terça-feira, 5 de julho de 2005

A capa

Longe vai o tempo em que era frequente verem-se miúdos e crescidos transportarem consigo o Blitz nas manhãs de terça-feira, a caminho da escola ou do trabalho. Percebia-se logo: aquele sujeito gosta minimamente de música. Por razões diversas, sendo que provavelmente o advento da internet é a principal delas, o "Diário da República", como então chamávamos àquela companhia obrigatória de todas as terças-feiras, foi perdendo o seu carisma. A marca, por assim dizer, foi perdendo prestígio. Um período relativamente recente, marcado pela re-orientação do público-alvo, na tentativa de chegar às faixas etárias mais baixas e aos fãs da moda passageira do nu-metal, em vez de alargar, contribuiu ainda mais para o naufrágio da marca. De repente, já era quase como que uma vergonha trazer o Blitz debaixo do braço todas as manhãs de terça-feira. Independentemente, claro, do valor incontornável do trabalho da maior parte dos redactores e fotógrafos da casa, que teimavam em contrariar a tendência da melhor forma que podiam. Tarefa ingrata. O Blitz é cada vez menos consumido, cada vez tem menor capacidade para influenciar o meio onde se insere, ao contrário do que vieram a conseguir, por exemplo, os destacáveis do Público ou do DN.
Cheguei a imaginar que a nova estratégia desta nova direcção pudesse passar pelo caminho seguido pela direcção cessante, ou seja, o de devolver valor à marca Blitz. Se ainda for esse o objectivo, este primeiro passo é um tiro no pé. Com o beto Gant a olhar para as mamas da stripper loira, uma capa imposta pela direcção a uma redacção que a vetou, menos Blitzes ainda andarão, provavelmente, a passear debaixo do braço. Menos Blitzes ainda aparecerão expostos nos locais habituais. Onde o comprei hoje, num grande quiosque da Alexandre Herculano, do Blitz só se via o logotipo, escondido que estava o jornal por entre outras publicações de menor interesse. Perante a dificuldade na busca do livro do Quarteto Fantástico, que esta semana acompanha o jornal, a senhora do quiosque dizia-me: "É o meu marido... disse-me que o Blitz não presta e que, portanto, tem que ir lá para o fundo. Ele não tem a sensibilidade que uma mulher tem, não é? Ele pode não gostar, mas tem que perceber que há pessoas que gostam..."

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários antigos, da haloscan/echo, desapareceram. Estão por isso de regresso estes comentários do blogger/google.