domingo, 31 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 3, Can



FUTURE DAYS
CAN (Alemanha)
Edição original: United Artists
Produtor(es): Can
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Holger Czukay: "Bel Air [a faixa de 20 minutos que ocupa o segundo lado de Future Days] mostrou os Can como um grupo de sinfonias elétricas que pintava uma paisagem pacífica ainda que por vezes dramática".

Menos rock, menos focado, menos terreno, mais ambiental, mais planante, mais atmosférico. Ao quinto álbum, os Can passavam a pintar paisagens sonoras, dando o mote para a música ambiental. "Moonshake", o mais curto dos quatro temas que compõem o disco, é talvez a exceção, o último ponto de focagem. Os restantes são para se serem ouvidos sem pressas, com a mente livre para voar. "Future Days" marca este ponto de viragem na carreira dos Can, que, pouco depois, veriam o vocalista Damo Suzuki sair. Os Can continuariam com a arquitetura de paisagens no álbum seguinte, "Soon Over Babaluma".

sábado, 30 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 4, Neu! (rep.)



NEU! 2
NEU! (Alemanha)
Edição original: Brain
Produtor(es): Conny Plank, Neu!
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O segundo tomo da ofensiva conduzida por Klaus Dinger e Michael Rother abre de forma semelhante à álbum estreia. 11 minutos e 17 segundos de "Für Immer", demonstração perfeita daquilo que viemos a reconhecer como a assinatura dos Neu!, que tanta gente influenciou ao longo destes quarenta anos. Também como no disco do ano anterior, as faixas que se seguem são menos de motorika (assim chamaram os jornalistas ao binário do baterista Dinger) e mais de colagens sonoras e improvisações experimentadas em estúdio. É o que se passa principalmente no lado B, uma sequência de versões diferentes do single "Neuschnee/Super", lançado entre o 1º e o 2º disco, que aqui os Neu! manipularam de diferentes formas. De uma súbida carência (de dinheiro para continuarem em estúdio), surge uma das primeiras experiências de remistura e reconstrução de gravações previamente editadas, como entretanto se veio a tornar habitual no negócio da música.
Como no primeiro álbum (e no terceiro), foram precisas quase três décadas para que houvesse uma edição em CD. Até 2001, o ano em que a Astralwerks reeditou os três álbuns, só apareciam edições piratas à venda.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 5, Tom Zé (rep.)



TODOS OS OLHOS
TOM ZÉ (Brasil)
Edição original: Continental
Produtor(es): Milton José
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Todo compositor brasileiro é um complexado.
Por que então esta mania danada, esta preocupação de falar tão sério, de parecer tão sério, de ser tão sério, de sorrir tão sério, de chorar tão sério, de brincar tão sério, de amar tão sério?

(in "Complexo de Épico")

Quarto disco de Tom Zé, que por esta altura, depois de ter dado uma importante mão ao avanço do tropicalismo -- ele que talvez fosse o mais tropicalista de todos, acabou sendo ignorado, havendo até quem lhe chamasse "Trotski do tropicalismo" -- entrava na fase mais obscura da sua carreira, que só terminaria já perto dos anos 90, quando David Byrne repôs um pouco de justiça no mundo ao apadrinhá-lo via Luaka Bop. Talvez por aparentar ser mais experimentalista que os álbuns anteriores, "Todos os Olhos" acabou por vender pouco. Mas estão lá todos os elementos pelos quais hoje reconhecemos Tom Zé como uma das maiores forças criativas que o Brasil viu nascer. Tem coisas próximas do samba, tem coisas próximas do forró nordestino ("Quando eu Era Sem Ninguém"), tem coisas próximas dos cantares ao desafio ("Dodó e Zezê"), tem muito de Brasil no que de diversamente rico o Brasil tem, sem nunca soar a "conservador", palavra proibida em todo a carreira de Tom Zé e frequente no reportório de outros artistas da música brasileira, mesmo os mais afoitos. A capa de "Todos os Olhos" é também protagonista de uma história curiosa. Durante anos pensou-se (e talvez ainda por aí circule a ideia) que a imagem na capa era a de um ânus com um berlinde nele depositado. Era essa, contudo, a ideia inicial do poeta Décio Pignatari, um dos fundadores do concretismo brasileiro, como forma de afronta à ditadura militar. O olho do cu. Todos os Olhos. É o que parece, é o que muita gente pensou durante anos que era, até eventualmente o próprio Tom Zé, que terá ajudado a perpetuar o mito. A fotografia original chegou a ser feita, mas como era óbvia demais para enganar os censores, a opção recaiu sobre os lábios da boca (da mesmo modelo). Como se diz aqui, eis que o cu que deveria imitar um olho se torna uma boca que imita o cu.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 6, Iggy & The Stooges (rep.)



