the books - the lemon of pink
88. arab strap - monday at the hug and pint
89. rhythm and sound - the artists
90. the sleepy jackson - lovers
91. melt banana - cell-scape
92. susumu yokota - laputa
93. the dirtbombs - dangerous magical noise
94. i monster - neveroddoreven
95. daniel lanois - shine
96. mojave 3 - spoon and rafter
97. relaxed muscle - a heavy night with relaxed muscle
98. the brunettes - holding hands, feeding ducks
99. ween - quebec
100. daniel johnston - with sparklehorse fear yourself

Lambchop de regresso a Lisboa

Em Maio, dia 8, na Aula Magna. Bilhetes já à venda, a 21 e 26 euros, conforme se trate de lugares no anfiteatro ou lugares doutorais.

domingo, 21 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #4 (NME)

Mais uns a colocarem os White Stripes num pedestal alto de mais. Bom, mas do NME não se esperava outra coisa ;). E, para mais, se até o segundo dos Strokes chega a 3º...



1. The White Stripes – Elephant
2. The Rapture – Echoes
3. The Strokes – Room On Fire
4. Elbow – Room On Fire
5. Yeah Yeah Yeahs – Fever To Tell
6. Rufus Wainwright – Want One
7. Kings Of Leon – Youth & Young Manhood
8. Outkast – Spekerboxxx/The Love Below
9. Radiohead – Hail To The Thief
10. My Morning Jacket – It Still Moves
11. Evan Dando – Baby I’m Bored
12. The Coral – Magic And Medicine
13. Spritualized – Amazing Grace
14. The Distillers – Coral Fang
15. Hot Hot Heat – Make Up The Breakdown
16. Dizzee Rascal – Boy In Da Corner
17. Funereal For A Friend – Casually Dressed And Deep In Conversation
18. The Sleepy Jackson – Lovers
19. Muse – Absolution
20. Jet - Get Born
21. Blur – Think Tank
22. The Hidden Cameras – The Smell Of Our Own
23. The Cooper Temple Clause – Kick Up The Fire, And Let The Flames Break Loose
24. Four Tet – Rounds
25. The Darkness – Permission To Land
26. The Kills – Keep On Your Mean Side
27. Super Furry Animals – Phantom Power
28. The Mars Volta – De-Loused In The Comatorium
29. Peaches – Fatherfucker
30. Black Rebel Motorcycle Club – Take Them On, On Your Own
31. 50 Cent – Get Rich Or Die Trying
32. The Thrills – So Much For The City
33. Mogwai – Happy Songs For Happy People
34. Jay-Z – The Black Album
35. Nick Cave – Nocturama
36. British Sea Power – The Decline Of British Sea Power
37. Bonnie ‘Prince’ Billy – Master And Everyone
38. 22-20’s – 05/03
39. Patrick Wolf – Lycanthropy
40. Devendra Banheart – Oh Me Oh My..The Way The Day Goes By The Sun Is Setting….
41. Soledad Brothers – Voice Of Treason
42. Stellastarr* - Stellerstar*
43. Ten Grand – This Is The Way To Rule
44. Basement Jaxx – Kish Kash
45. Cat Power – You Are Free
46. The Ravonettes – Chain Gang Of Love
47. Canyon – Empty Rooms
48. Jane’s Addiction – Strays
49. The Duke Sprit – Roll, Sprit, Roll
50. Starsailor – Starsailor

sábado, 20 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #3 (Q)

As escolhas da Q são, pelo menos ao início, muito próximas das da Les Inrockuptibles. Mas... The Darkness? Em nono? ¡TONTERIA!



1. The White Stripes – Elephant
2. Blur – Think Tank
3. The Mars Volta – De-Loused In The Comatorium
4. Kings Of Leon – Youth And Young Manhood
5. Justin Timberlake – Justified
6. 50 Cent – Get Rich Or Die Tryin’
7. The Strokes – Room On Fire
8. Outkast – Speakerboxxx/The Love Below
9. The Darkness – Permission To Land
10. Janes’s Addiction – Strays
11. Radiohead – Hail To The Thief
12. Elbow – Cast Of Thousand
13. Dizzee Rascal – Boy In Da Corner
14. Muse – Absolution
15. Yeah Yeah Yeahs – Fever To Tell
16. Johnny Cash – The Man Comes Around
17. Sean Paul – Dutty Rock
18. The Thrills – So Much For The City
19. The Roots – Phrenology
20. The Distillers – Coral Fang
21. The Coral – Magic And Medicine
22. Zwan – Mary Star Of The Sea
23. Afi – Sing The Sorrow
24. Super Furry Animals – Phantom Power
25. Basement Jaxx – Kish Kash
26. The Sleepy Jackson – Lovers
27. The Rapture - Echoes
28. Audioslave – Audioslave
29. Beth Gibbons & Rustin’ Man – Out Of Season
30. Electric Six – Fire
31. The Black Keys – Thickfreakness
32. Athlete – Vehicles & Animals
33. Dave Gahn – Paper Monsters
34. The Dandy Wahols – Welcome To The Monkey House
35. Goldfrapp – Black Cherry
36. Iggy Pop – Skull Rising
37. Four Tet – Rounds
38. My Morning Jacket – It Still Moves
39. Tom McRae – Just Like Blood
40. Hot Hot Heat – Make Up The Breakdown
41. Stereophonics – You Gotta Go There To Come Back
42. Bubba Sparxxx – Deliverance
43. Fountains Of Wayne – Welcome Interstate Managers
44. Pink – Try This
45. Audio Bullys – Ego War
46. Ryan Adams – Rock N’ Roll
47. British Sea Power – The Decline Of British Sea Power
48. Calexico – Feast Of Wine
49. Peaches – Fatherfucker
50. Kylie Minogue – Body Language

sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #2 (Les Inrockuptibles)



The Whites Stripes : Elephant
Blur : Think Tank
Outkast : Speakerboxxx/The love below
The Rapture : Echoes
The Kills : Keep on your mean side
Cat Power : You are free
Missy Elliott : This is not a test
Buck 65 : Square/talking honky blues
Radiohead : hail to the tief
Hot Hot Heat : Make up the breakdown
The Bellrays : The red, white and black
Malasses : A slow messe
LFO : Sheath
The Coral : Magic and medecine
M NDegeocello : Comfort woman
Stupeflip : Stupeflip
Kings of Leon : youth & youth manhood
Cody Chessnutt : The headphone masterpiece
Ellen Allien : Berlinette
The Distillers : Coral Fang
Parsley sound : Parsley sounds
Matmos : The civil war
Cali : L'amour parfait
Robert Wyatt : Cuckooland
Jean Louis Murat : Lilith
Colder : Again
Diam's : Brut de femme
A Silver Mt Zion : This is our punk rock
Plaid : Spokes
Four Ted : Rounds
Grandaddy : Sumday
Common : Electric circus
The Warlocks : Phoenix
I Monster : Neveroddoreven
Adam Green : Friends of mine
Mojave 3 : Spoon and rafter
The Strokes : Room on fire
Terry Hall & Mushtaq : the hour of two lights
Syd Matters : A whisper and a sigh
The Black Keys : Thickfreakness
R. Villallobos : Alcachofa
Audio Bullys : Ego war
Massive Attack : 100th window
Joe Strummer and the Mescaleros : Streetcore
Josh Rouse : 1972
(Smog) : Super
Dizzee Rascal : Boy in da corner
Placebo : Sleeping with ghosts
M83 : Dead cities, red seas & lost ghosts
Muggs : Dust

quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

Listas de 2003 #1 (Uncut)

Comecemos então pela revista Uncut:



1. Warren Zevon – The Wind
2. Emmylou Harris – Stumble Into Grace
3. John Cale – Hobo Sapiens
4. Willard Grant Conspiracy – Regard The End
5. Robert Wyatt – Cuckooland
6. Josh Rouse – 1972
7. Hamell On Trial – Toughlove
8. Four Tet – Rounds
9. Paul Westerburg – Come Feel The Tremble
10. Tahiti 80 – Wallpaper For The Soul
11. Joe Strummer & The Mescaleros – Streetcore
12. Kraftwerk – Tour De France Soundtracks
13. The Fiery Furnaces – Gallowsbird’s Bark
14. The Handsome Family – Singing Birds
15. The Waterboys – Universal Hall
16. Dizzee Rascal – Boy In Da Corner
17. Gillian Welch – Soul Journey
18. Outkast – Speakerboxxx/The Love Below
19. Lucinda Williams – World Without Tears
20. Fleetwood Mac – Say You Will
21. My Morning Jacket – It Still Moves
22. Paddy Mcaloon – I Trawl The Megahertz
23. The White Stripes – Elephant
24. Bonnie ‘Prince’ Billy – Master And Everyone
25. Basement Jaxx – Kish Kash
26. Radiohead – Hail To The Thief
27. David Bowie – Reality
28. James Kirk – You Can Make It If You Boogie
29. Yeah Yeah Yeahs – Fever To Tell
30. Steely Dan – Everything Must Go
31. Shack – Here’s Tom With The Weather
32. Bic Runga – Beautiful Collision
33. David Sylvian – Blemish
34. Goldfrapp – Black Cherry
35. 50 Cent – Get Rich Or Die Trying
36. Neil Young – Greendale
37. Rufus Wainwright – Wants One
38. Cody Chesnutt – The Headphone Masterpiece
39. Randy Newman – The Randy Newman Songbook Vol1
40. Cat Power – You Are Free
41. Ed Hardcourt – From Every Sphere
42. Even Dando – Baby I’m Bored
43. Johnny Cash – The Man Comes Around
44. Belle And Sebastian – Dear Catastrophe Waitress
45. The Strokes – Room On Fire
46. The Sleepy Jackson – Lovers
47. Grandaddy – Sumday
48. The Pernice Brothers – Yours, Mine And Ours
49. Calexico – Feast Of Wire
50. The Rapture – Echoes
51. Broadcast – Haha Sound
52. Spiritualized – Amazing Grace
53. Colder – Again
54. The National – Sad Songs For Dirty Lovers
55. The Mars Volta – Deloused In The Comatorium
56. Rickie Lee Jones – The Evening Of My Best Day
57. Hawksley Workman – Lover/Fighter
58. Elbow – Cast Of Thousands
59. Thea Gilmore – Avalanche
60. Adam Masterson – One Tale Too Many
61. Dave Gahan – Paper Monsters
62. Blur – Think Tank
63. Matthew Ryan – Happiness
64. The Thrills – So Much For The City
65. Manitoba – Up In Flames
66. Damien Jurado – Where Shall You Take Me
67. Richard Hawley – Low Edges
68. Magnet – On Your Side
69. The Bug – Pressure
70. Devendra Banheard – The Black Babies

