terça-feira, 30 de outubro de 2012

Na próxima quinta-feira...

Na próxima quinta-feira, dia 1 de novembro, há festa no Ritz Clube. A Nicotine's Orchestra vai apresentar o novo álbum, "Gipsycalia", e este vosso escrevinhador tem a honra de pôr discos pelo resto da noite.

(A propósito, há uma nova página no facebook para quem quiser ir acompanhando o trajeto desta nova experiência atrás dos pratos: O Junqueira.)

De "Gipsycalia", o single "Tropic of Capricorn", com a ajuda na voz de... Marcelo Camelo:



domingo, 21 de outubro de 2012

Rokia

Há de haver alguém com mais tempo para escrever como foi o concerto da Rokia Traoré no final desta tarde, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. Para escrever que foi diferente, em vários aspetos, de outras passagens da maliana pelos nossos palcos. Mas também para escrever o quão bom foi.
A mim, cabe-me notar apenas uma das muitas pequenas coisas deste concerto. Há uma altura em que Rokia cede o lugar e o microfone da frente a uma das cantoras do coro. Com um gesto de humildade que não se costuma ver nos palcos, habitats frequentes dos mais disparatados egos, Rokia assume o lugar da cantora no coro enquanto dura a canção. Mais adiante, faz o mesmo com as outras duas cantoras e explica ao público que esta ideia faz parte do projeto desenvolvido para este espetáculo.
Já perto do fim, no início do encore, quando todos os elementos da banda já estão nos seus lugares, ao invés de seguir a auto-estrada de luz que conduz, neste como noutros milhões de palcos por todo o mundo, noutras milhões de ocasiões por toda a história da música ao vivo, dizia, Rokia entra por trás do coro.
É uma pequena coisa, uma entre muitas que possivelmente poderão passar despercebidas por entre quem escrever o quão bom foi o concerto. Mas estas pequenas coisas fazem a diferença.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"Allelujah! Don't Bend! Ascend!" em pré-escuta

Ainda aqui há dias se dava conta do novo álbum dos godspeed you! black emperor. Sai na próxima semana mas já pode ser escutado através do Guardian, mais precisamente aqui.

Para tudo! The Ex na ZDB, em Novembro!

Já levam mais de três décadas e nunca pisaram -- alguém me corrija -- um palco português. Começaram nas ondas de propagação do punk, escreveram as páginas mais importantes do pós-punk europeu, misturaram-se com música e gente de todo o mundo, deixaram um pé bem marcado no jazz de vanguarda. Dia 14 de novembro, a ZDB recebe os neerlandeses The Ex!
O bilhete custa 12 euros.

Texto do José Marmeleira para a promoção ZDB:

Chegar a este dia, ano e século e celebrar um concerto dos The Ex é motivo de intenso e imenso júbilo. Nenhuma banda moldada pelos anos de chumbo do punk vive hoje com a mesma liberdade e juventude. E agita os corpos e as consciências com o mesmo vigor. Alguns músicos já partiram (o lendário vocalista G.W. Sok, os baixistas René e Luc), mas o som nunca parou de se expandir com a presença de amigos e convidados, para outros universos.

Volvidas mais de três décadas, a obra The Ex é a expressão de um estilo de vida feito música e vice-versa. Começaram nos finais dos anos 1970, na cena punk holandesa, empenhados em usar a energia da música popular ao serviço de uma militância política. Sem o radicalismo dos Crass ou o lirismo dos Minutemen, abraçaram a poética musical das Raincoats, das Slits ou dos The Fall: “punk” convulso e frágil, suspenso em arames, mas directo e abrasivo, como se ouve nos três primeiros discos.

