sábado, 11 de setembro de 2004

C93 e amigos @ Ibérico

Por estes ouvidos ainda ecoa a melodia de "A Gothic Love Song", com que os Current 93 encerraram esta noite um último encore, arrancado a ferros por uma assistência em estado de apoteose, depois de cerca de hora e meia de concerto de David Tibet e restantes elementos que desta vez deram vida ao seu projecto de duas décadas, numa formação mais alargada e mais diversificada daquela que tocou naquele mesmo espaço -- o belíssimo Teatro Ibérico -- no ano passado. A propósito, se a esses dois espectáculos anteriores esteve associada, de certa forma, uma vaga ideia de poema musicado, com Tibet essencialmente a declamar para o público, com os músicos remetidos para o fundo, desta vez o piano, as guitarras, o acordeão, a flauta ou o violino fizeram por ir mais longe. Impediram que a monotonia se instalasse, tanto no plano musical, como visual (Tibet não parava quieto) e enriqueceram a paleta de sublimes sensações que estremecem com o íntimo de qualquer um.

Ben Chasny (aliás, Six Organs of Admittance) notou-se pouco na formação dos C93, excepção feita a um dos encores (sozinho com Tibet) e a um dos melhores momentos do concerto, em que Tibet recuperou um tema com mais de vinte anos, retirado do primeiro álbum e raramente tocado ao vivo ao longo de todo este tempo: "Ach Golgotha (Maldoror Is Dead)". Mas quando Ben abriu a noite, sozinho, foi diferente. A forma como se agarra à guitarra e a dedilha com um frenesi inenarrável faz por vezes lembrar Paredes -- passe a heresia que é dizer um disparate como estes -- abraçando a sua guitarra portuguesa. Genial. E, numa noite como estas, percebe-se que o alinhamento se tivesse inclinado mais para os temas obscuros do seu reportório, mais próximos de uma certa folk pintada a negro.

Menos boas foram as outras duas actuações a solo. O/a Baby Dee ao piano, de pijama e chinelos, fez lembrar, com alguma distância, determinados trejeitos vocais de Antony, da primeira parte dos C93 no ano passado. Ou então um John Cleese nos seus fantásticos papéis de dona de casa que tem sempre algo a dizer para os anúncios de margarina e que, no caso, se safa a tocar piano. Nada que se comparasse, contudo, à desilusão chamada Simon Finn, cantautor canadiano, desdentado e plagiador de "All Along the Watchtower", que estava afastado da música há mais de trinta anos, altura em que lançou o seu único álbum. Depois de ouvir Ben Chasny, seria impossível que a folk psicadélica de dicção pouco clara de Finn vingasse. Mas o público em geral parece ter gostado, ainda assim.

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