Mas e se todas as expectativas do mundo com que uma pessoa vai são desde logo ultrapassadas, a uma velocidade seguramente interdita por lei, logo aos primeiros minutos do concerto? (Sim, é de um concerto que se fala. O concertaço dos Dirty Three, esta noite no Lux.)
Jim White, o baterista, e Mick Turner, o guitarrista, são peças imprescindíveis neste jogo de cadências e explosões que os Dirty Three fazem colidir em palco, disso não se tenha qualquer dúvida, mas é sobre o violino de Warren Ellis que acaba por recair, na maior parte das vezes, a atenção. Ele não fez um pacto com o diabo. Ele é mesmo o diabo. Não que seja o mais virtuoso dos violinistas. Em rigor, ele até nem é o violinista clássico (como o Andrew Bird, para citar um exemplo com menos de 48 horas passadas, o é, mesmo apesar das referências folk dos Squirrel Nut Zippers). Ellis é o "fiddler" que anima uma tasca barulhenta algures no meio do deserto australiano, acompanhado de bouzukis num numa aldeia grega, musicando lendas de lobos algures na Europa de Leste. E ainda tem a lata de tirar feedbacks do instrumento.
O concerto desta noite conseguiu ser, por diversos momentos, e não se tenha pejo em usar a palavra quando ela deve ser efectivamente usada, epifânico. Foi a celebração plena daquilo que a música consegue por vezes produzir ao vivo: um rapto violento da consciência do ouvinte (e tão bem que sabe fechar os olhos e facilitar essa captura) para uma terra de ninguém, onde se experimentam sensações que só algumas drogas poderão produzir. O regresso do cativeiro é que pode não ser fácil. É que se sente saudades.
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