quinta-feira, 30 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 34, Witch (rep.)



INTRODUCTION
WITCH (Zâmbia)
Edição original: ?
Produtor(es):
discogs allmusic

Parece que ouvimos ali o Mick Jagger. O orgão psicadélico e as guitarras a escorrerem fuzz remetem-nos para uma banda de garagem norte-americana dos anos 60. Mas estamos na Zâmbia, no sul de África, e os Witch são o nome maior de um movimento, uma espécie de micro-clima musical instalado naquele continente, que ficou conhecido pelo nome de zam-rock. Aparentemente, a política cultural daquele país proibia a divulgação de música ocidental na rádio, o que terá levado os músicos locais a desenvolverem o seu próprio garage rock (falei há tempos deste fenómeno aqui). As condições técnicas de captação e produção do disco não são as melhores, mas os temas que aqui encontramos são verdadeiras pérolas do género e aqui já não importa o local onde foram descobertas. A geografia nada interessa perante um disco destes. Foi redescoberto numa edição da alemã Shadoks Music/QDK, em 2009.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 35, Serge Gainsbourg (rep.)



VU DE L'EXTERIEUR
SERGE GAINSBOURG (França)
Edição original: Philips
Produtor(es): Peter Olliff
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

"Vu de L'Extérieur" saiu a Novembro de 1973, seis meses depois do ataque cardíaco a que Gainsbourg sobreviveu com a promessa de que ia aumentar o consumo de álcool e cigarros. Gainsbourg cantava que se ia embora ("Je suis venu te dire que je m'en vais"), "Gainsbarre" estava a nascer. "Vu de L'Extérieur" não têm os mesmos contornos conceptuais que caracterizaram os seus discos dos anos 70, como o anterior "Histoire de Melody Nelson", poema pop numa história de amor muito próxima da "Lolita" de Nabokov, ou do posterior "Rock Around the Bunker", em que o tema base é o nazismo, a não ser que desta coleção de canções lançadas em 1973 retenhamos o teor... escatológico, presente ora nos próprios títulos ("Des Vents des Pets des Poums"/"Os ventos os peidos os puns"), ora ao longo das letras. Gainsbourg ou Gainsbarre, o artista via-se livre para o que bem entendesse fazer. E fazia-o bem.

terça-feira, 28 de abril de 2015

O senhor Anouar Brahem toca hoje na Gulbenkian

Um dos maiores intérpretes do alaúde, o tunisino Anouar Brahem, está por Lisboa hoje, para um concerto no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, na companhia do seu quarteto e da própria Orquestra Gulbenkian.
Ninguém devia perder isto, é o que há aqui a dizer.
Bilhetes a 18 euros.

ANOUAR BRAHEM QUARTET
GULBENKIAN ORCHESTRA
ANOUAR BRAHEM (alaúde)
FRANÇOIS COUTURIER (piano)
KLAUS GESING (clarinete baixo)
BJÖRN MEYER (baixo elétrico)

Anouar Brahem "Souvenance"
Música para alaúde, quarteto e orquestra de cordas

Improbable Day (orquestra)
Tunis at Dawn (quarteto)
January (orquestra)
On the Road (quarteto) – Nouvelle Vague (orq.)
Deliverance (quarteto)
Youssef's Song (orquestra)
Kasserine (orquestra)
Like a Dream (quarteto)
Souvenance (orquestra)

100 de 1973, n.º 36, Som Imaginário (rep.)



MATANÇA DO PORCO
SOM IMAGINÁRIO (Brasil)
Edição original: Odeon
Produtor(es):
discogs allmusic YOUTUBE

Esta é uma das bandas com carreira mais curta e mais valiosa que o Brasil já conheceu. Nascidos no estado de Minas Gerais, como a banda de suporte de Milton Nascimento no início da carreira deste, os Som Imaginário chegaram a lançar por si próprios três álbuns de originais. O primeiro, homónimo, é uma daquelas obras imensas, incontornáveis, obrigatórias. Prog altamente chanfrado, lembrando a cena de Canterbury ou outros ingleses da altura como os Gentle Giant, mas com o toque local que os (bons) músicos brasileiros tão bem sabem imprimir ao que fazem. Neste "Matança do Porco", terceiro e último disco (não contando, portanto, com "Milagre dos Peixes - Ao Vivo", gravado com Milton Nascimento), a linguagem muda consideravelmente. O guitarrista e ocasional vocalista Frederyko, também conhecido por Fredera, estava de saída e Wagner Tiso assume a liderança do projeto. "Matança do Porco" é um disco essencialmente instrumental, à exceção do tema homónimo onde Milton Nascimento se entrega a uma arrepiante interpretação, característica daquela fase da sua carreira. É em várias partes um disco de orquestra, muito por culpa do tema "Armina", que se repete ao longo de três "vinhetas", mas, no essencial, "Matança do Porco" é um disco de fusão entre o jazz e o rock. Fusão que deixaria provavelmente envergonhada muita banda americana de pós-rock dos anos 90.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 37, John Fahey (rep.)



