sábado, 31 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 22



ELIS (ORIENTE)
ELIS REGINA (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Roberto Menescal
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Entre os vários álbuns que na sua discografia surgem com o nome "Elis", este tornou-se conhecido como "Oriente", o título da faixa de abertura. Não me lembro de ter prestado atenção a outro disco completo de Elis Regina, mas fiquei apaixonado por este assim que lhe encostei os ouvidos. Há temas da autoria de Gilberto Gil, outros da dupla João Bosco/Aldir Blanc, e ainda dois sambas clássicos, "Folhas Secas" e "É Com Esse que eu Vou".

sexta-feira, 30 de março de 2012

Neil Young e Punk in Africa no IndieLisboa



A organização do IndieLisboa anunciou ontem, em conferência de imprensa, as linhas pelas quais se vai coser mais uma edição, a nona, do festival de cinema independente. Entre 26 de abril e 6 de maio, as diversas salas do Indie vão acolher um total de 233 filmes, distribuídos por 222 sessões. Entre as diferentes secções do programa, há aquela que costuma ser exposta com maior frequência por aqui, a IndieMusic. Ainda não há datas e salas de exibição para cada um dos filmes, mas ficamos desde já a saber que no IndieMusic deste ano vamos poder ver:

Amma Lo-fi/Grandma Lo-fi: The Basement Tapes of Sigrídur Níelsdóttir (Islândia/Dinamarca)
Documentário sobre uma avozinha meio dinamarquesa, meio alemã, que aos 70 anos começou a fazer música na sua sala de estar. Passados sete anos, escreveu mais de 600 canções e lançou 59 discos em edição de autor.

Andrew Bird: Fever Year (EUA, 2011)
Documentário de concerto de Bird, na última data da longa digressão de 2009.

How to Act Bad (EUA, 2011)
Retrato de Adam Green, ex-Moldy Peaches.

Inni (Islândia/Canadá/Reino Unido, 2011)
Documentário dos Sigur Rós.

Meu Caro Amigo Chico/My Dear Friend Chico (Portugal, 2012)
Filme de Joana Barra Vaz, uma das fundadoras do A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, sobre Chico Buarque, com participação, além do artista brasileiro, de Sérgio Godinho, JP Simões, João Afonso, Manel Cruz, Nuno Prata, Peixe, Bernardo Barata, Camané, etc.

Neil Young Journeys (EUA, 2011)
Terceiro filme da trilogia de Jonathan Demme sobre Neil Young, desta vez rodado em torno de duas noites de concerto em Toronto, cidade natal do músico, em maio do ano passado, com o álbum "Le Noise" a assumir natural destaque na música que se ouve. Pelo meio, há visitas à terra que viu crescer a criança Neil.

Over Canto/About Canto (Holanda, 2011)
Documentário sobre o compositor holandês Simeon ten Holt e, em particular, sobre o seu concerto para piano "Canto Ostinato".

Punk in Africa )República Checa/África do Sul, 2011)
Filme sobre o punk na África do Sul, em Moçambique e no Zimbabué. Isso mesmo, o punk. A música como resposta à repressão do governo, em particular durante os tempos do Apartheid. Música de bandas como Suck, Wild Youth, Safari Suits, Power Age, National Wake, KOOS, Kalahari Surfers, The Genuines, Hog Hoggidy Hog, Fuzigish, Sibling Rivalry, 340ml, Panzer, The Rudimentals, Evicted, Sticky Antlers, Freak, LYT, Jagwa Music, Fruits and Veggies e Swivel Foot.

Vou Rifar Meu Coração (Brasil, 2011)
Documentário sobre o imaginário romântico, erótico e afetivo da música popular romântica brasileira, a chamada música brega.

Wild Thing (França, 2011)
Documentário de Jérôme de Missolz com o rock como protagonista. Iggy Pop, Throbbing Gristle ou Eric Burdon (Animals) são alguns dos muitos ícones rock que passam por este filme.

Nas curtas metragens, haverá "A Estrada para Mazgani" (Portugal, 2012), de Rui Tendinha; "Minor/Major: The TV on the Radio Tour Documentary" (EUA, 201!) e "R. Stevie Moore–Tape to Disc" (EUA/Portugal, 2012).
Como sempre, é de prever que também nas restantes secções do IndieLisboa se encontrem documentários sobre o tema música, mas a esses iremos com mais calma depois.

Como sempre, ainda, o IndieLisboa compreende também um programa de animação noturna. Este ano, as festas vão fixar-se no Cais do Sodré, na rua Nova do Carvalho, que durante este período a organização batiza de "rua Dr. IndieLisboa". Bar da Velha Senhora, Povo, Casa Conveniente, Musicbox, Pensão Amor e Viking vão ser os pontos de encontro. A festa de abertura do Indie tem lugar na noite de 26 de abril, no Musicbox, e contará, entre outras coisas, com o... Bailarico Sofisticado.

100 discos de 1973, n.º 23



LARKS' TONGUES IN ASPIC
KING CRIMSON (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): King Crimson
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Os King Crimson tinham surgido a 30 de Novembro de 1968, mas, a bem do rigor, há que dizer que esta já era a terceira incarnação do grupo, estabelecida a meio de 1972. Fiel ao seu posto desde o início e até à mais recente interrupção, em 2009, estava o guitarrista Robert Fripp (já nesta lista surgiu a propósito do disco a meios com Brian Eno e há de voltar aqui a aparecer, bem mais lá para cima). Ao lado de Fripp, surgiam dois bateristas (esta era a primeira versão dos King Crimson com duas baterias), Jamie Muir (hoje artista plástico) e Bill Bruford, que tinha trocado os Yes, que entretanto explodiam de sucesso, pelas improvisações nos King Crimson. Na voz e no baixo, estava John Wetton (futuro Asia) e, no violino e nos teclados, David Cross. Os King Crimson renasciam mais instrumentais e menos vocais, com mais de violino e menos de metais, mais de improvisação rock e menos das piscadelas de olho ao jazz, com mais de Fripp do que até aí. Talvez seja um exagero, mas a escuta atenta e prolongada do disco quase que leva a dizer que se não fosse por "Larks' Tongues in Aspic" não teria havido, vários anos depois, o grunge ou o math rock, pelo menos como hoje conhecemos os géneros que tanto devem aos desbravamentos de terreno conduzidos pelos King Crimson nas suas diferentes encarnações, particularmente nesta. Experimentem a segunda parte do tema-título, que encerra o disco, e tentem tirar da cabeça que são os Shellac que estão ali a tocar.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Discos Perdidos, uma demanda por rodelas perdidas e esquecidas, para a semana

No próximo dia 6 de Abril (sexta-feira da semana que vem), o MusicBox vai estrear a exibição de "Discos Perdidos", o documentário de Frederico Parreira sobre o "digging", com dois dos garimpeiros mais conhecidos do país, DJ Ride e Rui Miguel Abreu, na sua demanda pelo vinil.

Sinopse oficial:
DISCOS PERDIDOS é o resultado de uma aventura, de uma viagem, de uma procura. Discos Perdidos é, no fundo, um retrato. Assinado por Frederico Parreira e "protagonizado" por DJ Ride e Rui Miguel Abreu, com "cameos" de Stereossauro e Motown Junkie, funciona como uma espécie de relato íntimo de uma viagem de procura de vinil.
Combinando fotografia e vídeo lo-fi, este filme procura ser o olhar sobre o ombro do digger, mais do que um qualquer tratado com espessura sociológica. A concentração profunda, como lhe chamava DJ Premier, que caracteriza quem deixa os dedos percorrer toneladas de vinil é o verdadeiro centro deste filme que acompanha Ride, RMA, Stereo e Mo-Town de Lisboa até Elvas, daí até Sevilha e Madrid e de volta até às Caldas, sempre com as rodelas pretas de vinil como objectivo central de uma busca que nunca termina, só se intensifica.

Teaser:

teaser DISCOS PERDIDOS from frederico parreira on Vimeo.




100 discos de 1973, n.º 24



CONFERENCE OF THE BIRDS
DAVID HOLLAND QUARTET (Inglaterra)
Edição original: ECM
Produtor(es): Manfred Eicher
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Primeiro álbum do baixista Dave Holland enquanto líder. Consigo estão Anthony Braxton e Sam Rivers, ambos nas madeiras e nas flautas, e o percussionista Barry Altschul, numa espécie de recriação do trio/quarteto Circle, sem Chick Corea, que entretanto tinha partido para os terrenos da fusão. O álbum tornou-se clássico na história do avant-jazz dos anos 70.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O outro lado do mundo dá um salto a Sines

Deve ser a primeira vez que temos um grupo das Ilhas Salomão a tocar no nosso país. Chama-se Narasirato e é constituído por pescadores e agricultores do povo are’are, de Malaita, uma das mais de mil ilhas do arquipélago (num aparte, se 90% ou mais dos portugueses não saberá, aposto, o nome das nove ilhas dos Açores, imaginem o que é... mais de mil). Os Narasirato tocam flautas de bambu e percussões tradicionais, conjugadas com harmonias vocais. Já tocaram em festivais de rock como os famosos Glastonbury ou Roskilde.

