sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Uivo, amanhã

Somos seguramente uma multidão imensa, aqueles que sentimos saudades do António Sérgio. Passarão amanhã cinco anos desde o desaparecimento de um dos maiores agitadores que a cena musical portuguesa conheceu, o formador de várias gerações, o homem da rádio e muito mais. A data vai ser assinalada com a estreia do documentário "Uivo", realizado por Eduardo Morais, no Palácio Foz, com sessões à tarde (16h30) e à noite (21h30). Do programa consta ainda a apresentação de "Uivo da Matilha", coletânea de cartas póstumas reunida pela sua cúmplice Ana Cristina Ferrão. À noite, haverá ainda espaço para atuações de Fast Eddie Nelson, The Fellow Man e Charles Sangnoir. "Uivo", o documentário, seguirá depois para outras 19 localidades, com o seguinte mapa de apresentações:

6 nov. - Barcelos
7 nov. - Santo Tirso
8 nov. - Coimbra (c/ Subway Riders e Dirty Coal Train)
10 nov. - Portalegre
11 nov. - Castelo Branco
12 nov. - Guarda
13 nov. - Bragança
15 nov. - Viseu
19 nov. - Porto
20 nov. - Braga
21 nov. - Barreiro
22 nov. - Rio Maior (c/ The Act-Ups, Cave Story, Dirty Coal Train)
27 nov. - Aveiro
28 nov. - Vale de Cambra
29 nov. - Caldas da Rainha (c/ Cave Story)
6 dez. - Setúbal
12 dez. - Beja (c/ Dirty Coal Train)
13 dez. - Loulé (c/ Dirty Coal Train)
20 dez. - Évora



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E por falar em diabo, hoje é dia de Liars!

Hoje é o dia em que os Liars regressam à pista do Lux, trazendo na bagagem o álbum mais virado para a discoteca desde que começaram com as experiências de ritmo e ruído, já lá vão 14 anos e sete álbuns.

O diabo finlandês está de volta

Kimmo Pohjonen, o homem que revolucionou o som do acordeão, está de volta a Portugal, para uma minidigressão a solo com passagem por meia dúzia de localidades portuguesas:

6 de novembro - Torres Vedras, Teatro Cine
9 de novembro - Braga, Theatro Circo
11 de novembro - Lisboa, Tivoli
13 de novembro - Castelo Branco, Cineteatro Avenida
14 de novembro - Faro, Teatro das Figuras
15 de novembro - Ílhavo, Centro Cultural

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Amanhã à tarde, há estacionamento livre no Maria Matos para a nave de Sun Ra

Em junho tivemos o prazer de receber a mítica Arkestra no B.Leza, neste ano em que celebramos os 100 anos de Sun Ra. Entretanto, o Teatro Maria Matos, que chegou à bonita idade dos 45 anos, lembrou-se de prestar tributo ao génio deste que é um dos mais extraordinários compositores da galáxia, e por isso, a festa de amanhã à tarde, apropriadamente intitulada "100 Ra" (glosando a de há dois anos, "100 Cage") promete ser imperdível.

A viagem ao universo musical de Sun Ra, que decorrerá amanhã entre as 16h30 e as 20h30, em vários espaços do Maria Matos, terá por comandantes:

- Bruno Pernadas e o seu ensemble;

- Gala Drop e convidados;

- Mo Junkie;

- Nuno Rebelo com o Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga (música original, composta especialmente para esta tarde, sob encomenda e produção do Maria Matos e GNRation)

Os bilhetes vão custar 5 euros e o programa pode ser consultado aqui.

Chegámos àquela altura do ano em que ficamos a saber quem vai ao Barreiro Rocks

E então, para pegar numa expressão corrente, é assim:

O Barreiro Rocks tem lugar, uma vez mais, no pavilhão do GD dos Ferroviários, entre 5 e 7 de dezembro, com Bad News Boys (King Khan & BBQ), The Experimental Tropic Blues Band, Tamar Aphek, The Act-Ups, 10 000 Russos, Modernos, Killimanjaro, Dirty Coal Train, The Jack Shits, Alek Rein, Asimov, Pista, Los Saguaros, Tracy Lee Summer, Cave Story, Thee O.B.’s, Smix Smox Smux, Pow, Cangarra, Besta e, claro, o Crooner Vieira.

Todos ao Barreiro!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Lembrando o Forum Sons

Recentemente, bateu-me à porta a saudade do Forum Sons. Bateu por duas vezes: na primeira, era a sensação de falta daquelas discussões à volta da música (e mais o que fosse); nos dias mais recentes, principalmente neste "dia seguinte" ao desaparecimento trágico da Tânia, era a nostalgia por um tempo em que a toda a hora surgia um novo amigo que nos trazia novas formas de pensar as coisas.

Porque o tempo já lá vai e porque haverá quem não saiba o que era o Forum Sons, as próximas 797 palavras são dedicadas a essas pessoas. As demais não precisam.