FARE FORWARD VOYAGERS (SOLDIER'S CHOICE)
JOHN FAHEY (EUA)
Edição original: Takoma
Produtor(es): John Fahey
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Com "Fare Forward Voyagers (Soldier's Choice)", John Fahey deixava a experiência na Reprise para trás e voltava à sua própria Takoma. Três peças abundantemente influenciadas pela música clássica indiana, ainda que naquela perspetiva muito faheyana. Dedicou o disco a Swami Satchidananda, o guru espiritual indiano que se tornou conhecido com o discurso de abertura de Woodstock e que fundou nos EUA o Integral Yoga Institute, entre outros movimentos. O músico e crítico Eugene Chadbourne, na peça alusiva a este disco para o All Music Guide, defende que este é um desafio a uma alegada "regra Swami Satchidananda para guitarristas", segundo a qual todos os músicos que se propunham a celebrar pelo seu trabalho aquele guru espiritual, como então se tornou frequente, se espalhavam ao comprido. Menos Fahey. A propósito, ainda por aí se encontram notas a darem conta de Fahey como seguidor de Satchidananda, o que até foi real, mas a razão do envolvimento com o Integral Yoga Institute é muito mais prosaica do que se imaginaria, como explicou o guitarrista, muitos anos depois, a Byron Coley: "Provavelmente, a razão principal para o meu envolvimento foi ter-me apaixonado pela secretária de Swami Satchidananda. (...) Eu não acreditava no Krishna nem em nada disso. Era como estar no meio do Ladrão de Bagdade."

domingo, 26 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 38, The Wailers (rep.)



CATCH A FIRE
THE WAILERS (Jamaica)
Edição original: Tuff Gong/Island
Produtor(es): Chris Blackwell
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Os Wailers chegavam à Island de Chris Blackwell. Nascia a superestrela mundial Bob Marley e o reggae tornava-se global. Tudo isto foi alcançado neste "Catch a Fire", o disco cuja capa original se abria como num isqueiro Zippo. Aqui se encontram verdadeiros hinos do reggae, como "Concrete Jungle", "Stir it Up" ou "Kinky Reggae".

sábado, 25 de abril de 2015

Mercado da Música Independente, este fim de semana, em Lisboa

São mais de duas dezenas de editoras e outras entidades da cena independente que vão estar juntas no mesmo espaço, o Picadeiro Real do Antigo Colégio dos Nobres (no Museu de História Natural), neste fim de semana. Esta é a primeira edição do Mercado de Música Independente, organizado pela Junta de Freguesia de Santo António, e vai ter como convidada internacional a Drag City. Do lado das portuguesas, estarão representadas, entre outras, a Hey Pachuco!, a Lovers & Lollypos, a Metrónomo, a Mbari (vão lá estar com o novo disco do Tó Trips!), a Groovement, a Cafetra, a Príncipe, a Chili Com Carne e a Pontiaq.
O mercado funcionará entre as 11h e as 20h deste sábado e as 12h e as 18h de domingo. Estão previstos concertos e DJ sets (já depois de ontem ter havido a pré-abertura, com Beautify Junkyards, Tó Trips e Alasdair Roberts):

Sábado:
17h00 - Sombra (DJ set)
17h30 - Dgtldrmr (Monster Jinx, DJ set)
18h00 - Groovement (DJ set)
18h30 - Tink! Music (DJ set)
19h00 - Xungaria No Céu (Live, FlorCaveira)

Domingo:
14h00 - GI Joe (DJ set)
15h00 - Spark (DJ set) + JK (Live, Monster Jinx)
15h45 - Savanna (Live, Pontiaq)
16h30 - PZ + Corona (Live, Meifumado)

100 de 1973, n.º 39, Gal Costa (rep.)



ÍNDIA
GAL COSTA (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Guilherme Araujo
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Já ia longe o dia 22 de Agosto de 1964, em que Gal Costa, então com 18 anos, se estreou no espetáculo "Nós", com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia. Nesse percurso do tempo, integraria, juntamente com estes e outros músicos, do movimento Tropicália, que neste ano de 1973, já estava mais ou menos desfeito. Em todo o caso, neste ano, Gal Costa já levava avante a sua própria aventura a solo, ainda que frequentemente acompanhada pelos seus velhos parceiros de estrada ou outras figuras fundamentais da música brasileira. É o caso deste "Índia", que conta com Gilberto Gil como diretor musical e guitarrista, ou Roberto Menescal e Wagner Tiso, e onde Gal interpreta temas de outros, como Caetano ("Relance" e "Da Maior Importância"), Jobim ("Desafinado", a encerrar o disco) e até o "nosso" próprio Zeca Afonso, numa adaptação magnífica de "Milho Verde", que o maior dos génios da música portuguesa foi buscar ao cancioneiro de trabalho beirão. É um dos discos mais elegantes -- a palavra é mesmo essa -- da música popular brasileira desta época.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 40, Faust (rep.)



THE FAUST TAPES
FAUST (Alemanha)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Uwe Nettelbeck
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

A Polydor alemã fartou-se dos Faust ao segundo álbum, "Faust so Far" (1972), argumentando que não eram suficientemente comercializáveis. Uwe Nettelbeck, o produtor da banda, virou-se para a inglesa Virgin. Richard Branson pegou nesta estranha e difícil coleção de pedaços de gravações, sem pós-produção e dos quais nem nome se sabia na primeira edição. Foi o terceiro álbum lançado pela então incipiente Virgin (um pouco mais abaixo nesta lista encontram "Tubular Bells", a primeira). Mas o mais curioso foi o preço, 49p, que era quanto custava um sete polegadas, na altura. O resultado foi a venda de 50 mil unidades e a obtenção do 12.º posto na tabela de vendas. De repente, havia um número significativo de ingleses a conhecerem aquela banda alemã obscura, um número bem maior do que aqueles que habitualmente frequentavam a loja de krautrock de Richard Branson, em Notting Hill. Como se lia nas notas da edição original, estes eram "os Faust ao seu nível mais pessoal e espontâneo, um olhar único aos bastidores de um grupo que os críticos europeus e britânicos aclamaram como um dos mais excitantes e mais exploratórios do mundo". Os Faust, contudo, consideravam este "Faust Tapes" como um bónus, não como o terceiro álbum, mas a verdade é que o álbum se manteve até hoje como uma obra essencial, redescoberta por sucessivas gerações, fruto do estatuto adquirido pelo próprio grupo ao longo das décadas e das várias reedições que o disco foi tendo.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 41, Klaus Schulze (rep.)



