sábado, 30 de junho de 2007

Ainda Ali Farka Touré e o Mali

Há alturas em que o olhar, o escutar, o sentir, todas as nossas atenções se dispersam. E isso é bom. Há outros momentos, porém, em que todas essas atenções são dirigidas para um único foco, como um raio laser que concentra energia. E isso é bom, também, mas pode ser perigoso. Uns chamam-lhe teimosia, obsessão, obstinação, pancada, distúrbio maníaco-compulsivo, e por aí adiante. Outros chamam-lhe somente amor.

Há dois discos que têm tocado muito por aqui: "Segu", de Bassekou Kouyaté & Ngoni Ba, e o álbum homónimo de Vieux Farka Touré. O que há aqui em comum? Mali e Ali Farka Touré.

O primeiro, Bassekou Kouyaté, esteve na banda que Ali Farka trouxe a Lisboa há dois anos, na primeira edição do África Festival, realizada no Anfiteatro Keil do Amaral. É considerado o melhor intérprete da ngoni, uma guitarra tradicional maliana, que ontem foi também o foco das atenções no grupo com que Bassekou se apresentou, em Belém, para mais uma edição do "África".

O segundo, filho de Ali Farka, começou nas percussões, mas o pai, conhecendo este as dificuldades de uma profissão de músico, proibiu-o de seguir essa paixão. Ali Farka queria-o na carreira militar, mas Vieux Farka não desistiu da música e passou a tocar guitarra às escondidas do seu progenitor. Toumani Diabaté, o grande mestre da kora e discípulo de Ali Farka (com o qual também tocou no mítico concerto do anfiteatro Keil do Amaral), reconheceu as capacidades de Vieux e intercedeu junto do pai deste. Com Diabaté a servir de tutor, veio a autorização. Veio depois a gravação deste álbum de estreia, onde participam Diabaté e o próprio Ali Farka, num claro sinal de passagem de testemunho.

Tal como nos blues do delta do Mississipi, estes blues das margens do Níger, prováveis parentes ancestrais daqueles, usam as repetições e as pentatónicas para chegar a uma mesma expressão intrinsecamente genuína e orgânica, que faz dançar o corpo e a mente (e não é raro que esta sue mais que o primeiro), que faz chorar e rasgar um sorriso ao mesmo tempo, que faz sentir algo que não conseguimos explicar a alguém que não oiça música. Como aquele momento do concerto de ontem de Bassekou Kouyaté, num tema bastante calmo dedicado especialmente à memória de Ali Farka Touré.

No próximo Inverno, vou a Bamako, Niafunké e, se tudo correr bem, a Timbuktu, para o festival do deserto. Seja por teimosia ou por amor (se é que um não é causa para o efeito do outro e vice-versa).

myspace.com/bassekoukouyate
myspace.com/vieuxfarkatoure

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Dez discos do semestre


Electrelane
"No Shouts No Calls"

(Too Pure)


Grinderman
"Grinderman"

(Mute)


LCD Soundsystem
"Sound of Silver"

(Capitol)


The National
"Boxer"

(Beggars Banquet)


Panda Bear
"Person Pitch"

(Paw Tracks)


Shellac
"Excellent Italian Greyhound"

(Touch & Go)


Tomahawk
"Anonymous"

(Ipecac)


Von Südenfed
"Tromatic Reflexxions"

(Domino)


White Stripes
"Icky Thump"

(Warner)


Young Gods
"Super Ready/Fragmenté"

(PIAS)

