quarta-feira, 28 de abril de 2004

Tempos de mudança

Acredito que a música gravada, enquanto bem transaccionável, tem os seus dias contados. Quem quer apostar?

A decadência da indústria discográfica

As editoras vendem cada vez menos. Diz-se até que há discos no top 30 português a vender dezoito unidades por semana...
As novas gerações dão cada vez menos importância à posse do objecto original. Afinal, compreende-se que, se se pode ouvir a mesma música numa duplicação em CD-R ou descarregá-lo "gratuitamente" da Internet, porque não poupar dinheiro e comprar antes aquelas calças, aquele telemóvel, começar a pagar um carro ou uma casa ou até mesmo ir àqueles concertos que se avizinham?

A desmaterialização

Paralelamente, a indústria já deu conta da desmaterialização do negócio e prepara-se para tentar acompanhar a mudança. Já quase todas as majors estrearam os seus sistemas digitais, com algum sucesso, ao que parece, nos EUA. Florescem os Starbucks e clubes nocturnos com ligações para iPods, as tais fonotecas portáteis que, lá fora, são mais publicitados que as próprias aparelhagens áudio. Por cá, nas lojas VC e FNAC, estreiam-se novos processos de compra de música: o cliente paga um determinado valor e descarrega os mp3 directamente para um CD ou, eventualmente, para o seu iPod. Nas maioria das rádios portuguesas, já há algum tempo que só se trabalha com mp3. O projecto Radionetics, estreado há poucas semanas, tira partido da facilidade de distribuição do mp3 para juntar editoras e rádios locais de todo o país. Já a partir do próximo ano, os jornalistas vão passar a receber das grandes editoras passwords para poderem descarregar um novo álbum, desaparecendo assim o habitual promo. Perante isto, não custa dar crédito aos estudos que apontam o fim do CD para daqui a alguns anos.

Sendo certa, portanto, a via da digitalização, ainda há que tentar perceber se esta pode ser ou não a prancha de salvação das editoras, das lojas e, claro, da própria música gravada enquanto bem transaccionável. Eu acredito que não, conforme referia ao início, por uma razão máxima: a via digital oferece a possibilidade de cópia perfeita do produto que pode depois ser trocado livremente. Por mais protecções e criptografias que os técnicos ao serviço das grandes editoras inventem para impedir a cópia não autorizada dos mp3s em causa, surgirá sempre, mais depressa do que um piscar de olhos, a forma de quebrar o bloqueio, de promover a fuga desse mp3 ao circuito comercial e de dar início à rápida multiplicação da música por centenas, milhares e milhões de lares em todo o mundo. A tecnologia está cada vez mais perto das pessoas e as novas gerações têm cada vez maior facilidade e propensão em aderir a qualquer sistema de partilha de ficheiros. A rapidez das ligações tende a aumentar, o que permite o descarregamento de ficheiros cada vez maiores (menos comprimidos, portanto) a uma velocidade progressivamente menor. Acredito que, daqui a uns dez anos, será tão fácil e tão gratuito (não contando, obviamente, com os custos de acesso à Internet) descarregar a nova música do nosso artista preferido como é hoje, por exemplo, ligar o autorádio do carro para ouvir a informação do trânsito.

Parte da indústria, em termos mais globais, já tem, no entanto, consciência disto e sabe também que, aconteça o que acontecer, ficará sempre a ganhar. As majors, por exemplo, não passam hoje de meros departamentos pouco rentáveis de grandes grupos que controlam áreas de negócio diversas, como por exemplo, o do acesso à Internet ou o do fabrico de iPods e outros tipos de suportes "virgens" (CD-Rs, DVD-Rs, etc.). É preciso dizer mais?

Os concertos

E os artistas? A "estrada" poderá, essa sim, ser a sua grande prancha de salvação, como aliás já vinha a ser para a maioria das bandas. O concerto é, ao contrário dos discos, irreproduzível. Pode-se gravar um concerto, claro, mas dificilmente se conseguirá reproduzir fielmente a sensação de se estar no meio de uma plateia: pedir um encore; mandar bocas aos artistas; avisar ao parceiro do lado que caiu o jack do guitarrista e que este, tolo, não deu conta; apreciar a assistência feminina (ou masculina, conforme o caso); entornar sem querer uma imperial nas costas do tipo que está à frente; levar com um empurrão de outro que está aflito para ir à casa-de-banho ou, claro, ouvir e ver a música a ser feita no momento.