CYBORG
KLAUS SCHULZE (Alemanha)
Edição original: Ohr
Produtor(es): Klaus Schulze
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Passou pelos Tangerine Dream, ajudou a fundar os Ash Ra Tempel. A solo, e ao segundo álbum, este "Cyborg", gravou uma marca profunda na história da música eletrónica ambiental. Nestas quatro longas peças (cinco, na reedição de 2006), Shulze constrói sucessivas camadas de drones de orgão, sobre as quais experimenta o sintetizador EMS Synthi A, então recente (e também utilizado pelos Pink Floyd em "On The Run", deste mesmo ano), dando corpo ao que então se chamou, e facilmente se entende, "kosmische musik". Se há discos que são mais potentes que alguns narcóticos, este é um dos melhores exemplos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 42, Henry Cow (rep.)



THE HENRY COW LEGEND
HENRY COW (Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Henry Cow
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Voltamos à cena de Canterbury. Ou lá perto. Num só grupo, juntam-se Fred Frith e Chris Cutler (e ainda Tim Hodgkinson, Geoff Leigh e John Greaves), músicos enormes, então na juventude, que já apreciavam (e sabiam) pegar em diferentes instrumentos e, sem condicionalismos comerciais ou de outra espécie, lançar-se numa viagem aparentemente desgovernada e espontânea, experimentando as linguagens do rock e do jazz para definirem um som único, distinguível. "Leg End" (ou "Legend") é uma ótima ilustração para esta descrição. Não o conseguimos meter numa única prateleira da estante dos discos (ou numa única pasta no disco rígido).

terça-feira, 21 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 43, Herbie Hancock (rep.)



HEAD HUNTERS
HERBIE HANCOCK (EUA)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Herbie Hancock, Dave Rubinson
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

O pianista, teclista e keytarista Herbie Hancock, um dos alicerces do segundo quinteto de Miles Davis, nos anos 60, a arriscar uma vez mais a sua carreira e a pisar, desta vez, o terreno do funk, depois das experiências anteriores de escuta mais difícil. Tanto rasgou que as quatro composições, especialmente as duas primeiras, "Chameleon" e "Watermelon Man" ficaram na história da música norte-americana, tanto do lado do jazz, como do funk.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Vem aí o IndieLisboa e, claro, o IndieMusic

Mais uma edição do IndieLisboa carregada de coisas boas para se serem vistas, entre as quais a programação sujeita ao tema música. Eis o que vai haver no IndieMusic, sempre no cinema São Jorge (sinopses adaptadas a partir das da comunicação do festival):



Theory of Obscurity: A Film About the Residents, de Don Hardy
Olhar sobre o mistério que garante, a um dos grupos mais singulares da história da música, uma liberdade criativa sem limites. A teatralidade dos Residents tornam-nos num dos objectos de estudo mais profundos da música dos últimos 40 anos.
Sexta-feira, 24 de abril, 21h30, sala 3

God Help the Girl, de Stuart Murdoch
Uma pop opera sonhada e filmada por Stuart Murdoch, compositor de uma das melhores bandas da história da música (os fãs concordarão) e realizador desta ficção: uma jovem rapariga procura escapar dos seus problemas pessoais através das músicas pop.
Sábado, 25 de abril, 21h45, sala Manoel de Oliveira

The Possibilities Are Endless, de Edward Lovelace e James Hall
The Possibilities Are Endless: s primeiras palavras que Edwyn Collins, compositor da mítica banda escocesa Orange Juice, pronunciou depois de acordar de uma segunda hemorragia cerebral e internamento hospitalar. A vida de uma das figuras mais emblemáticas da música britânica.
Sábado, 25 de abril, 21h30, sala 3

Lee Scratch Perry's Vision of Paradise, Volker Schaner
Volker Schaner acompanhou Lee 'Scratch' Perry, figura maior da música dub e reggae, durante treze anos, em Lee Scratch Perry’s Vision Of Paradise. O resultado é o retrato de um profeta rastafari que atingiu a vida de milhares de pessoas.
Domingo, 26 de abril, 16h00, sala Manoel de Oliveira

No Manifesto: A Film About Manic Street Preachers, de Elizabeth Marcus
"The masses against the classes": grito de guerra dos Manic Street Preachers e obedecido em No Manifesto: a Film About Manic Street Preachers, de Elizabeth Marcus, que relata a história do grupo de rock galês e que o coloca ao mesmo nível que o testemunho de fãs espalhados pelo mundo.
Domingo, 26 de abril, 21h45, sala Manoel de Oliveira

Life After Death From Above 1979, de Eva Michon
Tal como os helicópteros que desciam do céu, em Apocalypse Now, para dizimar a paisagem com a inscrição Death from Above, a banda com o mesmo nome surgiu, em 2004, com motivações semelhantes: um baixo e uma bateria alimentados pelo fuzz e o napalm.
Quarta-feira, 29 de abril, 21h45, sala Manoel de Oliveira

B-Movie: Lust & Sound In West-Berlin, de Jörg A. Hoppe, Heiko Lange e Klaus Maeck
Em B-Movie: Lust & Sound In West-Berlin, Jörg A. Hoppe, Heiko Lange e Klaus Maeck, regressam à Berlim pré-muro e a um conjunto de influências que marcaram as carreiras de David Bowie, Nick Cave, Joy Division, New Order e a música electrónica europeia, tudo isto com extraordinárias imagens de arquivo.
Sexta-feira, 1 de maio, às 14h30, sala 3