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Uma escapadela até ao blogue

Passou quase uma semana desde a anterior posta. A razão é muito simples: o Tomás nasceu na passada Sexta-feira e é o bebé mais bonito do mundo, como a fotografia ao lado não deixa mentir. O pai está radioso e não tem tido tempo, até agora, para aqui vir. E, além do mais, também não tem havido nada de muito interessante no domínio da música para relatar nos últimos dias. Excepto os tópicos que se seguem:

• Foi uma bela festa o quarto aniversário da Mondo Bizarre, num Santiago Alquimista a abarrotar como provavelmente nunca se viu. Não cheguei a tempo do Old Jerusalem, mas ainda pude sentir o ritmo dos X-Wife (ainda que perante condições sonoras péssimas) e o "regresso" dos "velhos" More República Masónica. Porquê tantas aspas? Porque se tratou efectivamente do regresso de uns MRM de uma colheita com dez ou mais anos, numa formação muito próxima da original e com um reportório idêntico ao daqueles inúmeros concertos a que assisti por volta de 91/92/93. E isso, não desfazendo dos "actuais" MRM, só pode ser bom. Ouvir novamente "Train Surfin`" com aquela pedalada é apelar ao factor "nevralgia" que mora num canto não tão recôndito do meu cérebro quanto isso, que gosta de ser acarinhado de vez em quando. Pena não terem tocado mais de meia-hora. Para terminar, ficou Barry 7, dos add n to (x), a passar música, a léguas daquilo que tinha conseguido fazer no Lounge aqui há uns dois anos atrás.

• Na semana passada, aconteceu também o lançamento do livro da fotógrafa Rita Carmo, a autora de milhares de imagens que encheram as páginas do Blitz na última década. Chama-se "Altas-Luzes" e reúne fotografias de dezenas de músicos, portugueses e estrangeiros, em concerto ou em sessões fotográficas. É uma óptima escolha para esta altura de consumismo natalício, porque as fotografias da Rita o justificam por si só e, já agora, porque são tão raros acontecimentos destes no panorama musical português.

• Já que falo no Blitz, a não perder, com a edição de hoje, por mais sete euros, o novo álbum do Legendary Tiger Man, "Fuck Christmas, I Got the Blues".

quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

Entretanto, a confirmação dos Mogwai :)

05/02/2004 Paradise Garage, Lisbon, Portugal
box office number: + 351 21 0036300
internet: www.ticketline.pt

06/02/2004 Hard Club, Porto, Portugal
box office number: + 351 21 0036300
internet: www.ticketline.pt

#$%!#$# para os comentários...

Eu não dizia que tinha razões de sobra para querer mudar de sistema de comentários? Durante os últimos dias (semanas?), de cada vez que abria o blogue achava estranho -- passe a falta de modéstia -- que não houvessem quaisquer comentários aos textos. Até quase me senti desmotivado ;). Hoje, dou de caras com comentários que nunca mais terminam a cada uma das postas publicadas mais recentemente. Eles estavam lá! Escondidos! :))
14 comentários na notícia dos gospeed!?! :))

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

Nerds, mas artistas!


Ele há com cada uma. Esta vinha na última Wire, naquele rodapé das últimas páginas onde se fala de projectos desenvolvidos na WWW. Videoclips em modo texto ASCII. Sex Pistols, The Who (a fotografia que aqui está ao lado corresponde ao vídeo de "My Generation"), Mötley Crue, AC/DC, Jimi Hendrix, entre outros. Vídeos inteiros transpostos para os caracteres ASCII verdes num fundo preto, tal como nos velhinhos terminais. E não foi só a imagem a ser revista à luz deste espírito retro: também o som parece sair de um computador com mais de quinze anos. Ora visitem lá: www.c404.tv/ascii_index.html

Nick Cave: correcção

O australiano vem a Lisboa sem os habituais Bad Seeds. O acompanhamento poderá ser feito pelos seus conterrâneos Dirty Three.

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

Nick Cave and the Bad Seeds @ CCB, em Fevereiro

24 de Fevereiro, no CCB. Concerto único em Portugal, promovido pela Tournée, segundo notícia de hoje do Correio da Manhã. Mais se informa que os bilhetes deverão poder ser comprados a partir da próxima semana, com preços entre os 30 e os 50 euros (CARAMBA!).

Ainda a propósito, na notícia do CM, pode ler-se algures: «O cantor concedeu este ano uma entrevista à Mute, cedida gentilmente ao Correio da Manhã (ver artigo relacionado). Nela se pode avaliar o estado de espírito de um artista por vezes sombrio, por vezes ardente, que aos 46 anos de idade considera ter chegado a um ponto da sua carreira em que pode escolher muito bem o que quer fazer.»
Vou realçar uma passagem: «entrevista à Mute, cedida gentilmente ao Correio da Manhã». Vou destacar uma vez mais: «entrevista à Mute, cedida gentilmente ao Correio da Manhã». «Cedida gentilmente», diz a peça. «Gentilmente».
As coisas estão a mudar depressa demais. Agora já nem sequer se procura evitar a todo o custo (como eu fiz tanta vez e como sei que muito boa gente ainda consegue fazer) usar entrevistas e outros conteúdos com selo da editora, por óbvias razãos de deontologia e critérios de independência jornalística. Agora até já se agradece a «gentileza»... Fantástico.

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Mondo Bizarre #17 a partir de sexta-feira nos locais habituais

A edição do quarto aniversário da Mondo Bizarre vai começar a chegar aos locais habituais a partir da próxima sexta-feira. Com capa de autoria de por Art Chantry (lembram-se das capas dos Mudhoney?), esta edição conta com estes destaques:
The Dirtbombs – The Mars Volta – Art Chantry – Matmos – X-Wife – Johnny Cash – The Twilight Singers – Elliott Smith - Animal Collective – Billy Childish – Rufus Wainwright – A Silver Mt. Zion – The Legendary Tiger Man – Vic Chesnutt – The Strokes - Loosers – Domino – Crammed Discs – Josh Rouse – Stealing Orchestra – 3 x BSO – Danko Jones – Sick Of It All – Desert Sessions – Iggy Pop – The Anamoanon – Firewater – Dealema – Belle & Sebastian – Sun Kill Moon – Outkast – Nautical Almanac – Paul Westerberg – Careless Talk Costs Lives

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

O cinema em Lisboa já teve melhores dias... :(

Chegou-me isto por email:

CHEGA! ESTAMOS CANSADOS!! ACABOU!!!

A Zero em Comportamento tem passado anos de sacrifício, a viver com o credo na boca, sempre na eminência do dinheiro da bilheteira não chegar para pagar as contas. Estivemos dependentes das flutuações dos humores do público, da chuva, do frio, do calor, dos jogos de futebol na televisão, das estreias do cinema comercial ou dos ciclos de outros cinemas; dependentes dos humores da crítica e do espaço disponível nos jornais, nas rádios ou nas televisões; dependentes ainda da nossa capacidade de distribuir pela cidade os folhetos e os cartazes com a programação, de os enviar a tempo pelo correio ou email.

Estamos cansados porque os donos do Cine-Estúdio 222 não resolvem os imensos problemas que aquela sala, de imenso potencial, tem. Sabemos bem que, por causa das condições da sala, este projecto que tanto trabalho e gozo dá, estava, desde o ínicio, sujeito ao insucesso. E estamos fartos de, sistematicamente, recebermos reclamações de pessoas a dizer que a sala cheira mal, que as cadeiras são desconfortáveis, que chove lá dentro, que a projecção é má, etc etc etc... e de sabermos que é verdade!!!

Estamos cansados de nos dizerem que o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, etc, etc, etc, mas que é uma pena ser feito naquela sala e de, por isso, nos pedirem, suplicarem, ordenarem, que mudemos de sala e perante a pergunta: “Mas para que sala?”, só ficar o silêncio, por falta de alternativas ou de ideias... E por isso termos de responder: “pois é, a sala é má, mas é a única....”.
Finalmente, estamos cansados e desmotivados por, há que tempos, ouvirmos a Câmara Municipal de Lisboa ou o ICAM dizerem que, de facto, o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, que merece de ser apoiado, mas até hoje não terem contribuido com nada de concreto!

Por isto tudo e por muito mais que fica por dizer, decidimos parar. Vamos deixar de programar o Cine-Estúdio 222.
O projecto “Zero em Comportamento” vai ficar congelado até melhores dias. Até haver outras condições para se trabalhar. Até alguém finalmente tomar decisões a sério, e não apenas de fachada, e nos alugar, disponibilizar ou oferecer, em condições aceitáveis, uma sala de cinema condigna para fazermos um programa por ano, por cada seis meses, por mês, semana ou dia. Ou então, até alguém perceber que é mais importante haver projectos culturais que se afirmam no dia-a-dia, durante o ano inteiro, do que eventos fugazes, esporádicos, que levantam imensa poeira mas que não deixam ficar nada depois de acontecer. Mas, enfim, há quem prefira ouvir as cigarras do que reparar no trabalho da formiga...

Paramos, mas fazêmo-lo de consciência tranquila porque, ao longo destes anos (e já passaram seis desde o primeiro filme que exibimos no 222), provámos que há públicos para as mais diversas ofertas de cinema (sejam curtas, documentários ou longas dos países mais improváveis). Basta ter vontade e saber chegar a eles (aos públicos e aos filmes).

E quem tiver memória lembrar-se-á, por certo, da oferta de cinema que havia nesta cidade e poderá comparar com o que há hoje... Mas sabemos também que quem tem a iniciativa, desbrava o terreno e lança as sementes, não é necessariamente quem colhe os frutos...

Um grande obrigado a cada um(a) e a todos os que nos foram impulsionando, encorajando e criticando ao longo destes tempos. Isso significa que fizemos a diferença e no fundo isso é mesmo a única coisa que interessa...

Encontramo-nos por aí!