Também do Pacífico Sul vem Gurrumul, de nome completo Geoffrey Gurrumul Yunupingu, a que a Rolling Stone chamou a "voz mais importante da Austrália", na edição de Abril do ano passado, em que o trouxe à capa. Guitarrista canhoto com guitarra para dextros, pianista e cantor, Gurrumul vem de uma comunidade aborígene, povo sobre o qual versam as letras das suas canções. Já vendeu mais de meio milhão de discos com o álbum de estreia, "Gurrumul" (2008).

100 discos de 1973, n.º 25



FOR YOUR PLEASURE
ROXY MUSIC (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Chris Thomas, John Anthony, Roxy Music
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Ao segundo álbum, os Roxy Music, que prosseguiam o combate Bryan vs Brian, procuravam equilibrar-se entre a pop experimental, como em "Bogus Man", que Eno aparentava aos Can, e as canções mais estruturadas, como os singles "Do The Strand" e "Editions of You". É talvez por terem conseguido sobreviver à tensão da forma como o fizeram, aqui espelhada, que "For Your Pleasure" é um disco tão curioso e interessante. Há pouco tempo, Morrissey dizia que apenas se lembrava de um álbum britânico verdadeiramente grande. Este, precisamente.

terça-feira, 27 de março de 2012

Novo de Sigur Rós lá para fins de maio

Os Sigur Rós vão ter novo álbum no final de maio. Chama-se "Valtari", que em português se traduziria para "rolo compressor", e já anda por aí a ser visto o vídeo de uma das faixas, "Ekki múkk", traduzível para "a minha mãe caiu do escadote abaixo enquanto tentava pendurar uma bola de espelhos na sala de jantar para toda a família dançar", embora o tradutor do google insista na expressão "não gaivota". Já há datas para a digressão europeia, mas Portugal não está, pelo menos para já, incluído.

Sigur Rós - Ekki múkk from Sigur Rós on Vimeo.

Strange Group Doueh Boys

Tanto aqui se fala de uns, os garageiros norte-americanos Strange Boys, como de outros, os sarauis do blues Group Doueh. Dois mundos aparentemente à parte, não fosse o que ainda aqui há dias se falava, não fosse por vezes até estarem bastante próximos uns dos outros numa mala de discos de um Bailarico Sofisticado. E, para provar que essa tal distância, afinal, é coisa a que apenas alguns ainda ligam, eis que os primeiros prestam tributo aos segundos. Strange Boys, com o tema... "Doueh":



ATUALIZAÇÃO: Os Strange Boys vão passar pelo MusicBox na véspera do 25 de abril.

100 discos de 1973, n.º 26



MILAGRE DOS PEIXES
MILTON NASCIMENTO (Brasil)
Edição original: Odeon
Produtor(es): Milton Miranda
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O duplo "Clube da Esquina", que lançou Milton Nascimento para fora do Brasil, havia saído no ano anterior. Em 1973, rodeado novamente de um extenso grupo de músicos de excelência, entre os quais, Naná Vasconcelos e o habitual Wagner Tiso, Milton volta a conseguir um disco desconcertante. A censura levou a que a maior parte de "Milagre dos Peixes" surgisse rarefeito de letras cantadas, o que confere ainda uma dimensão extra ao caráter experimental do disco. No ano seguinte, Milton juntar-se-ia aos Som Imaginário para uma versão do álbum ao vivo.

Pablo nº 2 (A Festa) by Milton Nascimento on Grooveshark

segunda-feira, 26 de março de 2012

O mais próximo que conseguimos estar de Robert Wyatt, nesta quinta-feira

Se um dia me perguntarem pelo músico que mais gostaria de ver ao vivo, tenho a resposta na ponta da língua: Robert Wyatt. Pela sua notável carreira a solo ou, recuando no tempo, pela discografia dos Soft Machine ou dos "seus" Matching Mole, pelas colaborações preciosas com o seu velho camarada Kevin Ayers, com Brian Eno, com David Gilmour, com Michael Mantler e com tantos outros. Pelo compositor, pelo intérprete.

É provavelmente a maior lacuna na história de concertos em Portugal. Isto, claro, se ninguém aparecer já a seguir a dizer que Wyatt já cá esteve em mil novecentos e setenta e tal, no sítio tal, com os músicos fulanos de tal. Não vale dizer que ele já passou por Portugal. Na verdade, Wyatt passou por cá em criança, como testemunha uma resposta aqui há uns anos a Rui Tentúgal, do Expresso:
«Portugal foi muito importante para mim. A minha empatia com o Terceiro Mundo vem do facto de eu ter sido fantasticamente intoxicado por um país que naqueles tempos imaginávamos ser o Terceiro Mundo: as crianças andavam descalças, as raparigas eram impossivelmente exóticas, os meus pais deixavam-me ficar acordado até tarde porque todas as crianças portuguesas ficavam acordadas até tarde (e podiam beber vinho misturado com água). Brinquei com uma rapazinho chamado Rudolfo que era tão bonito que se eu tivesse ficado mais algum tempo ter-me-ia tornado homossexual. Foi incrível ver esta gente, que era muito mais pobre do que nós, ter uma vida maravilhosa na pobreza. Um melão custava um escudo. As pessoas carregavam na cabeça grandes blocos de gelo, com um passo muito digno. Fiquei com vergonha de ter sapatos e tentei andar descalço, mas o chão estava cheio de escarros e a minha mãe obrigou-me a calçá-los. Lembro-me de coisas muito simples, como dormir na praia, com um cobertor, em sítios como a Trafaria, junto ao rio, e ver as estrelas...Para um rapazinho que vivia num subúrbio de londres, com brumas e nevoeiro, era como um reino mágico. Isto é incrivelmente romântico, mas eu não percebia nada de pobreza ou opressão (Portugal ainda era um país fascista), eu via apenas a beleza das pessoas, mas não compreendia o que é que isso tinha a ver comigo, como é que eu podia ser parte daquilo»
(Esta visita de Wyatt ao Portugal dos anos 50 serviu de inspiração para o EP "A Short Break", uma pequena coleção de temas gravados em casa e lançada em 1992.)

Mas a que vem isto agora? Quinta-feira vamos estar mais perto de Wyatt! Mas já lá vamos, porque interessa contar a história do início. Em 2009, sob a direção do contrabaixista Daniel Yvinec, a Orchestre National de Jazz, de França, gravou um tributo ao músico inglês. "Around Robert Wyatt" reunia velhos temas como "Alifib" ou "Vandalusia", as mais recentes "Just As You Are" ou "Del Mondo", e até composições de outros que ora se tornaram fundamentais no longo reportório de Wyatt, como "Shipbuilding", de Elvis Costello, ora tiveram a voz do barbudo, como "The Song" e "Kew Rhone", dos velhos amigos John Greaves e Peter Blegvad. Além do próprio Wyatt, emprestaram voz aos temas nomes como Rokia Traoré ou a atriz pela qual este vosso escriba tinha o maior dos fascínios nos idos de 90: Iréne Jacob. "Around Robert Wyatt" viria a ser distinguido como "Álbum do ano" na gala anual "Les Victoires du Jazz".

Quinta-feira, dia 29, então, vamos tê-los por cá, em mais uma etapa da programação CCBeat. A Orchestre National de Jazz vem ao grande auditório do CCB apresentar este tributo desenhado em torno de Robert Wyatt, com a colaboração do próprio e, como convidados especiais, teremos Erik Truffaz no trompete e Perry Blake na voz. Os preços dos bilhetes, se ainda os houver, variam entre os 5,33€ e os 15,99€, havendo os descontos do costume para jovens, menos jovens, estudantes, profissionais do espetáculo e grupos.



