segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Música para crianças

Vem isto na sequência de uma troca de ideias aqui neste local. Existirá música para crianças? Bom, na prática sabemos que existe. Basta passar pelo supermercado ou ligar o Panda dois minutos. Mas existirá efectivamente uma verdadeira música para crianças além das portas de uma sala de reunião de marketeers?

A música para crianças, dir-se-ia, ostentará, além da vertente lúdica, uma indispensável vertente didáctica. Muito bem. Mas quais são os exemplos que encontramos hoje por aí em que isso efectivamente aconteça? No poim-poim do Avô Cantigas?

A música, nos seus aspectos mais básicos (tonalidade, harmonias, ritmo, melodias, etc.) é diferente da literatura, por exemplo. Os bebés conseguem apreender a harmonia entre diferentes sons desde os primeiros meses de vida (dentro até do ventre da mãe, de acordo com determinadas correntes). Já para a leitura propriamente dita precisam de ter absorvido um conjunto de conhecimentos que lhes permitam decifrar os códigos de linguagem, de escrita, de narrativa, etc. Daí que seja natural a existência de algo como "livros para crianças", cheios de bonecada para as mais tenras idades ou de linguagem simples para aqueles que começam a ter as suas primeiras leituras. Mas a música, repito, nos seus aspectos mais básicos, rever-se-á também nesta lógica?

O meu filho, com três anos e meio, adora os pinguins que ouve nos intervalos do Panda, mesmo que não perceba a ponta de um corno do francês. Mas também salta rapidamente do sofá para dançar freneticamente aos National, por exemplo, como testemunhei ontem. A propósito, a primeira coisa que o pai lhe deu a ouvir, um pouco por acidente, foi... Lightning Bolt. Baixinho, claro. E não mostrou qualquer desagrado. No FMM de Sines deste ano, as oficinas de trabalho foram pela primeira vez exclusivamente dedicadas a crianças. Os músicos que à noite faziam, hum, "música para adultos", estavam ali a partilhar as suas estranhas músicas a um público infantil que, diz-se, terá adorado. O que é que terá então a música para crianças assim de tão diferente das outras que ninguém diz que sejam para crianças, mas que são recebidas da mesma forma por estas?

A música é um produto comercial, evidentemente. Só numa lógica de criação de valor comercial num produto pelos departamentos de comunicação (a montante e jusante, simultaneamente, da escrita de música) é que se entende o conceito de música para crianças. Acaba por ser tão válido como alguns iogurtes para crianças que por dentro são iguais aos dos adultos. Apenas a embalagem difere. E se estas formatações artificiais (que rapidamente ganham legitimidade social, note-se) ficassem só por aqui, já não seria mau...

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