Rui Pereira
(Zero em Comportamento)

Zero em Comportamento - Associação Cultural
R. Gonçalves Crespo, 56, 1º, 1150-158 Lisboa
Tel: 351 21 315 83 99
Fax. 351 21 316 00 57
email: geralzero@netcabo.pt
web site: www.zeroemcomportamento.org

Liars Death

Antes de mais, convém esclarecer que o título não é nenhuma certidão de morte aos Liars. Bem pelo contrário. Quem viu o grupo nova-iorquino esta noite no Lux (ou, presumidamente, no Sá da Bandeira, um dia antes) poderá perceber o trocadilho se contextualizar esta(s) noite(s) com os primeiros discos dos Sonic Youth, nomeadamente com aquele registo ao vivo que o clube de fãs celebrizou com nome aproximado ao do título.
É bom começar por dizer estas coisas, pois podemos logo libertar-nos de fantasmas que pairam sobre a narração ou interpretação de algo a que assistimos e que dificilmente se repetirá nas mesmas condições. Isto é, os Liars não fazem nada de particularmente novo. É ponto assente. Já os Sonic Youth e muitas outras bandas, quer americanas, quer europeias (e aquela segunda faixa não fez lembrar os ritmos tribalescos dos Test Department?), o tinham experimentado há cerca de vinte anos. O que fez então do concerto dos Liars desta noite algo de tão especial?
Esqueçamos por momentos, passe a redundância, o tempo. Imaginemos -- aqueles que por razões óbvias, ou seja, pela idade, o possam fazer -- que estamos nos anos 80. Os outros que tentem imaginar a situação através dos relatos dos mais velhos. Imaginem que não há nada mais que três tipos a fazer algo em palco que nos é de tal forma compulsivo e arrasador (o zunido nos ouvidos parece querer confirmar a hipótese) que nos faz perder toda a noção de espaço-tempo (desculpem esta pequena intromissão, quase cameo, da variável tempo). Mas... não era isso que um bom concerto de rock conseguia fazer há anos?
Muito passa pela bateria firme de Julian Gross (nova aquisição), tal como há vinte anos passava pelas de Richard Edson ou Jim Sclavunos, nos Sonic Youth. Por cima destas compulsivas sequências de bombo e tarola há uma guitarra e uma voz desalmada de Angus Andrew (a propósito, as notáveis semelhanças físicas do vocalista dos Liars com Nick Cave remetem para a estranha coincidência de ambos serem australianos). Às tantas, a descarga sonora é de tal forma assolapante que voltamos a pensar no tempo, como na frase "e não é que em 2003 podemos voltar a sentir tais sensações?".
O espectáculo durou cerca de quarenta minutos. Talvez um pouco mais do que o espectáculo no Porto, pois de acordo com o que Angus Andrew referiu ao microfone, esta noite era "especial", já que marcou o encerramento da digressão dos Liars pela Europa. Pouco tempo? Talvez, pois poucos se importariam de continuar a ser alvo da agressão sonora vinda de palco. Mas importa perceber que, como diz um aforismo certeiro, a música não se mede a metro. Quarenta minutos de Liars valeram seguramente por muitas horas de concertos de milhentas bandas.
Para terminar, uma pequena provocação. Enquanto os Strokes (sim, tinha que ser) aproveitam a onda para fazer co-brandings com marcas de roupa e afins, os vizinhos Liars apresentaram-se esta noite com as marcas dos amplficadores tapadas com fita adesiva, à semelhança do que, por exemplo, fazem os Mão Morta por cá. Statements políticos como estes deixam perceber que o punk não é já só uma vã categoria nos meandros do marketing musical. Existe, e com postura digna.
Ah, falta dizer: concerto do ano!
(E ainda mais um recado final: o Lux, através de palavras da própria organização local, começou neste concerto a praticar uma nova política de horários. Pelos vistos, os concertos não vão começar mais às tantas da noite, tal como acontecia antes. Por essa razão, aliás, não cheguei a ver os X-Wife.)

terça-feira, 25 de novembro de 2003

É hoje!


É hoje para os lisboetas, pois os portuenses já os puderam ver e ouvir ontem. Os Liars vão explodir esta noite no palco do Lux, conforme prometem aqueles que já os viram. Tanto na altura em que os nova-iorquinos foram a Londres (e que serviu para muito boa gente afortunada poder mais tarde fazer pirraça aos que não foram vê-los), como nos relatos do concerto de ontem. Diz-se que foram apenas 35 minutos, mas diz-se também que foram 35 minutos de uma intensidade que, ao fim, já nem importa tanto que tenha sido curto, o que importa é que tenha sido estrondoso (estou apenas a citar relatos... a curiosidade, essa, têm-me importunado o dia inteiro). Na primeira parte estarão os X-Wife.

segunda-feira, 24 de novembro de 2003

Na ressaca do tributo ao Cameraman

Foi engraçado rever tantas caras de headbangers da velha guarda. Os concertos já não foram tão engraçados, mas isto é, claro, o ponto de vista de um "não metálico" (embora nesta noite tenha dado vontade de dizer, qual JF Kennedy, "eu sou um metálico"). Só queria deixar uma referência para os Alkateya. Era eu um catraio dos meus doze ou treze anos (lá para 80 e tal) e achava imensa piada às fotografias dos Alkateya que apareciam na imprensa. Aquelas poses tipicamente heavy metal de anos 80 eram um mimo. Passados todos estes anos, aí estão eles, dando provas de vitalidade. Até foram possivelmente o concerto mais interessante da noite.

godspeed you! black emperor arrumam as botas


:(
A ler na próxima Mondo Bizarre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

PAREM AS ROTATIVAS!!! (2)

Oh diabo! E não é que também vêm cá os Kraftwerk? 2004 está a começar a aparecer em grande. O grupo alemão, estropiado, é certo, de alguns dos seus membros mais carismáticos da formação original, vai subir ao palco do Coliseu dos Recreios a 2 de Abril do ano que vem.
Mais informações em:
http://www.diariodigital.pt/disco_digital/news.asp?id_news=9153.
ALLES GUT!

PAREM AS ROTATIVAS!!!

Os escoceses Mogwai regressam a Portugal em Janeiro!
(Claro que se a notícia não for verdadeira, a fonte vai ter que sofrer as pesadas consequências...)
FRIGGIN' BRILLIANT!

terça-feira, 18 de novembro de 2003

Ainda a respeito do Cameraman

Já o disse por várias vezes e vejo-me obrigado a repeti-lo: o António Melão, aliás Cameraman Metálico, é seguramente o melhor fotógrafo português de rock. Não querendo ser redutor para com todos os outros profissionais de imagem, estou certo de que mais ninguém consegue fazer os bonecos de guitarra a tiracolo que o António faz. Basta visitar uma daquelas exposições que ele faz de vez em quando, basta olhar para as fotografias dele que vão aparecendo na imprensa, basta dar uma vista de olhos na sua galeria virtual em cameraman.no.sapo.pt/.
Mas o Cameraman é muito mais do que isso. É uma daquelas pessoas que qualquer colega do meio musical gosta de encontrar nos concertos para trocar palavras sempre simpáticas, sempre humildes. Um alentejano que possui uma dedicação extrema pela sua arte de capturar imagens, mesmo que na maior parte das vezes não veja a recompensa merecida pelo seu trabalho. Um idealista em vias de extinção.
O Cameraman atravessa momentos difíceis, que o podem colocar na rua, por falta de pagamento das prestações do empréstimo da sua casa. Em desespero, o próprio encheu o peito de coragem e pediu ajuda aos amigos. «No futuro prefiro ser lembrado por ser um fotógrafo pelintra! Nunca por ser um ladrão ou filha da puta.», disse. Homem que fala assim só merece ser ajudado, digo eu. E os amigos de todos estes anos estarão lá para ajudá-lo, certamente.

CAMERAMAN METÁLICO - CONCERTO DE SOLIDARIEDADE

(mail do Paradise Garage, com o qual seria impossível não me solidarizar)

LISBOA

23 DE NOVEMBRO - PARADISE GARAGE - Portas 20 horas/ Espectáculo 21 horas

Preço dos bilhetes: 10 euros - VENDA NO PRÓPRIO DIA

Caros,
Como já deve ser do vosso conhecimento o Cameraman Metálico, fotógrafo e personagem carismática da nossa indústria discográfica, infelizmente, encontra-se com um sério problema pessoal e necessita de todo o nosso apoio.

Assim sendo, o Paradise Garage e seus funcionários, Carlos Marreiros, Ramp, Mofo, Primitive Reason, Alkateya e Attick Demons juntaram-se para a realização de um concerto de solidariedade que visa recolher receitas para fazer face ao problema monetário do Cameraman Metálico.

Apelamos à vossa compreensão e colaboração na divulgação deste evento, bem como à vossa comparência no dia 23 de Novembro no Paradise Garage, de forma a todos nós, profissionais do meio, contribuirmos para uma causa nobre - ajudarmos alguém que ao longo de inúmeros anos se mostra tão dedicado e solidário para com a indústria discográfica e todos os seus profissionais.

Trata-se de uma pessoa í­ntegra, sincera, amiga, profissional e que, acima de tudo, teve a imensa coragem de vir a público solicitar ajuda para o problema que enfrenta.

Vamos ajudar o Cameraman Metálico a conservar a sua casa, pois um dia ele também, de alguma forma, nos ajudou, ajuda ou ajudará em tudo o que estiver ao seu alcance!

Ronda pela imprensa

(in Brainwashed:)

Thrill Jockey announce next Trans Am Album
Liberation is due to surface next year around late February-ish at this point. The label calls it "A return to first album form for this insurgent electro-rockers. No Trans Am album has come closest to capturing the energy of their furious live shows than this one." We're guessing it's neither a Pet Shop Boys nor a Jackie-O Motherfucker tribute. More details, a site overhaul and samples will hopefully be up at the TA website soon.

(in Blitz:)

O nome de Joey Ramone vai baptizar uma rua de Nova Iorque. A partir de 30 de Novembro, quem quiser ir ao CBGB deverá procurar pela Joey Ramone Place. A homenagem acontece precisamente no 30º aniversário deste clube, local onde os Ramones foram residentes.

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Collectividade do Ensayo, hoje no Alquimista

A não perder hoje, garanto-vos. As portas abrem às 22h02 e a collectividade surge em palco por volta das 22h34. Para quem já esteja familiarizado com as denominações dos inúmeros projectos que constituem este efervescente núcleo criativo, fica o rol de participantes no serão de logo: Puget Sound -- projecto de Tom (Daily Misconceptions), The Boy with a Broken Leg e Mr. Marble (Electric Marbles) --, Must B + Punk C Fish + visual_basiq, e Micro-Bios -- ez ayr e toy shop kid(s). A noite no S. Jorge teve sabor a pouco? Pois hoje certamente que haverá mais.