Morphine - Journey of Dreams, de Mark Shuman
Morphine - Journey of Dreams vive nas memórias de um som que surgiu nos anos 1990 e que deixou as suas marcas, tal como a morte repentina e inesperada do seu líder e baixista Mark Sandman, uma voz inconfundível que criou, em Portugal e no estrangeiro, um seguimento de culto. O realizador estará presente na sessão.
Sexta-feira, 1 de maio, 18h30, sala Manoel de Oliveira

The Death And Resurrection Show, de Shaun Pettigrew
A música da banda pós-punk Killing Joke parece sair algures de entre as trevas, o misticismo, ou um sentimento de ameaça sobre a sobrevivência da civilização. Palavras que não traduzem a sua incrível história, a conhecer em The Death And Resurrection Show, de Shaun Pettigrew.
Sábado, 2 de maio, 18h30, sala 3

Música Moderna - um Disco Filme de Tochapestana
(precedido da curta metragem If We Ever Have To Disappear It Will Be Without Disquiet But We Will Fight Until The End, de Jean-Gabriel Périot)
Música Moderna chama os nossos corpos pela via do glitter (ou no género associado à sua música: baile-turbo-punk). Pela estética dos anos 1980 e a sua atracção pelo imaginário popular português, os videoclips do duo musical (onde se inclui o realizador Gonçalo Tocha) espelham todo o universo do seu álbum aqui apresentado.
Sábado, 2 de maio, 21h30, sala Manoel de Oliveira
Com a presença dos Tochapestana

Wacken 3D, de Norbert Heitker
Wacken é uma aldeia alemã com menos de dois mil habitantes. Mas a cada Verão, e durante quatro dias, a pequena localidade transforma-se no maior festival de heavy-metal do mundo: Wacken Open Air. No meio de dezenas de bandas, muita lama e muito headbanging, milhares de devotos juntam-se para uma das maiores celebrações musicais do mundo.
Domingo, 3 de maio, 21h45, sala Manoel de Oliveira

Zivan Makes A Punk Festival, de Ognjen Glavonić
Zivan prepara-se para as últimas horas que antecedem a sexta edição do seu festival de música punk na sua aldeia natal. Mas sucedem-se os problemas: um orçamento de pouco mais de 100€, um público local que desconhece o evento, bilhetes escritos à esferográfica que não se vendem e, por fim, bandas que não aparecem.
Domingo, 3 de maio, 21h30, sala 3

Sessões online e mais informações em www.indielisboa.com

100 de 1973, n.º 44, Leonard Cohen (rep.)



LIVE SONGS
LEONARD COHEN (Canadá)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Bob Johnston
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

«Now I know that you're sitting there deep in your velvet seats and you're thinking 'Uh, he's up there saying something that he thinks about, but I'll never have to sing that song.' But I promise you friends, that you're going to be singing this song: it may not be tonight, it may not be tomorrow, but one day you'll be on your knees and I want you to know the words when the time comes. Because you're going to have to sing it to yourself, or to another, or to your brother. You're going to have to learn to sing this song.»
In "Please Don't Pass Me By (A Disgrace)"

Não é o primeiro disco ao vivo nesta lista, nem vai ser o último. "Live Songs" documenta Leonard Cohen ao vivo em vários palcos europeus, no início da década, incluindo a passagem pelo mítico festival da ilha de Wight de 1970, com "Tonight Will Be Fine". Do reportório captado para o disco fazem essencialmente parte temas de "Songs from a Room" (1969), o segundo álbum de estúdio do canadiano. Os outros são inéditos, entre os quais "Please Don't Pass Me By (A Disgrace)", uma longa canção de 13 minutos que sob o tom ligeiro da música, daquele a que o público facilmente adere ao singalong e às palminhas, mostra o Cohen interventivo, mordaz, profundo na exploração de temas sociais e humanistas. É daqueles discos que dá vontade de aplaudir de pé no final.

domingo, 19 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 45, Donovan (rep.)



COSMIC WHEELS
DONOVAN (Escócia)
Edição original: Epic
Produtor(es): Donovan Leitch, Mickie Most
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Era uma espécie de tentativa de regresso de Donovan ao sucesso mundial do single "Atlantis", do final dos anos 60. Donovan andava ausente neste início dos anos 70. Além do recolhimento familiar a que se impôs, os álbuns "Open Road" (1970) e "HMS Donovan" (1971), este último um disco apontado para o público infantil, falharam nas vendas. Para este regresso com "Cosmic Wheels", terá recuado numa decisão importante tomada em 1969, a de cortar relações profissionais com Mickie Most, produtor da maior parte dos discos de Donovan até à altura. Entretanto, o glam fazia sucesso noutros grupos e artistas que reclamavam Donovan como uma das principais influências. "Cosmic Wheels", o 10º álbum de estúdio de Donovan, é produzido neste contexto algo nervoso, repartido por faixas elétricas, a apontar para o glam ou para o hard rock, mas que deixavam algo desejar, e acústicas, essas realmente muito mais interessantes. Não garantiu unanimidade crítica, mas até vendeu bem (top 20 no Reino Unido e nos EUA). Em todo o caso, Donovan não voltaria a conseguir ter a influência e o sucesso dos anos 60. "I Like You" foi o seu último single a entrar nas tabelas de vendas.

sábado, 18 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 46, João Gilberto (rep.)