Orchestre National de Jazz
Daniel Yvinec - direção artística
Eve Risser - piano, piano preparado, flauta
Vincent Lafont - teclas, eletrónica
Antonin-Tri Hoang - saxofone alto, clarinete, piano
Remi Dumoulin - saxofone tenor, clarinete
Matthieu Metzger - saxofones, efeitos electrónicos
Joce Mienniel - flauta, eletrónica
Sylvain Bardiau - trompete
Pierre Perchau - guitarra, banjo
Sylvain Daniel - baixo elétrico
Yoann Serra - bateria

100 discos de 1973, n.º 27



THIRTY SECONDS OVER WINTERLAND
JEFFERSON AIRPLANE (EUA)
Edição original: Grunt
Produtor(es): Jefferson Airplane
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Segundo álbum ao vivo nesta lista (e ainda vai haver mais um). Também é o segundo álbum ao vivo dos Jefferson Airplane, depois de "Bless Its Pointed Little Head" (1969). Documenta os últimos concertos do coletivo, antes do regresso em 1989. É um dos melhores álbuns ao vivo da história do rock.

domingo, 25 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 28



ALADDIN SANE
DAVID BOWIE (Inglaterra)
Edição original: RCA
Produtor(es): Ken Scott, David Bowie
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"Ziggy goes to America." A expressão é do próprio David Bowie, que escreveu boa parte das canções de "Aladdin Sane" durante a parte que a Ziggy Tour passou pelos EUA. Na edição original, no alinhamento das canções, há referências a nome de cidades e até a um navio transatlântico (no tema-título). No baile de máscaras em que Bowie se divertia nestes tempos, a nova personagem Aladdin Sane (jogo de palavras com "A Lad Insane") era muito parecida com a anterior, Ziggy Stardust, embora sem a mesma obsessão futurista. Musicalmente, continua o glam, ainda que se escute uma maior aproximação de Bowie aos Stones da altura (há até mesmo uma versão, "Let's Spend the Night Together"), mas há também uma maior dispersão por outros estilos pouco habituais, que a crítica teve dificuldades em compreender na altura.

sábado, 24 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 29



A MÚSICA LIVRE DE HERMETO PASCHOAL
HERMETO PASCOAL (Brasil)
Edição original: Sinter
Produtor(es): Rubinho Barsotti
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"Gaio da Roseira", o tema com que encerra o disco, havia sido composto por seu pai, "seu Pascoal". Em 1971, Airto Moreira, que havia sido companheiro de Hermeto no Quarteto Novo e que nesta altura iniciava a sua carreira bem sucedida pelos EUA, incluía-o em "Seeds on the Ground", sob as designações de "Galho da Roseira" ou "Branches", para sucesso que ainda perdura até hoje nas colectâneas que vão saindo. Hermeto voltou a usá-lo em 1973, numa versão com uma introdução arrepiante e arranjos ainda mais arrojados (escute-se, por exemplo, a parte da orquestra de garrafas, tocadas por todos os elementos do grupo). Bastaria este tema final para "A Música Livre de Hermeto Paschoal" ser já um disco fundamental. Mas há mais. Há coisas mais facilmente audíveis, como o jazz de raça latina de "Bebê", há as versões incríveis de "Asa Branca", de Gonzaguinha, e de "Carinhoso", do ícone do choro Pixinguinha, há "Sereiarei", um tema absolutamente chanfrado onde até os porcos, os gansos, os coelhos e os patos, provavelmente os mesmos que se dizia que Pascoal levava para os palcos, participam. Ao lado de "Missa dos Escravos", de 1977, é o melhor que o imenso génio de Pascoal produziu.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Este novo mundo sem bandeiras, sem fronteiras

Sob o título "The term 'world music' is outdated and offensive", Ian Birrel, jornalista de assuntos internacionais do Guardian, discorre sobre o tema já relativamente gasto da "ghettificação" do termo "world music" (o tema é tão velho, na verdade, quanto o termo: 25 anos), mas com uma abordagem aos tempos atuais, ao paradigma do "mashup" a que a muitos de nós aderimos com entusiasmo:
«Life's a mashup these days, isn't it? Not just online but in the real world too. From arts to science, from finance to food, from work to play, we live in a time of fantastic fusion, with ideas taken from anywhere and influences found everywhere.»
Uma das passagens mais interessantes do artigo de Birrel é a ilustração destes tempos com a história do músico sul-africano Spoek Mathambo:
«Spoek grew up in South Africa. His wife is Swedish. His mum sang in a church choir, his dad listened to jazz and his sisters liked Bob Marley and Shabba Ranks while he preferred American rap. In recent years, Spoek has toured the world, working with some of the coolest dance producers. His music is released on Sub Pop, home to grunge. Little wonder it reflects so many people and places, all given his unique and often-dark township techno twist.»
Goste-se ou não do Mathambo e da versão dele para "She's Lost Control", dos Joy Division, a sua história é fundamental como ilustração para a compreensão dos fenómenos culturais dos nossos dias. Histórias destas tornam o mundo em que vivemos mais rico, independentemente da quebra do produto mundial, independentemente das guerras e guerrilhas que todos os dias eclodem.

100 discos de 1973, n.º 30



SPACE IS THE PLACE
SUN RA (EUA)
Edição original: Blue Thumb
Produtor(es): Alton Abraham, Ed Michel
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There's no limit
To the things that you can do
There's no limit
To the things that you can be


Importa apenas o longo tema-título com que abre o disco. Nada mais interessa, seja bom, seja mau. O ícone do jazz mais estranho de todos os tempos, que acreditava provir de Saturno e que tocava e punha os outros a tocar sem os pés assentarem na Terra, alcançava aqui um momento fundamental na sua já longa carreira. O tema, que expõe em música a filosofia de Sun Ra, é também tratado num filme com o mesmo nome (vejam-no aqui, por exemplo).

quinta-feira, 22 de março de 2012

Festim em Julho

É bom saber que produções como a deste "Festim - Festival Intermunicipal de Músicas do Mundo" voltam a acontecer em 2012 -- vai ser a quarta edição -- ano que as câmaras municipais e tudo o que é entidade pública puxa ou ameaça puxar os cordões à bolsa no que aos eventos culturais diz respeito. E este é um festival que conta com o apoio de cinco municípios de Aveiro que vão receber os espetáculos nas suas sedes: Águeda, Albergaria-a-Velha, Estarreja, Ovar e Sever do Vouga.

O Festim terá lugar de 1 a 26 de Julho e os três primeiros nomes já foram anunciados: Riccardo Tesi & Banditaliana (Itália), Kimmo Pohjonen (Finlândia) e Blowzabella (Inglaterra). A d'Orfeu, que promove o festival, promete anunciar ainda mais quatro nomes grandes. O Festim terá um total de 20 concertos. Mais informações em www.festim.pt.

100 discos de 1973, n.º 31



BANANAMOUR
KEVIN AYERS (Inglaterra)
Edição original: Harvest
Produtor(es): Kevin Ayers, Andrew King
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É o mais acessível, mas também o mais eclético, o mais completo e, provavelmente, o melhor disco a solo de Kevin Ayers, um dos fundadores dos Soft Machine, o homem de cujo talento John Peel disse ser "tão aguçado que se pode fazer cirurgia ocular profunda com ele". Ao quarto álbum, Ayers exprime-se das mais diversas formas. Anda pela soul à Van Morrison, pela pop freak à Robert Wyatt, pelo blues rock e até pelo ska (num dos temas bónus da reedição). Mas o tema central de "Bananamour", diferente de tudo o resto no disco, e que deixa todos os ouvidos estupefactos, é a majestosa composição épica "Decadence", um poema dedicado a Nico e uma cópia chapada, não fosse ter sido escrito muitos anos antes, daquilo que os Spiritualized viriam a fazer. Jason Pierce deve ter passado anos inteiros da sua vida a ouvir "Decadence". Só pode. "Bananamour" é também um ponto de encontro de velhos amigos de Ayers: Robert Wyatt participa nos coros de "Hymn"; Mike Ratledge, outro Soft Machine, toca orgão em "Interview"; Steve Hillage, guitarrista dos Gong, participa em "Souting In A Bucket Blues"; David Bedford, o maestro da versão orquestral de "Tubular Bells", dirige "Beware Of The Dog" (Bedford e Oldfield tinham feito parte da primeira banda de suporte de Ayers, The Whole World).

quarta-feira, 21 de março de 2012

Mi casa es tu casa, agora no Barreiro

No passado mês de janeiro, e inserido no programa da "Guimarães 2012 - Capital da Cultura", o Fernando Alvim levou a cabo uma experiência pouco ou nada comum: concertos de bandas em domicílios privados. Na ocasião, foram 32 casas do centro histórico de Guimarães a receberem nomes como Nick Nicotine, Luísa Sobral, Virgem Suta, Samuel Úria, Paulo Praça, Best Youth ou We Trust, alguns exemplos num total de mais de quatro dezenas de grupos.

Nick Nicotine, um dos convidados, trouxe a ideia para a sua cidade do Barreiro e, aproveitando a Quinzena da Juventude, bem como a celebração dos 10 anos da Hey Pachuco!, a editora e grande agitadora roqueira da cidade, vai realizar algo de semelhante. No próximo sábado, dia 24, há sete casas particulares no barreiro que vão receber os seguintes nomes: The Raw Sample Project, Nicotine's Orchestra, Fast Eddie Nelson, The Sullens, L'Ocelle Mare (França), Radikal Satan (Argentina), Tiago Sousa, Rai (The Poppers), Killer E "The Snake", Chicken Birdie Joey e Hell Hound. As moradas, os horários e as lotações compreensivelmente diminutas já foram anunciadas no facebook da Hey Pachuco!.

Death in Vegas no Alive

A Everything is New acabou de anunciar mais um nome para o Alive: os Death in Vegas vão atuar no palco secundário a 13 de julho, o primeiro dia do festival.

Já passaram muitos anos e, nestas coisas, a água não costuma passar mais do que uma vez por debaixo da mesma ponte. O último álbum do grupo, lançado em setembro passado, parece também não prometer muito (youtube do single mais abaixo). Em todo o caso, numa nota pessoal, devo aqui ir aos arrumos da memória para recordar uma noite do Sonar 2000, em Barcelona, em que os Death in Vegas deram um daqueles concertos a que ninguém conseguiu ficar indiferente. No mesmo ano, dois ou três meses depois, os testemunhos que chegaram do mítico festival Arcos de Valdevez eram muito semelhantes...