Anedota rock do ano

O Hard Rock Cafe, em Lisboa, não tem sequer uma mesa de mistura. São as bandas que têm de tratar do PA...

quarta-feira, 12 de novembro de 2003

Logh: dia D

Por vezes, dou comigo a pensar se vale a pena. Isto é, se vale a pena estar um mês inteiro a enviar dezenas e dezenas de emails para aqui e para acolá, gastar dinheiro em chamadas locais, regionais e internacionais, andar por mais do que uma noite a colar cartazes pela cidade, despender tempo em múltiplas reuniões, gerir consensos e opiniões díspares, gerir diferentes velocidades e diferentes experiências no seio de uma equipa, gerir imprevistos de última hora, gerir o stress criado por esses imprevistos, esforçar-se por tentar passar uma ideia sem que se caia na venda de banha de cobra, tentar ser simpático para com os melgas, pressentir que se vai perder dinheiro... enfim. Mas chega o dia e tudo isto é atirado para trás das costas. É muito provável que toda a tensão das semanas anteriores venha a concentrar-se no dia de hoje, mas há toda uma compensação que é trazida pela sensação crescente e colectiva de dever cumprido, de rostos contentes e interessados em mais (esperemos que sim).
Hoje, Logh, Bypass e Wabi no Santiago Alquimista, em Lisboa. A partir das 21h. Mais informações em www.loghemportugal.pt.vu.

terça-feira, 11 de novembro de 2003

Shame on me

Trabalho novo, concerto dos Logh, artigos para a Mondo Bizarre e um sem número de outras tarefas menos nobres (não, não tenho as minhas mãos sujas de sangue... por enquanto), impedem-me de ir imprimindo (alô jargão futebolístico) o ritmo inicialmente desejado para este blogue. Surpreende-me que tanta gente continue a visitá-lo, ainda assim, e prometo novidades para breve, que passam essencialmente pelo alargamento do "Juramento Sem Bandeira" a novos bloguistas, conforme estava previsto no manifesto de inauguração deste espaço. Mantenham-se atentos (alô jargão de jornalismo supostamente dinâmico e interactivo).

terça-feira, 4 de novembro de 2003

4º Aniversário da Mondo Bizarre

A revista trimensal Mondo Bizarre comemora o seu quarto aniversário -- o tempo corre -- no próximo dia 12 de Dezembro, no Santiago Alquimista, em Lisboa, numa festa que terá concertos dos More República Masónica, X-Wife e Old Jerusalem, além da selecção de discos de DJ Barry 7, dos Add N to (X).
Para mais informações, é favor ir a www.mondobizarre.com/info.html. Parabéns, Mondo Buddies.

segunda-feira, 27 de outubro de 2003

Regresso ao passado #5: Melleril de Nembutal

Esta recordação de um dos mais obscuros grupos que Lisboa viu nascer nos anos 80 tem uma razão especial de acontecer. A culpa é dos Animal Collective e da minha amiga Raquel Pinheiro, que se lembrou dos Melleril de Nembutal no concerto dos norte-americanos, este último fim-de-semana, no Númerofestival. E, bem vistas as coisas, a comparação faz todo o sentido.

Os Melleril de Nembutal conseguiram o Prémio de Originalidade do IV Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous, que em edições anteriores tinha atribuído igual distinção a Mler Ife Dada, Pop Dell'Arte e Mão Morta. Da sua formação fazia parte, e espero não estar enganado, embora não tenha certeza quanto a isso, Miguel Santos, que foi durante tempos jornalista do Blitz, que mais tarde teria um projecto pessoal não muito diferente dos Melleril, chamado Hesskhé Yadalanah, e que, actualmente, trabalha na secção londrina da Fundação Calouste Gulbenkian (por esta altura realiza mais um festival de música portuguesa por aquelas paragens).

Na primeira vez que os viu, numa noite do Rock Rendez-Vous, em Dezembro de 86, na qual também tocaram Mão Morta e Rongwrong, o jornalista do Blitz António Pires descreveu os Melleril de Nembutal assim:
«Os Melleril de Nembutal (banda que deve ir buscar o nome a um produto híbrido de comprimidos para a dor de dentes e um qualquer descendente do Australopithecus Afarensis) tiveram a sorte ingrata de abrir uma noite destinada a visitas importantes naquela casa e cumpriram o seu papel: comportaram-se como putos traquinas, puseram o dedo no nariz, partiram a loiça, queixaram-se publicamente da mãe. Bem, agora a falar a sério (se seriedade é uma palavra que se pode aplicar neste caso) -- as canções dos Melleril demonstram a fragilidade técnica da banda, um muito fraco domínio dos instrumentos, mas mostram também que há ali bastante mármore de qualidade que com duas ou três marteladas e meia polidela pode dar uma bela estátua de N. Sra. das Dores. A sua música, conduzida por dois vocalistas incrivelmente kitsch e divertidos (um traz vestido um guarda-roupa completo de ceifeira alentejana e o outro apenas uns collants rendilhados), vai beber directamente à Tradição portuguesa, tanto em termos musicais como líricos, as suas referências -- o Alentejo (Janita Salomé possivelmente soaria assim se tivesse menos 20 anos), os cantos árabes, os ritmos tribais que até nem aparecem por acaso, visto alguns dos membros já terem tocado com Farinha -- juntam-se aos símbolos maiores do nosso país (os cultos católicos, a presença obsessiva da Mãe, a possessão demoníaca) para dar aos Melleril um som muito próprio e bastante prometedor.»

Como é hábito nesta rubrica, aqui fica um tema, em mp3, para ouvir: "Mamã". (Lembrem-se: como o espaço não é muito, o mp3 só pode estar disponível para download até ao próximo "Regresso ao passado", que deverá acontecer daqui a duas ou três semanas.)

domingo, 26 de outubro de 2003

O Lisboa é o maior

Na edição do Expresso deste último Sábado, o crítico João Lisboa respondeu às recentes declarações de Miguel Paes do Amaral a propósito das quotas de música portuguesa na rádio. Dizia o presidente do grupo Media Capital (rádios Comercial, Best Rock e Cidade) que não havia qualidade em quantidade suficiente na música portuguesa que permitisse às suas rádios poderem fazer playlists. Chegou a dizer que os músicos portugueses com qualidade suficiente para entrar nas suas playlists contavam-se pelas mãos dos dedos. João Lisboa respondeu-lhe com uma lista de 99 nomes, deixando o 100º ao critério do gosto de Paes do Amaral... :)
A lista podia aqui e ali levar alguns retoques e alguns reforços, mas não deixa de ser uma bela resposta:
Sérgio Godinho, GNR, Xutos & Pontapés, Vitorino, Mísia, Amélia Muge, Camané, Mler Ife Dada, Coldfinger, Janita Salomé, Três Tristes Tigres, Mão Morta, Mariza, Mafalda Arnauth, Fausto, D Mars, Brigada Victor Jara, David Fonseca, Jorge Palma, Sam The Kid, Stealing Orchestra, Kubik, José Mário Branco, Carlos do Carmo, Mind Da Gap, Cristina Branco, Pedro Moutinho, Gaiteiros de Lisboa, Sétima Legião, António Chainho, Balla, Filipa Pais, Dealema, Carlos Paredes, Bulllet, Carlos Bica, Valete, João Afonso, Pop dell'Arte, Joana Amendoeira, The Gift, Hipnotica, Jacinta, José Peixoto, Júlio Pereira, Ronda dos Quatro Caminhos, Fuse, Maria João e Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Pedro Jóia, Realejo, Wordsong, Anabela Duarte, Chullage, Amália Rodrigues, Mundo Complexo, Moçoilas , Nuno Rebelo, José Afonso, Loopless, Anamar, Isabel Silvestre, Ala dos Namorados, Spaceboys, Né Ladeiras, Boss AC, Pedro Abrunhosa, O Ó Que Som Tem?, Trovante, Pedro Caldeira Cabral, Vozes da Rádio, Rodrigo Leão, Vai de Roda, Tim Tim por Tim Tum, Ricardo Rocha, Rádio Macau, Tetvocal, Austin, Madredeus, Dulce Pontes, Repórter Estrábico, Da Weasel, Danças Ocultas, Blind Zero, Eugénia Melo e Castro, Belle Chase Hotel, General D, Cool Hipnoise, Maria Teresa de Noronha, Mafalda Veiga, Alfredo Marceneiro, Clã, Entre Aspas, Katia Guerreiro, Luís Represas, Ana Moura, Blasted Mechanism e Micro.

Número 4, segunda noite

Seguem-se mais algumas breves noites sobre a quarta edição do Número Festival, agora sobre a segunda noite, isto é, a de ontem, Sábado.

Micro Audio Waves (4/10)
Mudaram radicalmente. A electrónica abstracta aborrecida e pouco original deu lugar, imaginem, ao electro-clash aborrecido e tudo menos original... Há um novo elemento -- uma vocalista -- a compor o palco.

Laub (6/10)
Houve momentos interessantes, em que a dupla berlinense ensaiou texturas de beats simples e respiráveis, mas mantenho o que já dizia em relação a outro concerto deles: são um projecto para ouvir em disco, sobretudo.

Señor Coconut y su Conjunto (7/10)
A juntar aos incontáveis talentos que já conhecíamos a Uwe Schmidt, ficou a conhecer-se mais um ontem: o de conseguir arranjar músicos excepcionais, originários dos mais diversos países, para o acompanhar nesta aventura pelos ritmos sul-americanos. Excelente a versão ao vivo para "Beat it" (Michael Jackson) e a derradeira "Music Non Stop" (Kraftwerk), com os músicos a evidenciarem uma vez mais todos os seus virtuosismos antes de abandonarem o palco, um por um.

Muito ficou por ver
Todo o resto do palco principal (não há qualquer paciência para ouvir Luomo depois deste último álbum e o português Expander já viria muito tarde), e a maior parte do palco secundário (Nelson Flip e Yellow fazem uma boa dupla no giradisquismo electro com MC).