RAW POWER
IGGY AND THE STOOGES (EUA)
Edição original: CBS
Produtor(es): Iggy Pop, David Bowie
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Entre esta centena de discos, "Raw Power" é provavelmente o que conheço há mais tempo, de uma velhinha cassette que tanto terá rodado que ainda hoje recordo, quase nota por nota, o fuzz do James Williamson, quase berro por berro, a verborreia do Iggy Pop. Reza a história que, por esta altura, os Stooges já tinham acabado. A Elektra já não queria saber deles. O álbum homónimo de estreia (1969) e "Fun House" (1970) tinham vendido pouco. É neste contexto que Iggy Pop conhece David Bowie. Muda para a mesma empresa de management do inglês e viaja para Londres com Williamson para gravar um disco a solo. Não encontra músicos ingleses que o satisfaçam e chama os irmãos Ron e Scott Asheton. Os Stooges voltavam assim a gravar, mas agora o grupo chamar-se-ia, de forma honesta, Iggy & Stooges. Bowie produziu num só dia sete das oito faixas, a partir de... três pistas que Iggy Pop lhe passou, banda na primeira, guitarra solo na segunda e a voz na terceira. O resultado, ainda que com a limitada cirurgia plástica que Bowie conseguiu fazer, não deixa de ser uma amálgama sonora de fuzz e berraria puxados aos limites, que, para a altura, mesmo para o contexto de Detroit de onde vinham os Stooges, metia medo. Parecia que queriam destruir tudo o que lhes aparecesse pela frente. Parecia tudo aquilo que anos mais tarde se encontraria na explosão do punk em Inglaterra. Mas, muitos anos depois, Iggy Pop, talvez para destruir ainda mais, voltaria a colocar "Raw Power" na história por outros motivos. À produção de Bowie sucedeu-se, em 1995, uma versão pirata, com a primeira mistura de Pop. Mas em 1997, numa reedição em CD da Columbia, Pop pegaria em tudo de novo para produzir aquele que é, mesmo para os dias de hoje, um dos discos com volume permanentemente mais alto de sempre, um trabalho que desagradou meio mundo, incluindo os próprios James Williamson e Ron Asheton.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 7, Gong (rep.)



FLYING TEAPOT
GONG (França/Inglaterra)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Giorgio Gomelsky
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Se isto fosse a lista dos discos mais chanfrados de 1973, este estava batido no topo. A chanfradice não vem só do tema cósmico que atravessa todo o disco, apesar de ser uma história que merece a pena ser contada. Inspirada numa alegada visão do vocalista australiano Daevid Allen durante uma lua cheia na páscoa de 66, a história de "Flying Teapot" fala de um egiptologista suinicultor, Mista T Being, a quem um vendedor de rua de bules antigos e colecionador de rótulos de chá, Fred the Fish, vende um brinco mágico, o qual é capaz de captar mensagens do planeta Gong através de uma estação pirata de rádio chamada Radio Gnome Invisible. Os dois viajam para o Tibete onde se encontram com o abominável homem da cerveja, Banana Ananda, que passa o tempo a cantar "Banana Nirvana Mañana" e se embebeda com Foster's... Só por isto, já merece a pena ir até ao fim do mundo à procura deste disco. Esta história está então na base da trilogia aqui iniciada e prosseguida em "Angel's Egg" -- 64.º nesta lista -- e em "You" (1974). Mas, dizia atrás, a chanfrandice não vem só da história. Musicalmente, "Flying Teapot" é um disco de loucos. Só tipos completamente fora do registo de lucidez que a sociedade entenda como normal seriam capazes de chegar a composições e a arranjos desta natureza, um autêntico frenesi de géneros (jazz, rock, prog e muito mais), de instrumentos, de ritmos, de tempos. É o melhor, a par com "Camembert Electrique" (1971), da fase Allen. Pode não chegar para dar alucinações como a que ele teve naquela tal páscoa, mas poucas vezes a música consegue chegar tão perto de ser assim tão alucinante.