Charadas #363

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O SecondFest

Nos anos 90, quando a world wide web dava, por assim dizer, os seus primeiros passos, era muito frequente ouvir-se os termos "virtual", "ciberespaço", "cibernautas" e outros que tais, na maior parte das vezes proferidos por pessoas que ainda não estavam, como também se dizia, "ligadas". Tão frequente era o uso deste vocabulário que até aborrecia. E a ideia de que havia um "mundo virtual" frequentado pelos que estavam "ligados" por oposição ao "mundo real" onde tanto esses como os outros viviam é também uma imagem dessa década, igualmente aborrecida depois de ser explorada até à exaustão.
Estamos em 2007 e um dos fenómenos de maior sucesso na internet, que leva ao extremo aquele conceito, chegando mesmo a cúmulos impensáveis naqueles tempos, é o projecto Second Life. Milhões de utilizadores em todo o mundo vivem, de facto, uma vida paralela. Compram terrenos... virtuais, assumem empregos... virtuais, socializam, enfim, replicam no processamento dos servidores do Second Life milhentas coisas que se fazem do outro lado, no mundo... real. Já todos conhecerão este fenómeno -- e outros de teor semelhante -- pelo que não vale a pena perder muitas palavras na descrição. O que interessa, porém, é dar conta de uma das mais recentes novidades do Second Life. Também já há festivais de música por lá. E o primeiro começa já amanhã. Ao vivo e em 3D, os habitantes do Second Life vão poder assistir, ao longo de três dias, a concertos e sessões de giradiscanço de gente como Pet Shop Boys, Coldcut, Groove Armada, Gilles Petterson, Cinematic Orchestra, Tiga, Hot Chip, Simian Mobile Disco, The Knife, Dub Pistols, entre muitos outros. E, tal como num festival do... mundo real, vão haver diferentes palcos, tendas, etc. Está tudo aqui, no minisite criado pelo Guardian, um dos patrocinadores do evento.
A loucura dos festivais chega também ao mundo... virtual.

A 22 dias de Sines



GOGOL BORDELLO "Start Wearing Purple"

Último concerto do castelo de Sines, sábado, dia 28 de Julho. Com fogo de artifício e tudo.

A "reunião" que eu mais gostaria de ver por cá...

...e não contando com as que já vêm (Jesus and Mary Chain e Mudhoney, por exemplo):



SHELLAC. Ou SHELLAC OF NORTH AMERICA, se quiserem. Steve Albini, Bob Weston e Todd Trainer. Não é exactamente uma "reunião", mas a distância que vai desde "1000 Hurts" (2000) e este novíssimo e magnífico "Excelent Italian Greyhound" quase remete os Shellac para a categoria das bandas regressadas. E se passassem por cá, não seria óptimo?

Charadas #362

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Charadas #361



E começa assim mais uma série das charadas (a sexta? a sétima?). O formato é o original, ou seja, a ideia é descobrir o nome de um artista ou de uma banda que seja sugerido pelas imagens apresentadas. A série acaba quando alguém chegar aos dez pontos.

Breves

1. Começa hoje o MED de Loulé! Mais informações em www.festivalmed.com.pt.

2. Sábado há "pic-nic multicultural" nas Janelas Verdes, a partir das 18h. Vai haver Fat Freddy e DJ Ride Quarteto ao vivo, DJs, mercado justo, etc. A organização cabe à Crew Hassan. Mais informação em www.crewhassan.org/newsletters/picnic.

3. Marky Ramone vai voltar a Portugal este ano, conforme já aqui se tinha dito. E vai ser já no próximo dia 15 de Julho, dia em que comemora 51 anos, que o baterista vai estar com o seu grupo no "Hey Ho... Let's Go Summer Festival", no Cine-Teatro de Corroios. Também do cartaz fazem parte os norte-americanos The Queers e os portugueses Capitão Fantasma, Mata-Ratos, Decreto 77, Grankapo e Bless the Oggs. Os bilhetes custam €19, se comprados antecipadamente, ou mais três euros, se comprados no próprio dia.

4. Hoje há Bypass no Music Box, no Cais do Sodré, com primeira parte de Zorra. A entrada custa €6 e o início das hostilidades está marcado para as 22h30.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

E rock, não há?