Organização
Ao contrário da noite anterior, teve a decência de deixar anunciado no exterior da Gare Marítima de Alcântara que o concerto de Karl Bartos, dos Kraftwerk, já não ia acontecer. Além deste, também se ficou a saber, já no interior das instalações, que o português Mourah não estaria "preparado" para tocar naquela noite. Também ao contrário da noite anterior, havia agora papéis espalhados por todo o lado com a informação dos alinhamentos e dos horários dos espectáculos, os quais foram aparentemente respeitados sem grandes oscilações. No entanto, a contrastar com estas melhorias, a falha suprema tinha que acontecer: não havia cerveja na segunda noite. Um festival a que aderem alguns milhares de pessoas a servir apenas as vodkas e os açúcares com vodkas do principal patrocinador. Não há pachorra para isto.

sábado, 25 de outubro de 2003

Entrevista a Tom Zé (Parte 6)

(Termina aqui a publicação da entrevista que Arthur Nestrovski e Luiz Tatit, da Folha de São Paulo, fizeram a Tom Zé. Agora é aguardar o livro "Tropicalista Lenta Luta", onde constará esta mesma entrevista em formato alargado, bem como vários textos, fotografias e todas as letras do músico bahiano. A edição está para breve e vai coincidir com o lançamento do disco "Imprensa Cantada 2003" e do DVD "Jogos de Armar".)

Nestrovski - Podemos voltar um pouquinho para Irará? Queria que você contasse de novo duas histórias lindas, que já me contou: a primeira vez que você viu uma torneira e a primeira vez que viu uma lâmpada.
Nossa Senhora! Olha, imagine a torneira... Imagine que, para ter água de beber... água de cisterna a gente tinha, cisternas muito fundas lá em Irará. Essa água dava para lavar as mãos, tomar banho, lavar prato; mas para beber tinha de ir na Fonte da Nação. Então vinha o aguadeiro, que vendia aquela água potável. Chegava na sua porta com um jegue portando quatro barris na cangalha. Você comprava essa carga toda, botava numa talha; durante uma semana, tinha água para beber e para cozinhar.
Um belo dia, vou para Salvador e tia Wanda me fala: "Lave o rosto aí". Achei estranho, porque era uma pia sem água. Vacilei: "Não tem água". Ela disse: "Olhe a torneirinha aí". Girei cuidadosamente a alça superior e saiu água! Não contei nada a ela, só pensei: "Puxa vida, mas que danação!". Depois fui lá para cima. Quando ia saindo, tia Wanda me disse: "Feche". Voltei e fechei; e a fonte sumiu, não é? Isso, realmente... para o meu mundo era mágica!
Uma água que está lá longe, que você vai buscar, pega na fonte, onde está minando, carrega no jegue, bota dentro de casa para beber. Mas eis que num contrapasso, olha a água vindo por uma pequena torneira ali quietinha e pronta para o inesperado, que coisa de mundo de conto de fadas, não é? Que coisa louca, uma torneira e o que era mais ainda de conto de fadas: você fecha a torneira, acabou a fonte. A fonte desapareceu. Cadê a fonte? Não está mais aqui. A fonte foi retirada. Encanto, o Mágico de Oz passou...

Nestrovski - E a lâmpada, a mesma coisa?
A lâmpada foi na porta de seu Chaves, o farmacêutico. Não havia ainda eletricidade em Irará, porque só chegou em 1950. E isso foi em 1947, 48, coisa de João Marinho, família muito rica.
Enfim, João Marinho tinha posto luz elétrica nas casas que construiu, era gente grande em Feira de Santana. Fez casas novas, modernas, aquela coisa brasileira, arquitetura dos anos 50 e tal e botou luz elétrica. Um dia, minha mãe foi visitar a mulher do seu Chaves e, no pátio, assim, naquela primeira entrada que já é coberta, essas varandinhas da casa, ela disse: "Deixa eu lhe mostrar" e acendeu a lâmpada.
Nossa Senhora! Aquela luz sem nenhuma mancha! Porque os candeeiros nossos sempre tinham uma coisa que não estava bem, não é? A fumaça que subia do próprio candeeiro sujava o tubo. Nunca aquela luz era perfeita. Eu fiquei extasiado. Criança não se mete em conversa de adulto, então podia sentir à vontade, era uma vantagem.
Aí eu me dizia: "Meu Deus, vai morrer agora a catapora, a mula-sem-cabeça, o lobisomem" -aquelas histórias que me aterrorizavam, principalmente naquela casa enorme, com piso e forra de madeira, que estalava a noite toda, esfriando do sol, não é?
Eu passava horas sem dormir. À noite, era a hora do terror. Criança lá vai dormir às 20h e sofre a noite toda, ninguém liga se está dormindo ou não. Vai agora, com uma luz dessa não pode aparecer bicho nenhum; porque a luz do candeeiro bruxuleando, palpitando assim levemente, já era por natureza vizinha da mula-sem-cabeça, mas essa lâmpada, absolutamente branca? Nossa Senhora, aquilo foi... Até hoje ainda me lembro daquela cor, daquela cor que é uma cor que você nunca viu antes. Isso que é o inaugural, não é? A placa inaugural, a cor daquele filete lá, que agora a gente sabe que é tungstênio.

Tatit - E quando a luz elétrica chegou na cidade?
Quando botaram luz elétrica em Irará também foi uma emoção. Porque criança não tinha o que fazer. Valha-me Nossa Senhora! Um dia é um tormento de vazio. Então, tudo o que acontece na cidade é uma grande novidade. Botar luz elétrica em Irará... Você ficar na janela olhando aquele movimento lentíssimo: um dia chegava gente para cavar um buraco. Um dia botavam ali uma coisa de madeira desse tamanho, que chamavam "poste". Um dia fincavam esses postes. Um dia vinham pregando umas primeiras coisas, que futuramente vão segurar os transformadores. Depois, as linhas de três fios, da corrente de 11 mil volts. Fui aprendendo tudo, porque só vivia olhando e escutando.
O fato é que, depois de montarem tudo, consegui repetir uma ligação trifásica num nicho lá de casa e acendeu. Porque eu não tinha outra coisa para fazer: era só observar. E quando a luz estava para inaugurar na cidade -tinha ouvido dizer que ia ser ligada no sábado às 16 horas-, então tomei coragem, porque criança não falava com adulto, e perguntei ao funcionário. E ele: "É, vai ligar às 16h". E eu: "A que horas chega aqui?".
Olha, de Coração de Maria para Irará você passava meio dia viajando. Saía de manhã, chegava lá ao meio-dia. Podia demorar pouco, mas tinha que demorar alguma coisa! Quando ele me disse: "Chega na mesma hora", pensei que estivesse zombando e fechando a conversa. Já estava segregando criança. Fiquei triste, porque eu estava conseguindo respostas de um adulto, ainda mais um adulto da eletricidade, não é?

Nestrovski - Foi seu tio quem trouxe a luz?
É. Meu tio Elísio botou luz elétrica em Irará. Era prefeito de Irará. Eu estava no palanque no dia em que ele botou a luz com a roupa de caroá, muito humilhado porque a roupa do filho dele, Jarbas, era de casimira. Esses contrastes...

Número 4, primeira noite

Breve apreciação à primeira noite (ao que pude ver) do Número Festival:

Stealing Orchestra (8/10)
Muito mais roqueiros do que a última vez que os vi, muito mais orgânicos do que se apresentam em disco.

Animal Collective (7/10)
É verdade que por vezes conseguiram tornar-se o supra-sumo do aborrecimento, mas não é mentira também que conseguiram produzir dois ou três momentos de demência sónica verdadeiramente explosivos. Autênticos tribalistas que lograram trazer às cordas daquelas guitarras o espírito dos Suicide. Como dizia o meu amigo Mário Lopes, a sala de ensaio destes gajos deve ter sido construída por cima de um cemitério índio.

X-Wife (8/10)
Foi a primeira vez que os vi ao vivo. A batida certa daquele baterista chinês, que a toda a hora me fez lembrar o Dr. Avalanche, o som limpo do baixo, com um groove rock'n'rolleiro (se é que os termos se podem conciliar) irrepreensível, e os power chords e a voz lydoniana do Mr. Kitten somam um todo coeso capaz de fornecer uma óptima hora de entretenimento. Não é nenhuma novidade, obviamente, mas que interessa isso quando alguém nos põe a abanar a cabeça e o corpo e nos instiga a recuperar antigas formas de se receber um concerto?

Vi muito pouco de:
Ernesto e Guilhermo Rodrigues com Carlos Santos, Anabela Duarte Digital Quartet, twokinderman e @c+lia.

Não vi:
Derrick May (talvez tenha sido a maior explosão da noite para o público), Gabriel le Mar e outros...

Organização
Consegue sempre tornar-se, desde há quatro anos, a maior protagonista do festival. Ontem não apareceram Pole e Kristeen Young, como estavam prometidos, mas não é aí que residem os maiores problemas. Cancelamentos, mesmo que motivados por desatenção no acompanhamento de todos os pormenores como o de uma simples viagem de avião, acontecem em todos os festivais. O que se pede é um maior respeito pelo público que nem sequer é disso avisado, nem fora, nem dentro do recinto. Tal como não é avisado da hora do início de cada um dos diferentes espectáculos ou das alterações nos alinhamentos dos dois palcos. Quem é que está a tocar no palco secundário agora? Quem é que está a tocar neste palco agora? É favor perguntar, como se de um hipermercado se tratasse, a uma das pessoas que ande com um passe "staff". Ele saber-lhe-á responder. Ou então não.

terça-feira, 21 de outubro de 2003

LOGH EM LISBOA (E PORTO)


Depois de, em Março, ter feito Howe Gelb pisar pela primeira vez um palco nacional, a associação cultural "A Mula", na qual estou integrado, vai fazer o mesmo com os suecos Logh, num concerto a não perder por quem ache curiosa a ideia de uns Pixies mais intimistas ou uns Elbow a tocarem Velvet Underground. A Mula vai trazê-los, portanto, a Lisboa, embora também esteja um outro concerto previsto para o Porto, com outra organização.
Deixo, como aperitivo, uma faixa que pertence e dá título ao novo álbum dos Logh, "The Raging Sun": logh - the raging sun (mp3 com pouco mais de 2 megas).
Em breve deixarei mais detalhes.

segunda-feira, 20 de outubro de 2003

Vai abaixo, vai acima

Acho que devo um pedido de desculpas pela forma como estou a publicar a entrevista do Tom Zé à Folha de São Paulo, a qual torna difícil a sua leitura, nomeadamente a quem não visita o blogue todos os dias, já que tem de ler uma parte até baixo, subir e ler outra parte até baixo e assim sucessivamente. Mas entre isso e publicar o extenso texto logo de uma vez, achei que era melhor seguir esta opção.