terça-feira, 26 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 8, José Mário Branco (rep.)



MARGEM DE CERTA MANEIRA
JOSÉ MÁRIO BRANCO (Portugal)
Edição original: Guilda da Música
Produtor(es): José Mário Branco
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«Não foi por vontade nem por gosto que deixei a minha terra»
(in "Por Terras de França")

Segundo álbum do exilado José Mário Branco e, em certa medida, continuação do primeiro, "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" (1970). Em jeito de parêntesis, tenho aqui um pequeno, minúsculo problema entre mãos (mais um). É que "Margem de Certa Maneira" não saiu, tecnicamente, em 73. Foi gravado em novembro de 72, em França, e foi lançado poucos dias antes do Natal. Pormenores. Fim de parêntesis e avante com o que interessa. Algumas destas canções vinham de um projeto anterior de José Mário Branco com o escritor e jornalista Álvaro Guerra, "Crónicas". A censura, que andava mais atenta desde 71, rejeitou dois terços do trabalho, que foi assim posto de lado e aqui recuperado em parte. Nos arranjos (não será José Mário Branco o melhor arranjador que este país alguma vez conheceu?), nos instrumentos (o estranho cromorno em "Engrenagem" ou no tema-título remete ouvidos atuais para outros iconoclastas geniais, os Gaiteiros de Lisboa), na reconstrução de uma certa musicalidade portuguesa, se assim lhe podemos chamar, ainda para mais num disco que, curiosamente, é gravado essencialmente por músicos franceses, "Margem de Certa Maneira" é tanto ou mais revolucionário que o seu antecessor, é tão ou mais digno de figurar para sempre na galeria das melhores obras de autores portugueses. Como em Zeca Afonso, com quem José Mário Branco tantas vezes trabalhou, a música popular portuguesa dava um passo gigantesco em frente. E nos temas abordados, "Margem de Certa Maneira" parece tão atual como então. Ou ainda mais.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 9, Kraftwerk (rep.)



RALF UND FLORIAN
KRAFTWERK (Alemanha)
Edição original: Philips
Produtor(es): Conny Plank, Ralf Hütter, Florian Schneider
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Como o título não deixa escapar, a formação era constituída por Ralf Hütter e Florian Schneider, que deixou o grupo em 2008. Em 1973, os Kraftwerk estavam de novo reduzidos ao duo fundador, depois de por lá ter passado gente como Michael Rother e Klaus Dinger, que viriam a ser os Neu!. Na verdade, ao duo deve ser acrescentado o nome de Conny Plank, o produtor que acompanhava os Kraftwerk desde o início e que esteve por trás do som de tanta boa gente do kraut, como os já mencionados Neu! (todos os álbuns), os Kluster/Cluster (idem), Harmonia, Guru Guru, Ash ra Tempel, etc. "Ralf und Florian" (ou "Ralf and Florian" nas edições internacionais) é essencialmente instrumental e aponta para aquela que será a marca do som dos Kraftwerk daí para a frente, assentando essencialmente na experimentação de sintetizadores e no uso de caixas de ritmo.
(Passaram mais de quarenta anos. Digam lá se não vos parece ouvir o Panda Bear no "Tanzmuzik", por exemplo. Em todo o caso, o desafio traz água no bico... é que o Panda Bear até já o samplou.)

domingo, 24 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 10, Tom Waits (rep.)



