quarta-feira, 1 de outubro de 2003

Histórias da Musicnet. Parte 2: A internet?

Recuemos cinco anos no tempo. Em 1998, já toda a gente falava da internet. Para uns, era um milagre que justificava desmesurados investimentos financeiros. Para outros, era o descalabro moral da civilização moderna, era o sexo, era a pirataria, era o fim das relações inter-pessoais em favor das frias salas de chat. Quase não havia o meio termo.
Não sei exactamente porque razão, mas no meio musical português, quase todos os seus agentes encaixavam na última categoria. Era provavelmente pelos receios da pirataria, embora na altura a coisa não tivesse assumido os contornos que depois veio a ganhar com o Napster, o AudioGalaxy, ou mais recentemente, o Kazaa ou o Soulseek. De qualquer das formas, em 1998, a Musicnet era então vista pela generalidade das editoras, das promotoras de concertos e até pelos próprios músicos, como um projecto feito por maluquinhos, dirigido a maluquinhos. E, cuidado, maluquinhos perigosos! Havia até, para ilustrar com um exemplo, uma editora internacional bem conhecida -- a 4AD -- que dava ordens expressas ao seu distribuidor nacional -- a MVM -- para não enviar promos seus aos maluquinhos dos sites de música, mesmo que fossem para estes poderem publicar meras críticas aos discos...
Aos poucos e poucos, as coisas foram mudando. Pouco tempo depois, os maluquinhos dos sites -- começaram a aparecer outros, com posições institucionais mais fortes -- já eram convidados para irem a esta ou aquela apresentação ou para cobrirem este ou aquele concerto. Já havia quem sugerisse que se colocasse um excerto de um mp3 -- ou até mesmo o mp3 inteiro -- do disco daquela nova banda que estava a aparecer e à qual convinha dar a maior visibilidade possível. Já nos imploravam -- é a palavra certa -- para fazer aquela entrevista com aquele artista. Um conhecido chefe de promotoção e marketing já propunha que lhe dessemos destaque privilegiado e permanente, em troca de material multimédia a que poucos tinham acesso.
De repente, os grandes agentes do meio descobriam que tinham nos meios online uma via mais barata e quiçá mais eficiente de de fazerem a promoção das suas mercadorias e os maluquinhos dos sites já não tinham que repetir a mesma lenga-lenga de sempre quando com eles falavam ao telefone. Sim, telefone, pois na altura ainda eram poucos aqueles que tinham mail...
Em 1999, um ano depois, o panorama era já, portanto, bastante diferente. No entanto, há coisas que nunca mudam: os Metallica, no T99, impediam a acreditação para o seu concerto de fotógrafos de orgãos online... (haverá banda mais ciberó-foba à face da Terra?)

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