Ele é o MED, ele é o África Festival, ele é Sines, ele é os Tinariwen, ele é os Taraf de Haïdouks, ele é o Rachid Taha... Então e o rock? Desapareceu do fundo amarelo?
Mas porque é que o rock não pode também ser tudo isto, quando isto até faz mexer o corpo, tal como apontava o significado original de "rock", dançar, e "roll", sexo, se até há as guitarras eléctricas dos Tinariwen a meterem vergonha a muito grupo de blues rock, se até há as atitudes, hum, rock'n'rolleiras como aquela que o Rachid Taha protagonizou há poucos meses em Helsínquia...
Fundamentalismos como este é que não, se faz favor.

A 25 dias de Sines



Rachid Taha "Barra Barra" (ao vivo)

Rachid Taha pegou no raï das suas origens e travestiu-o com as músicas do ocidente. Espera-se que na noite de dia 27, no castelo, se possa ouvir este hipnotizante "Barra Barra", que já foi utilizado num filme de Riddley Scott, "Cercados / Blackhawk Down". Ou então a magnífica versão "Rock El Casbah", que pode também ser aqui vista, com a companhia especial de Mick Jones. E, já agora, aproveite-se também para ver e ouvir este magnífico Ya Rayah.

Músicas do mundo. Muitas.

Vêm aí dias de muita música, de muitos concertos, de muita festa. A dúvida fica a residir entre Loulé e Lisboa.

Já nesta quarta-feira, começa mais uma edição do Festival MED, na localidade algarvia, com um cartaz que o volta a colocar no topo dos eventos anuais dedicados às músicas do mundo. O primeiro dia conta com duas vozes femininas, a da turca Aynur e a da portuguesa Sara Tavares. Na quinta-feira, mais uma mulher, a incontornável Natacha Atlas (lembram-se dos Transglobal Underground?), e o francês Sergent Garcia (quem gosta do Manu Chao não deverá perder), numa noite que termina com o senhor Bucovina Club nos pratos, DJ Shantel. Para sexta-feira, ficam reservados dois dos nomes que mais pesam no cartaz do MED: a família cigana Taraf de Haïdouks (na foto), da Roménia, e os tuaregues Tinariwen, do Mali, que também passarão por Lisboa. A abrir a noite de sexta, vai estar o argelino emigrado em Paris Akli-D. No sábado, há que contar com a presença dos espanhóis L'Ham de Foc, o germano-italiano Vinicio Capossela e ainda os Yerba Buena, vindos de Nova Iorque. O MED acaba no domingo com os espanhóis Chambao e os argentinos Bajofondo Tango Club. Todos estes nomes são alguns dos principais destaques do MED, pois há muito mais a acontecer pelos diferentes palcos montados para o festival. O melhor é mesmo consultar o site oficial.



Por Lisboa, teremos o África Festival, que uma vez mais volta a reunir grandes nomes da música actual daquele continente no palco montado junto à Torre de Belém, e, novidade deste ano, também no cinema São Jorge. O África começa na quinta-feira, com a cada vez mais popular Mayra Andrade, a cabo-verdiana residente em França. Nessa mesma noite, e vindos do Egipto, o colectivo designado por Músicos do Nilo, que há pouco tempo passaram pela Casa da Música do Porto. Sexta-feira é a vez do angolano Paulo Flores e do maliano Bassekou Kouyate, acompanhado pelo grupo Ngoni Ba. No último dia dos concertos junto à Torre de Belém, sábado, o África Festival apresenta a ex-Zap Mama Sally Nyolo e uma das vozes mais reconhecidas do Senegal, Baaba Maal. Depois, já no São Jorge, e de 1 a 8 de Julho, o festival faz uma aposta forte no cinema, em paralelo com os concertos e as sessões de kizomba que por ali acontecerão. Entre os concertos, há a destacar o regresso a Lisboa dos Tinariwen (dia 5), bem como os espectáculos do angolano Victor Gama (dia 4) e do projecto encabeçado por Kalaf, Ecos da Banda (dia 7). Há muita África em Lisboa, nos próximos dias, e isso é bom. O programa completo está aqui neste pdf.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O efeito Kate Moss

