segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Ver, ouvir e sentir para crer

"Tens que ir lá, tens que ir lá." É uma expressão que gostamos de usar sempre que descobrimos algo que os nossos amigos não conhecem ou, no limite, nunca quiseram conhecer. Podemos estar a falar de uma viagem a um local paradisíaco apenas conhecido por alguns, de um daqueles filmes das nossas vidas que passam numa sala refundida sem que ninguém lhes ligue ou de uma suculenta galinha de cabidela servida numa qualquer tasca com fachada manhosa, algures em Trás-os-Montes.

"Tens que ir lá, tens que ir lá." Por vezes, o mais difícil, no meio de tanto entusiasmo, é conseguir fazer que as nossas palavras tenham um mínimo de credibilidade. Os olhares de desconfiança levantam-se sempre que falo nos Uxu Kalhus e naquele baile no Mercado da Ribeira, em Março deste ano, a minha primeira investida neste cada vez mais popular mundo de danças, música e alegria. Na verdade, também eu terei olhado o L... com desconfiança dessa primeira vez.

"Tens que ir lá, tens que ir lá." No passado sábado, os Uxu Kalhus voltaram ao Mercado. Desta vez, já não era eu o novato, mas deu para sentir a felicidade estampada no rosto daqueles que agora foram os caloiros. O B... já dizia que não queria saber das electrónicas para nada, no intervalo entre uma mazurca e uma chotiça, antes de uma rapariga roliça o puxar para o centro do baile. O P..., que vinha de Almada, assistia com espanto ao rigor estético das centenas de "bailonautas". A C..., repetia insistentemente que não sabia dançar, mas não resistia a um pé de dança no meio dos outros. O N..., que era talvez o mais desconfiado de todos, irradiava um largo sorriso de felicidade. O outro P..., que já não era caloiro, pulava, dançava, gritava, caia...

Hoje, volto a dizer o mesmo que dizia há oito meses. Estar num bailarico destes é uma sensação invulgar. Sem que tenha havido grande promoção, centenas e centenas de excelentes "bailonautas" (a expressão é deles) juntam-se naquela sala do Mercado da Ribeira e durante largas horas entregam-se uns aos outros numa folia imensa de danças europeias (e não só), até que o corpo não possa mais. É o verdadeiro underground que ali acontece, é uma nova face da militância que se os mais velhos recordam da pop nos anos 80. Os principais culpados são os Uxu Kalhus e a associação Pédechumbo. Continuem, se fizerem o favor. De baile para baile, são cada vez mais aqueles que ficam rendidos.

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