segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O que faz um público?

Público? O que é, o que o cria, o que o move? Comunidades? O que são, o que as cria, o que as move? O observador mais atento consegue, com ou maior ou menor esforço, chegar a estas respostas, mas... sempre? Talvez não. Tem que haver uma margem de erro que tolde sempre qualquer análise mais determinista. Senão, o que justifica, por exemplo, que um grupo como os Hipnótica não seja hoje seguido nos seus concertos por centenas ou até mesmo milhares de pessoas?

Serem difíceis? Não pode ser. Talvez nem todos os ouvidos tenham a predisposição (ou a formação) necessária para absorverem com maior profundidade os elementos mais complexos e quase inexpugnáveis das actuais composições do grupo, mas a música é inteiramente acessível à partida.

Terem passado da moda por estarem ainda rotulados com o downtempo e o trip hop? Também não pode ser, não só porque o downtempo e o trip hop já não estão de novo assim tão fora de moda, mas até porque os Hipnótica estão cada vez mais roqueiros (a guitarra voltou a ser um instrumento essencial, por exemplo) e cada vez mais bombásticos ao vivo, o que corresponde já mais aos actuais padrões de moda da música popular.

Serem músicos diletantes? Até o podem ser por definição, mas estão em processo constante de criação. Lançam álbuns com regularidade, dão os concertos que podem, musicam filmes e dão-se até ao luxo de tocarem temas inéditos em apresentações de álbuns, como se não houvesse tempo a perder, dando o rótulo de proibido à palavra comodismo.

O que pode estar, então, na origem do underrating dos Hipnótica? Como é que não houve mais gente a assistir ao fantástico concerto deste sábado no Music Box? No ouvido ainda ressoam os temas deste belíssimo novo álbum "New Communities For Better Days", os inéditos e a quase epifânica versão para "Song to the Siren", do Tim Buckley, ou a forma como o concerto acabou, ao jeito dos Akron/Family, com toda a gente a cantar "Women of the World", de Ivor Cutler, mas redescoberta no "Eureka" de Jim O'Rourke (olhem, outro génio que nunca teve o reconhecimento merecido do público).

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