CLOSING TIME
TOM WAITS (EUA)
Edição original: Asylum
Produtor(es): Jerry Yester
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Now it's closing time, the music's fading out
Last call for drinks, I'll have another stout.
Well I turn around to look at you, you're nowhere to be found,
I search the place for your lost face, guess I'll have anotherround
And I think that I just fell in love with you.

(in "I Hope That I Don't Fall in Love with You")

Entre os discos que constam da minha coleção pessoal e desta longa lista, este é aquele que comprei há mais tempo. Na adolescência, ouvia tanta gente a tecer todo o tipo de elogios a Waits que tinha de perceber o que era. Não tínhamos youtube nem sequer internet para sacar discos, diria agora um avozinho meio trocado das ideias. A rádio, ou melhor, o António Sérgio era uma das poucas hipóteses de ouvir música antes de a comprar (a outra era, claro, o já tão longínquo sistema de partilha de discos entre amigos). Mas adiante. Aconteceu que "Closing Time" não bateu à primeira. Só com "Heartattack and Vine" (1980) ou "Swordfishtrombones" (1983) se faria luz e só anos mais tarde, já com meia discografia de Waits na estante e nos ouvidos, é que o álbum de estreia voltaria à liça, como se fosse preciso conhecer o porteiro deste bar fumarento de jazz, country e canção americana que é "Closing Time".

sábado, 23 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 11, John Cale (rep.)



PARIS 1919
JOHN CALE (País de Gales)
Edição original: Reprise
Produtor(es): Chris Thomas
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Tendo trabalhado com La Monte Young e Tony Conrad, tendo ajudado a fazer história no rock com os Velvet Underground, tendo depois trabalhado com Terry Riley e produzido discos para muito boa gente, John Cale surpreendeu, ao abrir ainda mais a sua área de intervenção com este "Paris 1919". Soberbo, belo, elegante, sofisticado, arrojado, luxuoso, poético, literário. Ao longo dos anos, têm sido usada toda a espécie de adjetivos apreciativos. É para isso que eles estão no dicionário.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 12, Gentle Giant (rep.)



IN A GLASS HOUSE
GENTLE GIANT (Inglaterra)
Edição original: WWA
Produtor(es): Gentle Giant, Gary Martin
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"Tens que levar esse disco", dizia-me o Fernando Magalhães na casa do "vendedor". Esta história já tem mais de 10 anos e o "vendedor" era um melómano que havia perdido o interesse na extensa discografia prog (e não só) da década de 70 que colecionara. "In a Glass House" e outros, como o "Naked Shakespeare" do Peter Blegvad, o "1001º Centigrades" dos Magma, mudavam assim de casa, mas de todo o produto da rapina, seria o disco dos Gentle Giant aquele que maior fascínio viria a despertar nos meus ouvidos. É, provavelmente, o disco prog a que continuo a recorrer com maior frequência, até hoje. São desconcertantes as mudanças de tempos, o encaixe meticuloso dos instrumentos de diferente espécie, a incursão por pequenos trechos folk, medievais até, e a precisão das costuras que unem todos estes retalhos. Por mais que tenha vindo a tentar, nenhum outro disco dos Gentle Giant conseguiu reproduzir o mesmo efeito. Eu bem tinha que ter trazido este disco.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 13, The Modern Lovers