Há dois ou três dias, lembrei-me, talvez por defeito profissional, que seria interessante estudar a população que frequenta os festivais de rock de Verão no nosso país. Com mais ou menos ciência, pega-se numa amostra de festivaleiros e interroga-se os seus hábitos, se consomem música regularmente, se compram discos ou fazem downloads, se conhecem as bandas em cartaz, se vão ver os concertos ou vão ficar nos bares, se já estão bêbedos, se já arranjaram namorado/a novo/a, bom, adiante.

Nem a propósito, realizou-se recentemente um inquérito em Inglaterra junto de três mil indivíduos que vão ao festival de Glastonbury, que amanhã se inicia. O estudo, encomendado pela associação Freeview Playback (uma associação que reúne BBC, ITV e outros canais e que pretende promover o regresso dos hábitos das gravações caseiras de programas de tv) e entretanto citado pelo site do Blitz, revela informações curiosas, embora expectáveis, convenhamos. Quase metade dos inquiridos (49 por cento) mostrou dificuldades em recordar-se das bandas a que assistiu em festivais. Cerca de um quinto (18 por cento) disse mesmo ter assistido a menos de cinco horas de música num festival de dois dias. 16 por cento revela estar embriagado quando começam a tocar os cabeças-de-cartaz (buh, ingleses tenrinhos). Agora, a cereja no topo do bolo que é este estudo: um terço dos inquiridos admite que gasta dinheiro num guarda-roupa quase completo antes de ir a um festival...

É a moda, estúpido. É a socialização, estúpido. É o "Kate Moss effect" de que os jornais ingleses falam desde que esta foi a Glastonbury em 2003. Não é por isso de surpreender que tanto lá fora como cá dentro os festivais, por mais que surjam, são um sucesso de adesão. É a razão que explica o aparente contra-senso (só para alguns) entre o declínio acentuado das vendas de discos e o êxito dos festivais ao vivo.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Actualizando Coura

Dia 12 de Agosto - Devotchka, ...
Dia 13 de Agosto - Mando Diao, Low Budget Research Kitchen, Blasted Mechanism, Sparta, ...
Dia 14 de Agosto - Gogol Bordello, New York Dolls, Architecture in Helsinki, Spoon, Mão Morta, ...
Dia 15 de Agosto - Sonic Youth, Cansei de Ser Sexy, Sunshine Underground, Electrelane, ...

A 30 dias de Sines



ETRAN FINATAWA (Níger) ao vivo no Womad.

Dia 20 de Julho, sexta-feira, no palco de Porto Covo.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Breves

1. Coisa estranha. No próximo sábado, dia 28, o Musicbox apresenta "FMI - Give Me Some Money", uma nova leitura do texto de Zé Mário Branco, agora que decorrem 25 anos da edição original do disco. Em palco vão estar Melo D, Ana Deus (Três Tristes Tigres), Nel'Assassin dito Sr. Alfaite, Kalaf, Armando Teixeira e Sagas, acompanhados pelos Spaceboys (banda suporte). E há mais nesta noite bizarra.

2. Uma conhecida cadeia de lojas de televisões, computadores, dvds, livros, ah, e discos, promove mais uma festa da música, com descontos e tal. Propaganda pouco importa para aqui. Mais importante é, certamente, o forum que essa cadeia abriu na net para, enfim, promover essa iniciativa. Tem vários temas, encabeçados por textos de gente como Adolfo Luxúria Canibal, Miguel Guedes, Pac Man, Tozé Brito, Rui Miguel Abreu, Vítor Belanciano e Pedro Leitão. É aqui.