Na verdade, se as vendas dos discos têm caído como futebolistas portugueses assim que entram na grande área, os números relativos aos concertos têm disparado. Por cá, vemos que, de ano para ano, aumenta o número de propostas, dos grandes festivais aos concertos mais underground, e que, continua a haver público para, pelo menos, fazer grandes salas. A nível global, há um recorde de receitas de grandes digressões (como aquelas dos Rolling Stones ou dos U2) que é batido quase todos os anos.

As independentes também já começaram a perceber as mudanças que estão a ocorrer. Cada vez mais se vê editoras como a Sub Pop, a Warp ou a Constellation, só para dar três exemplos, a trabalharem não só na edição de um disco, mas também no acompanhamento do artista na programação das suas digressões.

São tempos de mudança, mas esta não vai ocorrer esta noite, no fim do mês ou na próxima lua cheia. É, acima de tudo, um processo que se desenvolverá ao longo dos próximos anos.

KUBIK com Fantômas

Kubik, nome sob o qual se esconde o músico Victor Afonso, da Guarda, vai ter as honras de abertura da noite de Fantômas na Aula Magna, no dia 21 de Maio. Ao palco subirão assim, e por esta ordem, Kubik, o violinista Eyvind Kang e, claro, no concerto principal, Fantômas.
O convite surgiu pela voz do próprio Mike Patton, que gostou de ouvir "Oblique Musique", o primeiro álbum de Victor Afonso. A Victor, Patton pediu-lhe que fizesse um "killer set"... :)
Parabéns, Victor. Eu sabia que tu estavas lá. :))
(Entretanto, os bilhetes para Fantômas já se encontram à venda.)

Mais uma primeira parte para os Fantômas

Além do Eyvind Kang, os Fantômas vão ter mais alguém a abrir as hostes no espectáculo da Aula Magna, a 21 de Maio. É uma surpresa incrível, que me deixa bastante ansioso. O único problema é que o nome não pode ser revelado já... (mas que tenho vontade de o dizer... hum...)

Pequeno teste musical sem quaisquer resultados aparentes. #2: em casa

01. Ouves música?
a. não, meu. sou tecla 3.
b. ouço música, pois. e bem catita.
c. os meus pais/mulher/marido/filho/filha/cão/periquito não me deixam ouvir música em casa.
d. já era bom eu ter casa, quanto mais ouvir música lá.

02. Puxas pelo volume?
a. claro, não tenho vizinhos.
b. claro, tenho vizinhos.
c. não, sou um gajo pacato.
d. não, as colunas não deixam.

03. Então e o que fazes quando ouves música?
a. ouço música.
b. faço os trabalhos de casa.
c. faço outro tipo de trabalhos, estás a ver?
d. penduro a roupa, dou banho ao bebé, vejo o preço certo, lavo a louça e corto as unhas dos pés. nem sempre faço tudo ao mesmo tempo.

04. E ouves um disco do princípio ao fim?
a. man, estás a ver mal a coisa. quem te diz que o fim não pode ser um princípio e vice-versa?
b. ouço da primeira à última faixa, sim, se é isso que queres dizer.
c. não, apenas pico algumas faixas.
d. eu não ouço discos. faço um sort aleatório nos dezoito mil, quatrocentos e setenta e oito mp3s no winamp.

05. Fumas charros enquanto ouves discos em casa?
a. sim, fumo.
b. não, não fumo. não sou nenhum drógado.
c. não fumo [nota: é a resposta disfarçada para aqueles que fumam e têm receio de dizer aqui. aproveitem.]
d. não orientas uma mortalha?

terça-feira, 27 de abril de 2004

Pequeno teste musical sem quaisquer resultados aparentes. #1: nos concertos

01. Levas t-shirt da banda que vai actuar?
a. Claro!
b. Não, levo de outro grupo que tem a ver.
c. Não, levo algo completamente díspare.
d. Não, não sou gajo de vestir t-shirts.

02. Ao teu lado, alguém começa a bater palmas.
a. Faço-lhe má cara.
b. Dou-lhe um soco.
c. Junto-me a ele a bater palmas.
d. Vou buscar o mê primo ciganão que é barra em flamenco.

03. Mandas bocas nos concertos?
a. Só peço para tocarem músicas.
b. Nah, fico caladinho.
c. O que eu mais gosto é de entrar em diálogo com os músicos.
d. Sou eu que faço aquelas vozes a imitar buzinas de carrinhas de caixa aberta dos anos 80.

04. Abanas-te nos concertos?
a. Não. Fico quietinho, em posição de mantra, se possível.
b. Apenas uns discretos menear de cabeça e bater de pé.
c. Totally headbanger, pá.
d. Estás a gozar? Eu nos concertos sou o mais parkinsoniano que pode haver.