JOÃO GILBERTO
JOÃO GILBERTO (Brasil)
Edição original: Polydor
Produtor(es): Rachel Elkind
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Há, entre as muitas razões que poderíamos encontrar para voltar a ouvir este segundo homónimo do João Gilberto, uma que eu destaco em particular. Oiçam os arranjos simples (mas nunca pobres) e reparem na contenção (e na clareza) que Gilberto e o percussionista nova-iorquino Sonny Carr imprimem às canções deste disco. Confrontem isto com a tendência que, hoje, os artistas, os arranjadores ou os misturadores finais têm, de uma forma geral, para saturar a música de instrumentos que nada acrescentam e de efeitos que só estão lá para encher e, em última instância, para rapidamente fartar os nossos ouvidos. Talvez por esta razão tenhamos aqui um disco intemporal, que sabe bem ouvir com atenção -- quando foi a última vez que ouvimos um disco com atenção? -- no conforto do lar. Pormenor curioso: o, ou melhor, a engenheira de som que gravou Gilberto e Carr, num estúdio de Nova Jérsei, foi... Wendy Carlos, a pioneira dos Moogs. 47º da lista dos melhores discos brasileiros da Rolling Stone Brasil.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Esta noite, por Lisboa

A estreia da canadiana Jennifer Castle em palcos portugueses vai acontecer esta noite, no Lusitano Clube, em Alfama. 22 horas.


100 de 1973, n.º 47, Bob Dylan (rep.)



PAT GARRETT AND BILLY THE KID
BOB DYLAN (EUA)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Gordon Carroll
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Este ainda é o Bob Dylan de que me atrevo a falar. O meu Bob Dylan acabou -- com alguma dose eventualmente generosa de preconceito, admito -- lá por volta do "Blood on the Tracks" (1975). Em todo o caso, este Dylan é naturalmente diferente de todos os outros, na medida em que é uma banda sonora de um filme, coisa que ele nunca tinha experimentado até à altura. O filme era "Pat Garrett and Billy the Kid", de Sam Peckinpah, onde o próprio músico chegou a desempenhar um papel. Como a maior parte das bandas sonoras, tem diferentes variações para um mesmo tema, neste caso "Billy". Pelo meio, encontra-se também, pela primeira vez em disco, aquela que é provavelmente a canção de Dylan mais tocada por outros, "Knockin' on Heaven's Door". (Não, não me façam lembrar o constrangimento que sentia de cada vez que os meus colegas de escola achavam que era um original dos Guns'n'argh'Roses.)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 48, Bryan Ferry (rep.)



THESE FOOLISH THINGS
BRYAN FERRY (Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Bryan Ferry, John Porter, John Punter
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Os Roxy Music estavam no auge mas Bryan Ferry aventurava-se já em nome próprio (ainda que com o pessoal da banda, à exceção de Andy Mackay e Brian Eno). É um disco de covers, mas um dos melhores discos de covers de sempre. O formato das versões não é, aliás, estranho para o cantor. Repeti-lo-ia no seguinte, "Another Time, Another Place" (1974), no terceiro, "Let's Stick Together" (1976), em "Taxi" (1993), "As Time Goes By" (1999), "Frantic" (2002) e "Dylanesque" (2007). Mesmo nos outros discos, é frequente encontrar versões e adaptações de temas de outros em convivência com os seus. Curiosamente, "These Foolish Things" saiu apenas duas semanas antes do que "Pin Ups", outro álbum de covers, este de outra figura proeminente do glam... David Bowie.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 49, Donovan (rep.)



ESSENCE TO ESSENCE
DONOVAN (Escócia)
Edição original: Epic
Produtor(es): Donovan, Andrew Loog Oldham
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

É ideia mais ou menos estabelecida de que, em 1973, Donovan Leitch já tinha entrado na fase descendente da sua carreira. Lançou dois álbuns, "Cosmic Wheels", mais glam (esperem-no nesta lista alguns furos acima), e este "Essence to Essence", uma espécie de reencontro com formas de compor e de arranjar do passado, que não teve, apesar disso, grande sucesso comercial. Na produção do disco teve a ajuda de Andrew Loog Oldham, o homem sem o qual talvez não soubessemos hoje quem são ou foram os... Rolling Stones.

terça-feira, 14 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 50, John Fahey (rep.)



AFTER THE BALL
JOHN FAHEY (EUA)
Edição original: Reprise
Produtor(es): John Fahey, Denny Bruce
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Segundo e último álbum pela "major" Reprise, "After the Ball" apresenta Fahey numa curiosa (e arriscada) aventura pelos terrenos mais acessíveis aos ouvidos do grande público. Tal como no anterior disco para a Reprise, "Of Rivers and Religion", há aqui muito dixieland, com Fahey acompanhado por uma extensa equipa de músicos de sessão (alguns dos quais já tinham trabalhado no disco anterior), há humor em todo o lado (a começar na capa) e, claro, uma nostalgia pelos anos 30 que não colheu frutos nas lojas. Depois disto, Fahey retornaria à sua editora Takoma, com "Fare Forward Voyagers (Soldier's Choice)", que vai também aparecer nesta lista.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 51, Soft Machine (rep.)



SIX
SOFT MACHINE (Inglaterra)
Edição original: CBS
Produtor(es): Soft Machine
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Os Soft Machine da cena de Canterbury já não eram bem, por esta altura, os Soft Machine da cena de Canterbury, os Soft Machine da chanfradice sofisticada, do rock trabalhado à imagem do jazz mais livre, da paternidade do prog. Robert Wyatt já tinha saído há muito, Kevin Ayers ainda há mais tempo (esperem por um disco dele nesta lista), Daevid Allen nem se fala (esperem também por mais Gong por aqui). Karl Jenkins, ex-Nucleus, trazia o oboé e composições mais convencionais, mais estruturadas, mais próximas do jazz de fusão estabelecido (o Melody Maker chegou a consagrar este disco como o melhor de jazz neste ano). Em resumo, as rédeas já não estavam tão soltas como nos primeiros discos, mas "Six" não deixa por isso de ser um trabalho notável e ambicioso (já o mesmo não se dirá de "Seven", também saído em 1973, mas isso é a opinião deste escriba).

domingo, 12 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 52, Frank Zappa (rep.)