O Alive tem lugar, como é habitual, no Passeio Marítimo de Algés, e tem no cartaz, até agora: Stone Roses, Justice, Snow Patrol, LostProphets, Refused, Death in Vegas, Lmfao, Dum Dum Girls e Miúda (dia 13); The Cure, Florence + The Machine, Mumford and Sons, The Antlers, Here We Go Magic, Katy B, Sebastian, Big Deal, Lisa Hannigan e Awolnation (dia 14); Radiohead, Caribou, The Kooks, Paus, Mazzy Star, The Kills, Metronomy, The Maccabees, Warpaint, Sbtrkt e Miles Kane (dia 15). Os bilhetes diários custam 53 euros e os passes para os três dias, 105, havendo ainda outras combinações para o uso do campismo e dos comboios.

100 discos de 1973, n.º 32



2ND
AGITATION FREE (Alemanha)
Edição original: Vertigo
Produtor(es):
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Não conseguiram a fama de uns Can, de uns Neu! ou de uns Faust, ou até mesmo, numa segunda linha, de uns Guru Guru ou de uns Novalis, mas os alemães Agitation Free, ao segundo álbum, deixaram uma marca indelével na história do kraut e do prog. Há diversos momentos deste "2nd", e em particular no tema "Laila" (youtube abaixo) que fazem lembrar as jams dos Can dos primeiros álbuns. É um fausto para qualquer fã de kraut.

terça-feira, 20 de março de 2012

Mais uns que se apaixonaram por África

Lembram-se dos Zita Swoon (ex-Moondog Jr.), grupo belga liderado por Stef Kamil Carlens, que teve algum sucesso no final dos anos 90? Eles estão de volta, agora sob a designação Zita Swoon Group, com um álbum gravado com dois músicos griot do Burkina-Faso, o intérprete de balafon Mamadou Diabaté Kibié e a cantora Awa Demé.


100 discos de 1973, n.º 33



(NO PUSSYFOOTING)
FRIPP & ENO (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Robert Fripp, Brian Eno
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Ponha-se no mesmo estúdio dois dos maiores músicos e estetas que a Inglaterra viu nascer, deixe-se a marinar o tempo suficiente, e sirva-se o resultado. "(No Pussyfooting)" é um marco incontornável da música ambiente, o primeiro de uma trilogia de trabalho levada a cabo pelo guitarrista Robert Fripp (voltará a esta lista, mais à frente, com o seu maior projeto de sempre) e pelo multi-facetado Brian Eno (também voltará aqui, e por duas vezes, ora a solo, ora com a sua banda). Eram ainda apenas jovens homens (Fripp tinha 27, Eno era dois anos mais novo), mas artistas maduros que deixavam a sua afirmação inequívoca.

segunda-feira, 19 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 34



INTRODUCTION
WITCH (Zâmbia)
Edição original: ?
Produtor(es):
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Parece que ouvimos ali o Mick Jagger. O orgão psicadélico e as guitarras a escorrerem fuzz remetem-nos para uma banda de garagem norte-americana dos anos 60. Mas estamos na Zâmbia, no sul de África, e os Witch são o nome maior de um movimento, uma espécie de micro-clima musical instalado naquele continente, que ficou conhecido pelo nome de zam-rock. Aparentemente, a política cultural daquele país proibia a divulgação de música ocidental na rádio, o que terá levado os músicos locais a desenvolverem o seu próprio garage rock (falei deste fenómeno aqui, há mais de um ano). As condições técnicas de captação e produção do disco não são as melhores, mas os temas que aqui encontramos são verdadeiras pérolas do género e aqui já não importa o local onde foram descobertas. A geografia nada interessa perante um disco destes. Foi redescoberto numa edição da alemã Shadoks Music/QDK, em 2009.

domingo, 18 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 35



VU DE L'EXTERIEUR
SERGE GAINSBOURG (França)
Edição original: Philips
Produtor(es): Peter Olliff
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"Vu de L'Extérieur" saiu a Novembro de 1973, seis meses depois do ataque cardíaco a que Gainsbourg sobreviveu com a promessa de que ia aumentar o consumo de álcool e cigarros. Gainsbourg cantava que se ia embora ("Je suis venu te dire que je m'en vais"), "Gainsbarre" estava a nascer. "Vu de L'Extérieur" não têm os mesmos contornos conceptuais que caracterizaram os seus discos dos anos 70, como o anterior "Histoire de Melody Nelson", poema pop numa história de amor muito próxima da "Lolita" de Nabokov, ou do posterior "Rock Around the Bunker", em que o tema base é o nazismo, a não ser que desta coleção de canções lançadas em 1973 retenhamos o teor... escatológico, presente ora nos próprios títulos ("Des Vents des Pets des Poums"/"Os ventos os peidos os puns"), ora ao longo das letras. Gainsbourg ou Gainsbarre, o artista via-se livre para o que bem entendesse fazer. E fazia-o bem.

sábado, 17 de março de 2012

Ainda a propósito do Paradise Garage, que hoje reabre

Na sequência do que aqui ontem se deu conta, não na descarga de fúria de início, mas na segunda parte, a respeito da reabertura para hoje marcada do Paradise Garage, lembrei-me de ir ver aos meus arquivos os concertos que me fizeram levar ao clube de Alcântara, desde o ano de 1994, quando ainda se chamava Gartejo. Notem bem, antes de atirarem a primeira pedra, que alguns dos nomes só aqui estão por obrigação profissional da altura... A negrito vão aqueles dos quais guardo melhores recordações:

ALIBI, ANGER, ANTI-CLOCKWISE, ATARAXIA, ATOMIC BEES (duas vezes), ATOMIC BEES, BARRY ADAMSON, BEAUTIFUL NOISE, BIG FAT MAMMA, BIG ME, BLIND ZERO, BOBBY CONN KARAOKE SHOW, BROKEBACK, BULLLET, CALEXICO, CASINO, CHICAGO UNDERGROUND DUO, CLÃ, COLDFINGER, COOL HIPNOISE, COSMIC SUNDAY, DA LATA, DEAD KENNEDYS, DREAD ASTAIRE, EELS, ELEVENTH DREAM DAY, FLOOD, FONZIE, FRENZAL RHOMB, GOD SPIROU, GODSPEED YOU BLACK EMPEROR!, HI-FI JÔ, ID PÓRTICO, IN HER SPACE, IN THE NURSERY, J MASCIS, JORGE REYES, KANE, L7, LAMBCHOP, LEE 'SCRATCH' PERRY, LESS THAN JAKE, LIFE OF AGONY, LTO, LUNA SEA SANE, MÃO MORTA (duas vezes), THE MISSION, MOGWAI, MOJAVE 3, MORE REPÚBLICA MASÓNICA, MOUSE ON MARS, THE NO-COUNTS, ONE, PALMERSTON, THE PARKINSONS, PEE WEE MONTANA, PETE YORN, PHASE, PINHEAD SOCIETY, PLÁSTICA, RADIAN, RAMMSTEIN, RAS AL GHUL, ROLLANA BEAT, THE SEA AND CAKE (duas vezes), SHANNON WRIGHT, SHED 7, SHIVAREE, SLAMO, SONORA BELA VISTA, ST. THOMAS, SUPERNOVA, SWITCH.COM, TARA PERDIDA, TERRAKOTA, TERRY LEE HALE, THERAPY?, TORANJA, TORTOISE (duas vezes), TRANS AM, THE WALKABOUTS, WONDERLAND, YELLOW W VAN (duas vezes), YO LA TENGO, YOUNG GODS.

89 concertos. E não-sei-quantos jantares no Brilha-Tejo. Venham mais. E que a cerveja não seja tão cara como antes.

Atualização: lembrou-me entretanto o César dos Mercury Rev, em 2001. Mais um, então, e a negrito.

100 discos de 1973, n.º 36



MATANÇA DO PORCO
SOM IMAGINÁRIO (Brasil)
Edição original: Odeon
Produtor(es):
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Esta é uma das bandas com carreira mais curta e mais valiosa que o Brasil já conheceu. Nascidos no estado de Minas Gerais, como a banda de suporte de Milton Nascimento no início da carreira deste, os Som Imaginário chegaram a lançar por si próprios três álbuns de originais. O primeiro, homónimo, é uma daquelas obras imensas, incontornáveis, obrigatórias. Prog altamente chanfrado, lembrando a cena de Canterbury ou outros ingleses da altura como os Gentle Giant, mas com o toque local que os (bons) músicos brasileiros tão bem sabem imprimir ao que fazem. Neste "Matança do Porco", terceiro e último disco (não contando, portanto, com "Milagre dos Peixes - Ao Vivo", gravado com Milton Nascimento), a linguagem muda consideravelmente. O guitarrista e ocasional vocalista Frederyko, também conhecido por Fredera, estava de saída e Wagner Tiso assume a liderança do projeto. "Matança do Porco" é um disco essencialmente instrumental, à exceção do tema homónimo onde Milton Nascimento se entrega a uma arrepiante interpretação, característica daquela fase da sua carreira. É em várias partes um disco de orquestra, muito por culpa do tema "Armina", que se repete ao longo de três "vinhetas", mas, no essencial, "Matança do Porco" é um disco de fusão entre o jazz e o rock. Fusão que faria provavelmente envergonhar muita banda americana de pós-rock dos anos 90.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quando o patrão fala, toda a gente ouve

Discurso de Bruce Springsteen, ontem, no SXSW, em Austin. Vale TODA a pena ouvi-lo.

