domingo, 2 de abril de 2006

"Eu sei que a vossa vontade é abraçarem-me, eu sei que a vossa vontade é despirem-me..."

A fila. Não havia compra antecipada de bilhetes (só reserva de mesas) e, logo pelas 22h30, a fila começava já a demonstrar alguns contornos burlescos. A excitação pairava no ar, como se este fosse um evento há muito aguardado e os microfones da rádio e as objectivas dos fotógrafos foram apanhando o momento. Não, não era a fila para a compra de bilhetes para o regresso dos U2. Era a fila para a entrada no concerto do José Cid, no Maxime.

O ambiente. A sala depressa encheu. Era impossível circular sem dar um encontrão numa tia do T-Club, num queque das docas, num daqueles broncos do clube de fãs do Fava com Chouriço, na elite fashion do Bairro Alto, na elite fashion do Lux, numa actriz conhecida, no Avô Cantigas, no Luís Montez ou no David Ferreira. Se Cid era o rei da noite, desde cedo também se percebeu que a histeria daquela gente iria com ele partilhar o trono. Mas nem tudo era assim tão "urticante": do sistema de PA saía esse magnífico -- a sério, magnífico -- trabalho que é "10 000 anos depois entre Vénus e Marte".

O espectáculo. Cid é uma personagem inexplicável. Génio? Clown? As duas coisas ao mesmo tempo? Ele é a Rita Lee portuguesa ou até mesmo uma versão compacta dos Mutantes para piano e voz, mas também é o entertainer de cabaret (a conjugação com o espaço era, daí, naturalmente perfeita) ou, nos momentos mais simianos, o único nacional cançonetista que ainda não foi esquecido. Toda a gente conhece as canções de cor (bom, nem todas, como aquela do "Deus Inventou o Rock" -- bem catita, por sinal). Há direito a "Vinte Anos" (duas vezes), "No Dia em que o Rei fez Anos", "A Cabana", "Como o Macaco Gosta de Banana" (horror, horror, fujam!), "Eu Nasci para a Música", "Cai Neve em Nova Iorque", "Adio, Adieu, Auf Wiedersehen, Goodbye" e muito mais. Afinal de contas, foram cerca de três horas (há que descontar o longo intervalo) de concerto, onde ainda se pôde ouvir (mas porquê? porquê?) versões de Rui Veloso e, ainda pior (a sério, como é que ainda podia ser pior?), Luís Represas. E vários convidados, como Paula Varela Cid, uma cantora lírica galega arrepiante (no pior dos sentidos) e o homem da casa, Gimba (para o "Navio" dos Afonsinhos do Condado"). E o povo ainda ficou a gritar pelo bis do... "Macaco". Terá Cid vivido todos estes anos da música para agora ser adorado pelo público como o novo Quim Barreiros?

After-hours. Ao set de disco e funk do giradisquista da noite, sucedeu-se, já lá para as tantas, o outro espectáculo da casa. E, não, não vão haver aqui descrições do que se sucedeu. Quem quiser que vá ao Maxime numa destas noites e veja com os próprios olhos o que aquela casa, agora nas mãos de pessoas tão equilibradas como o nosso presidente Manuel João Vieira e o sempre inclassificável Gimba, seja de supor que ofereça...

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