3. A ZDB vai servir de anfitriã a uma "espécie de festival" (sic) no último fim-de-semana deste mês. A saber, o sábado (30 de Junho) vai contar com o regresso dos norte-americanos Skaters (óptimo concerto o do ano passado!) e com o trio Taurpis Tula, formado por Heather Leigh Murray (ex-Charalambides), David Keenan (revista Wire) e Alex Neilson. No domingo seguinte, há matinée! A partir das 16h, haverá concertos de Tight Meat Duo (2/3 dos Taurpis Tula, isto é, Murray e Keenan), Heather Leigh Murray (o terço que faltava), James Ferraro (1/2 dos Skaters), Manuel Mota e Vodka Soap (sim, eu sei que já esperavam por isso mesmo: a outra metade dos Skaters).

4. O Marky Ramone deve cá vir novamente este ano, não se sabe é onde, embora se diga que Lisboa vai poder vê-lo de novo. Esteve para vir a Vilar de Mouros, mas, como sabemos, a edição deste ano foi chão que deu uvas.

5. Eu sei que toda a gente anda ansiosa por este tipo de notícias, mas, não, hoje não se soube de mais nenhum novo festival.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Novidades para os lados de Sines

1. Em virtude da indisponibilidade dos congoleses Kasaï Allstars, o cartaz apresenta um novo nome em substituição. É o da maliana Oumou Sangaré, que vai encerrar os concertos do castelo no dia 25 de Julho (quarta-feira).

2. No mesmo dia, há outra alteração a registar. O percussionista Trilok Gurtu já não vem com o quarteto de cordas italiano Arkè String Quartet, mas sim acompanhado de uma banda com elementos de várias nacionalidades, na companhia dos quais explorará os seus álbuns.

3. Pelas ruas de Sines vão andar os filhos de um músico da Sun Ra Arkestra. Verdade. O Hypnotic Brass Ensemble, de Chicago, composto por oito elementos, sete dos quais filhos de Kelan Phil Cohran, trompetista que acompanhou Sun Ra, vão andar a tocar pelas ruas de Sines. Incrível. E isto depois de andarem a fazer as primeiras partes dos concertos de Mos Def...

4. Também já estão programadas as outras actividades paralelas. Vai haver ciclo de cinema, com "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha, e o documentário sobre o trabalho de Michel Giacometti, "O Povo que Canta", entre outras propostas. Vai haver as habituais conversas com os músicos. Vai haver os workshops, agora especialmente destinados às crianças. O melhor é mesmo consultar a programação completa em www.fmm.com.pt.

Seu boiadeiro, por ali choveu

Foram dois dias de arromba os que se viveram por Viseu neste último fim-de-semana. As condições metereológicas adversas, ainda que não tenha chovido na sexta-feira, obrigaram a que os espectáculos se centrassem quase todos no pequeno teatro Viriato, impedindo que a festa chegasse a um número mais alargado de pessoas e em espaços mais dignos para o que ali se pôde ouvir. Tirando algumas falhas da organização, tirando o excesso de rigor (para não dizer palermice) de um ou dois funcionários dos corredores do teatro, este fim-de-semana de arromba serviu de óptimo augúrio para futuras edições deste festival.