05. E que outras bizarrias gostas de fazer?
a. Acender isqueiros nas partes calmas.
b. Fazer air guitar.
c. Pintar-me especialmente para o concerto.
d. Imaginar que estou a ver o Tony Carreira, do qual gosto mais, porém convém disfarçar.

segunda-feira, 26 de abril de 2004

Quando é o comercial a mandar no jornalista

Sem querer entrar em demasia naquele tipo de opinião em circuito fechado comum da blogosfera, queria deixar uma palavra de solidariedade com os três jornalistas do Primeiro de Janeiro recentemente despedidos por causa do que escreviam no blogue diariodeumjornalista.blogspot.com. A notícia vem hoje no suplemento Computadores, do Público. Sérgio Moreira, Joel Pinto e uma outra jornalista da publicação portuense foram despedidos após divulgarem a forma como eram marcadas entrevistas: em troca de um contrato publicitário, segundo os seus relatos, oferece-se espaço redactorial à entidade em causa.
Um jornalista é obrigado, naturalmente, a cumprir o dever de lealdade para com a empresa para qual trabalha, mas a esse dever tem que se sobrepor-se sempre o de relatar a verdade, designadamente a ilegalidade do exercício da própria profissão de jornalista. Como diz o presidente do conselho deontológico do Sindicato de Jornalistas no artigo do Público, "é ilegal ser um director comercial a dar ordens a um jornalista".
Os tribunais existem e será nessa sede que terá provavelmente de ser aferida a veracidade dos relatos dos três jornalistas. Quem contacta com este meio sabe porém que estas práticas são correntes e que as histórias contadas são, pelo menos, verosímeis. Mesmo que o Sérgio, o Joel e a outra camarada estivessem a mentir, outros Sérgios e Joéis por aí existirão. É também por isso que esta situação assume tamanha importância.

A revolução na MMP, vista por uma paulista

A jornalista brasileira Katia Abreu, habitual frequentadora deste blogue, escreveu um ensaio bastante curioso sobre o pós-25 de Abril no que diz respeito à música popular feita em Portugal (ver aqui). Katia, minha amiga, a respeito deste tema geral que é a Música Moderna Portuguesa, tu escreves melhor, com mais entusiasmo e até mesmo com mais conhecimento de causa que muito jornalista português...
Queria deixar apenas duas notas, um pequeno reparo e um comentário:
- Os Corpo Diplomático deixaram um álbum gravado, sim (já falei dele aqui, numa rubrica a que chamo "Regresso ao Passado"). É quase impossível de encontrar nos dias de hoje, é um facto, mas existe.
- Eu não vejo nada de negativo no facto de bandas como os Tédio Boys serem mais conhecidas lá fora que cá dentro. Portugal é um país pequenino, logo com uma base underground à sua dimensão, isto é, também pequenina. Não fico nada chocado pelo facto dos Moonspell venderem mais na Alemanha do que por cá. Afinal de contas, é natural que tenham mais admiradores num mercado grande como o alemão do que nesta pequena mercearia à beira-mar plantada. Somos um país pequeno e não podemos pretender que os fenómenos underground que têm sucesso lá fora (nos meios underground) tenham que, cá dentro, ultrapassar essas fronteiras e chegar ao mainstream. Por que razão?

O(s) judeu(s)

Zorn, Ribot, Baptista, Baron, Mori, Wolleson, Dunn e Saft: vocês são muito grandes.
(Houvesse mais tempo disponível e procuraria deixar aqui algumas notas sobre o concerto de Masada, ontem à noite na Aula Magna. Como assim não acontece, fico-me por esta mera declaração de deslumbramento... Foi mesmo tremendo.)

sexta-feira, 23 de abril de 2004

Parabéns, matarroanos de um raio!

A Matarroa, editora de hip hop sediada em Matosinhos, faz um ano. Infamous, VRZ, Matozoo e Xeg (ouçam esta recente edição, "Conhecimento"... vão ver que vale muito a pena) foram algumas das propostas destes primeiros doze meses. A comemoração do aniversário vai ser no próximo dia 15 de Maio, na discoteca Swing, no Porto. Aqui fica o cartaz:

DJ Skitz (U.K.)
DJ Bezegol


Concertos:
MatoZoo
Xeg


...mais convidados, mais surpresas e mais copos e boa disposição, conforme eles próprios prometem.
PARABÉNS!