Entrevista a Tom Zé (parte 5)

Tatit - Aproveitando essa história do professor, uma coisa que achei comovente naquele vídeo que a Carla Gallo fez ["Tom Zé, ou Quem Irá Botar Dinamite na Cabeça do Século?"], foi o depoimento do Koellreutter sobre aquela música sua, "Toc". Talvez tenha sido um dos últimos depoimentos lúcidos dele, porque logo depois adoeceu, não é? Estava em transe nesse depoimento. Falou que não conseguia dormir à noite tendo ouvido sua música. Você fica imaginando toda aquela experiência, de 80 e tantos anos, tudo o que ele passou, e ouvindo sua música numa emoção, mas numa emoção que eu nunca vi. Inverteu-se a história: o professor completamente extasiado, depois de tantos anos, com seu aluno. Aquilo é demais, não é?
Agora, pense, depois que saí da escola nunca imaginei voltar a receber uma aprovação daquelas pessoas. Quando a menina Carla Gallo me falou que ia mostrar o disco, eu lhe disse: "Não faça isso, o professor, coitado, está cansado, você vai aborrecê-lo com música". Ela insistiu: "Mas ele quer ouvir...".
Depois perguntei: "O que foi que ele ouviu, foi "Toc'?". "Não, ouviu o primeiro disco todo." Aí fui ouvir com o ouvido dele, para saber o que é que podia ter interessado a Koellreutter. Fui ouvir com o ouvido que eu sabia que a escola... que ainda me lembrava do que era...

Tatit - Com uma sinceridade, rapaz, ele estava falando que não conseguiu dormir à noite, depois de ter ouvido aquela música. Então, você vê, ele vem de uma outra formação completamente diferente, deu a volta, você já tinha passado uma carreira inteira, ele também, e ele agora impressionado com aquilo. Aquele depoimento eu achei uma das coisas mais... É um coroamento, assim, de toda uma vida. Nossa Senhora! Realmente aquilo, se eu tivesse juízo... faria como o Gil disse, depois do Grammy: "Agora, preciso providenciar uma boa morte".

(continua)

domingo, 19 de outubro de 2003

Entrevista a Tom Zé (parte 4)

(Continua a publicação da entrevista de Arthur Nestrovski e Luiz Tatit a Tom Zé.)

Tatit - Volta a participação dos professores, não é? É, é. Esse disco último ["Jogos de Armar"] foi dedicado aos professores por isso, não é? Porque Belmira me salvou a vida; e o professor Artur, na escola primária. Eu, numa casa bastante porão, no sentido de que tudo era escuro, o mundo não tinha esperança e tal, aquelas brigas eternas, aquele negócio terrível, aí o professor Artur falava em primavera nossa, como aquilo era delicioso! E sol, o sol é uma coisa... Aí tinha uma canção que eu me admirava, a "Canção da Árvore". Dizia assim: "O sol de dezembro lhe dá seu calor". Eu me perguntava como é que o sol dá seu calor. O sol mata as plantas de calor. Nasci vendo as plantas morrerem, o fumo não crescer, aquela situação, a cidade em miséria porque o sol acabava com tudo; mas tinha lá, do mundo civilizado: "O sol de dezembro lhe dá seu calor".
E tudo isso que ele falava de primavera, isso me encheu de luz, professor Artur, que santa coisa aquele homem lá. Um homem positivo.
No dia de eu fazer a minha prova final de aritmética, ele me fez um negócio maravilhoso. Me disse assim: "Vou fazer uma questão para você, que você não conhece o assunto..." -agora, por que ele foi fazer logo comigo, isso é que é incrível, meu Deus-, "mas, pelo que já aprendeu, você pode deduzir. Se acertar eu aumento sua nota; se errar, não diminuo. Você aceita?". Eu falei: "Aceito". Sabia que tinha passado e tal. "Aceita? Aceito."

Tatit - Não tinha nada a perder.
Lá sei eu... Pelo menos raciocinei, tive coragem. Ele deu o problema, realmente resolvi, uma coisa simples, boba. Ele aí me gabou muito. Isso foi durante muito tempo... O professor Artur me sustentava aqui com essa coisa de dizer que eu era inteligente.
Tanto que um dia eu tive uma prova de que a cabeça podia me tirar da desgraça. Carreguei isso comigo por anos. Foi assim: eu estava jogando bola. Era proibido de tomar chuvisco e de jogar bola. E estava jogando, na rua da Quixabeira. Minha mãe, olhando de certa janela lá de casa, via parte dessa rua. Eu estava no campo de visão dela num momento em que estava chuviscando e ela me viu. Aí ouvi, porque a gente ouvia de longe: "Antônio José!"

Nestrovski - Dois crimes: jogando bola e na chuva.
A chuva, então! Para a asma... Minha mãe achava que a asma era a chuva, a chuva era a tuberculose, eram os parentes de meu pai que estavam querendo me tuberculizar e tal. Muito bem. Então pensei: "Meu Deus, vou apanhar". Me encostei escondido na parede e tive a idéia: olhei os meninos e escolhi o que mais se parecia comigo. Mandei ele vestir meu calção, botei a boina (aquela boina antiga de jogador de futebol) e disse: "Carlito, desça e passe na rua de baixo, mas você tem que fazer minha mãe o ver". Tinha uma festa de rua, todo mundo estava na janela. Carlito foi inteligente, passou várias vezes. Quando entrei em casa, veio a solução maravilhosa. "Já estava preparando o cipó para lhe dar uma surra", falou minha mãe, "quando vi o menino que eu pensei que era você passando aqui". Ah, nesse dia, eu disse: "Estou salvo, tem uma coisa aqui na cabeça que pode me salvar". Minha mãe falou exatamente o que eu precisava ouvir. Nossa! Como eu fiquei com fé, com esperança.

(continua)

sábado, 18 de outubro de 2003

Entrevista a Tom Zé (parte 3)

(Continuação da excelente entrevista com Tom Zé.)

Nestrovski - Tem uma história que você me contou uma vez... O caso do dinheiro que você escondia.
Ah, do tio, bom, do tio Elias, eu roubei o dinheiro do tio Elias, roubava sempre, não é? Aí comecei a viver uma vida de terror. Eu já tinha o terror na primeira infância...

Nestrovski - Eram uns colegas seus que lhe ameaçavam, não?
Isso, isso, a minha vida toda foi roubando e sendo roubado, não é? Quando entrei na escola primária, nessa sala da professora Joselita, aconteceu um incidente, um menino maior me deu uns cascudos. Meu pai foi na casa da viúva mãe dele se queixar, gritou lá. Meu pai chamava-se Cochicho, porque gritava muito, todo mundo aceitava isso, não era briga, não era nada. E meu pai nunca brigou com ninguém. Então, o professor Artur, para agradar meu pai, me botou na classe dele.
Ora, em Irará só tinha primeiro, segundo, terceiro e quarto anos primários, sendo que o quarto ano primário era a última escola. Então, muita gente que não queria sair da escola ficava lá no quarto ano. Eu saí do primeiro, onde já era tímido, envergonhado, fui para o quarto, onde estavam aqueles malandrões, que já eram um moleques mesmo de rua, barras-pesadas, e que não queriam sair da escola. Não passavam nunca do quarto ano. Então, eu... se no primeiro já era uma dificuldade, ali foi um inferno. Até meu primo, que Deus o abençoe -de quem meu pai tinha, em 1943, comprado a tal casa nova e ele passado a morar na casa em que eu morava antes-, ele, que já estava também humilhado (e eu não sabia), me tratava mal para caramba.
Eu pensava mesmo que eu era um espúrio. Então um moleque, que sentava comigo, Deus o abençoe, o Miro, começou a fazer um jogo assim: eu pego um objeto, um livro meu, ele diz uma palavra, o livro é dele. Quando não posso dar o livro, fico devendo um cruzeiro. De vez em quando eu pegava ele, mas ele me pegava a semana toda. Aí, no fim da semana estava devendo a ele 17 mil réis; ele chegava na pastelaria do meu pai, me dava 5.000 réis para comprar um cigarro e eu dava o troco da compra a ele mais os 17 mil réis que devia, do "contrato" na escola.
No princípio, isso só metia medo a mim, depois eu vi que essa história ia se espalhando e então o terror ia ficando cada vez maior. Demorou três anos para o meu pai saber. Não tive coragem de contar dentro de casa: "Estou sendo espoliado". Então, me habituei a viver sob terror. Então, depois eu mesmo roubava na loja de meu pai.
Uma vez eu peguei o dinheiro de meu tio em Salvador. Aí meu pai foi me buscar, todo mundo já contra mim. A família ficava contra você. Primeiro, você já era um moleque nascido lá do casamento que ninguém aprovava muito, aqueles porquinhos todos nascendo naquela casa pobre e tal (antes de meu pai mudar para a casa grande, em 1943); a família de minha mãe já saindo do campesinato e indo para a universidade, família culta e tal, então, já era muito difícil aceitar a gente. Eu via tudo, não sabia por que diabos não me ensinaram a pegar num garfo para não passar tanto vexame e lá vai o diabo acontecendo.
Um dia roubei o dinheiro do tio Elias, que também me roubaram na praia, e eu não desfrutei o dinheiro, não é? Um cara mais velho tomou o dinheiro para guardar e sumiu com ele. Eu ficava com vergonha de perguntar: "Cadê o dinheiro?". Veja como eu era idiota [risos]. Aí meu pai foi chamado, no dia que descobriram que fui eu, e meu pai me disse assim: "Meu filho, levo você até a beira do abismo". Esse tipo de coisa trágica: era como se eu fosse um criminoso lá dentro de casa. Um negócio estranho, meu pai era uma pessoa que não maltratava a gente nunca. Então, essas coisas me botavam num mundo trágico. Eu não sabia nem o nome, falava "trágico" para poder me defender um pouco, nominar. Aí fugi de casa, fiz o diabo...
Até que um dia um professor de história... O professor Orlando Bahia Monteiro, ele falava baixinho, e como falava baixinho, comecei a ouvir. Ele inaugurou, naquele ano, uma tal de história interpretativa: fatores que levam a pensar que o descobrimento do Brasil foi intencional e fatores que levam a pensar que não foi intencional, os argumentos são tais e tais. Ora, uma coisa de argumento você presta atenção, é quase um júri em sua presença. Então, eu prestei atenção. Na aula seguinte, ele me chama, eu não sabia que sabia, tirei nota nove na tal da sabatina. Novamente não tomei bolo, tirei nota nove. E, então, eu comecei a estudar história porque ele me gabava. Comecei a estudar história para não negá-lo. Foi nesse ano que eu comecei a estudar (depois daquele terceiro ano que eu perdi).
Aí a professora de português, professora Belmira, um dia disse uma coisa comovente, um negócio assim: "Vocês têm que aprender português" -aquela professora miudinha, negra, sentada naquela cadeira enorme, parecia sumir ali, mas ela era de um vigor! Eu não pensava em escrever nem fazer música nem nada, mas ela disse o seguinte: "Vocês têm que aprender português. De onde é que vão sair os escritores e os poetas?".
Ora, só ter uma expectativa boa sobre mim, mesmo como coletividade, era um bálsamo. Eu fiquei com os olhos mareados lá no fundo da sala. Naturalmente me escondi, para ninguém ver. Mas aquilo me bateu que eu comecei a estudar português também, porque a mulher tinha me agradado. Tanto é que virei estudante, a partir desse ano. Voltei a estudar, equilibraram-se as coisas e tal. E aí tudo é fanático, não é? Quando voltei a estudar, voltei como cdf.