THE MODERN LOVERS
THE MODERN LOVERS (EUA)
Edição original: Beserkley
Produtor(es): John Cale, Robert Appere, Alan Mason
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Um caso de batota -- ou meia batota, convenhamos -- nunca vem só. Se o disco dos Mutantes chegou à luz do dia apenas em 1992, eis aqui outro caso de parto tardio, ainda que a espera não tenha sido tão longa. O primeiro álbum dos Modern Lovers, de Jonathan Richman, saiu em 1976, mas as sessões produzidas na sua maioria por John Cale eram do ano que aqui se anda há meses a destacar. E aqui há que explicitar as sessões produzidas pelo ex-Velvet, que se traduziriam nessa tal edição de 76, pois este debute dos Modern Lovers acabou por vir servido em diferentes versões ao longo dos anos. Até o profícuo Kim Fowley esteve envolvido em produções diferentes das primeiras canções do grupo de Richman. Por outro lado, é curiosa a participação de Cale no disco, já que Richman é provavelmente o músico que melhor soube herdar e prosseguir o legado dos Velvet Underground, até hoje, mais do que o próprio produtor, mais do que a outra força motora, Lou Reed. Aqui, temas como "Roadrunner", o grande hit do disco, "Pablo Picasso", tema obrigatório do reportório de Richman ao longo das décadas, ou "Girl Friend", são daquela afirmação as melhores das evidências. Se uma das maiores tautologias do rock apregoa que a música nunca seria a mesma sem os Velvet na sua história, manda a justiça que também se diga que toda a cena independente que conhecemos seria tremendamente diferente se não fosse por esta criatura diletante que ainda hoje fascina pequenas plateias e que frequentemente a história tende a esquecer: Jonathan Richman.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 14, Os Mutantes (rep.)



O "A" E O "Z"
OS MUTANTES (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Os Mutantes
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«O "A" e o "Z"» surge nesta lista com, enfim, alguma batotice. Afinal, foi editado apenas em 1992, quase 20 anos depois de ter sido gravado. Em 1973, a Polydor não terá encontrado valor comercial num disco que diz-se ter sido composto e executado sob o efeito de LSD e chegou mesmo a despedir a banda. Foi o primeiro álbum dos Mutantes que comprei e devo confessar que, na altura, não suscitou o mesmo entusiasmo que o conseguido na descoberta (posterior) dos álbuns anteriores, em particular os dois primeiros, homónimos, mas com o tempo e com audições mais atentas, o disco veio crescendo. Já sem Rita Lee, os Mutantes assumiam-se definitivamente progs, épicos até, culminando no assombro de faixa que é "Uma Pessoa Só" ou no tema musical de abertura e fecho, os tais A e Z, com que o disco abre e encerra. Era ácido do melhor.

terça-feira, 19 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 15, Vangelis O. Papathanassiou (rep.)



EARTH
VANGELIS O. PAPATHANASSIOU (Grécia)
Edição original: Vertigo
Produtor(es): Vangelis O. Papathanassiou
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É a loucura total? Vangelis nesta lista? E em 15º? Vamos com calma. "Earth", tido oficialmente como o primeiro disco a solo de Vangelis, embora para trás houvesse já outros discos -- bandas sonoras e álbuns lançados sem a autorização do músico grego --, é um verdadeiro encanto para os ouvidos, do primeiro ao último minuto. Da explosão rock de "Come On" (youtube abaixo), a faixa de abertura (que outros álbuns conhecem que comecem com toda esta garra?), até à derradeira "A Song", um poema narrado sobre o tapete de sintetizadores que viriam a caracterizar a obra de Vangelis nos anos subsequentes, encontramos em "Earth" inúmeros motivos de interesse que nos fazem ouvi-lo vezes sem conta, tanto por prazer, como por vontade de descobrir pormenores, como quando nos aproximamos e nos afastamos as vezes que queremos de um quadro pendurado numa exposição. "Earth" é um disco rico em pormenores nos ambientes mais ou menos prog (do bom), mais ou menos étnicos e, claro, nas poucas e contidas piscadelas de olho à vindoura new age. Para os ouvidos de hoje, até as harmonias e os ritmos vocais dos Animal Collective ali parecemos ouvir ("Sunny Earth" ou "Ritual"). Vangelis, por onde te meteste tu depois?

segunda-feira, 18 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 16, Hawkwind (rep.)