Se o mundo fosse perfeito e dois mais dois fosse sempre igual a quatro, haveria uma ASAE a interditar esta sala

Felizmente, Lisboa está hoje bem servida de salas de concertos, para todos os públicos, para espetáculos de todas as dimensões. E é precisamente neste contexto de abundância que nos podemos dar ao luxo de achar que esta sala em particular devia ser banida das agendas de concertos. Pelo menos, dos concertos de rock. Ontem, a noite prometia ser explosiva (o trocadilho, apesar de fácil, é intencional), mas mal percebíamos a banda porque a sala não deixou (e este outro trocadilho com a canção do Tim, ainda mais idiota, a canção e ainda mais o trocadilho, também é intencional). Para uma sala que se promove, ao mesmo tempo que ajuda a promover outras coisas que nada têm a ver com a música, como uma sala de excelência, fica vários furos abaixo dos pavilhões centenários de ginástica e afins que noutros locais do país, basta atravessar o Tejo ali ao lado, que, por contingência da míngua na oferta de espaços que até nos serve para os desculparmos das falhas, ainda vão servindo para receber bandas de fora e de dentro. Até na minha adolescência, nos concertos que fazíamos no liceu, conseguíamos perceber melhor o que as bandas tocavam em palco.

Mas nem tudo é motivo para lamentação. O PARADISE GARAGE, sim, o clube que também se chamou Gartejo e que durante parte dos 90s e parte dos 00s recebia quase tudo o que era concertos de pequena e média dimensão, com as melhores condições da cidade (na altura), com um palco com a largura que qualquer banda merece (ali tocaram, por exemplo, os Cult, os Young Gods, os Rammstein, as L7, os Calexico, os Eels, os Tortoise por duas vezes, os Yo La Tengo, os Walkabouts, os godspeed you! black emperor, os Lambchop, os Dead Kennedys, o Barry Adamson, os Trans Am, o J Mascis, os Mogwai, os Life of Agony, e tantos outras bandas habituadas a grandes palcos além destas que me recordo porque lá estive a vê-las), com a altura que o público, especialmente os mais baixos de estatura, agradece, com uma disposição do espaço para a assistência, dos bares, do mezanino e das casas-de-banho que parece ter sido feita de propósito para que esta fosse, por excelência, a sala de concertos, ... ufa, sim, este clube vai reabrir portas! A inauguração é já neste próximo sábado, amanhã, com uma festa em que o tema será o "Fear and Loathing in Las Vegas", o magnífico livro autobiográfico do Hunter S. Thompson e não menos magnífico filme do Terry Gilliam. Nas palavras da gerência há a promessa de o Garage voltar a receber concertos. São ótimas notícias.

100 discos de 1973, n.º 37



FARE FORWARD VOYAGERS (SOLDIER'S CHOICE)
JOHN FAHEY (EUA)
Edição original: Takoma
Produtor(es): John Fahey
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Com "Fare Forward Voyagers (Soldier's Choice)", John Fahey deixava a experiência na Reprise para trás e voltava à sua própria Takoma. Três peças abundantemente influenciadas pela música clássica indiana, ainda que naquela perspetiva muito faheyana. Dedicou o disco a Swami Satchidananda, o guru espiritual indiano que se tornou conhecido com o discurso de abertura de Woodstock e que fundou nos EUA o Integral Yoga Institute, entre outros movimentos. O músico e crítico Eugene Chadbourne, na peça alusiva a este disco para o All Music Guide, defende que este é um desafio a uma alegada "regra Swami Satchidananda para guitarristas", segundo a qual todos os músicos que se propunham a celebrar pelo seu trabalho aquele guru espiritual, como então se tornou frequente, se espalhavam ao comprido. Menos Fahey. A propósito, ainda por aí se encontram notas a darem conta de Fahey como seguidor de Satchidananda, o que até foi real, mas a razão do envolvimento com o Integral Yoga Institute é muito mais prosaica do que se imaginaria, como explicou o guitarrista, muitos anos depois, a Byron Coley: "Provavelmente, a razão principal para o meu envolvimento foi ter-me apaixonado pela secretária de Swami Satchidananda. (...) Eu não acreditava no Krishna nem em nada disso. Era como estar no meio do Ladrão de Bagdade."

quinta-feira, 15 de março de 2012

Mais Thurston Moore, agora na versão da ZDB



Filmagem de Rodrigo Lacerda. Em bruto, sem qualquer edição.

Um dos tais temas dos Chelsea Light Moving, do Thurston Moore, ao vivo na ZDB

Black Lips no Primavera Sound do Porto

A programação do Primavera Sound do Porto continua a encher. Foi entretanto anunciada a vinda dos Black Lips, já muito habituados ao Primavera Sound original. Entre os nomes agora anunciados há também Lee Ranaldo, Wolves in the Throne Room e Rufus Wainwirght.

Hoje, em Lisboa



Bilhetes a 22€, início da primeira parte marcado para as 22h (ainda falta decorrer meio mês para que cheguemos ao primeiro de abril, mas foi entretanto anunciado que seriam as Pega Monstro a abrir a noite).

100 discos de 1973, n.º 38



CATCH A FIRE
THE WAILERS (Jamaica)
Edição original: Tuff Gong/Island
Produtor(es): Chris Blackwell
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Os Wailers chegavam à Island de Chris Blackwell. Nascia a superestrela mundial Bob Marley e o reggae tornava-se global. Tudo isto foi alcançado neste "Catch a Fire", o disco cuja capa original se abria como num isqueiro Zippo. Aqui se encontram verdadeiros hinos do reggae, como "Concrete Jungle", "Stir it Up" ou "Kinky Reggae". Da edição original de "Catch a Fire", porém, não fez parte a que é uma daquelas canções só ao alcance de uma pequena porção de compositores, "High Tide or Low Tide" (youtube abaixo).

quarta-feira, 14 de março de 2012

Mari Boine no FMM!

A organização do FMM Sines avançou com mais dois nomes do cartaz para este ano. A grande surpresa de hoje vai para a norueguesa e, mais especificamente, sami Mari Boine, desde há décadas um dos maiores nomes do circuito europeu de world music, que vai regressar ao nosso país para um concerto no castelo de Sines, em data ainda não anunciada. O outro nome anunciado não representa novidade para os frequentadores habituais do FMM, ainda que se diga que o projeto está renovado e, portanto, diferente. O inglês Justin Adams e o gambiano Juldeh Camara vão voltar a pisar o palco do castelo, agora sob a designação JuJu e a promessa renovada de fusão entre rock e África. Está a ficar cada vez melhor este FMM.

