quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

João Pedro Pais, poeta injustiçado (sic)

(Recebi há pouco este mail. Sendo do maior interesse deste blogue estar na vanguarda da divulgação de estudos particularmente pertinentes sobre assuntos particularmente... err... transversais à sociedade portuguesa, como é o caso presente, é com a maior honra que a seguir se publica, na íntegra, esta tese de literatura avançada pop, da autoria de um estudioso que solicitou ficar anónimo. Tratemo-lo por "Miguel", como se faz nos noticiários da TVI, mesmo que nunca mais voltemos a chamá-lo pelo nome.)


João Pedro Pais é, para alguns, o melhor músico da sua geração. Para outros é o "Robbie Williams português". Para mim é um dicionário de rimas ambulante. Um dicionário de sinónimos Porto Editora, uma Enciclopédia e o CD "Falar por Sinais" são o necessário para uma tarde bem passada a fazer Palavras-Cruzadas.

Mas não nos fiquemos só pelo riso sufocado enquanto desligamos rapidamente a RFM. Numa primeira tentativa de encontrar o real significado de cada verso por detrás do elevado estado alcoolizado do autor, tenho o prazer de apresentar uma análise cuidada do hit "Um Resto de Tudo".

Um Resto De Tudo

Desce pela avenida a lua nua
(Estou a descer uma avenida à noite)

Divagando à sorte, dormita nas ruas
(Estou desorientado e com sono. Ao usar ruas em vez de "avenidas" já consigo quase rimar com lua nua)

Faz-se de esquecida, a minha e tua
(Não sei o que acabei de escrever mas pelo menos "tua" também rima com lua nua)

Deixando um rasto, que nos apazigua
(Lua, nua, ruas, tua, apazigua. Boa. Vem aí o refrão!)

Refrão:

Sou um ser que odeias mas que gostas de amar
(Uma contradição fica sempre bem... tem panache...)

Como um barco perdido à deriva no mar
(Grandiosa comparação: "Um ser que odeias mas gostas de amar como um barco perdido à deriva no mar". As outras hipóteses eram "como um pássaro ferido a tentar voar" e "como um bife vendido, num talho do Lumiar")

A vida que levas de novo outra vez
("De novo outra vez", espero que seja suficiente para passar a ideia de repetição)

O mundo que gira sempre a teus pés
(A Terra gira sobre si própria. É um facto. Já Copérnico o afirmava, mas nunca foi Disco de Platina)

Sou a palavra amiga que gostas de ouvir
(Tu e mais 120 mil tansos que compraram a merda do cd)

A sombra esquecida que te viu partir
(Pá, fica mesmo giro isto de meter sempre um adjectivo estranho à frente dos nomes: palavra amiga, sombra esquecida, noite vadia...)

A noite vadia que queres conhecer
(Abordagem a problemas sociais como a vadiagem e a prostituição)

Sou mais um dos homens que te nega e dá prazer
(Mais uma contradição, estou imparável!)

A voz da tua alma que te faz levitar
(Um certo exotismo oriental)

O átrio da escada para tu te sentares
(Não rima muito bem com levitar,damn it! )

Sou as cartas rasgadas que tu não lês
(Não entendo pá, será que ela não gosta dos meus poemas?)

A tua verdade, mostrando quem és
(Oh! O que é a Verdade? Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos?)

Entra pela vitrina surrealista
(Eu optava pela porta, mas isso sou eu)

Faz malabarismo a ilusionista
(Ou "faz contorcionismo a trapezista")

Ilumina o céu que nos devora
(Estou completamente pedrado)

Já se sente o frio, está na hora de irmos embora
(Devora, hora, embora...)

Sou um ser que odeias mas que gostas de amar
(Vidé acima, do tipo dejá vu...)

Como um barco perdido à deriva no mar...
(Gostava mais do bife no talho do Lumiar, mas o que fazer...)

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