SPACE RITUAL
HAWKWIND (Inglaterra)
Edição original: United Artists
Produtor(es): Hawkwind
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In case of Sonic Attack on your district, follow these rules: If you are making love it is imperative to bring all bodies to orgasm simultaneously. Do not waste time blocking your ears. Do not waste time seeking a "sound proofed" shelter. Try to get as far away from the sonic source as possible. Do not panic. Do not panic. Use your wheels. It is what they are for. Small babies may be placed inside the special cocoons and should be left, if possible, in shelters. Do not attempt to use your own limbs. If no wheels are available - metal - not organic - limbs should be employed whenever possible. Remember: In the case of sonic attack survival means "Every man for himself". Statistically more people survive if they think only of themselves. Do not attempt to rescue friends, relatives, loved ones. You have only a few seconds to escape. Use those seconds sensibly or you will inevitably die. Think only of yourself. Think only of yourself. Do not panic. Think only of yourself. Think only of yourself. These are the first signs of sonic attack: You will notice small objects - such as ornaments - oscillating. You will notice vibrations in your diaphragm. You will hear a distand hissing in your ears. You will feel dizzy. You will feel the need to vomit. There will be bleeding from orifices. There will be an ache in the pelvic region. You may be subject to fits of hysterical shouting or even laughter. These are all signs of imminent sonic destruction. Your only protection is flight. If you are less than ten years old remain in your shelter and use your cocoon. Remember - you can help no one else. You can help no one else. You can help no one else. Do not panic. Do not panic. Think only of yourself. Think only of yourself. Think only of yourself. Think only of yourself.
(Sonic Attack)

Mais um álbum ao vivo (e o último, ou melhor dizendo, o primeiro de todos nesta lista). E este é de uma das bandas que, na altura, mais passava tempo em cima de um palco, o que é fácil de perceber quando se escuta o disco. Cem minutos de rock que levam a concluir que os Hawkwind seriam uma das melhores bandas ao vivo de então. Tal como nos Magma ou nos Gong (e em tantos outros trabalhos da época, na música ou fora dela), o espaço, o cosmos, o pânico de uma invasão extra-terrestre, o sonho com algo para além da Terra servia de mote para a produção do grupo e para este espetáculo em particular, um a que chamaram "ópera rock espacial".

domingo, 17 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 17, Magma (rep.)



MEKANÏK DESTRUKTÏW KOMMANDÖH
MAGMA (França)
Edição original: Vertigo
Produtor(es): Giorgio Gomelsky
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Por falar em óperas (rock) dos anos 70, a propósito da entrada anterior ("Berlin", de Lou Reed), eis o álbum mais aclamado de uns dos mais "sinfónicos" (e mais chanfrados) da altura, os franceses Magma. Em "Mekanïk Destruktïw Kommandöh", está lá tudo o que definiu os Magma: o jazz, o prog e a sinfonia rock ou até mesmo as sementes do death metal, tudo isto carregado de virtuosismos técnicos e de ideias desconcertantes que nos fazem ouvir os discos vezes sem conta à procura de pormenores escondidos, num todo que é extensivamente coral, cantado na língua "kobaïan", a tal que foi inventada por Christian Vander, baterista e principal ideólogo do grupo, que aqui dava prosseguimento à epopeia da colónia terrestre no planeta Kobaïa. Alguém chamou a isto, e foi muito feliz na expressão, "gospel extra-terrestre".

sábado, 16 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 18, Lou Reed (rep.)