Novidades festivaleiras

Franz Ferdinand no Sudoeste e Matthew Herbert (de novo) no Meco.

Os electro-punks?

Já ando para falar nisto há algum tempo. Não é uma reflexão para ser levada inteiramente a sério, como hão-de perceber, mas, tratando-se de algo que vem sempre à cabeça nos concertos, achei pertinente lançar a questão aqui.
Devo dizer que escrevo isto na ressaca de um excelente concerto dos Numbers (pontas de lança sónicos da Tigerbeat) na ZDB, ontem à noite. A sala encheu uma vez mais. Desta vez, como em tantas outras, distinguia-se o traço mais ou menos comum do electro-clasher, de pins ("crachás", como sempre se lhe chamou) na lapela, cabelo espetado e cores garridas. No palco, a banda atirava-se a delirantes minimalismos rítmicos que faziam lembrar, para citar referências mais conhecidas por todos, as experiências mais kraut-psicadélicas dos Sonic Youth, com trejeitos muito punk. Tenho vindo a reparar que, neste tipo de concertos em que se evoca constantemente memórias de um determinado passado, há uma coisa que não foi recuperada. Não, não são as guerras de escarretas entre banda e público. Falo do lado físico do rock'n'roll, particularmente sentido no punk e no hardcore. Falo do stage-diving, do crowd-surfing, do slam-dance, etc., etc. Aquilo que antes era uma experiência comunitária, na forma como podia envolver uma plateia inteira é hoje apenas um conjunto de diversas relações unívocas entre banda e cada uma das pessoas que formam o público deste tipo de concertos. Não é verdade que quase nos desfazemos em desculpas se damos um encontrão no gajo com a t-shirt dos MC5 que está ao nosso lado? Será que esta malta que agora anda cheia de pins tem medo de partir uma unha dos dedos dos pés? Ou será mais porque estamos todos mais velhos e com idade para ter algum juízo? (eu disse, e repito, que isto não é para levar inteiramente a sério... mas às vezes, acreditem que dá uma certa vontade de...)

terça-feira, 20 de abril de 2004

Dois pontapés de criatividade

Quando as coisas não funcionam, quando as fórmulas são gastas, repetitivas e na maior parte das vezes desfasadas do tempo em que vivemos, há que fazer referência a quem, aparentemente, pretende dar um pontapé em todo o sistema com demonstrações de criatividade num negócio que, como é habitual dizer-se, parece estar condenado à falência. Ou então não. Num só fólio -- mais concretamente nas páginas 6 e 7 -- da edição de hoje do Blitz, são dadas a conhecer duas acções que pretendem, de forma criativa, dar esses tais pontapés.
A primeira, apresentada sob a forma de artigo, dá conta da inauguração de um serviço online que fará a desejada ponte entre as editoras e as centenas de rádios locais (e não só) que por esse país dominam, conforme diz a peça, mais de "50% de toda a audiência de rádio em Portugal". O Radionetics (go.radionetics.pt) promete, na sua filosofia, vir a trazer vantagens para ambas as partes: as editoras, que dificilmente conseguiriam chegar a todas as rádios, a não ser que aumentassem consideravelmente os seus custos de promoção, têm agora os seus catálogos disponíveis de forma generalizada; por seu lado, as estações de rádio, que antes caíriam, na maior parte dos casos, fora dos destinos de promoção das editoras, pelas razões acabadas de descrever, têm agora ao seu dispor os catálogos de novos lançamentos das mesmas. Todos ficam a ganhar.
A segunda, apresentada sob a forma de um anúncio de página inteira, oferece às bandas e aos músicos o serviço de distribuição pelas lojas. Se as bandas já aprenderam a gravar e editar os seus próprios discos, o mesmo tipo de avanço do-it-yourself ainda não se deu, por razões diversas, nessa outra etapa da colocação de um disco no mercado que é a distribuição. O anúncio promete resolver esse problema às bandas. Só é estranho que o texto do mesmo pretenda transmitir de forma ostensiva a transparência do processo como principal ponto forte do produto e, ao fim ao cabo, não esteja ali o nome do anunciante. Apenas um número de telemóvel e um apartado...