Perfume de espírito adolescente

Thurston Moore nunca deixou de ser este miúdo empertigado, que muitos ainda tentam imitar (sem sucesso). Prefiro pensar que não reparamos nisso porque ele já passou dos 50. Afinal, o Neil Young já vai nos 66, o Tom Zé nos 75... e continuam a rockar tanto ou mais. Não será porque as rugas que lhe caem pelo rosto abaixo se escondam nos esgares que faz quando puxa a voz uma oitava acima do que é normal. Algo estaria completamente errado em tudo isto se a idade e as rugas de quem pisa um palco nos levasse a tomar de outros ângulos de visão aquilo que nos é partilhado ao vivo. Prefiro então pensar que é justamente porque somos levados rapidamente a esquecer tais detalhes, com toda a naturalidade deste mundo, e a julgá-lo como o tal miúdo empertigado (e sobredotado) que ali aparece com a sua nova banda. Miúdo que dizia, entre as muitas ocasiões em que se dirigiu ao público que a banda e o próximo álbum se chamariam Chelsea Light Moving, o nome da empresa de mudanças que o compositor Philip Glass criou nos anos 50 para garantir o rendimento que a música não lhe dava (e por onde passou também outro minimalista dos grandes, Steve Reich). Foram muitas, aliás, as ocasiões em que Moore trocou palavras com o público, atirou piadas, pediu e ofereceu cerveja. Uma surpresa nesta noite. Já vi Sonic Youth ao vivo mais de uma meia dúzia de vezes e raramente o vi usar o microfone para outra coisa que não fosse cantar ou lançar o mote inicial "We're Sonic Youth and we come from New York City". Parece que o miúdo ficou (ou voltou a ficar) apaixonado por Lisboa e que cá voltará para o fim do ano, para passar algum tempo de qualidade (alguém lhe faça um arranjinho com uma portuguesa!).
O espetáculo íntimo de ontem -- para pouco mais de 150 pessoas no aquário da ZDB, apenas sócios da galeria -- foi dividido em duas partes. Na primeira, a banda atacou números do próximo álbum, que já vão num estado além do bruto, ainda que ali faltem, esperando-se que seja essa a ideia, as vozes. O mais provável é que não voltemos a ter um álbum novo de Sonic Youth, mas a avaliar por esta amostra de ontem, aquilo que habitualmente esperávamos deles, ou pelo menos naquelas composições creditadas a Moore, vamos facilmente encontrar neste tal de "Chelsea Light Moving". Na segunda parte, para a qual Moore havia prometido "oldies", a banda pôs-se a desfilar tema de "Psychic Hearts", disco que já leva com quase 20 anos em cima: "Feathers", "Cindy (Rotten Tanx)", "Pretty Bad", "See-Through Playmate", "Ono Soul" (uma versão magistralmente intercalada com a torrente de guitarras distorcidas e em feedback a que já estávamos habituados nos SY, e a que a própria banda chamava "hurricane"), "Staring Statues". E ainda houve muito mais, de outros discos. Não houve guitarra acústica, como os últimos álbuns a solo de Moore davam a entender que pudesse acontecer. Ao longo de toda a noite, Thurston Moore empunhou sempre a sua jazzmaster, em duelo com a distorção alta da guitarra de Keith Wood. O violino de Samara Lubelski encaixou-se sempre muito bem e a bateria de John Moloney esteve, na maior parte das ocasiões, escondida atrás do barulho das guitarras e deu até para sentir vontade de ali ter o Steve Shelley. Foi talvez o único defeito a apontar à noite de ontem.
Descobri esta semana que há uma corrente na arquitetura ocidental do século XX designada por "brutalismo", o que me oferece o pretexto científico ideal para terminar com uma frase outrora banal nestas coisas da música: foi BRUTAL.

100 discos de 1973, n.º 39



ÍNDIA
GAL COSTA (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Guilherme Araujo
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Já ia longe o dia 22 de Agosto de 1964, em que Gal Costa, então com 18 anos, se estreou no espetáculo "Nós", com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia. Nesse percurso do tempo, integraria, juntamente com estes e outros músicos, do movimento Tropicália, que neste ano de 1973, já estava mais ou menos desfeito. Em todo o caso, neste ano, Gal Costa já levava avante a sua própria aventura a solo, ainda que frequentemente acompanhada pelos seus velhos parceiros de estrada ou outras figuras fundamentais da música brasileira. É o caso deste "Índia", que conta com Gilberto Gil como diretor musical e guitarrista, ou Roberto Menescal e Wagner Tiso, e onde Gal interpreta temas de outros, como Caetano ("Relance" e "Da Maior Importância"), Jobim ("Desafinado", a encerrar o disco) e até o "nosso" próprio Zeca Afonso, numa adaptação magnífica de "Milho Verde", que o maior dos génios da música portuguesa foi buscar ao cancioneiro de trabalho beirão. É um dos discos mais elegantes -- a palavra é mesmo essa -- da música popular brasileira desta época.

terça-feira, 13 de março de 2012

Vamos poder passar a fazer discos em casa?

Já nos anos 60, na Inglaterra ou nos EUA, havia pequenas cabines, parecidas com as das fotos instantâneas que hoje ainda encontramos no metro, e geralmente instaladas em lojas de discos, onde por uma pequena quantia, qualquer um podia colocar a sua cantoria num sete polegadas.

Parece impressionante que tenha passado tanto tempo até podermos (quase) fazê-lo em casa. Talvez a tecnologia nunca a venha a ser barata o suficiente para que possamos também com o vinil -- ou qualquer outro sucedâneo -- fazermos aquilo que já há largos anos podemos fazer com os CDs. Nem talvez haja o interesse suficiente para tornar isto possível, até porque o habitual consumidor de vinil é, ao mesmo tempo, o colecionador que valoriza, ao contrário dos outros, a genuinidade, que aceita pagar mais por uma edição original do que por uma reedição recente, mesmo que esta venha em 180 gramas, com som remasterizado, livro com a contextualização do disco na história da música, senha para descarregar a versão digital e outras regalias que tais. Naturalmente, tudo dependerá do interesse comercial que a tecnologia evolvente das impressoras a três dimensões, para já apontadas para o segmento industrial, especialmente no sector da engenharia da medicina, venha a ter nos consumidores particulares. Mas que há pistas que apontam nesse sentido, há.

Começa a tomar forma a ideia de termos em casa algo que nos devolva este velho apego por coisas materiais que a revolução digital parecia querer fazer abandonar. É, ironia do destino, a própria revolução digital a dar-nos de bandeja um regresso ao lado material da vida. O próprio Pirate Bay, o famoso site de torrents tem agora uma categoria com a designação "Physibles". Isso mesmo. Já se podem descarregar modelos para serem "impressos" numa das novas impressoras 3D disponíveis no mercado. Um boneco como este. Ou até mesmo a famosa máscara do Guy Fawkes. Afinal, por que razão hão de os "anonymous" deste mundo entregar dinheiro à Time Warner, que detém os direitos da imagem, de cada vez que compram uma máscara do Guy Fawkes, quando a podem descarregar livremente e imprimi-la em casa?

Então e discos? No ano passado, era apenas uma brincadeira de primeiro de abril. Mas a piada na tecnologia é mesmo essa. O que no ano passado é brincadeira, no ano que vem é consumo de massas. Ou qualquer coisa assim. Entretanto, vejam algumas das hipóteses para esta tecnologia, neste artigo recente da mashable.

100 discos de 1973, n.º 40



THE FAUST TAPES
FAUST (Alemanha)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Uwe Nettelbeck
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A Polydor alemã fartou-se dos Faust ao segundo álbum, "Faust so Far" (1972), argumentando que não eram suficientemente comercializáveis. Uwe Nettelbeck, o produtor da banda, virou-se para a inglesa Virgin. Richard Branson pegou nesta estranha e difícil coleção de pedaços de gravações, sem pós-produção e dos quais nem nome se sabia na primeira edição. Foi o terceiro álbum lançado pela então incipiente Virgin (um pouco mais abaixo nesta lista encontram "Tubular Bells", a primeira). Mas o mais curioso foi o preço, 49p, o preço de um sete polegadas. O resultado foi a venda de 50 mil unidades e a obtenção do 12.º posto na tabela de vendas. De repente, havia um número significativo de ingleses a conhecerem aquela banda alemã obscura, um número bem maior do que aqueles que habitualmente frequentavam a loja de krautrock de Richard Branson, em Notting Hill. Como se lia nas notas da edição original, estes eram "os Faust ao seu nível mais pessoal e espontâneo, um olhar único aos bastidores de um grupo que os críticos europeus e britânicos aclamaram como um dos mais excitantes e mais exploratórios do mundo". Os Faust, contudo, consideravam este "Faust Tapes" como um bónus, não como o terceiro álbum, mas a verdade é que o álbum se manteve até hoje como uma obra essencial, redescoberta por sucessivas gerações, fruto do estatuto adquirido pelo próprio grupo ao longo das décadas e das várias reedições que o disco foi tendo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

100 discos de 1973, ponto de situação (41-100)

(Como tudo começou: prólogo.)