OVER-NITE SENSATION
FRANK ZAPPA & THE MOTHERS (EUA)
Edição original: DiscReet
Produtor(es): Frank Zappa
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Eis mais uma figura extraordinária da música norte-americana nesta lista: Frank Vincent Zappa. "Over-Nite Sensation" foi gravado cerca de um ano depois do famoso acidente de Londres, em que um elemento do público empurrou Zappa para o fosso da orquestra e para uma morte que parecia certa. Recuperado das pernas, mas não inteiramente da laringe (o registo vocal alterou-se consideravalmente), Zappa relançou a sua carreira com uma nova editora, a DiscReet, e este disco. Foi o segundo disco de ouro nos EUA para Zappa.

sábado, 11 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 53, Kim Fowley (rep.)



INTERNATIONAL HEROES
KIM FOWLEY (EUA)
Edição original: Capitol
Produtor(es): Jeffrey Cheen
discogs allmusic YOUTUBE

Ajudou um número quase infindável de artistas, enquanto produtor, compositor de canções, manager, editor e tudo o mais, tanto na América como em Inglaterra. O rock'n'roll nunca teria sido como foi se não fosse esta personagem frequentemente esquecida. Fowley, recentemente falecido, deixou uma discografia a solo impossível de desprezar (e de encontrar, por vezes) e tinha que aparecer nesta colheita de 73 com este disco magnífico, recheado de muita pop americana, muito glam, o que é sublinhado na própria capa do disco, e já com muitas piscadelas de olho ao que seria, muitos anos depois, o pós-punk e a new wave britânica, atestando o seu reconhecido estatuto de visionário e pioneiro. "International Heroes" nunca foi reeditado, pelo menos oficialmente, em CD. Há cópias à venda por 80 dólares no eBay. É o problema que enfrentam habitualmente os colecionistas de Fowley.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Djumbai Jazz no Desterro e "Syd Barrett" no Lux

Os sempre bons Djumbai Jazz, de Maio Coopé, Braima Galissá e Sadjo Cassamá, vão tocar esta noite ao Desterro. Onde? O Desterro é um espaço inaugurado há pouco tempo, precisamente na zona do Desterro (Calçada do Desterro, n.º 7), em Lisboa, ali perto do Intendente. A entrada custa cinco euros (mais três para a quota anual de sócio).

Também em Lisboa, no Lux, a sessão Black Ballon desta noite traz uma proposta curiosa: os Capitão Fausto vão prestar tributo a Syd Barrett e vão tocar, entre outros, temas de "The Piper at the Gates of Dawn", dos Pink Floyd. A primeira parte cabe aos Cave Story.

Quando foram os anos 80?

"Quando foram os anos 80?" é o nome dado ao ciclo de eventos que hoje se inicia e que vai até 21 de abril, com reflexões, recordações e revisitações àquela época.

Programa:

—MÚSICA NOS ANOS 80 | Sessões de música comentada10 de Abril, 18h00-20h30, Galeria ZDB

—VER TELEVISÃO | Maratona de TVdia 11 (18h às 24h) e dia 12 (11h00 às 24h00) de Abril, Atelier Real

— QUANDO FORAM OS ANOS 80? | Colóquio 16 e 17 de Abril, 09h00-17h30, MUDE – Museu do Design e da Moda. Coleção Francisco Capelo

— ANOS 80 PORQUÊ? | Mesa-redonda organizada pela rede de Museus L’Internationale com o projecto _The Uses of Art – The Legacy of 1848 and 1989. 18 de Abril,12h00-18h00, MUSEU DO FADO

— UMA TARDE NOS ANOS 1980 | caminhada com Manuel Graça Dias 19 de Abril, 16h00, ponto de encontro no Largo Trindade Coelho, em frente ao quiosque.

— A IMAGEM DA MULHER PORTUGUESA DOS ANOS OITENTA | cinema 20 e 21 de Abril, 19h30, Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

Informação mais detalhada em whenwerethe1980s.com

100 de 1973, n.º 54, Novos Baianos (rep.)



NOVOS BAIANOS F.C.
NOVOS BAIANOS (Brasil)
Edição original: Continental
Produtor(es):
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Para pito, para grito e o menino deixa a vida pela bola...
Só se não for brasileiro nessa hora


Música e futebol. O grande cliché brasileiro. Nesta altura, os Novos Baianos viviam em comunidade numa quinta, ou melhor, num sítio, o sítio do vovô, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Vinham da Bahia e tinham a fama de não se deixarem levar por empresários ou editoras, consagrando a independência no seu estatuto. Tinham já dois álbuns, "É Ferro na Boneca" e "Acabou Chorare" (o primeiro lugar da lista dos 100 melhores discos brasileiros de sempre da Rolling Stone Brasil). Naquele sítio, passavam o tempo a fazer música e a jogar à bola. Dizia-se que mais do que uma banda, mais do que uma família, os Novos Baianos eram uma equipa de futebol. Vale muito a pena ver o documentário gravado com base neste disco.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 55, The Incredible Bongo Band (rep.)