Um sonho


Aconteceu uma catástrofe qualquer. Uma guerra? Um cataclismo? Uma bomba nuclear? Não faço ideia. Sei que se gerou um grande tumulto e que todos tínhamos de fugir para Norte (entretanto surgem na minha memória duas versões contraditórias: não me lembro se tínhamos que fugir para Norte de uma ilha, a nado, portanto, ou para a montanha... acho que era mais esta última). Por alguma razão, a minha mulher e o meu filho partiram primeiro e já estariam aí com um dia de avanço. No meu percurso, por alguma outra razão, fui parar a um local que devia ser a zona onde morava, completamente devastada. No chão encontro dois objectos: o meu bloco de apontamentos (apanho-o, com o objectivo de ir escrevendo um diário das aventuras da fuga) e... um LP dos Ramones. Tenho a certeza absoluta que era o primeiro álbum dos Ramones, mas curiosamente não consigo já dizer se era exactamente aquela a capa ou se era antes a do "Marquee Moon", dos Television... De qualquer das formas, a última coisa que me lembro de fazer no sonho é pegar no disco e rasgar o cartão para ficar apenas com a capa, dobrá-lo em quatro, metê-lo no bolso e pensar: "tenho que levar isto para o meu Tomás"... :)

sexta-feira, 16 de abril de 2004

Bypass em gravações


Os Bypass estão durante este mês a gravar novo álbum -- melhor, o álbum de estreia, que assim sucede ao EP homónimo -- no Lugar Comum (Fábrica da Pólvora, em Oeiras), com a ajuda de Joe Fossard na produção. Ainda não há título, nem quaisquer detalhes em relação à edição (editora, data de saída, etc.) mas já se sabe que o novo disco será composto por 12 temas.

quarta-feira, 14 de abril de 2004

A primeira noite do resto da vida dos Pixies (cuidado com o spoiler)

Não leiam mais, se querem ir para o concerto dos Pixies sem qualquer noção do que vai acontecer, para assim poderem saborear a surpresa (olhem que vai ser difícil, conseguir tapar os olhos perante tanta notícia e reportagem que vai sair durante os próximos dois meses...)

Ontem, os Pixies deram o primeiro concerto da sua extensíssima digressão de regresso aos palcos. Foi em Minneapolis e os fãs que participam no forum do pixiesmusic.com, já deixaram as suas opiniões. Eis uma, de um tal de jetproplabs: «I just got back from the minneapolis show and they have still got it!!!! I saw the pixies on the Bossanova tour and this was definitely much better! The man can still howl just like a banshee and the playing was phenominal. They played just about the entire first three records and only velouria from bossanova and umass from trompe. I cannot tell you just how blown away the crowd was. The "oooh ooohs" in where is my mind were so loud that the band seemed suprised trying to figure out where they were coming from ( as Kim had stopped doing them at the top of the song.) Nimrod's son dropped into half speed part way into the song which was very cool to hear. Oh well by now I am sure that many other people are typing away so I will leave at that. If you were in doubt, get tickets to see them at Coachella!!!»

E, já agora, a setlist, confirmada pelo solace, que foi um dos que comprou o CD com a gravação do concerto, após o fim do mesmo:

Bone Machine
Wave of Mutilation
U-Mass
Levitate Me
Broken Face
Monkey Gone To Heaven
Holiday Song
Winterlong
Nimrod's Song
La La Love You
Ed Is dead
Here Comes Your Man
Vamos
Debaser
Dead
Number 13 Baby
Tame
Gigantic
Gouge Away
Caribou

Encore:

Isla De Encanta
Velouria
In Heaven->Wave of Mutilation (UK Surf)
Where Is My Mind?
Into The White

Os festivais das tradicionais no Verão

Este Verão promete no que diz respeito às músicas do mundo nos palcos portugueses. Uma visita às duas principais referências da nossa web relativamente a estes assuntos, o at-tambur e o blogue do Luís Rei, o Crónicas da Terra, deixam pistas bastante interessantes para o que está para acontecer:

Intercéltico de Sendim (início de Agosto):
La Musgaña
Milladoiro
Hedningarna

FMM Sines (final de Julho)
Warsaw Village Band

O At-Tambur dá ainda conta que o Cantigas do Maio, que não aconteceu durante 2003, continua com datas marcadas para este ano, apesar de ainda não se conhecer nenhum nome e de não se saber efectivamente se é desta que o grande festival do Seixal regressa...

terça-feira, 13 de abril de 2004

Nus



Se é que ainda não repararam, hoje é dia de Mão Morta, com o novo disco a ser distribuído nas bancas, através do Blitz.

Torres Vedras a dar cartas de novo

O quebequense Deadbeat, aliás Scott Montheit, vem a Portugal, mais precisamente a Torres Vedras, no próximo dia 1 de Maio. A primeira parte estará a cargo do nosso Rafael Toral.