41. KLAUS SCHULZE "Cyborg" (post)
42. HENRY COW "The Henry Cow Legend" (post)
43. HERBIE HANCOCK "Head Hunters" (post)
44. LEONARD COHEN "Live Songs" (post)
45. DONOVAN "Cosmic Wheels" (post)
46. JOÃO GILBERTO "João Gilberto" (post)
47. BOB DYLAN "Pat Garrett And Billy The Kid" (post)
48. BRYAN FERRY "These Foolish Things" (post)
49. DONOVAN "Essence To Essence" (post)
50. JOHN FAHEY "After the Ball" (post)
51. SOFT MACHINE "Six" (post)
52. FRANK ZAPPA & THE MOTHERS "Over-Nite Sensation" (post)
53. KIM FOWLEY "International Heroes" (post)
54. NOVOS BAIANOS "Novos Baianos F.C." (post)
55. THE INCREDIBLE BONGO BAND "Bongo Rock" (post)
56. FELA KUTI "Afrodisiac" (post)
57. CHICO BUARQUE "Chico Canta" (post)
58. MIKE OLDFIELD "Tubular Bells" (post)
59. NEW YORK DOLLS "New York Dolls" (post)
60. T. REX "Tanx" (post)
61. BETTY DAVIS "Betty Davis" (post)
62. RAUL SEIXAS "Krig-Ha, Bandolo!" (post)
63. BRUCE SPRINGSTEEN "Greetings From Asbury Park, N.J." (post)
64. SECOS & MOLHADOS "Secos & Molhados" (post)
65. BUFFY SAINTE-MARIE "Quiet Places" (post)
66. EDU LÔBO "Edu Lôbo [aka Missa Breve]" (post)
67. GONG "Angel's Egg" (post)
68. BERT JANSCH "Moonshine" (post)
69. BRUCE SPRINGSTEEN "The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle" (post)
70. FELA KUTI "Gentleman" (post)
71. PAUL SIMON "There Goes Rhymin' Simon" (post)
72. STEVIE WONDER "Innervisions" (post)
73. YOKO ONO "Feeling the Space" (post)
74. VAN MORRISON "Hard Nose the Highway" (post)
75. RAIL BAND "Buffet Hotel de la Gare Bamako" (post)
76. JETHRO TULL "A Passion Play" (post)
77. AHEHEHINNOU VINCENT & ORCHESTRE-POLY-RYTHMO DE COTONOU DAHOMEY "Ahehehinnou Vincent & Orchestre-Poly-Rythmo De Cotonou Dahomey" (post)
78. BETWEEN "And the Waters Opened" (post)
79. THE WHO "Quadrophenia" (post)
80. AMON DÜÜL II "Vive La Trance" (post)
81. BLACK SABBATH "Sabbath Bloody Sabbath" (post)
82. JOAN BAEZ "Where Are You Now, My Son?" (post)
83. PETER HAMMILL "Chameleon in the Shadow of the Night" (post)
84. EMBRYO "We Keep On" (post)
85. POPOL VUH "Seligpreisung" (post)
86. THE ROLLING STONES "Goats Head Soup" (post)
87. CONRAD SCHNITZLER "Rot" (post)
88. LINK WRAY "Be What You Want To" (post)
89. ELVIS PRESLEY "Elvis" (post)
90. NEIL YOUNG "Time Fades Away" (post)
91. THIN LIZZY "Vagabonds of the Western World" (post)
92. LYNYRD SKYNYRD "(pronounced 'lĕh-'nérd 'skin-'nérd)" (post)
93. PLANXTY "The Well Below the Valley" (post)
94. ASH RA TEMPEL "Starring Rosi" (post)
95. LED ZEPPELIN "Houses of the Holy" (post)
96. THIRSTY MOON "You'll Never Come Back" (post)
97. HUGH MASEKELA "Introducing Hedzoleh Soundz" (post)
98. MOTHER MALLARD'S PORTABLE MASTERPIECE COMPANY "Mother Mallard's Portable Masterpiece Company" (post)
99. PAULINHO DA VIOLA "Nervos de Aço" (post)
100. ELVIS PRESLEY "Aloha from Hawaii" (post)

Hoje e amanhã

Hoje, no Teatro da Trindade, acompanhado de Samara Lubelski (violino), Keith Wood (guitarra) e John Moloney (bateria), e com preços a 20€ (2º balcão) e 25€ (plateia, 1º balcão e camarotes).
Amanhã, sabe-se lá em que registo e com quem, no aquário da ZDB, só para sócios.

100 discos de 1973, n.º 41



CYBORG
KLAUS SCHULZE (Alemanha)
Edição original: Ohr
Produtor(es): Klaus Schulze
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Passou pelos Tangerine Dream, ajudou a fundar os Ash Ra Tempel. A solo, e ao segundo álbum, este "Cyborg", gravou uma marca profunda na história da música eletrónica ambiental. Nestas quatro longas peças (cinco, na reedição de há cinco anos), Shulze constrói sucessivas camadas de drones de orgão, sobre as quais experimenta o sintetizador EMS Synthi A, então recente (e também utilizado pelos Pink Floyd em "On The Run", deste mesmo ano), dando corpo ao que então se chamou, e facilmente se entende, "kosmische musik". Se há discos que são mais potentes que alguns narcóticos, este é um dos melhores exemplos.

domingo, 11 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 42



THE HENRY COW LEGEND
HENRY COW (Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Henry Cow
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Voltamos à cena de Canterbury. Ou lá perto. Num só grupo, juntam-se Fred Frith e Chris Cutler (e ainda Tim Hodgkinson, Geoff Leigh e John Greaves), músicos enormes, então na juventude, que já apreciavam (e sabiam) pegar em diferentes instrumentos e, sem condicionalismos comerciais ou de outra espécie, lançar-se numa viagem aparentemente desgovernada e espontânea, experimentando as linguagens do rock e do jazz para definirem um som único, distinguível. "Leg End" (ou "Legend") é uma ótima ilustração para esta descrição. Não o conseguimos meter numa única prateleira da estante dos discos (ou numa única pasta no disco rígido).

sábado, 10 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 43



HEAD HUNTERS
HERBIE HANCOCK (EUA)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Herbie Hancock, Dave Rubinson
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O pianista, teclista e keytarista Herbie Hancock, um dos alicerces do segundo quinteto de Miles Davis, nos anos 60, a arriscar uma vez mais a sua carreira e a pisar, desta vez, o terreno do funk, depois das experiências anteriores de escuta mais difícil. Tanto rasgou que as quatro composições, especialmente as duas primeiras, "Chameleon" (youtube abaixo) e "Watermelon Man" ficaram na história da música norte-americana, tanto do lado do jazz, como do funk.

sexta-feira, 9 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 44



LIVE SONGS
LEONARD COHEN (Canadá)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Bob Johnston
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«Now I know that you're sitting there deep in your velvet seats and you're thinking 'Uh, he's up there saying something that he thinks about, but I'll never have to sing that song.' But I promise you friends, that you're going to be singing this song: it may not be tonight, it may not be tomorrow, but one day you'll be on your knees and I want you to know the words when the time comes. Because you're going to have to sing it to yourself, or to another, or to your brother. You're going to have to learn to sing this song.»
In "Please Don't Pass Me By (A Disgrace)"

Não é o primeiro disco ao vivo nesta lista, nem vai ser o último. "Live Songs" documenta Leonard Cohen ao vivo em vários palcos europeus, no início da década, incluindo a passagem pelo mítico festival da ilha de Wight de 1970, com "Tonight Will Be Fine". Do reportório captado para o disco fazem essencialmente parte temas de "Songs from a Room" (1969), o segundo álbum de estúdio do canadiano. Os outros são inéditos, entre os quais "Please Don't Pass Me By (A Disgrace)" (youtube abaixo), uma longa canção de 13 minutos que sob o tom ligeiro da música, daquele a que o público facilmente adere ao singalong e às palminhas, mostra o Cohen interventivo, mordaz, profundo na exploração de temas sociais e humanistas. É daqueles discos que dá vontade de aplaudir de pé no final.

quinta-feira, 8 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 45



COSMIC WHEELS
DONOVAN (Escócia)
Edição original: Epic
Produtor(es): Donovan Leitch, Mickie Most
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Era uma espécie de tentativa de regresso de Donovan ao sucesso mundial do single "Atlantis", do final dos anos 60. Donovan andava ausente neste início dos anos 70. Além do recolhimento familiar a que se impôs, os álbuns "Open Road" (1970) e "HMS Donovan" (1971), este último um disco apontado para o público infantil, falharam nas vendas. Para este regresso com "Cosmic Wheels", terá recuado numa decisão importante tomada em 1969, a de cortar relações profissionais com Mickie Most, produtor da maior parte dos discos de Donovan até à altura. Entretanto, o glam fazia sucesso noutros grupos e artistas que reclamavam Donovan como uma das principais influências. "Cosmic Wheels", o 10º álbum de estúdio de Donovan, é produzido neste contexto algo nervoso, repartido por faixas elétricas, a apontar para o glam ou para o hard rock, mas que deixavam algo desejar, e acústicas, essas realmente muito mais interessantes. Não garantiu unanimidade crítica, mas até vendeu bem (top 20 no Reino Unido e nos EUA). Em todo o caso, Donovan não voltaria a conseguir ter a influência e o sucesso dos anos 60. "I Like You" (youtube abaixo) foi o seu último single a entrar nas tabelas de vendas.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Este vosso tasco amarelo faz rebentar o Chrome?

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100 discos de 1973, n.º 46



JOÃO GILBERTO
JOÃO GILBERTO (Brasil)
Edição original: Polydor
Produtor(es): Rachel Elkind
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Há, entre as muitas razões que poderíamos encontrar para voltar a ouvir este segundo homónimo do João Gilberto, uma que eu destaco em particular. Oiçam os arranjos simples (mas nunca pobres) e reparem na contenção (e na clareza) que Gilberto e o percussionista nova-iorquino Sonny Carr imprimem às canções deste disco. Confrontem isto com a tendência que, hoje, os artistas, os arranjadores ou os misturadores finais têm, de uma forma geral, para saturar a música de instrumentos que nada acrescentam e de efeitos que só estão lá para encher e, em última instância, para rapidamente fartar os nossos ouvidos. Talvez por esta razão tenhamos aqui um disco intemporal, que sabe bem ouvir com atenção -- quando foi a última vez que ouvimos um disco com atenção? -- no conforto do lar. Pormenor curioso: o, ou melhor, a engenheira de som que gravou Gilberto e Carr, num estúdio de Nova Jérsei, foi... Wendy Carlos, a pioneira dos Moogs. 47º da lista dos melhores discos brasileiros da Rolling Stone Brasil.

terça-feira, 6 de março de 2012

Uma pequena nota sobre o preço dos bilhetes e a carreira de um artista

A propósito dos bilhetes para o concerto do Bon Iver, em troca de palavras com um amigo, dizia ele:
"É impressionante como um gajo às vezes apenas com um disco já consegue ter bilhetes a esse valor, é tudo muito rápido hoje em dia."
Eu acrescento que mais difícil hoje é acontecer o contrário, ou seja, um artista ao quarto ou quinto disco conseguir ter bilhetes a esse valor.