As guitarras e o baixo foram sempre objectos privilegiados – o encontro com os Sonic Youth nos anos 1980 e a cumplicidade com Steve Albini atestam esse traço – mas os The Ex não se limitaram a importar uma linguagem. Esta foi desde cedo um meio aberto a outros instrumentos (trombone, acordeão, gaita de foles, trompete) e idioma musicais (Hungria, Turquia´, África, Irão). Poucos podem reivindicar com a mesma justeza a condição de banda do Quarto Mundo, o que não atrapalha (pelo contrário) a filiação europeia. A ironia das letras, a melancolia a contaminar as melodias, uma certa consciência história e política (patente em “Joggers and Smoggers”, de 1992, ou em Scrabbling at the Lock, com Tom Cora, de 1911) inscrevem os The Ex no lastro do pós-punk europeu (é possível descobrir afinidades com gente tão diversa quanto os Minimal Compact, os Bad Seeds de Nick Cave, 23 Skidoo, Pop Group ou os The Mekons, com quem aliás gravaram).

No século XXI, continuaram em movimento com a mesma generosidade e grandeza, afinando os riffs, os refrões e as vozes contra a mercantilização da vida, a violência das (grandes) instituições e sanha da competição e do lucro. Basta recordar a urgência que atravessa “Dizzy Spells”. Entretanto, foram-se furtando definitivamente a géneros ou categorias que os pudessem identificar. Em 2004, com “Turn”, emularam os ritmos dos Konono Nº1 e em 2010 convocaram os sopros de Mats Gustafsson, Roy Paci, Ken Vandermark and Wolter Wierbos para uma digressão europeia. Indiferentes a centros e as periferias, ou a prontos a redesenhá-los, viajaram à Etiópia, colaboraram e gravaram com o saxofonista Getatchew Mekuria, professando um amor pela música africana que se materializa em discos soberbos (“Moa Anbessa” e “Y’Anbessaw Tezeta”).

O mundo nunca foi demasiado grande para a festa instalada pelo poder seco e tenso das canções desta banda de nome pequeno. E aqui está ela, hoje. Celebrem-na como se não houvesse amanhã. JM

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ele existe, ele vai aparecer por aí daqui a duas semanas

Não só voltaram a juntar-se para tocar um pouco por toda a América e por toda a Europa, como gravaram novo álbum. Thierry Amar, David Bryant, Bruce Cawdron, Aidan Girt, Efrim Manuel Menuck, Mauro Pezzente, Sophie Trudeau e o regressado Mike Moya, que se tornaram conhecidos como godspeed you! black emperor, gravaram "ALLELUJAH! DON'T BEND! ASCEND!", passados praticamente 10 anos de "Yanqui U.X.O.", que muitos julgavam que ia ficar para a história como o último álbum do coletivo.

O disco vai ter o selo n.º 81 da Constellation, que o vai lançar a 15 e 16 de outubro próximos, na Europa e nos EUA, respetivamente (alguns sortudos já o apanharam na digressão americana). Como sempre, há edição em CD e em LP (e agora também em MP3 e FLAC). Como sempre, a opção vinílica traz mariquices bonitas para quem aprecia.

Entre os temas, encontram-se -- finalmente em disco! -- temas fantásticos como "Albanian" e "Gamelan", que aqui ganham os títulos "Mladic" e "We Drift Like Worried Fire", respetivamente.

Já toda a gente o sabe: os godspeed vão estar por cá, mais precisamente no Hard Club do Porto, a 28 de outubro, por ocasião do Amplifest'12.



O blurb da Constellation:

We are proud to announce the first new recordings by Godspeed You! Black Emperor in a decade. Featuring two twenty-minute slabs of epic instrumental rock music and two six-and-a-half minute drones, ‘ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND! provides soaring, shining proof of the band’s powerful return to form.


Having emerged from hiatus at the end of 2010, GYBE picked up right where they left off, immediately re-capturing the sound and material that had fallen dormant in 2003 and driving it forward with every show of their extensive touring over the last 18 months. The new album presents the fruits of that labour: evolved and definitive versions of two huge compositions previously known to fans as “Albanian” and “Gamelan”, now properly titled as “MLADIC” and “WE DRIFT LIKE WORRIED FIRE” respectively. Accompanied by the new drones (stitched into the album sequence on CD; cut separately on their own 7″ for the LP version), GYBE have offered up a fifth album that we feel is as absolutely vital, virulent, honest and heavy as anything in their discography.


