O espetáculo íntimo de ontem -- para pouco mais de 150 pessoas no aquário da ZDB, apenas sócios da galeria -- foi dividido em duas partes. Na primeira, a banda atacou números do próximo álbum, que já vão num estado além do bruto, ainda que ali faltem, esperando-se que seja essa a ideia, as vozes. O mais provável é que não voltemos a ter um álbum novo de Sonic Youth, mas a avaliar por esta amostra de ontem, aquilo que habitualmente esperávamos deles, ou pelo menos naquelas composições creditadas a Moore, vamos facilmente encontrar neste tal de "Chelsea Light Moving". Na segunda parte, para a qual Moore havia prometido "oldies", a banda pôs-se a desfilar tema de "Psychic Hearts", disco que já leva com quase 20 anos em cima: "Feathers", "Cindy (Rotten Tanx)", "Pretty Bad", "See-Through Playmate", "Ono Soul" (uma versão magistralmente intercalada com a torrente de guitarras distorcidas e em feedback a que já estávamos habituados nos SY, e a que a própria banda chamava "hurricane"), "Staring Statues". E ainda houve muito mais, de outros discos. Não houve guitarra acústica, como os últimos álbuns a solo de Moore davam a entender que pudesse acontecer. Ao longo de toda a noite, Thurston Moore empunhou sempre a sua jazzmaster, em duelo com a distorção alta da guitarra de Keith Wood. O violino de Samara Lubelski encaixou-se sempre muito bem e a bateria de John Moloney esteve, na maior parte das ocasiões, escondida atrás do barulho das guitarras e deu até para sentir vontade de ali ter o Steve Shelley. Foi talvez o único defeito a apontar à noite de ontem.
Descobri esta semana que há uma corrente na arquitetura ocidental do século XX designada por "brutalismo", o que me oferece o pretexto científico ideal para terminar com uma frase outrora banal nestas coisas da música: foi BRUTAL.
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