(continua)

sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Entrevista a Tom Zé (parte 2)

(Continua a publicação da recente entrevista de Arthur Nestrovski e Luiz Tatit ao músico brasileiro Tom Zé.)

Nestrovski - Em casa não tinha ambiente para música?
Não. Minha mãe pintou durante o ginásio. Teve uma coisa com minha mãe, minha mãe Helena: ela foi a rebelde, porque lá pelo terceiro ano do ginásio disse a meu avô Pompílio que não queria mais estudar interna. Como não se podia mais botar uma moça na Bahia a não ser em Salvador e a não ser interna, ela voltou para Irará. Aí veio a casar com meu pai em 35; e eu nasci em 36.

Nestrovski - Seu pai tinha uma loja?
Tinha. Ele nasceu pobre-de-marré-desci, tinha tabuleta no princípio da vida, era marreteiro. Ganhou a sorte grande na Loteria Federal em 1920 e tantos. Então...

Luiz Tatit - Puxa! O grande prêmio da Loteria Federal?
Tudo era cósmico ou cômico lá. Meu pai tinha um bilhete premiado. Antes disso, tinha acontecido o seguinte: vocês conhecem a história no interior de enterrar pequenos potezinhos com moedas de libra esterlina? Essa era a maneira de passar heranças no interior. E o morto, para poder contar em vida, não contava aquilo a ninguém, era o mesmo que uma senha de banco, ele vinha em sonhos contar a alguém e você só podia desenterrar à meia-noite. Meu pai, que nunca teria coragem de ir à meia-noite em lugar nenhum desenterrar nada... não sei como foi parar uma herança dessas na mão dele.
Meu pai nunca teve parentes, eu nasci sabendo que ele não tinha parentes, porque os irmãos morreram tuberculosos, por pobreza, por isso, por aquilo, por aquilo outro, fome e tal. O lado de minha mãe que era a família rica. E eu na loja sabia que meu pai não tinha irmãos, que o pai dele tinha morrido há muito tempo. Aí meu pai conta que, quando ele ficou de posse do potezinho com as libras esterlinas, começaram a aparecer parentes de todo lado, gente dizendo que era sangue do sangue dele. Realmente, aqueles primos de segundo grau, primos de terceiro grau, concunhados, pode-se contrair uma parentela enorme na Bahia.
Então, um dia, meu pai resolveu dividir a herança. Isso era bem a cara dele, esse tipo de repente. "Olha, avise que eu vou dividir essa herança. Está marcado na casa de fulano de tal" -que ele não tinha casa- "tal dia, tal hora, vou levar as libras". Bom, vieram todos os interessados, deu tempo de correr os avisos, todos os interessados vieram, ele botou o pote no chão: "Uma sua, uma sua, uma minha, uma sua, uma sua, uma sua, uma minha..." -em três rodadas acabou. Ele aí chegou na porta da rua, o bilheteiro de Feira de Santana ia passando: "Seu Éverton, compra aqui, olha, uma boa centena, 0549". Ele ainda segurando as libras na mão assim: "Meu filho, não tenho dinheiro". "O que é isso aí na sua mão? Isso é dinheiro, seu Éverton, eu troco para o senhor". E ele comprou o bilhete inteiro, que foi premiado.

Tatit - Que loucura.
O homem divide a herança e já sai premiado. Então veio para Salvador receber, para saber o que se faz com um bilhete premiado. Ninguém sabia. Meu pai foi falar com Florentino Silva -eu cheguei a conhecer Florentino Silva. Eram grossistas na Bahia, uma família italiana, o que era raro por lá. Os caras estavam acostumados a tudo, naturalmente. Aí o Florentino disse: "Você dê um passeio aí, Éverton, trabalhe um pouco, que eu vou ver o que se faz. Bote o bilhete aqui". Meu pai botou o bilhete no cofre do Florentino e foi embora. Naquele tempo o mundo era de confiança.
Quando meu pai voltou, mais tarde, ele disse: "Éverton, o negócio é o seguinte: ou você entra num navio aqui no porto e vai para o Rio receber na Caixa Econômica ou tem um homem rico aqui que paga com 3%". Meu pai, que sempre teve ojeriza a viagem, recebeu 4.850 contos, botou nos bolsos, subiu em cima de um caminhão e foi para Irará. Isso era dinheiro para comprar metade da cidade.
Ele então começou a ter acesso a moças mais qualificadas, casou com a irmã da mãe de Roberto Santana, dona Mirandinha, que morreu com uma espinha que inflamou, uma coisa maluca. Aí meu pai casou com a irmã do pai de Roberto Santana, Helena Santana, irmã de Elísio Santana e Fernando Santana. Tanto que eu sou primo carnal de Roberto Santana, duas vezes.

Nestrovski - E seu pai abriu uma loja e você trabalhava no balcão, é isso? É, mas antes da loja trabalhei em padaria. Ele, uma época, largou a loja, em 40 e tantos, largou a loja e teve padaria, eu trabalhei, teve pastelaria, eu trabalhei, quando voltou para a loja, em 48, que luxo! Tudo limpinho, não sujava nada, fechava às 18h. Ah, que felicidade, trabalhava dia de sábado, porque era feira, mas que felicidade.

(continua)

quinta-feira, 16 de outubro de 2003

É maldade, mas é também irresistível


Auto-promo

Os dois outros elementos do Bailarico Sofisticado, o Baptista Bardot e o Macaco Mark, prometeram que me pagavam o jantar se eu falasse aqui do regresso do trio giradisquista, que vai acontecer hoje na EXD2003, no São Jorge. Apareçam por lá a partir das 11h. O local é bastante simpático e, felizmente para os vossos ouvidos, haverá mais boa gente a passar música.
(Quero esse jantar!)

Entrevista a Tom Zé (parte 1)

(Esta é a primeira parte de uma entrevista a Tom Zé, recentemente publicada pela Folha de São Paulo, que a minha amiga Katia Abreu gentilmente me enviou. É deliciosa esta conversa com um dos maiores músicos do Brasil.)

TOM ZÉ, QUE COMPLETOU 67 ANOS ONTEM, RELEMBRA SUA INFÂNCIA, NARRA QUANDO VIU LUZ ELÉTRICA PELA PRIMEIRA VEZ E CONTA COMO, AOS 17 ANOS, SE INTERESSOU PELO VIOLÃO

A MÚSICA QUE VEIO DE IRARÁ
por Arthur Nestrovski e Luiz Tatit


Três em ponto da tarde. Tom Zé está no sofá, passando remédio no pé. "Rapaz, tinha jurado que estaria pronto para receber vocês." Precisa tratar de uma "doença de velho": esporão de calcâneo. Se a cena fosse ensaiada, não seria melhor. O misto de intimidade e estranheza, o vocabulário ("esporão de calcâneo"), para nós tão diferente, mas ao mesmo tempo tão direto e humano, o tom irreprodutível da voz, naquele sotaque nordestino que se conhece tão bem, já estava tudo ali, mais a delicadeza e humor que marcam sempre o que ele faz. E a jura: se tinha jurado, só podia ser à Neusa, companheira de todos os momentos há mais de 30 anos, musa, parceira de trabalho e "ponto", de quem ele se declara total e amorosamente dependente. Tom Zé sem Neusa não existe.
A entrevista foi na sala. Os três sentados à volta da mesa, que Neusa cobriu com um cobertor para proteger nossas mãos do frio -só mais um exemplo da sabedoria franca e generosa do casal. Tom Zé fala fácil e fala bastante. Assume o papel de entrevistado com o mesmo empenho que demonstra em compor, cantar, escrever, cuidar dos periquitos e do jardim do prédio. Qualquer sugestão basta para ele desfiar histórias e mais histórias, sem que nenhuma deixe de ter pertinência. Mais que pertinência: singularidade.
Fora do Brasil, Tom Zé conquistou um reconhecimento que, mesmo hoje, consagrado que seja entre nós, ainda pode causar surpresa. Desde 1990, quando David Byrne produziu o CD "The Best of Tom Zé" nos EUA, ele vem sendo reverenciado em matérias de capa de publicações como o "The New York Times", "Le Monde", "The Guardian", "Village Voice", "Le Nouvel Observateur". "Mr. Zé" (pronuncia-se "Zi") entra regularmente nas listas de melhores discos da década ou até mesmo do século passado. Nada disso abala a cordialidade gentilíssima e a psicanalisada modéstia do mestre de Irará.
Tudo acaba voltando para lá, aliás. Tom Zé pode não saber para onde vai até fazer questão de não saber, para que as coisas possam acontecer e a surpresa cumpra seu papel, mas não esquece um segundo de onde vem. As histórias que ele conta sugerem outro mundo, um Brasil tão arcaico que quase não dá para imaginar. Mas que continua vivo em cada frase do cavaquinho e cada contraponto do baixo, como em cada ruído estranho dos instrumentos que ele vem inventando há anos, reanimando uma tradição da Escola de Música da Bahia, onde estudou com seus queridos professores Ernst Widmer e Hans Joachim Koellreutter.
Foram três horas de fita gravada, fora o intervalo para o lanche (musse de maracujá). Não é possível transcrever tudo; mas é quase impossível cortar. Sua fala vem pronta, só precisando daqueles ajustes mínimos de texto escrito: diminuir repetições, deixar alguns pronomes de fora, definir pontuação. Quase um paradoxo para quem se declara um compositor de "defeitos", um "falhador". Sua fala vem pronta. Quem não está pronto somos nós.
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Arthur Nestrovski é escritor e professor de literatura da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). É autor de, entre outras obras, "Notas Musicais" (Publifolha).
Luiz Tatit é professor de linguística na USP e compositor.

