segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Os 12 (pequenos) trabalhos de Patti Smith

Chama-se "Twelve" e é o mais recente álbum de Patti Smith (não sendo propriamente uma novidade, só aqui chegou agora). À escolha do título não será estranho o facto do disco reunir 12 versões de canções bem conhecidas. Lamentavelmente, quem esperar encontrar grandes adaptações por parte da cantora norte-american é melhor que esqueça "Twelve". Ainda assim, há alguns momentos notáveis no disco. Aqui fica uma breve descrição das versões aqui incluídas.

1. "Are you Experienced?" (Jimi Hendrix)
Não é de esperar que as versões de Patti Smith nos façam esquecer os temas originais, tanto mais quando falamos de colossos como este. Mas podiam, como acontece lá mais à frente, fazer pensar que estamos, por segundos que sejam, perante Patti Smith e que nada mais há para trás. Mas não é o caso deste tema escolhido para a abertura. A toada é mais lenta, mas não há propriamente novidade alguma que justifique algum interesse real desta adaptação. Por curiosidade, lê-se no disco que esta versão foi gravada justamente nos estúdios Electric Ladyland.

2. "Everybody Wants to Rule the World" (Tears for Fears)
O mundo já tinha esquecido, e ainda bem, os Tears for Fears. Não havia necessidade de os relembrar. E a versão parece quase decalcada a papel químico.

3. "Helpless" (Neil Young)
É uma das mais bonitas canções alguma vez escritas e são serenos os arranjos desta versão, onde não se deixa de notar um belíssimo acordeão.

4. "Gimme Shelter" (Rolling Stones)
A única coisa a destacar é o slide na guitarra de Tom Verlaine. De resto, os arranjos são muito pobres.

5. "Within You Without You" (The Beatles)
Nada de especial a assinalar.

6. "White Rabbit" (Jefferson Airplane)
Este é um daqueles temas que parece ter sido escrito para ser cantado por Patti Smith. Não trazendo qualquer novidade de especial face aos arranjos originais, é precisamente essa identificação com o universo artístico da cantora que aqui joga em favor desta versão. Curiosamente, Patti Smith chama a Grace Slick, a vocalista dos Jefferson Airplane, a "rainha do rock'n'roll". Quem a ouvir a dizer estas palavras ainda vai julgar que ela estará a olhar para o espelho (talvez o "espelho" de Alice, a de Lewis Carrol, que serviu de inspiração para este tema).

7. "Changing of the Guards" (Bob Dylan)
A poetisa encontra o poeta e presta-lhe homenagem convincente. É uma das faixas onde mais bem sobressai a voz de Patti Smith.

8. "The Boy in the Bubble" (Paul Simon)
Esta é, pessoalmente, a grande surpresa deste disco. Ainda há dias gravava eu uma compilação para uma amiga onde na qual, ao abrir com o tema original de Paul Simon, lhe dava a entender que tinha sido ele, através de "Graceland", o álbum onde esta canção surge na abertura, a convidar-me a descobrir aquilo que hoje banalmente chamamos "músicas do mundo". E os arranjos desta versão são verdadeiramente arrojados, finalmente. Uma dulcimer (tocada por Rich Robinson, dos Black Crowes) dança apaixonadamente com um baixo tocado de forma vigorosa, ao que se alia a voz com um tudo nada de saturação de Smith. Tudo isto dá vontade de dançar, tal como dá o tema original, mas sem o repetir. E é um tema fortemente político, um terreno onde Patti Smith se sente em casa como ninguém. É um dos momentos do disco que fazem esquecer a mediocridade de tudo o resto.

9. "Soul Kitchen" (The Doors)
Conta Patti Smith que um dia teve um sonho onde um diabrete a mandava tocar este tema. Acordou, saiu à rua, e do rádio do camião do lixo que passava em frente à sua casa ouvia-se, justamente, "Soul Kitchen". Não é das piores versões deste disco, mas falta-lhe qualquer coisa que nos leve a querer voltar a ouvi-la.

10. "Smells Like Teen Spirit" (Nirvana)
Depois de "The Boy in the Bubble", o outro grande momento desta colecção de versões. Um contrabaixo e um baixo arrancam com o tema. A voz de Patti Smith surge como a de uma lasciva entertainer de cabarê. Surge um violino. Os arranjos, essencialmente acústicos, fazem lembrar Tom Waits e família, e conseguem criar uma tensão notável à medida que se aproximam os refrões. A voz de Smith transforma-se aos poucos e poucos, passando a assumir mais o papel de "diseur" activista que lhe cai tão bem. Fosse todo o álbum assim e teríamos disco do ano, não importando sequer que de um disco de versões se tratasse. Volta-se a ouvir uma, duas, três, as vezes que forem preciso. Este é um daqueles temas que não cansam.

11. "Midnight Rider" (Almann Brothers)
A voz de Patti Smith volta ao piloto automático.

12. "Pastime Paradise" (Stevie Wonder)
Depois do "sample" de Coolio nos anos 90, era relativamente arriscado fazer uma versão deste tema. Por mais inglória que possa ser a tentativa de recuperar "Pastime Paradise" às mãos do hip hop, fica aqui uma versão com arranjos competentes, sem serem extraordinários, e com uma colocação de voz soberba por parte de Smith.

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