segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Como diz que disse?

Ontem, o meu caro amigo Luís Pinheiro de Almeida, naquela que deverá ter sido, infelizmente, a derradeira edição do "Mensageiro da Moita", programa de rádio da Voxx que vinha a fazer com Pedro Gonçalves desde há mais de dois anos, dirigiu algumas críticas a alguma imprensa musical portuguesa, designadamente aos suplementos semanais do Público e do DN, relativamente aos critérios editoriais destes. No meio da barafunda que é própria do programa -- e que vai seguramente deixar algumas saudades -- LPA levantou algumas questões relativamente à pertinência de suplementos como estes no contexto da imprensa portuguesa. Concretizando e usando algumas das palavras proferidas por LPA, que sentido faz ter um Y que aborda temas que ninguém conhece? Mais, devem existir suplementos que abordam temas menos acessíveis quando não existem outros que sirvam assuntos mais generalistas? Ou melhor, o leitor de jornais e publicações tem em Portugal a hipótese de ler aquilo que mais sirva aos seus gostos e capacidades melómanas?
As questões lançadas por LPA podem ser pertinentes, mas o mesmo já não se pode dizer das respostas implícitas que o mesmo lhe procurou dar. Isto é, o Y não é o único suplemento de música. O DN+, embora mais acessível, também não. E ambos têm público fiel. Não é preciso estar-se mandatado para defender estas publicações para se perceber que nem o Y, nem o DN+ se dirigem unica e exclusivamente aos umbigos dos jornalistas que lá escrevem, como o próprio LPA quis deixar entender. Se não, e a mero título de exemplo, pegue-se na quantidade de hypes que estas publicações conseguiram alavancar sozinhas nestes últimos anos. Sozinhas, porque estes assuntos não encontram eco, como sabemos, no suporte rádio ou tv. Quem não conhece hoje os Gotan Project? Quem não sabe hoje o que é esse malfadado revivalismo que dá pelo nome de electroclash? Se recuarmos um pouco mais no tempo, onde surgiu o fenómeno The Gift?
LPA até poderia ter razão quando observa que "o mal é não existirem outras publicações que abordem temas menos acessíveis". Que coloque, como ontem dizia, os Oasis ou o Bruce Springsteen na capa. Mas, perante o actual panorama onde assenta a imprensa portuguesa, que tem tanto de inusitado, numa altura de crise como esta, quanto prolífero, as razões de LPA caem por terra. Prolífero, porque há actualemente publicações para todos os gostos, interesses e exigências. Do mainstream moderado e sincrético do Blitz ao rock'n'roll da Mondo Bizarre, do jazz da All Jazz ao rock comercial e teenager da Rocksound, da música de dança da Dance Music à música portuguesa da LusoBeat. Já para não falar de diversos sites portugueses (Disco Digital, A Puta da Subjectividade ou Bodyspace, para citar alguns). Já para não falar da facilidade com que qualquer puto de hoje pode aceder a publicações estrangeiras. Falta de oferta? Como diz que disse?

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