A entrevista da qual se publica um trecho a seguir faz parte do livro "Tropicalista Lenta Luta", que será lançado no final deste mês pela Publifolha (288 págs., R$ 34). O volume traz também 25 textos do autor, fotos inéditas e todas as suas letras. Além disso, Tom Zé (1936) lança simultaneamente o CD "Imprensa Cantada 2003" e o DVD "Jogos de Armar", pela gravadora Trama.

Arthur Nestrovski - Você ouvia música em Irará?
Minha casa era geminada com o clube. No lugar onde eu dormia, a cama, eu me lembro bem, era encostada na parede do clube. Então, o bumbo do clube vivia no meu ouvido, quando tinha festa de mês em mês, tinha festa a noite toda. E eu ouvia mais alguma coisa lá das bandas que tocavam, mas o bumbo era mais presente, o bumbo era o novo útero da minha mãe, que deve ser essa a sensação, não é? Bum, o coração batendo, os dois depois batendo, o meu e o da mãe, não é? E essa é a única coisa a que se pode atribuir que eu tenho de inspiração de música.
Nunca tive nada a ver com o assunto, não é? Só aos 17 anos, o Renato, um dia, me disse: "Tom Zé, eu agora toco violão, não toco mais flauta". Eu estava indo ver as meninas no jardim, falei: "Que diabo". Foi naquele tal ano que eu tinha sido reprovado e fiquei em Irará, não fui nem estudar [em Salvador]. Era como se eu fosse abandonar os estudos. E no mês de agosto, um dia meio nublado de agosto, o Renato me disse: "Eu toco violão, e é muito mais bonito". O Renato era uns oito anos mais velho do que eu. Devo a ele o fato de ter começado a canalizar essa minha curiosidade.
Porque um dia, no campo de futebol, ele era uma dessas pessoas que gostavam de pensar coisas -na vida do interior tem muito isso-, um dia ele me disse, a gente estava perdendo para o time de Alagoinhas vergonhosamente e ele na torcida disse assim: "Você tem que jogar com a cabeça!".
Aquilo era um problema de trigonometria: jogar com a cabeça. Ninguém usava aquela metáfora. Futebol se jogava com os pés. Aí tive que repetir "jogar com a cabeça"; foi indo, foi indo até que entendi que eu devia prestar atenção em alguma coisa que nem podia imaginar o que era, no meio daqueles jogadores tão bons, que levavam a gente de aluvião.
Ele sempre me dizia uma coisa para eu pensar: "Você hoje vai torcer pelos bandidos ou pelo artista?". O artista era o mocinho, não é? E isso dava dor de cabeça. Você não podia imaginar que a pessoa pudesse torcer pelos bandidos. Era a negação da lógica. Da lógica bipolar e tal, do maniqueísmo. Ou melhor: a apresentação do maniqueísmo.
Então, um dia, ele fez essa interferência fatal na minha vida, quando me disse: "Eu não toco mais flauta, toco violão". "Puta merda!", eu falei. Estava indo ver as meninas, vi que as meninas já iam chegando, aquela aflição, mas eu tenho que ouvir Renato. Aí ouvi e ele prrramm: "Não quero outra vida, pescando no rio de Jereré...". No "de Jereré" a melodia faz dó, si, dó, ré; e o violão fazia dó, si, lá, sol. Contraponto do primeiro grau (veja como o contraponto estava na minha veia).
Esse contraponto do primeiro grau, nota contra nota, começando até com oitavas paralelas, se não me engano, esse contraponto me impressionou tanto que o mundo escureceu, as meninas desapareceram, naquela hora tudo girou, eu matei minha formiga preta. No interior dizem que, quando você mata uma formiga preta, escurece o mundo, que é o apocalipse, não é? Meu apocalipse foi ali: eu perdi completamente tudo em que estava ligado, todos os interesses momentâneos desapareceram com aquele buraco, não é? No eixo do ser. E no outro dia estava atrás de violão. Desse dia em diante nunca mais deixei de ficar atrás de música. Eu tinha 17 anos.

(continua)

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Comentários

Devo mudar o sistema de comentários ("juramentos")?
MUDA JÁ. Esta porcaria está sempre offline!
DEIXA ESTAR. Não é pior que os outros.
NÃO SEI QUE TE DIGA. Posso responder para a semana?

Já agora, se alguém tiver sugestões de outros serviços de comentários, faça o favor de as deixar nos actuais.

Portugueses no AMG

Armei-me em cusco e andei à procura de bandas e artistas portugueses no All Music Guide, a melhor e maior base de dados online de música. A informação não é muita, como seria de esperar, faltando muitas biografias, faltando muitos detalhes em relação a discografias, para além de uma larga série de lapsos cómicos como aquele que coloca os Santamaria como um "similar group" aos Silence 4...

Assim sendo, e no campo da pop, encontrei por lá: Mão Morta (c/bio), Sérgio Godinho, Ala dos Namorados (c/bio), Filipa Pais, Mafalda Veiga, Paulo Gonzo, Madredeus, Rodrigo Leão (c/bio), GNR (c/bio), Silence 4 (c/bio), Heavenwood, Moonspell (c/bio), Santamaria, Zealots, Doctor Frankenstein, Rui Veloso, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho (c/bio), Xutos & Pontapés (c/bio), Rádio Macau (c/bio) e Pedro Abrunhosa (c/bio). Existe ainda um ensaio sobre "portuguese rock" escrito por um tal de M. Júlio Castro, que também é o autor de algumas das biografias e críticas a discos das bandas citadas. Mas o que dizer-se de um ensaio deste género que, ao fazer a lista dos "The Ten Most Essential Portuguese Rock Albums", coloca os Taxi no segundo lugar?
No fado (é o que há mais): Amália Rodrigues (c/bio), Artur Paredes, Carlos Paredes (c/bio), António Chainho (c/bio), Alexandra, Carlos do Carmo, Mariza (c/bio), Lenita Gentil, Paulo Bragança (c/bio), Jorge Fernando (sim, o do "umbadá"), Cristina Branco (c/bio), Bévinda (c/bio), Maria Armanda, Fernando Machado Soares, António Pinto Basto, João Braga, Mísia (c/bio), António Menano, Lucília Carmo, Fernanda Maria e José Maria Nóbrega. Há ainda depois um imenso número de entradas para guitarristas, letristas e técnicos ligados ao fado, que não valia a pena estar a transcrever para aqui.
Nas tradicionais: José Afonso, Brigada Victor Jara (c/bio), Chico Ávila, Pedro Caldeira Cabral (c/bio) e Gaiteiros de Lisboa.

Quem encontrar mais, que faça o favor de deixar nos comentários.

terça-feira, 14 de outubro de 2003

Número Festival

Aproxima-se mais uma edição do Número. Num cartaz ligeiramente menos sonante que em anos anteriores, mas ainda assim bastante prometedor, a revista Número vai levar à Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, nomes como os de Andrew Fletcher (Depeche Mode), The Client, Derrick May, Pole, Kristeen Young, Stealing Orchestra, Animal Collective (muito bem!), X-Wife, Alva Noto, Anabela Duarte (com o seu Digital Quartet), Karl Barthos (Kraftwerk), Señor Coconut, Luomo, Laub, entre muitos outros. A não perder entre 22 e 30 de Outubro (os concertos são a 24 e 25, mas o festival estende-se, já desde a primeira edição, a outras áreas). Fonte: Blitz.

Estou a ser filmado

O Juramento sem Bandeira está a ser filmado neste momento para o tech.pt da Sic Radical.

Feira do disco alternativo usado

A partir de amanhã, quarta-feira, e até Sábado, dia 18, acontece a Primeira Feira do Disco Alternativo Usado. O evento é organizado pela Zundap e pela loja de discos Eklet, e decorre no nº 23 da Travessa Poço da Cidade, no Bairro Alto, entre as 15h00e as 24h00.

Por um punhado de espectadores ou Western Spagheti à moda de Matosinhos

Diga o que se disser sobre o estado da música portuguesa, a maior das barreiras que as novas bandas encontram por cá é a dificuldade de exposição. O concerto dos Fat Freddy, ontem no Santiago Alquimista, é disso paradigmático. Tirando seis ou sete convidados ligados à editora, estava ontem no Alquimista não mais do que meia-dúzia de espectadores para ver a banda de Matosinhos fazer o lançamento do seu álbum de estreia, "Fanfarras de Ópio". Pode-se dizer que era uma segunda-feira, é certo. Pode-se dizer que era uma banda do Norte, é certo. Pode-se dizer mil e uma coisas, mas a verdade é que nem imprensa, nem aqueles que normalmente se indignam publicamente perante o estado das coisas, marcaram presença ontem. Aqueles que, porventura, terão uma obrigação moral de mexer com as coisas, de divulgar, de fazer crer aos outros que se fazem coisas bastante interessantes por cá, não se viram no Alquimista. Parece que acaba por ser melhor para uma banda apresentar-se em showcases sem condições nas lojas de uma conhecida cadeia francesa de retalho de discos do que fazer concertos a sério, em locais com óptimas condições, como é o caso.
Os três Fat Freddy não deixaram, no entanto, abater-se e proporcionaram ao seu reduzido público uma grande noite. Numa mistela de surf-rock instrumental, paso dobles, programações e imagens hilariantes (a homenagem ao José Cid é um must), Pepito e Cª mostraram uma vez mais que fazem, ainda que em segredo apenas conhecido por uma elite privilegiada, uma dos melhores espectáculos que, de vez em quando, se podem assistir em palcos portugueses. A atitude rock'n'rolleira (já é marca do grupo a parte em que o contrabaixista se coloca em equilíbrio sobre o seu instrumento, enquanto violentamente ataca as notas de um dos "Batman Themes") e o humor completamente avariado do guitarrista Pepito dão cabo de qualquer conceito de normalidade com que se possa esperar, à partida, de um concerto dos Fat Freddy. Único problema de ontem: as mudanças de imagens e sons que acompanhavam os três músicos em palco. Muito lentas e atrapalhadas, por vezes. Mas, de resto, fica gravado na memória mais um inesquecível concerto.

(E eu juro que esgano o próximo que me aparecer à frente a dizer que não surgem bandas interessantes em Portugal, que não temos capacidade de ter nomes conhecidos lá fora para além dos habituais. Eu juro que esgano.)