BONGO ROCK
THE INCREDIBLE BONGO BAND (EUA)
Edição original: Mr. Bongo
Produtor(es):
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

The Incredible Bongo Band nunca foi, na verdade, uma verdadeira banda, mas sim um daqueles projetos de laboratório, com sucesso, que acabou por estabelecer a patente de uma fórmula revisitada ao longo das décadas e frequentemente constituída por alguns, senão mesmo pela totalidade, destes ingredientes: surf, exotismo, muitos bongos ou congas e muitos metais. Michael Viner era gestor na MGM Records, em 1972, quando lhe foi atribuída a tarefa de acrescentar alguma música à banda sonora do filme de terror de série B "The Thing with Two Heads". Com o compositor Perry Botkin Jr., criou "Bongo Rock" e "Bongolia", canções cujo sucesso comercial fizeram a dupla levar o trabalho à edição deste álbum. Em 1974 houve outro álbum e a fake band ficou-se por aí, tendo o material vindo a assistir, mais tarde, os pioneiros do sample no hip hop, ou, ainda muito mais tarde, no drum'n'bass.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Hoje, do coro das vontades a um piano nas barricadas, por Tiago Sousa

Em 2012, Tiago Sousa compôs e apresentou "Coro das Vontades", a partir de manifestos solicitados ao público. A obra volta esta noite a ser apresentada no Maria Matos. Como complemento, serão também apresentados temas inéditos, o dueto com Tó Trips em "A Conquista do Pão" e ainda parte do que virá a ser "Um Piano nas Barricadas", o próximo álbum do Tiago. A entrada custa entre 5€ e 12€, sendo oferecido aos espetadores uma cópia de "Coro das Vontades". Mais informações aqui.

Músicos:
piano, harmónio, órgão elétrico: Tiago Sousa
voz: Beatriz Nunes
voz: Inês Nogueira
violoncelo: Ulrich Mitzlaff
clarinete: Ricardo Ribeiro
percussão: Baltazar Molina
guitarra: Tó Trips

100 de 1973, n.º 56, Fela Kuti (rep.)



AFRODISIAC
FELA KUTI (Nigéria)
Edição original: Regal Zonophone
discogs allmusic YOUTUBE

E aqui está o outro álbum de Fela Kuti nesta lista. Resulta da compilação de singles lançados previamente na Nigéria e regravados, de propósito para este álbum, em Londres. Todos os temas são cantados numa língua local. "Jeun Ko Ku (Chop and Quench)" (faixa 2) foi o primeiro grande hit de Fela na Nigéria, tendo vendido 200 mil discos em meio ano. "Alu Jon Jonki Jon" (faixa de abertura) baseia-se numa história africana a respeito de um cão que esconde a sua progenitora no céu durante uma época de fome (leiam-na aqui).

terça-feira, 7 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 57, Chico Buarque (rep.)



CHICO CANTA
CHICO BUARQUE (Brasil)
Edição original: Phonogram/Philips
Produtor(es): Roberto Menescal
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

A minha tristeza não é feita de angústias
A minha tristeza não é feita de angústias
A minha surpresa
A minha surpresa é só feita de fatos
De sangue nos olhos e lama nos sapatos
Minha fortaleza
Minha fortaleza é de um silêncio infame
Bastando a si mesma, retendo o derrame
A minha represa

(In "Fortaleza")

É um disco à parte na carreira de Chico Buarque. É a banda sonora da peça "Calabar: o Elogio da Traição", escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra. Censurada na altura da estreia -- tal como o próprio disco, que teve de sair com o nome que é conhecido até hoje e não com o mesmo da peça, e com dois dos temas, "Anna de Amsterdam" e "Vence na Vida Quem Diz Sim", em versão instrumental, desprovida da voz e das letras que não agradaram aos censores -- a peça contava a história de Domingos Calabar (séc. XVII) numa versão diferente daquela que a história guardou: a de um traidor à pátria portuguesa na altura das invasões neerlandesas do Nordeste brasileiro. Pela habitual via da metáfora, a peça questionava a propaganda oficial do regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. "Chico Canta" é, portanto, uma banda sonora de uma peça, não tendo porém um tema musical central e recorrente, mas uma mistura generosa de géneros -- até fado aqui se encontra -- e de ideias diferentes para arranjos. Dificilmente entrará nas listas dos melhores discos de Chico Buarque, e até há quem se dedique a tecer-lhe duras críticas, mas se entendermos que este é um daqueles artistas em que até as obras menores se destacam entre as de outros menos propensos ao toque de génio, "Chico Canta" tem que aparecer nesta colheita de 73.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 58, Mike Oldfield (rep.)



TUBULAR BELLS
MIKE OLDFIELD (Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Tom Newman, Simon Heyworth, Mike Oldfield
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Estreia em disco de Mike Oldfield, multi-instrumentista que ficou famoso por duas coisas, essencialmente: este "Tubular Bells" e aquele "otoverme", para usar o termo perfeito do Miguel Esteves Cardoso, que é "Moonlight Shadow", single lançado dez anos depois. Esqueçamos rapidamente o segundo, se possível, tanto para mais quando temos no prato este "Tubular Bells", uma obra única na galeria essencial do prog, ou, quanto mais não seja, um lado A que merece ficar bem guardado na história da música feita nos anos 70. É o prog no seu formato menos obscuro, menos virado para dentro, chegando até a ter elementos pedagógicos e, simultaneamente, lúdicos, como mostram os momentos finais da primeira parte, em que a voz de Vivian Stanshall apresenta os instrumentos que se seguem no processo de aplicação e/ou substituição de camadas sonoras de Oldfield. É um disco que carrega consigo um número infindável de trivialidades trazidas com o tempo. O seu número de catálogo original é "V2001", o que o define como o primeiro lançamento da Virgin, de Richard Branson, que apostou no que outras editoras tinham rejeitado com o receio de não o saberem vender ("Tubular Bells" acabou por permanecer na tabela de vendas britânica durante... 279 semanas e é o 34º disco mais vendido de sempre no Reino Unido). Branson usou até o nome do disco para batizar alguns dos seus aviões. A capa do álbum rapidamente se tornou um ícone e há dois anos foi escolhida para ser um dos dez selos da restrita coleção com capas famosas dos correios britânicos, lado a lado com "London Calling", "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", "Screamadelica", "Division Bell" ou "Parklife", entre outros. Muito do sucesso alcançado deveu-se, há que dizê-lo, à exposição mediática conseguida através do filme "Exorcista", do mesmo ano, onde se podia escutar o solo de piano que abre o disco.