Podia não haver muitos nomes em cartaz -- afinal de contas, este foi o número zero, como dizia a organização -- mas houve seguramente um alto concentrado de qualidade. A começar logo pelo concerto de sexta-feira do Cordel do Fogo Encantado. Depois da apresentação no castelo de Sines, no ano passado, o Cordel mostrava-se agora com novo álbum perante uma plateia de umas poucas centenas de pessoas (não dava para mais). Espectáculo íntimo, portanto. E avassalador. Durante pouco mais de hora e meia as (muitas) percussões do grupo estiveram em constante diálogo com a estrutura do renovado Teatro Viriato. E o público sentado ali, no meio, a assistir aos argumentos. Se os Mão Morta não tivessem nascido em Braga, mas sim em Pernambuco, na pequena cidade de Arco Verde, talvez tivessem sido como o Cordel. E se Adolfo Lúxuria Canibal não crescesse a ler Lautréamont ou outros autores malditos e tivesse os poemas de cordel do interior brasileiro na mesinha de cabeceira, talvez tivesse sido Lirinha, figura epicêntrica deste abalo de terras que dá pelo nome de Cordel do Fogo Encantado. Foi melhor que em Sines? Foi sim, embora não consiga sequer explicar como é que isso ainda pôde ser possível. Para o resto da noite ainda houve a sessão Mais Valor, com a velha guarda de Viseu a homenagear o falecido José Valor (Bastardos do Cardeal, Lucretia Divina, Centro de Pesquisas Ruído Branco, Major Alvega, etc.) no foyer do teatro, e a dupla lisboeta Dezperados, pela noite fora na discoteca NB.

No sábado, veio a chuva, mas a festa continuou. Logo com os impagáveis Anonomina Nuvolari, que, sem qualquer amplificação, semearam a boa disposição no teatrinho do Clube de Viseu, um antigo (e belíssimo) salão aristocrático daquela cidade, com o seu reportório de música italiana ligeira em formato festarola. Irrequietos como sempre, e em total contraste com a plateia de todas as idades que se sentava nas cadeiras de madeira do salão, os italianos tocaram em cima do palco, à frente do mesmo, atrás das cadeiras, à volta do público, por entre o público, pelas outras salas, enfim. E tão bom que foi ouvir o "Bella Ciao" na capital do Cavaquistão... Mais perto da hora de jantar, os lisboetas Nobody's Bizness apresentaram no palco do teatro a sua versão dos blues acústicos norte-americanos. A voz da Petra e a guitarra do Luís estão cada vez melhores (e juro que não me pagam para dizer isto, embora não tenha nenhum problema se o quiserem passar a fazer, ok?). Para a noite, mais de duas dezenas de pessoas em palco, com o colectivo Mountain Tale, que agrupava as vozes penetrantes das mulheres búlgaras do grupo Angelité, os sempre surpreendentes cantos guturais e instrumentos rudimentares dos Huun-Huur-Tur, da república de Tuva, e os maestros de toda esta gente, o grupo de jazz experimental Moscow Art Trio. Se alguém tem dúvidas de que isto se possa combinar de forma eficiente, é porque não esteve no Teatro Viriato. É de se sair com o coração nas mãos. A noite continuou depois com os badamecos do Bailarico Sofisticado até às quatro e tal da manhã, no foyer do teatro, sem baixas, sem mortes, a não ser a do sistema de som que saiu dali bastante maltratado (caso para fazer uma piadola apropriada: deu "barraca o som sistema"). Um dia destes, deixo aqui fotografias deste fim-de-semana.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Novas músicas livres

O Out.Fest apresenta esta tarde uma conferência subordinada ao tema "A
genealogia das (novas) músicas livres" na Fonoteca Municipal de Lisboa. A conferência tem a participação de Rui Eduardo Paes, Sei Miguel e José Marmeleira. A moderação fica a cargo de Pedro Gomes. O início está marcado para as 18h. Esta é o primeiro acto público do Out.Fest 2007, que nos próximos dois fins-de-semana levará ao Barreiro nomes como Variable Geommetry Orchestra, Wolf Eyes, Orthodox, Samara Lubelski, entre muitos outros.

Falta um dia para Viseu



Anonima Nuvolari ao vivo no largo de Camões, Lisboa, no 1º de Maio.

(Os Anonima vão andar pelas ruas de Viseu, no dia 16 de Junho, por volta das 11h, e também no parque Aquilino Ribeiro, pelas 17h. Mais informações em www.teatroviriato.com.)

