quarta-feira, 21 de maio de 2008

Os jovens não acreditam no futuro e a culpa é nossa

Vítor Belanciano vai buscar o diploma de sociólogo ao armário para entrevistar Lawrence Grossberg, um dos primeiros académicos a levar a música e a "cultura popular jovem" para a universidade. Leitura obrigatória.

Alguns excertos:

A vida dos jovens, nos EUA, mudou imenso. O contexto da música também - a forma como se relacionam e a importância que lhe atribuem modificou-se. Em parte, pela tecnologia. Para a minha geração - talvez até aos anos 1980 - a música era das poucas coisas que tínhamos em comum. Intensificava o sentimento de pertença. Agora a música está integrada no quotidiano, ao lado dos computadores, internet, telemóveis. A forma como a música atribui identidade mudou. Não é menos ou mais intenso, mas o contexto é outro. Nos anos 1970, os gostos musicais definiam quem éramos e quem queríamos ser. Hoje, os jovens são mais abertos, mais eclécticos, menos cínicos - ou mais cínicos porque a minha geração acreditava na "autenticidade" e eles estão-se nas tintas. Acreditávamos que ser jovem era bom e a música era uma forma de o celebrarmos. Não creio que hoje pensem assim. É verdade: muitas das coisas que escrevi há 20 anos tornaram-se irrelevantes, já não captam as contradições e as dinâmicas da actualidade.

Não há novas visões do que pode ser o futuro. Nos anos 60 não existia uma noção específica do que esse futuro podia ser, mas havia a ideia que existiam outros estilos de vida. Nesse sentido, demos expressão à maior parte da "cultura jovem", que não era muito politizada, mas que - através do rock, por exemplo - foi capaz de rejeitar o american way of life. Agora não temos uma visão para oferecer de como o futuro pode ser. Estamos numa fase em que qualquer coisa está a desaparecer e existe outra que se prepara para nascer e ainda não conseguimos distinguir o que é.

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