domingo, 5 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 59, New York Dolls (rep.)



NEW YORK DOLLS
NEW YORK DOLLS (EUA)
Edição original: Mercury
Produtor(es): Todd Rundgren
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Quaisquer meia dúzia de palavras que se escrevam sobre a origem do punk terão que meter os New York Dolls ao barulho. Havia ali algo, logo neste disco de estreia, que lembrava os primeiros discos dos Rolling Stones, o glam de Marc Bolan (na música e no visual claramente andrógino) ou o rock pesado dos MC5 ou dos Stooges, mas os Dolls estavam a oferecer algo que, ao mesmo tempo, era substancialmente diferente do que se fazia à altura. Diferente e polémico: numa votação levada a cabo pela Creem (a influente revista de rock'n'roll, da qual se diz ter inventado o termo "punk rock" e que na altura tinha como editor o mítico Lester Bangs), o grupo ganhava em ambas as categorias de melhor e... de pior grupo de 1973.

sábado, 4 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 60, T.Rex (rep.)



TANX
T. REX (Inglaterra)
Edição original: EMI / T.Rex Wax Co
Produtor(es): Tony Visconti
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Diz-se que Marc Bolan queria deixar para trás o glam, que na altura reinava no Reino Unido e do qual foi um dos principais impulsionadores, com o intuito de se aproximar das audiências americanas. Em "Tanx" surgiam novos efeitos de guitarra, coros femininos, metais, novos truques de estúdio. Mas seria a queda no abismo, com a formação dos T. Rex a desintegrar-se durante as próprias gravações e Bolan cada vez mais sozinho. Mais discos viriam a ser editados até à morte de Bolan a 16 de setembro de 1977, mas "Tanx" foi o desfecho de uma carreira de sucessos atrás de sucessos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 61, Betty Davis (rep.)



BETTY DAVIS
BETTY DAVIS (EUA)
Edição original: Just Sunshine Records
Produtor(es): Greg Errico
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Betty Davis carrega até hoje o apelido de Miles Davis, com quem esteve casada durante apenas um ano (67/68). Depois do casamento, Betty foi para Londres trabalhar como modelo, tendo regressado aos EUA no início dos anos 70, com o objetivo de gravar com Carlos Santana (que mais tarde a definiria como "a mulher Black Panther verdadeiramente feroz", que ninguém podia domesticar). Com a ajuda de Greg Errico, baterista dos Sly and the Family Stone, reuniu uma série de (excelentes) músicos da costa leste para gravar o seu próprio material. O resultado é este disco de estreia, um conjunto explosivo de funk carregado de atitude, com letras com conteúdo sexual explícito, o qual viria aliás a prejudicar a divulgação do disco.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 62, Raul Seixas (rep.)



KRIG-HA, BANDOLO!
RAUL SEIXAS (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Marco Mazzola, Raul Seixas
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...

(in "Ouro de Tolo")

Citado como o primeiro álbum a solo de Raul Seixas, este "Krig-Ha, Bandolo!" (o título vem do grito de guerra do Tarzan) não foi a estreia em discos deste que foi um dos maiores génios chanfrados do rock brasileiro. Já tinha havido "Raulzito e os Panteras" (1968) e o estranho "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez" (1971), que fez Raul ser despedido da CBS. "Krig-Ha, Bandolo!" traz grandes temas, como "Metamorfose Ambulante" (recentemente recuperado pelo filme "Cidade de Deus"), "Mosca na Sopa" ou "Ouro de Tolo". Também traz muito azeite, pelo menos aos ouvidos de hoje: tal como Alceu Valença, em Seixas foi sempre muito ténue a linha de separação entre a genialidade e a piroseira. Em 2007, a Rolling Stone Brasil escolheu-o para 12º melhor álbum brasileiro de sempre.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

100 de 1973, n.º 63, Bruce Springsteen (rep.)



GREETINGS FROM ASBURY PARK, N.J.
BRUCE SPRINGSTEEN (EUA)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Mike Appel, Jim Cretecos
discogs allmusic wikipedia YOUTUBE

Primeira etapa da carreira de Bruce Springsteen, "Greetings from Asbury Park, N.J.", trazia logo no título a referência incontornável ao estado que viu nascer e crescer o músico. Aos 23 anos, acompanhado por aqueles que viriam a ser conhecidos por E Street Band, Springsteen aparecia com um conjunto de temas folk com arranjos elétricos onde já falava com romance, poesia e esperança de episódios mais difíceis da vida urbana, naquela que rapidamente se tornou a imagem de marca do escritor de canções. Facilmente se compreendem as comparações com Bob Dylan, que tinha assinado pela Columbia uma década antes, e Van Morrison. Não vendeu muito, tal como o sucessor "The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle", do mesmo ano (mais abaixo nesta lista), mas ambos os discos fizeram de Springsteen um favorito da crítica.