Faz isto ligação direta com aquela constatação por várias vezes trazida às discussões pelos responsáveis da indústria discográfica e não só, de que hoje é impensável fazer-se carreiras. O mercado da música valoriza cada vez mais a novidade e reage aos fenómenos recentes, dispensando o prolongamento das carreiras. Esse caminho, aparentemente, funciona apenas para a velha guarda, para o Bruce Springsteen, para os U2, para a Madonna, o Paul Simon ou os Pearl Jam, cada um na sua dimensão. Hoje em dia, o sucesso é para acontecer logo ao primeiro ou segundo álbum. Poucos serão os que conseguirão ir além disso. A Lady Gaga vai, provavelmente, ser esquecida tão rapidamente como foi a Rihanna.

Bon Iver nos coliseus

Dias 24 e 25 de Julho, no Coliseu dos Recreios de Lisboa e no Coliseu do Porto, respetivamente. Os bilhetes para a plateia em pé, em ambos as datas, custam 30 euros e estão á venda a partir de sexta-feira. Querem apostar que vão esgotar num instante?

Sentado e fechado

O cartaz do Festival para Gente Sentada (24 e 25 de março próximos) está fechado. Aos já anunciados Low (24), Tindersticks e Thomas Belhom (25), juntam-se agora os portugueses Aquaparque, a Jigsaw (ambos na primeira noite) e The Telegram (segunda noite).

100 discos de 1973, n.º 47



PAT GARRETT AND BILLY THE KID
BOB DYLAN (EUA)
Edição original: Columbia
Produtor(es): Gordon Carroll
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Este ainda é o Bob Dylan de que me atrevo a falar. O meu Bob Dylan acabou -- com alguma dose eventualmente generosa de preconceito, admito -- lá por volta do "Blood on the Tracks" (1975). Em todo o caso, este Dylan é naturalmente diferente de todos os outros, na medida em que é uma banda sonora de um filme, coisa que ele nunca tinha experimentado até à altura. O filme era "Pat Garrett and Billy the Kid", de Sam Peckinpah, onde o próprio músico chegou a desempenhar um papel. Como a maior parte das bandas sonoras, tem diferentes variações para um mesmo tema, neste caso "Billy" (youtube abaixo). Pelo meio, encontra-se também, pela primeira vez em disco, aquela que é provavelmente a canção de Dylan mais tocada por outros, "Knockin' on Heaven's Door". (Não, não me façam lembrar o constrangimento que sentia de cada vez que os meus colegas de escola achavam que era um original dos Guns'n'argh'Roses.)

segunda-feira, 5 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 48



THESE FOOLISH THINGS
BRYAN FERRY (Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Bryan Ferry, John Porter, John Punter
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Os Roxy Music estavam no auge mas Bryan Ferry aventurava-se já em nome próprio (ainda que com o pessoal da banda, à exceção de Andy Mackay e Brian Eno). É um disco de covers, mas um dos melhores discos de covers de sempre. O formato das versões não é, aliás, estranho para o cantor. Repeti-lo-ia no seguinte, "Another Time, Another Place" (1974), no terceiro, "Let's Stick Together" (1976), em "Taxi" (1993), "As Time Goes By" (1999), "Frantic" (2002) e "Dylanesque" (2007). Mesmo nos outros discos, é frequente encontrar versões e adaptações de temas de outros em convivência com os seus. Curiosamente, "These Foolish Things" saiu apenas duas semanas antes do que "Pin Ups", outro álbum de covers, este de outra figura proeminente do glam... David Bowie.

domingo, 4 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 49



ESSENCE TO ESSENCE
DONOVAN (Escócia)
Edição original: Epic
Produtor(es): Donovan, Andrew Loog Oldham
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É ideia mais ou menos estabelecida de que, em 1973, Donovan Leitch já tinha entrado na fase descendente da sua carreira. Lançou dois álbuns, "Cosmic Wheels", mais glam (esperem-no nesta lista alguns furos acima), e este "Essence to Essence", uma espécie de reencontro com formas de compor e de arranjar do passado, que não teve, apesar disso, grande sucesso comercial. Na produção do disco teve a ajuda de Andrew Loog Oldham, o homem sem o qual talvez não soubessemos hoje quem são ou foram os... Rolling Stones.

sábado, 3 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 50



AFTER THE BALL
JOHN FAHEY (EUA)
Edição original: Reprise
Produtor(es): John Fahey, Denny Bruce
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Segundo e último álbum pela "major" Reprise, "After the Ball" apresenta Fahey numa curiosa (e arriscada) aventura pelos terrenos mais acessíveis aos ouvidos do grande público. Tal como no anterior disco para a Reprise, "Of Rivers and Religion", há aqui muito dixieland, com Fahey acompanhado por uma extensa equipa de músicos de sessão (alguns dos quais já tinham trabalhado no disco anterior), há humor em todo o lado (a começar na capa) e, claro, uma nostalgia pelos anos 30 que não colheu frutos nas lojas. Depois disto, Fahey retornaria à sua editora Takoma, com "Fare Forward Voyagers (Soldier's Choice)", que vai também aparecer nesta lista.

Beverly by John Fahey on Grooveshark

sexta-feira, 2 de março de 2012

100 discos de 1973, n.º 51



SIX
SOFT MACHINE (Inglaterra)
Edição original: CBS
Produtor(es): Soft Machine
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Os Soft Machine da cena de Canterbury já não eram bem, por esta altura, os Soft Machine da cena de Canterbury, os Soft Machine da chanfradice sofisticada, do rock trabalhado à imagem do jazz mais livre, da paternidade do prog. Robert Wyatt já tinha saído há muito, Kevin Ayers ainda há mais tempo (esperem por um disco dele nesta lista), Daevid Allen nem se fala (esperem também por mais Gong por aqui). Karl Jenkins, ex-Nucleus, trazia o oboé e composições mais convencionais, mais estruturadas, mais próximas do jazz de fusão estabelecido (o Melody Maker chegou a consagrar este disco como o melhor de jazz neste ano). Em resumo, as rédeas já não estavam tão soltas como nos primeiros discos, mas "Six" não deixa por isso de ser um trabalho notável e ambicioso (já o mesmo não se dirá de "Seven", também saído em 1973, mas isso é a opinião deste escriba).

quinta-feira, 1 de março de 2012

Soundway oferece um tema de Batida

Já aqui se falou por mais do que uma vez da edição internacional do projeto Batida pela Soundway. A data de lançamento aproxima-se -- 26 de Março (foi adiado uma semana) -- e a editora londrina oferece hoje um dos temas, "Tirei o Chapéu":

Dead Can Dance: o concerto de Outubro está...

Facto 1: A 12 de Maio do ano passado, Brendan Perry anunciou que iria gravar um novo álbum de originais de Dead Can Dance com Lisa Gerrard, esperando tê-lo pronto no verão que se aproxima, para depois embarcarem numa digressão mundial com a duração de dois meses. O anúncio foi feito há 294 dias.

Facto 2: Ontem, o site da Blitz, citando o site oficial dos Dead Can Dance, dava a notícia da vinda a Portugal do duo, para um concerto na Casa da Música, no Porto, a 24 de Outubro. Daqui a 237 dias, portanto.

Facto 3: Os bilhetes foram hoje postos à venda, às 10h15 da manhã. A 42 euros. Quarenta e dois euros. Pouco menos de metade do preço do passe para o Primavera Sound do Porto. O preço de um bilhete de avião de ida e volta a Barcelona, na mesma data. Um décimo do salário mínimo nacional líquido.

Facto 4: A sala Suggia da Casa da Música tem perto de 1100 lugares. Mais precisamente, 1095, se contarmos as cadeirinhas que aparecem nesta página de aquisição de bilhetes.

Facto 5: Os bilhetes para o concerto de Dead Can Dance a 24 de Outubro, na Casa da Música, estão... esgotados.

100 discos de 1973, n.º 52



OVER-NITE SENSATION
FRANK ZAPPA & THE MOTHERS (EUA)
Edição original: DiscReet
Produtor(es): Frank Zappa
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Eis mais uma figura extraordinária da música norte-americana nesta lista: Frank Vincent Zappa. "Over-Nite Sensation" foi gravado cerca de um ano depois do famoso acidente de Londres, em que um elemento do público empurrou Zappa para o fosso da orquestra e para uma morte que parecia certa. Recuperado das pernas, mas não inteiramente da laringe (o registo vocal alterou-se consideravalmente), Zappa relançou a sua carreira com uma nova editora, a DiscReet, e este disco. Foi o segundo disco de ouro nos EUA para Zappa.