BERLIN
LOU REED (EUA)
Edição original: RCA
Produtor(es): Bob Ezrin
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«Lou Reed's Berlin is a disaster, taking the listener into a distorted and degenerate demimonde of paranoia, schizophrenia, degradation, pill-induced violence and suicide. There are certain records that are so patently offensive that one wishes to take some kind of physical vengeance on the artists that perpetrate them. Reed's only excuse for this kind of performance (which isn't really performed as much as spoken and shouted over Bob Ezrin's limp production) can only be that this was his last shot at a once-promising career. Goodbye, Lou.»
(Crítica devastadora da Rolling Stone, em 1973, que 30 anos mais tarde o colocaria no 344º posto da sua lista dos 500 melhores discos de sempre)

Sempre joguei na equipa dos que preferem "Transformer" (1972) a "Berlin". E foi só até muito recentemente que comecei a perceber e a gostar mais (muito mais) deste terceiro álbum a solo de Lou Reed, destas orquestras e destes arranjos um tanto ou quanto megalómanos. "Berlin" é daqueles discos, como tantos na época, que tem de ser ouvido do primeiro ao último minuto, sem saltos nos temas e sem distrações, para poder ser devidamente apreciado. Afinal de contas, ainda que esteja relativamente longe do conceito da ópera rock então em voga, "Berlin" apresenta um alinhamento conceptual, a história de Caroline e Jim e do caminho em direção ao abismo de drogas e violência que o romance de ambos toma. Reed e Bob Ezrin, o pianista e produtor do disco, quiseram desde o início levar a obra em todo o seu esplendor para o palco, mas as críticas e as vendas fizeram com que o projeto fosse arquivado para apenas 33 anos depois ser posto em prática na "Berlin Tour", que ficou documentada num filme de Julian Schnabel.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 19, Faust (rep.)



FAUST IV
FAUST (Alemanha)
Edição original: Virgin
Produtor(es): Uwe Nettelbeck
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Segunda aparição dos Faust nesta colheita de 1973, agora com um álbum propriamente digno do nome, pelo menos na opinião dos próprios Faust, que nunca deram muito crédito pela coleção de gravações que era "Faust Tapes". E os Faust não estavam aqui para enganarem ninguém, como se percebe ao chamarem "Krautrock" à faixa de abertura, uma torrente de guitarras em que a bateria entra apenas aos sete minutos, em que o baixo sincopado à maneira do kraut a que ainda hoje imediatamente assim chamamos quando vemos qualquer banda atual a pisar semelhantes terrenos. Os trajetos seguidos no remanescente do álbum são quase sempre, à boa maneira dos Faust, diversos e imprevisíveis, de uma forma que noutro contexto poderia até soar a uma banda incapaz de encontrar o caminho, e que aqui não é mais do que a expressão excêntrica do grupo. E até desconcertante, no que de desafiante tem o adejtivo, como no momento em que estamos deliciados a ouvir a segunda parte do "Picnic on a Frozen River", uma daquelas jóias do tesouro krautiano, e somos abruptamente interrompidos. "Faust IV" é o último álbum desta primeira encarnação do grupo. Dois anos mais tarde, a Virgin recusar-e-ia a lançar o quinto álbum e o grupo acabaria, para renascer mais tarde, nos anos 90, em sucessivas formações (hoje até existem duas em paralelo), que continuaram a tocar ao vivo e a editar.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 20, Roxy Music (rep.)



STRANDED
ROXY MUSIC (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Chris Thomas
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Brian Eno chamou a "Stranded" o melhor álbum dos Roxy Music, apesar de já não ter trabalhado nele (saiu na sequência do anterior, "For Your Pleasure", também de 73 e possível de encontrar mais abaixo nesta lista). Ao terceiro álbum, os Roxy Music chegam às imediações da perfeição na pop, com canções mais estruturadas em prol da voz de Bryan Ferry, cada vez melhor no seu papel de crooner maldito. "Stranded" está por isso cheio de excelentes canções que nunca perderam a sua validade. Uma delas, "A Song for Europe", é um monumento intemporal.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 21, Pink Floyd (rep.)



