sexta-feira, 2 de abril de 2004

Metamorfoses

Steve MacKay e Adolfo Luxúria Canibal abrem a contenda. São eles os mestres de cerimónia, os arautos das tropas que hão-de vir, os porta-estandarte da celebração que as poucas dezenas de pessoas que se espalham pela plateia do Alquimista vão enfrentar nesta noite. Não é um concerto a duas partes entre o Steve MacKay Radon Ensemble e os Mécanosphère, mas antes um único espectáculo, um mistifório de contributos de parte a parte, um processo contínuo de metamorfose, um ritual tribalista feito de improvisações. Os músicos vão entrando e saindo de palco, onde no qual ensaiam, sem rede, cumplicidades levadas ao extremo da catarse, que acabam por contagiar o público, que por pouco tempo conseguirá manter a pose de aparente indiferença aos urros do Adolfo; às deambulações delirantes do Scott "Sikhara", o norte-americano em permanente fuga do seu país; ao free jazz do Steve, intoxicadamente coltraneano por vezes; aos cataclismos rítmicos dos três bateristas (Benjamin Bréjon, Le Pilot Rouge e Sam Lohman). É uma noite única. Os Mécanosphère não repetirão jamais este alinhamento, estas sequências sonoras, estes textos. Não estando nada especialmente previsto, quase tudo se desenrola ao sabor do improviso, no limiar, por vezes, da loucura. É a celebração do momento vivido, da situação que se cria no momento. O Sikhara está alucinado e parece querer destruir o palco, mas refreia os ânimos, apesar de já ter abalroado uma das baterias (para desespero do dono, que se encontra na assistência). Calmamente, vai arrumando o seu material enquanto os outros retiram dos destroços de bombos e timbalões grandes e pequenos espalhados pelo palco os derradeiros ritmos, num final de celebração inteiramente demolidor. Depois disto, nada interessa mais, nem mesmo o "Ziggy Stardust", na versão dos Bauhaus, que o DJ do Alquimista escolhe para suspender o silêncio que ficou nas colunas. Que vontade de te abrir um lenho na testa...

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