O Forum Sons surgiu por volta de 1997 ou 1998, a memória já não me ajuda, no então incipiente abraço às novas tecnologias por parte do jornal Público, e em particular do seu suplemento de música "Sons". Pequenos anúncios nas páginas do jornal lançavam um mote semanal e convidavam os leitores melómanos a participarem ativamente na construção daquele espaço de discussão, um fórum online.

Logo começou a aparecer gente interessante com coisas interessantes para partilhar naquelas páginas de design simples e de fundo azul, gente da qual ainda hoje me orgulho de ser amigo (e próximo, em alguns dos casos). Talvez valha a pena notar que a WWW em português ainda era coisa de um grupo mais ou menos reduzido de utilizadores, essencialmente estudantes da faculdade e nerds dos computadores. Nada que se pudesse assemelhar ao que temos agora, em que damos um pontapé num qualquer botão de uma rede social e damos de caras com o chefe do serviço, o primo que já não víamos desde o casamento, o gordo do liceu ou a senhora que nos tira as bicas da manhã. Talvez por isso, por sermos poucos e por sermos realmente interessados no tema, não havia ainda tanto espaço para a javardice popular que desde então veio crescendo até ao ponto que encontramos nos comentários de qualquer notícia publicada online.

Avançou o tempo e aumentou também a presença do Público (e do público) na internet. Aumentou também o número das pessoas que participavam no Forum Sons, o qual foi passando por várias lavagens de cara e pelo melhor apetrechamento técnico. Falava-se mais de música e de mais músicas. E também se falava de outras coisas. Afinal, era um universo em expansão de pessoas com interesses múltiplos.

Passaram cerca de quatro anos e alguém no Público mudou de ideias em relação ao projeto, o que não caiu no agrado daqueles que o amanhavam e que, em resposta, e como uma comunidade cigana, mudaram-se para outras paragens. Escrevi a esse propósito numa das minhas crónicas para o Diário Digital, que ainda se encontra online: "Morreu o Forum Sons, Viva o Forum Sons!". Vieram iniciativas individuais que ainda duraram alguns anos, à qual lhes faltou capital e estratégia para poder gerir as eventuais potencialidades daquele negócio. Surgiram soluções gratuitas, por vezes mais do que uma em simultâneo, como que em linhagens paralelas de um multiverso. Mas a principal razão para o declínio do Forum Sons, foi, paradoxalmente, a humanização do mesmo. A determinada altura, já éramos todos muito amigos ou muito inimigos. A música ficava para segundo plano e tomava dianteira a javardice, que antes até tinha ajudado a tornar o Forum Sons um local atrativo, dificultando a entrada de gente aborrecida. Já não se conhecia novas músicas, já não se trocava discos, já não se discutia aquele mesmo tema batido de sempre, o estado da música portuguesa. A debandada deu-se e o Forum Sons foi ficando residente apenas na memória daqueles que o trabalharam.

Em todos aqueles anos de vida do Forum Sons, conhecia-se música nova e antiga que os tradicionais meios eram incapazes de dar a conhecer. Sabíamos desde a primeira hora quem vinha cá tocar e quando. Vendiam-se e trocavam-se discos. Faziam-se coletâneas coletivas. Nasciam programas de rádio. Nasciam associações (a Mula, por exemplo, que organizou o primeiro concerto de Howe Gelb por cá). Nasciam conhecimentos duradouros. Começavam-se relações (umas deram em casamento!). Combinavam-se autênticas excursões a festivais e concertos por esse país fora. Formavam-se bandas e coletivos de DJs. Recrutavam-se jornalistas e críticos. Ria-se, chorava-se (e muito se chorou na morte de um dos maiores instigadores do Forum Sons no Público, o Fernando Magalhães).

Tudo isto se passava num ambiente mais ou menos democrático, com gente de diferentes proveniências e diferentes motivações. No Forum Sons, participavam meros ouvintes, lado a lado com os músicos (muitos), os jornalistas (quase todos), os produtores de eventos, o Miguel Esteves Cardoso. Havia quem participasse sobre o mais profundo anonimato, só muitos anos depois revelado. Havia muitos que nem sequer participavam, estando porém atentos ao que ali se passava, como se o Forum Sons fosse um focus group de excelência.

Não sei se quero e se precisamos de outro Forum Sons como aquele(s), mas agrada-me sempre a ideia de uma praça pública onde se discuta, se troque e se fomente a música (e tudo, na verdade). Ainda há dias comentava com uma jornalista, a propósito dos 20 anos da ZDB, que uma das maiores virtudes da galeria ao longo dos tempos mais recentes foi o de providenciar uma espécie de ágora onde gente de interesses comuns ou tangentes – público, músicos, jornalistas, gente com vontade de fazer coisas, ... - se reunisse de copo na mão e música nos ouvidos. É do diálogo que nascem as coisas.