Apetecia-me escrever 500 ou 1000 linhas sobre "Tiago Capitão", tema que abriu o primeiro dos três encores da noite, que encerra o novo "Pesadelo em Peluche" e que é, na minha opinião, o melhor momento dos Mão Morta nos últimos anos. Ainda que não seja especialmente rico ou diversificado de composição ou de arranjos, podendo resumir-se a um riff de piano, ao qual vão sendo sobrepostos e contrapostos cânones nos outros instrumentos, inclusive na voz de Adolfo, num refrão também ele repetitivo -- "Vamos em frente, olho por olho, dente por dente, ó Capitão" -- há algo por ali que mexe em memórias e afectos, talvez a atmosfera de canção antiga de revolução, de canção de partisanos em homenagem a um herói nunca esquecido no tempo... cheguei até a imaginar o tema no reportório do Zeca Afonso. Não é tão bom quando a música nos faz ter estas viagens?
O contraponto de "Tiago Capitão", e daí o título deste texto rapidamente amanhado por falta de tempo para mais, foi "Como um Vampiro". Confesso que tenho grandes dificuldades em conceber o grupo neste registo (inédito) de "gótico alla Heroes del Silencio" -- lamento não encontrar outra forma menos ofensiva de o dizer -- ainda para mais com o vocalista dos Moonspell, segunda voz no disco e no palco desta noite, que ainda trouxe um colorido, passe o termo, mais folclórico à ocasião.
Entre os novos temas, aos quais faltará certamente a necessária rodagem (ainda que, surpreendentemente, tenham corrido muito melhor do que esperava para uma primeira apresentação, fosse quem fosse que estivesse em palco), destaco ainda "O Seio Esquerdo de R.P.". Juntamente com "Tiago Capitão" e "Estância Balnear" (que, salvo erro, faltou) constitui um dos melhores momentos do disco. Houve ainda, claro, a recuperação de canções antigas, que funcionam sempre -- começaram, aliás, por agarrar desde logo o público com "Oub'Lá" e "E Se Depois".
Foi bom, mas também foi estranho. Certamente que os extremos a que aludi ajudaram muito a esta sensação de estranheza com que saí (não fui o único, entre os que me rodeavam) do Coliseu depois destas duas horas ou mais de concerto. Uma coisa é garantida: venham mais, que até agora, não nos cansámos. E eles também não.
Alinhamento, obtido em parte com ajuda da reportagem da querida Lia no Blitz (para o fim, a ordem já não é certa, desculpem):