Um arranque em casa
Nick Cave sente-se em casa no Coliseu dos Recreios. Sabe dirigir-se aos camarotes cercanos do palco, sabe dirigir-se à plateia, enfim, apresenta-se descontraído. E o espectáculo desta noite serviu de arranque para a digressão de apresentação de "Dig, Lazarus, Dig!!!" por essa Europa fora. O Coliseu dos Recreios serviu assim de sala para o ensaio geral da digressão. Os novos temas requerem ainda alguma rodagem. "Dig, Lazarus, Dig!!!" ou "Today's Lesson" podem dar muito mais do que deram esta noite. Não, não acredito que seja por caírem nessa categorização meio depreciativa do "pub rock". Há vários temas de "pub rock" na obra dos Bad Seeds que foram ganhando cada vez mais força ao vivo e são hoje momentos altos de qualquer concerto, como é o caso de "Deanna", por exemplo.
Os dois longos encores vieram ainda reforçar mais esta ideia de descontracção do grupo em palco. "What do you want to hear now?", repetiu por várias vezes Nick Cave. O grupo conferenciava e daí a pouco voltava com um tema antigo ou novo.
Versões quase irreconhecíveis
Já sei que a versão do "Your Funeral My Trial" abalou os sentimentos de alguns. Mas eu adorei. O violino do Warren Ellis ajudou a transformar o tema numa bela balada irlandesa. Outro dos temas quase irreconhecíveis, com um groove jazzístico no baixo, foi "Stagger Lee".
Wanted Man
Sexta faixa de "The Firstborn is Dead", segundo álbum do grupo. Talvez seja o meu tema favorito dos Bad Seeds. Resume na perfeição uma característica frequente no reportório: a criação de momentos de tensão, sem que necessariamente expludam (ok, ao vivo, explodem e é bom). Foi tocado, algures no primeiro encore. Se o concerto tivesse acabado aqui, poderia ter sido quase perfeito.
Warren Ellis
Não é ele que preenche o lugar deixado vago por Blixa Bargeld. No capítulo instrumental, esse lugar é capaz de ser preenchido pelo próprio Nick Cave, que desde os Grinderman abraçou a guitarra para fazer, apenas, barulho (e o barulho é necessário, claro). Agora, com Warren Ellis, notam-se de forma mais evidente (e a disposição em palco também ajuda a criar essa imagem) as duas forças que entram em disputa num concerto dos Bad Seeds. De um lado, Mick Harvey, urbano, compositor clássico (dir-se-ia, por outro lado, conservador) de canções. Do outro, Warren Ellis, o velho fiddler enraizado na terra, elemento de distorção nas regras mais convencionais, passe o exagero, ditadas pelo outro. Até na percussão se nota algo semelhante entre o suíço Thomas Wydler e norte-americano Jim Sclavunos (agora também baterista com maior frequência). Disto tudo, resultam os Bad Seeds que já conhecemos.
Canções de igreja
Felizmente, houve poucas. Mas continua a fazer-me confusão como é que todo um Coliseu se rende, com coros e outras manifestações diversas de adoração a temas como "Into My Arms". É mau demais para entrar num alinhamento de um concerto dos Bad Seeds, quanto mais ser seguido daquela forma pelo público. Não entendo, mesmo. Há grupos de igreja que fazem aquilo e não são adorados por mais do que meia dúzia de fiéis...
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