segunda-feira, 14 de abril de 2008

Maldoror: a entrevista #6


(Ilustração de Isabel Lhano que acompanha a edição em CD de "Maldoror")

Continuação da entrevista a Adolfo Luxúria Canibal, a propósito do espectáculo "Maldoror" e de outros assuntos. A digressão de apresentação de "Maldoror" está já na recta final, com os últimos concertos, que acontecerão em Lisboa (Culturgest, dia 23 de Abril) e em Braga (Theatro Circo, dia 3 de Maio):

6. Para este espectáculo, e ao contrário do que aconteceu em "Müller...", os Mão Morta contaram com a intervenção do encenador António Durães. Como decorreu a integração e quais são os aspectos mais visíveis do seu trabalho?

ALC: O mais importante do trabalho de António Durães não é propriamente visível mas sentido! Quer dizer, nós no "Müller..." tínhamos uma narrativa, a sequenciação dos poemas de Heiner Müller compunha uma narrativa e a progressão do espectáculo acontecia à boleia dessa narrativa. A encenação limitava-se a dar visualidade estética à narrativa - e por isso é que me atrevi a fazê-la, mesmo sem ter aptidões particulares para isso! No caso do "Maldoror" não existe qualquer narrativa nem poderia existir, sob pena de traição ao livro - existem várias narrativas, esboços e farrapos de narrativas! A progressão no livro, na ausência de narrativa, acontece pela própria escrita, por truques literários - no caso do espectáculo, a sua progressão tinha que acontecer por truques cénicos! Isso implica um conhecimento de encenação que ultrapassa de longe as nossas competências e é esse o principal trabalho de António Durães enquanto encenador, dar progressão ao espectáculo... O recurso ao vídeo faz parte dos truques cénicos utilizados por António Durães para imprimir essa progressão, e talvez seja aquele que é mais imediatamente visível, mas a forma final acaba por ser de Nuno Tudela - como a forma final da cenografia é de Pedro Tudela e a dos figurinos de Cláudia Ribeiro, embora todos estejam na dependência do pretendido pelo encenador para fazer avançar o espectáculo.
Quanto à sua integração no trabalho dos Mão Morta, foi perfeita! Há que dizer que já o conhecíamos (entra mesmo como figurante no clip de "Sangue no Asfalto"!...) e que gostamos do seu trabalho, tanto enquanto actor como enquanto encenador - e por isso o convidámos! -, e que portanto sentíamo-nos confiantes para nos entregar nas suas mãos. Por outro lado, o António Durães teve o cuidado de vir ao encontro do que achava que seria a nossa estética e do que pretendíamos fazer com "Os Cantos...". E quando as coisas se passam assim a integração é sempre perfeita!

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