terça-feira, 23 de novembro de 2004

O drone que veio do frio

Querem mais texturas, depois dos Dead Texan, aqui ontem abordados? Pois oiçam então o terceiro álbum do projecto Es, do finlandês Sami Sänpäkkilä, um habitué do festival Avanto, quer enquanto músico, quer enquanto realizador. Ao contrário das melopeias dos Dead Texan, ideais para se trautearem com todo o tempo do mundo algures na imensidão de um deserto quente americano, daqueles onde a única coisa que se passa é o vento a empurrar velhos arbustos secos, o trabalho de Es remete para uma visão mais sombria, inconsequente e regularmente regular de uma paisagem rural europeia (nórdica?) de outros tempos, onde não faltam sequer os badalos dos rebanhos de animais e os sinos de igreja. Se, e continuando no domínio das imagens que os drones têm por hábito fazer disparar no nosso cérebro, Dead Texan é um western em câmara lentíssima, Es é um Carl Dreyer com muito grão filmado no campo. "Kaikkeuden Kauneus Ja Käsittämättömyys", que segundo Yari, o finlandês mais português que eu conheço, significa qualquer coisa como "A beleza e a inconcebibilidade do todo" (ena!), merece a escuta por ouvidos pouco apressados.
(Es é um dos projectos abordados no artigo da última Wire sobre o underground finlandês, o que deixa perceber que pode ainda haver mais surpresas interessantes a descobrir no país nórdico...)
Site oficial: www.escycle.com

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários antigos, da haloscan/echo, desapareceram. Estão por isso de regresso estes comentários do blogger/google.