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Compra do dia

"Muito Obrigado", dos Ocaso Épico.
Após algumas feiras de discos onde nas quais já se tornou hábito encontrar um raro exemplar em bom estado do "Muito Obrigado" ao preço de 50 euros (!), eis que dou hoje de caras, na Neon Records (aka A Loja do Chico) com outro exemplar, igualmente em bom estado, por apenas 15 euros... Já ganhei o dia.

A primeira de 2004



A primeira de várias compilações com os melhores temas deste ano. Em breve, no Pássaro Azul.

quinta-feira, 8 de abril de 2004

Canção do ano, já!

"Winters Love", extraída do novo álbum dos Animal Collective, "Sung Tongs". Que canção! QUE ÁLBUM!!

quarta-feira, 7 de abril de 2004

Divergências arregaça as mangas

O divergências.com prepara-se para lançar uma colectânea de música feita em Portugal. O alinhamento traz alguns nomes interessantes:

1-X-Wife, "She's Lost Control" (Joy Division Cover)
2-Fadomorse, "Xute D’Alma"
3-Fat Freddy, "Bailado do Zé do Telhado"
4-Roldana Folk, "Ele há Quem"
5-Old Jerusalem, "Our Own Time"
6-Zoë, "Carry On"
7-Bildmeister, "3 Instead of 4"
8-Kubik, "Death of Domenico"
9-Sci-Fi Industries, "De Medium"
10-Dealema, "Doa a Quem Doer"
11-MatoZoo, "A Arte da Guerra"
12-Balla, "Un Jeu Courtois" (Anonymous Mix)
13-The Unplayable Sofa Guitar, "Unless"
14-3Angle, "End Adjourn" (Nu Mix)
15-Phantom Vision, "My Last Wish Is..."
16-Sonic Pulsar, "Out of Place"
17-Pitch Black, "Standards of Perfection" (Hellbound Thrashnology Version)
18-Holocausto Canibal VS M1R, "Neuro Discrasia Sináptica"

Uma imagem ao acaso



Quem viu o "Fim-de-Semana Alucinante" (acho que era esta a tradução para o filme "Deliverance") nunca mais se esquecerá desta cena com o puto a tocar banjo...

terça-feira, 6 de abril de 2004

A revolução é em Sines

Fausto dizia, aqui há dois anos, que se ia despedir dos palcos. Mas deixemos essas palavras na penumbra do passado, por enquanto, pois o autor de "A Ópera Mágica do Cantor Maldito" vai voltar a pisar o estrado, numa ocasião rara, certamente, já no próximo dia 24 de Abril, em Sines, por ocasião das celebrações locais dos 30 anos da revolução do 25 de Abril. Do mesmo cartaz constam também os galegos Diplomáticos, que prometem partir a louça.

O primeiro concerto do Tomás

Foi no passado sábado, no Olga Cadaval. Numa plateia imensa de bebés, onde ainda estavam os filhos do vocalista dos More República Masónica ou do actor Pedro Laginha, o Tomás demonstrou que já não é gajo para ir em qualquer cena de histeria grupal. Dando conta do tédio com que recebeu aquilo que para a maioria dos outros bebés parecia ser a experiência da vida deles (uns exagerados, haviam de ver), adormeceu a metade do espectáculo.
Fiquei orgulhoso de ver tamanho sentido crítico e tamanha independência. Este puto vai longe.

segunda-feira, 5 de abril de 2004

E aqui estão outras mais

Estas agora são do Paulo Gomes. É favor "clickar" nas imagens pequenas para abrir.


Uma foto do Sikhara (Mécanosphère)



Scott "Sikhara" Nydegger. A fotografia foi tirada pelo Luís Bento (vejam outras fotografias no seu site), no concerto de Lisboa. Mais à noite, deixarei aqui mais fotos, tiradas por outro excelente fotógrafo.

De onde raio é que vem o nome? #13: Jesus and Mary Chain

Os dois irmãos Reid contam que foram buscar o nome a uma embalagem de cereais, onde se podia concorrer a uma corrente (braceleta ou colar? a tradução não é fácil...) de Jesus e Maria...

Os discos que mudaram as nossas vidas. #5: The Jesus and Mary Chain "Darklands"


The Jesus and Mary Chain "Darklands" (Blanco Y Negro, 1987)

Chegou-me com autoridade aos ouvidos primeiro que "Psychocandy", a conselho da rapariga mais bonita da turma da sala ao lado, no 9º ano. O segundo álbum dos "Jesus" soava-me muito melhor que os Cure e os Cocteau Twins que as miúdas "vanguardas" de então idolatravam. Também era dolente mas não tão comiserativo quanto me pareciam os outros exemplos. Fartei-me de ouvir "Happy When it Rains" nos headphones, à chuva, sentindo empatia por um refrão que combinava com a minha aversão a chapéus-de-chuva e a dias calorentos... :)
Pouco depois, veio então a descoberta dos sons mais duros dos "Jesus", de "Psychocandy" ou da compilação "Barbed Wire Kisses" e a confirmação de uma devoção que se manteria nos dois álbuns seguintes.

