sexta-feira, 23 de abril de 2004

Os electro-punks?

Já ando para falar nisto há algum tempo. Não é uma reflexão para ser levada inteiramente a sério, como hão-de perceber, mas, tratando-se de algo que vem sempre à cabeça nos concertos, achei pertinente lançar a questão aqui.
Devo dizer que escrevo isto na ressaca de um excelente concerto dos Numbers (pontas de lança sónicos da Tigerbeat) na ZDB, ontem à noite. A sala encheu uma vez mais. Desta vez, como em tantas outras, distinguia-se o traço mais ou menos comum do electro-clasher, de pins ("crachás", como sempre se lhe chamou) na lapela, cabelo espetado e cores garridas. No palco, a banda atirava-se a delirantes minimalismos rítmicos que faziam lembrar, para citar referências mais conhecidas por todos, as experiências mais kraut-psicadélicas dos Sonic Youth, com trejeitos muito punk. Tenho vindo a reparar que, neste tipo de concertos em que se evoca constantemente memórias de um determinado passado, há uma coisa que não foi recuperada. Não, não são as guerras de escarretas entre banda e público. Falo do lado físico do rock'n'roll, particularmente sentido no punk e no hardcore. Falo do stage-diving, do crowd-surfing, do slam-dance, etc., etc. Aquilo que antes era uma experiência comunitária, na forma como podia envolver uma plateia inteira é hoje apenas um conjunto de diversas relações unívocas entre banda e cada uma das pessoas que formam o público deste tipo de concertos. Não é verdade que quase nos desfazemos em desculpas se damos um encontrão no gajo com a t-shirt dos MC5 que está ao nosso lado? Será que esta malta que agora anda cheia de pins tem medo de partir uma unha dos dedos dos pés? Ou será mais porque estamos todos mais velhos e com idade para ter algum juízo? (eu disse, e repito, que isto não é para levar inteiramente a sério... mas às vezes, acreditem que dá uma certa vontade de...)

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