Vilar de Mouros cancelado

Já se tornaram mais ou menos moeda comum os cancelamentos de concertos anunciados para este ano. Afinal, com tanta oferta, era de esperar que assim acontecesse. A novidade agora é o cancelamento de um festival. A PortoEventos e a junta de freguesia de Vilar de Mouros tomaram a decisão de cancelar a edição deste ano do festival que ali se realiza, por alegada falta de apoio da câmara de Caminha, segundo noticia o site do Blitz.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Músicas do Mar com Tony Allen

Há mais um festival de músicas do mundo programado para este ano. A primeira edição do Músicas do Mar decorrerá na Póvoa de Varzim, no início de Setembro, e já conta com pelo menos três nomes no cartaz, a avaliar pelas respectivas páginas no myspace: o baterista nigeriano Tony Allen, os pernambucanos Banda Eddie e os catalães La Troba Kung Fu.
www.myspace.com/tonyallenafrobeat
www.myspace.com/bandaeddie
www.myspace.com/latrobakungfu

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Hoje

* Festa do 15º aniversário do Festival de Paredes de Coura, no Santiago Alquimista, com Mundo Cão e No DJs (Nuno Calado + Miguel Estevão). Entrada livre (!) e bar aberto (!!).

* Petra & Giorgios, nas Catacumbas. O grego está em Lisboa por estes dias e, claro, não se pode perder a ocasião de reviver algumas das noites mais fantásticas que as Catacumbas conheceram alguns anos.

domingo, 10 de junho de 2007

Fat Freddy e Adolfo Luxúria Canibal

Notícia fresquinha, notícia excelente. Os Fat Freddy vão realizar uma digressão por auditórios lá mais para o final do ano e vão contar com a presença de um convidado especial em alguns dos temas. Isso mesmo, o Adolfo vai servir de vocalista aos Fat Freddy.

Asian Dub Foundation em Julho

Já estão confirmados. Os Asian Dub Foundation vêm à edição deste ano do festival Musa, para fechar o cartaz do primeiro dia, 6 de Julho. O Musa vai acontecer uma vez mais na praia de Carcavelos, e junta nomes como os de Suprah, Moe's Implosion, Drill e Hiata (no dia 6), Israel Vibration, Skaparapid, Jahvai, You Should Go Ahead, Biru e Sexy Sundays (no dia 7).

The Go! Team e algumas notas soltas



Foi a grande festarola que o Alive de ontem precisava para merecer efectivamente o nome. Os ingleses The Go! Team puseram toda a (pouca) gente que estava pelo palco secundário a dançar logo desde os primeiros instantes, com aquela magnífica máquina funk, devedora em grande parte dos genéricos de séries de acção dos anos 70, embora tudo menos passadista, cheia de ritmo (duas baterias!) e de constante frenesi no palco (e eu gosto tanto de bandas em que os elementos estão sempre a trocar de instrumentos).

Notas soltas sobre o dia dois do Alive:

- Os White Stripes são menos aborrecidos ao vivo do que em disco, mas ainda assim teriam muito mais a ganhar se o concerto fosse num Coliseu, por exemplo, do que num festival;
- Foi óptimo rever os Capitão Fantasma, quinze anos depois das últimas vezes em que os vi;
- Os D3Ö, que vieram substituir à última da hora os Dead 60's, estiveram bem, como sempre (pena foi que a parte final do concerto coincidisse com a actuação dos White Stripes);
- O som de ambos os palcos deixa muito a desejar. No palco principal, a potência não é particularmente elevada, e a alguns metros do palco começa a sentir-se o efeito do vento. O som do palco secundário é mau demais para ser verdade;
- O Alive está bem servido na parte comercial, com imensas barracas de cerveja, de comida e de roupa e acessórios. A imperial de 25cl custa €1,5, o que já começa a ser raro nestas ocasiões, e, finalmente, é cerveja a sério;
- Se não chover hoje, levem máscaras. É que Beastie Boys mais piso de terra dará, certamente, tempestade tempestade de pó e areia.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Faltam oito dias para Viseu...