Pixies gravam concertos e vendem-nos logo a seguir

Esta é que é a verdadeira "Filthy Lucre Tour"... Pelo menos, assim começa a parecer, de acordo com as notícias que nos vão chegando, como esta da Pitchfork, que dá conta que os Pixies vão ter um estúdio móvel nos seus concertos norte-americanos que gravará os espectáculos para os vender num duplo-CD apenas alguns minutos após o soar do último acorde. Trata-se de uma joint-venture com a DiscLive, que já está a aceitar ordens de encomenda dos referidos discos, estando já esgotado os 1000 CDs que serão distribuídos no final do espectáculo de Minneapolis, na próxima semana.
(Isto faz-me pensar nas dezenas e dezenas de concertos de Pixies que trocava aqui há anos... E naquelas histórias que se ouvia de espectáculos em Reading, que os piratas disponibilizavam algumas horas após os concertos... Mudam-se os tempos.)

domingo, 4 de abril de 2004

O dinheiro mais mal gasto do ano

Não foi preciso dar muito tempo para que as interrogações que mantive até ao início do concerto se desfizessem. Os Kraftwerk actuais são o grande barrete do rock'n'roll de hoje. Enchem o coliseu de histeria por um fenómeno que perdeu todo o sentido nos tempos que correm. O "tour de france" e o novo álbum, com que o espectáculo começou, mais parecem uma demonstração em grande escala dos novos sucessos do tunning. Como pode haver paciência para aquele tecno basico-foleirão?
(Houve momentos de excepção. "Radioactivity" ou "Trans-Europe Express" foram geniais. Já em "The Model", por exemplo, acho que vibro mais com o toque do telemóvel do que com a execução ao vivo deste tema...)
Raus Kraftwerk.

sexta-feira, 2 de abril de 2004

O ponto de interrogação

Para o José Marmeleira

Lá mais abaixo perguntavas-me por exemplos da "regra" (aquela que tinha a ver com a industrialização das formas de fazer jornalismo/crítica musical, de que o Rui Monteiro falava, penso eu, na citação que lhe fiz). Abre o Y de hoje (devo dizer que nada tenho de especial contra o semanário do Público e muito menos contra os bons profissionais que vão fazendo das tripas coração para que todas as semanas possa sair a publicação -- sublinho que se trata de um fenómeno que vai, na maior parte das vezes, além das liberdades pessoais daqueles que escrevem ou editam e que é algo de transversal na imprensa, seja tanto cá dentro como lá fora).
Mas abre então o Y. Hás-de encontrar dois destaques grandes, com entrevistas longas e imagens de meia página ou mais a dois grupos, um estrangeiro, o outro português. As críticas aos respectivos discos não são, no entanto, particularmente entusiastas do trabalho desenvolvido pelos dois grupos. Ambas saem, aliás, com a classificação 6/10. Porquê então perder tanto espaço com estes dois assuntos? Repara, não sou adepto da ideia de que um jornal deva ocupar todo o seu espaço para falar do que acredita que é, na sua óptica, merecedor e valioso. Pelo contrário, acho que os críticos devem também marcar posição fincada em relação ao que acham que seja medíocre, banal ou mesmo desprezível. No entanto, se os dois discos dos quais se fala na edição de hoje são assim tão medíocres, porque razão achará então o Y que os seus leitores estão interessados nas palavras dos respectivos autores? Porque aqueles grupos tinham que ter uma entrevista? Não sei se é disto que o Rui Monteiro falava (até acho que lhe vou perguntar), mas foi pelo menos essa uma parte da interpretação que fiz...