We don’t have much time for mythology, but we’d be lying if we said the return of Godspeed You! Black Emperor in 2010 didn’t signify a whole lot to us as a marker from which to look back on the past decade, to reflect on what’s been gained or lost within the confines of independent music culture and what’s been gained or lost in the socio-political landscape writ large. Godspeed’s music will do that to you. It is music that bears witness to, channels and transforms this predominantly terrible, infuriating, venal and nihilistically sad story we’re all living, sharing, resisting, protesting, deconstructing and trying to change for the better. We think GYBE has once again provided a uniquely moving and compelling soundtrack for these acts of analysis, defiance and ascension.

* * *

Hard to believe a full decade has passed since the release of Yanqui U.X.O., the last album by GYBE. Never a band to care for conventional industry wisdom, Yanqui was released shortly before xmas 2003 with little publicity and no press availability, no marketing plans or cross-promotions or brand synergies, with back cover artwork tracing the inextricable links between major music labels and the military-industrial complex. Driven by word-of-mouth from a passionate and committed fanbase galvanized by the group's sonic vision and its dedication to unmediated, unsullied musical communication, the album found it's rightful audience.

To suggest that such simple principles and goals have become harder to maintain and enact a decade later is an understatement. For all the contents and discontents – for all the "content" – of our present cultural moment, the idea of circumventing the glare of exposure, the massaging of media cycles and the calculus of identity management appears quaint, if not futile.

But Godspeed is looking to try all the same. The band wants people to care about this new album, without telling people they should or talking about themselves. They want to hold on to some part of that energy that comes with the thrill of anonymous discovery and unmediated transmission, knowing full well that these days, anti-strategy risks being tagged as a strategy, non-marketing framed as its opposite, and deeply held principles they consider fundamental to health as likely to be interpreted as just another form of stealth.

Truly, thanks for being open to hearing it.

Release date: 15 October 2012 (Europe), 16 October 2012 (rest of world)
Running time: 53:09

PACKAGING NOTES
CD comes in a custom gatefold jacket printed on 100% recycled paperboard in 4-colour process plus spot metallic ink and spot matte varnish. CD dust sleeve is also 4-colour print.

LP is pressed on 180 gram virgin vinyl at Optimal (Germany) and comes in a tipped-on heavyweight gatefold jacket printed in full-colour process plus a spot metallic ink and spot matte varnish. LP dust sleeve is also 4-colour print. Package includes a 7 inch in printed dust sleeve (same audio appears in a different sequence on the CD) and a 12"x48" pull-out poster (printed full colour on both sides) featuring a collage of film stills specially-photographed and captured from the GYBE live 16mm projections.

TRACKLIST
1. MLADIC
2. THEIR HELICOPTERS' SING
3. WE DRIFT LIKE WORRIED FIRE
4. STRUNG LIKE LIGHTS AT THEE PRINTEMPS ERABLE

CREDITS
PERSONNEL
Thierry Amar, David Bryant, Bruce Cawdron, Aidan Girt, Efrim Manuel Menuck, Michael Moya, Mauro Pezzente, Sophie Trudeau, Karl Lemieux.

Tracks 1 and 3 recorded at Hotel2Tango by Howard Bilerman. Tracks 2 and 4 recorded at the band's jamspace, mixed by Amar, Menuck, Bryant and Moya at The Pines.

Mastered by Harris Newman at Greymarket.

Cover photograph by Charles-André Coderre. Burnt 16mm frames by Karl Lemieux, re-photographed by Yannick Grandmont. "Atonal Canada" photo by Timothy Herzog. Others images by Bryant/Menuck/Lemieux.