Mountain Tale (ao Moscow Art Trio, juntam-se os cantos guturais de Tuva dos Huun-Huur-Tu e as vozes búlgaras do grupo Angelite). Quem é que vai ter coragem de perder isto?

(16 de Junho, no Teatro Viriato. Mais informações em www.teatroviriato.com.)

Adeus Marta

Faleceu esta manhã Marta Ferreira, manager dos Xutos & Pontapés. Preparava-se para embarcar com a banda para Toronto, onde no sábado se realizaria um concerto, tendo aparentemente sofrido um ataque cardíaco na casa-de-banho do aeroporto de Lisboa. A Marta tinha apenas 42 anos, deixou dois filhos e muitos irmãos, um dos quais o próprio baterista dos Xutos, Kalu. É cliché, mas é verdade: o rock português está mais pobre.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Jack Rose cancelado

O concerto de amanhã do guitarrista Jack Rose, na ZDB, foi cancelado, devido a problemas com voos. A Filho Único avisa os compradores dos bilhetes que se podem dirigir à respectiva loja onde os adquiriram (Flur ou AnAnAnA) e obter a devolução do dinheiro.

domingo, 3 de junho de 2007

Everything is fucked.

Uma pessoa vai com todas as expectativas do mundo. Uma pessoa anda à espera de vê-los há anos. Uma pessoa recebe mensagens dos amigos a dizer "[em Barcelona] foi do c. tens que ir". Ou seja, como dizia antes, uma pessoa vai com todas as expectativas do mundo.

Mas e se todas as expectativas do mundo com que uma pessoa vai são desde logo ultrapassadas, a uma velocidade seguramente interdita por lei, logo aos primeiros minutos do concerto? (Sim, é de um concerto que se fala. O concertaço dos Dirty Three, esta noite no Lux.)

Jim White, o baterista, e Mick Turner, o guitarrista, são peças imprescindíveis neste jogo de cadências e explosões que os Dirty Three fazem colidir em palco, disso não se tenha qualquer dúvida, mas é sobre o violino de Warren Ellis que acaba por recair, na maior parte das vezes, a atenção. Ele não fez um pacto com o diabo. Ele é mesmo o diabo. Não que seja o mais virtuoso dos violinistas. Em rigor, ele até nem é o violinista clássico (como o Andrew Bird, para citar um exemplo com menos de 48 horas passadas, o é, mesmo apesar das referências folk dos Squirrel Nut Zippers). Ellis é o "fiddler" que anima uma tasca barulhenta algures no meio do deserto australiano, acompanhado de bouzukis num numa aldeia grega, musicando lendas de lobos algures na Europa de Leste. E ainda tem a lata de tirar feedbacks do instrumento.

O concerto desta noite conseguiu ser, por diversos momentos, e não se tenha pejo em usar a palavra quando ela deve ser efectivamente usada, epifânico. Foi a celebração plena daquilo que a música consegue por vezes produzir ao vivo: um rapto violento da consciência do ouvinte (e tão bem que sabe fechar os olhos e facilitar essa captura) para uma terra de ninguém, onde se experimentam sensações que só algumas drogas poderão produzir. O regresso do cativeiro é que pode não ser fácil. É que se sente saudades.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

The National por cá



Notícia fresquinha: The National no Sudoeste (e em exclusivo, segundo a Radar). Sim, me confesso como recém-convertido.

Serralves em festa

40 horas sem parar, 70 eventos. É mais uma edição do "Serralves em Festa", que a partir das 8h de amanhã decorre no espaço da fundação sediada no Porto. O programa é extenso e o melhor mesmo é consultar o PDF onde vem tudo explicadinho.

Dirty Three para os renegados de Barcelona

As opiniões da malta amiga que os viu ontem em Barcelona, no PrimaveraSound, são unânimes: "Dirty Three foi do c... não percas!".
Pronto, eu não queria mesmo perder o concerto de amanhã no Lux.