terça-feira, 14 de outubro de 2003

Por um punhado de espectadores ou Western Spagheti à moda de Matosinhos

Diga o que se disser sobre o estado da música portuguesa, a maior das barreiras que as novas bandas encontram por cá é a dificuldade de exposição. O concerto dos Fat Freddy, ontem no Santiago Alquimista, é disso paradigmático. Tirando seis ou sete convidados ligados à editora, estava ontem no Alquimista não mais do que meia-dúzia de espectadores para ver a banda de Matosinhos fazer o lançamento do seu álbum de estreia, "Fanfarras de Ópio". Pode-se dizer que era uma segunda-feira, é certo. Pode-se dizer que era uma banda do Norte, é certo. Pode-se dizer mil e uma coisas, mas a verdade é que nem imprensa, nem aqueles que normalmente se indignam publicamente perante o estado das coisas, marcaram presença ontem. Aqueles que, porventura, terão uma obrigação moral de mexer com as coisas, de divulgar, de fazer crer aos outros que se fazem coisas bastante interessantes por cá, não se viram no Alquimista. Parece que acaba por ser melhor para uma banda apresentar-se em showcases sem condições nas lojas de uma conhecida cadeia francesa de retalho de discos do que fazer concertos a sério, em locais com óptimas condições, como é o caso.
Os três Fat Freddy não deixaram, no entanto, abater-se e proporcionaram ao seu reduzido público uma grande noite. Numa mistela de surf-rock instrumental, paso dobles, programações e imagens hilariantes (a homenagem ao José Cid é um must), Pepito e Cª mostraram uma vez mais que fazem, ainda que em segredo apenas conhecido por uma elite privilegiada, uma dos melhores espectáculos que, de vez em quando, se podem assistir em palcos portugueses. A atitude rock'n'rolleira (já é marca do grupo a parte em que o contrabaixista se coloca em equilíbrio sobre o seu instrumento, enquanto violentamente ataca as notas de um dos "Batman Themes") e o humor completamente avariado do guitarrista Pepito dão cabo de qualquer conceito de normalidade com que se possa esperar, à partida, de um concerto dos Fat Freddy. Único problema de ontem: as mudanças de imagens e sons que acompanhavam os três músicos em palco. Muito lentas e atrapalhadas, por vezes. Mas, de resto, fica gravado na memória mais um inesquecível concerto.

(E eu juro que esgano o próximo que me aparecer à frente a dizer que não surgem bandas interessantes em Portugal, que não temos capacidade de ter nomes conhecidos lá fora para além dos habituais. Eu juro que esgano.)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários antigos, da haloscan/echo, desapareceram. Estão por isso de regresso estes comentários do blogger/google.