No próximo dia 19, começa mais uma edição. Até dia 28, cumprindo a tradição do encerramento no último fim-de-semana do mês, os palcos do FMM vão receber gente de todas as paragens, engrossando um vasto e nobre currículo que atira com este festival para as melhores páginas das publicações estrangeiras dedicadas às músicas das várias latitudes e longitudes. Este ano, vamos ali ter, entre muitos outros, a Oumou Sangaré a partilhar o Mali com o Béla Fleck; o Marc Ribot, que traz os seus fantásticos Cubanos Postizos, a partilhar a sua guitarra com os “nossos” Dead Combo; os L’Enfance Rouge que trocam receitas de explosão sónica com as melodias árabes da voz do tunisino Lotfi Bouchnak; também da Tunísia, o Dhafer Youssef que empresta a magia do toque no seu Alaúde ao jazz; a Orquestra Todos que reúne parte do mundo que Lisboa alberga; o Ensemble Note della Taranta que prepara um espetáculo nunca antes visto em Sines; a Amélia Muge, que se junta ao grego Michales Loukovikas num périplo mediterrânico; e mais o Tony Allen com o afro beat, o Otis Taylor com o blues americano, o Bombino com o blues do Saara, o Hugh Masekela com todo o peso de uma carreira notável no jazz africano e norte-americano, o Nortec Collective com eletrónica Cal-Mex, a Imperial Tiger Orchestra com a Etiópia gloriosa, os Shangaan Electro com a velocidade estonteante das novas batidas sul africanas, a Mari Boine, que é sempre tão bem vinda, o Lirinha que regressa depois do cataclismo que protagonizou em Sines com o Cordel do Fogo Encantado, o Zita Swoon Group, que agora se virou também para África, o Eyvind Kang, o Gurrumul, os Astillero, os Uxu Kalhus, os Osso Vaidoso, o Lirinha. Estes e tantos, tantos mais.
Thank you, Carlos. Quem vai ao FMM já se habituou a ouvir esta frase, pequena mas sentida, da boca dos músicos que por ali vão passando e que ano após ano perguntam se podem regressar. Mas, ainda assim, pouca gente entre o público conhece o diretor artístico do festival. Carlos Seixas, o homem ao leme do FMM desde o seu início, pai e avô, fez 60 anos há poucas semanas, mas tem o entusiasmo, o gosto pelo que faz e o espírito de risco que poucos conseguem ainda conservar quando atingem metade daquela idade. Além de meter inveja a todos com a jovialidade que transporta no rosto. Diz-se que tem o retrato de Dorian Gray em casa.
Nasceu em Viseu e viveu a primeira juventude no Porto, onde estudou Economia. Foi professor de matemática de liceu entre 73 e 84, do norte ao sul de Portugal e, pelo meio, em Angola. Como qualquer pessoa que se preze nesta geração, também ele esteve ligado ao famoso movimento dos cine clubes, primeiro o CCP (Porto), depois o Cine Clube e Cooperativa Livreira de Viseu, ajudando ainda a fundar o Cine Clube de Lagos. Viveu em Sines, onde colaborou com o Teatro do Mar e fez parte da comissão instaladora do Centro Cultural Emmerico Nunes. Em 1987, foi para a Guiné-Bissau, onde trabalhou para o Centro Cultural Francês e para a UNICEF. Em Angola, liderou um projeto da ONU para a reintegração de militares. No regresso a Portugal, em 1998, Manuel Coelho, o presidente até hoje da Câmara Municipal de Sines, convida-o para a programação cultural da autarquia, dando início, no ano seguinte, ao FMM. Hoje é ainda responsável pela programação do Centro de Artes de Sines e integra a Associação Pró-Artes desde a fundação da Escola das Artes de Sines. O FMM não foi o único festival em que trabalhou em Portugal. Também o "Músicas do Mar", na Póvoa de Varzim (2007 e 2008) e o "Viseu a 15 do 6" (2007), contaram com a sua ajuda na programação.
Ao longo destes próximos dias, enquanto não chega o FMM, o Carlos Seixas vai responder aqui a algumas perguntas a respeito do festival. O que já passou, o que passará este ano, o que se passa na sua cabeça para o futuro do festival. Para primeira pergunta, um clássico das entrevistas. Como é que tudo começou.
1. Como é que surgiu o FMM? Como é que surges ao leme desta aventura, sem teres experiência, pelo menos por cá, na produção deste tipo de eventos?
Numa conversa prévia com o Manuel Coelho, constatou-se que a cidade tinha todas as condições para acolher um festival de música. Um porto milenar e cosmopolita; uma personagem histórica que embora controversa nasceu aqui; um espaço nobre, uma estrutura urbana e envolvente adequada; uma comunidade aberta ao mundo e recetiva à diferença.
Não havia dúvidas quanto ao formato do festival. É nos portos que o mundo se encontra após travessia de oceanos ou de um sem fim de cruzamentos aleatórios numa terra que não é a nossa. Os contactos interculturais existiam de há séculos, mesmo anteriores às viagens do capitão no século XVI e continuaram após a implantação dos portos industriais na zona.
O festival teria de ser um ponto de encontro da diversidade cultural, acontecimento e montra das expressões musicais do mundo! O nome embora ambíguo surgiu de uma forma óbvia: FMM.
A minha experiência africana foi determinante. Já tinha programado e produzido, durante vários anos, eventos para o Centro Cultural Francês e para a Unicef. Como exemplo em relação à música, um concerto ao ar livre do senegalês Youssou N’Dour, em 1992, na praça Che Guevara, na cidade de Bissau.
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