Metamorfoses

Steve MacKay e Adolfo Luxúria Canibal abrem a contenda. São eles os mestres de cerimónia, os arautos das tropas que hão-de vir, os porta-estandarte da celebração que as poucas dezenas de pessoas que se espalham pela plateia do Alquimista vão enfrentar nesta noite. Não é um concerto a duas partes entre o Steve MacKay Radon Ensemble e os Mécanosphère, mas antes um único espectáculo, um mistifório de contributos de parte a parte, um processo contínuo de metamorfose, um ritual tribalista feito de improvisações. Os músicos vão entrando e saindo de palco, onde no qual ensaiam, sem rede, cumplicidades levadas ao extremo da catarse, que acabam por contagiar o público, que por pouco tempo conseguirá manter a pose de aparente indiferença aos urros do Adolfo; às deambulações delirantes do Scott "Sikhara", o norte-americano em permanente fuga do seu país; ao free jazz do Steve, intoxicadamente coltraneano por vezes; aos cataclismos rítmicos dos três bateristas (Benjamin Bréjon, Le Pilot Rouge e Sam Lohman). É uma noite única. Os Mécanosphère não repetirão jamais este alinhamento, estas sequências sonoras, estes textos. Não estando nada especialmente previsto, quase tudo se desenrola ao sabor do improviso, no limiar, por vezes, da loucura. É a celebração do momento vivido, da situação que se cria no momento. O Sikhara está alucinado e parece querer destruir o palco, mas refreia os ânimos, apesar de já ter abalroado uma das baterias (para desespero do dono, que se encontra na assistência). Calmamente, vai arrumando o seu material enquanto os outros retiram dos destroços de bombos e timbalões grandes e pequenos espalhados pelo palco os derradeiros ritmos, num final de celebração inteiramente demolidor. Depois disto, nada interessa mais, nem mesmo o "Ziggy Stardust", na versão dos Bauhaus, que o DJ do Alquimista escolhe para suspender o silêncio que ficou nas colunas. Que vontade de te abrir um lenho na testa...

quinta-feira, 1 de abril de 2004

Os discos que mudaram as nossas vidas. #4: Pop Dell'Arte "Free Pop"

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Pop Dell'Arte "Free Pop" (Ama Romanta, 1987)

Na continuação desta rubrica era obrigatória esta referência a um daqueles discos maiores da música feita em Portugal nos anos 80. "Free Pop" é uma obra prima que me enche de saudosismo (ah, eterna condição de português de olhar com lamento para o passado que não se repete). Os Pop Dell'Arte eram, juntamente com os Mão Morta, as duas bandas que maior devoção (literalmente, mesmo) solicitivam na minha adolescência. Por esta altura, curiosamente, havia entre as duas bandas uma relação que tinha tanto de competitiva quando de simbiótica, como aliás espelhava o último tema do disco, "Juramento Sem Bandeira", uma espécie de manifesto ideal para estes anos de militantismo, como hoje se recorda, da música portuguesa.
Se já era complicado explicar às outras pessoas como se podia gostar de um grupo que cantava em estranhos idiomas inventados para o efeito, como dizer que era até aí que residia parte do fascínio pelo grupo de João Peste? Que era naquele surrealismo pegado (ainda que na altura não devesse saber o que era o surrealismo, e muito menos o dadá) que encontrava razões para ouvir e reouvir infinitas vezes as cassettes onde tinha o disco gravado? Que "Bladin" (apesar da sua estranheza) ou "Avanti Marinaio" exprimiam de forma sublime um romantismo do passado?
Obrigado, Pop Dell'Arte. Obrigado, Ama Romanta.

A não perder, seja por que motivo for



Os Mécanosphère estão de volta para mais concertos, depois do imenso estrondo que foi o concerto na Feira do Livro de Lisboa, no ano passado. Benjamin Bréjon, Adolfo Luxúria Canibal, Le Pilot Rouge e Scott "Sikhara" Nydegger estão prontos para mais três noites de pura improvisação. Cada concerto é, como se sabe, uma experiência literalmente única: não existe um reportório nos Mécanosphère. Não se espere, portanto, ouvir os temas que vão compor o novo álbum, "Bailarina", que terá edição pela Independent Records durante este mês de Abril.

O cartaz destes concertos apresenta ainda outro motivo mais do que suficiente para a deslocação ao Santiago Alquimista (hoje), ao Mercedes (amanhã) ou ao Teatro de Sant'Ana de Leiria (sábado): Steve MacKay, lendário saxofonista que participou na formação dos Stooges de "Funhouse", e que colaborou com nomes como Snakefinger (o Residents mais conhecido de todos) ou Violent Femmes, entre outros, traz a Portugal uma versão do seu Radon Studio, o Steve MacKay Radon Ensemble, onde tocará juntamente com o baterista Sam Lohman (ex-Sheer Terror) e o actual Mécanosphère Scott Nydegger. A expectativa é grande...

Mais informações:
www.mecanosphere.net
www.radonstudio.com
www.independent-records.com