THE DARK SIDE OF THE MOON
PINK FLOYD (Inglaterra)
Edição original: Harvest
Produtor(es): Pink Floyd
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Não há muito que dizer. Toda a gente conhece "The Dark Side of the Moon". Todas as palavras que ao longo destes quase 40 anos foram usadas para descrever o oitavo álbum dos Pink Floyd dariam várias voltas ao mundo, mesmo a tamanho 1. Afinal de contas, vendeu 34 milhões de cópias em todo o mundo, manteve-se no Billboard 200 durante... 741 semanas (15 anos, portanto). "Dark Side of the Moon" fez os Pink Floyd saltarem em definitivo para outra liga, sem que por isso deixassem cair os parentes na lama. Isso veio mais tarde. Depois de lançarem para as lojas o resultado de um longo processo de composição e acerto dos arranjos em espetáculos ao vivo e de um meticuloso trabalho de estúdio com os melhores meios técnicos da altura, os Pink Floyd tornavam-se multimilionários (ironicamente, é aqui que se encontra "Money"), compravam casas de campo (Roger Waters) ou Ferraris (Nick Mason) e até financiavam os Monty Python ("Monty Python and the Holy Grail"). "The Dark Side of the Moon" passou a ser figura habitual das listas de melhores discos de sempre e, com o tempo, foram sucedendo-se inúmeros tributos por outras bandas. No início dos anos 90, foi protagonista de um dos primeiros e mais celebrados celebrados mitos da internet, aquele em que se dizia que o disco era, afinal, uma banda sonora alternativa para o... "Feiticeiro de Oz".

terça-feira, 12 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 22, Elis Regina (rep.)



ELIS (ORIENTE)
ELIS REGINA (Brasil)
Edição original: Philips
Produtor(es): Roberto Menescal
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Entre os vários álbuns que na sua discografia surgem com o nome "Elis", este tornou-se conhecido como "Oriente", o título da faixa de abertura. Não me lembro de ter prestado atenção a outro disco completo de Elis Regina, mas fiquei apaixonado por este assim que lhe encostei os ouvidos. Há temas da autoria de Gilberto Gil, outros da dupla João Bosco/Aldir Blanc, e ainda dois sambas clássicos, "Folhas Secas" e "É Com Esse que eu Vou".

segunda-feira, 11 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 23, King Crimson (rep.)



LARKS' TONGUES IN ASPIC
KING CRIMSON (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): King Crimson
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Os King Crimson tinham surgido a 30 de Novembro de 1968, mas, a bem do rigor, há que dizer que esta já era a terceira incarnação do grupo, estabelecida a meio de 1972. Fiel ao seu posto desde o início e até à mais recente interrupção, em 2009, estava o guitarrista Robert Fripp (já nesta lista surgiu a propósito do disco a meios com Brian Eno e há de voltar aqui a aparecer, bem mais lá para cima). Ao lado de Fripp, surgiam dois bateristas (esta era a primeira versão dos King Crimson com duas baterias), Jamie Muir (hoje artista plástico) e Bill Bruford, que tinha trocado os Yes, que entretanto explodiam de sucesso, pelas improvisações nos King Crimson. Na voz e no baixo, estava John Wetton (futuro Asia) e, no violino e nos teclados, David Cross. Os King Crimson renasciam mais instrumentais e menos vocais, com mais de violino e menos de metais, mais de improvisação rock e menos das piscadelas de olho ao jazz, com mais de Fripp do que até aí. Talvez seja um exagero, mas a escuta atenta e prolongada do disco quase que leva a dizer que se não fosse por "Larks' Tongues in Aspic" não teria havido, vários anos depois, o grunge ou o math rock, pelo menos como hoje conhecemos os géneros que tanto devem aos desbravamentos de terreno conduzidos pelos King Crimson nas suas diferentes encarnações, particularmente nesta. Experimentem a segunda parte do tema-título, que encerra o disco, e tentem tirar da cabeça que são os Shellac que estão ali a tocar.

domingo, 10 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 24, David Holland Quintet (rep.)



CONFERENCE OF THE BIRDS
DAVID HOLLAND QUARTET (Inglaterra)
Edição original: ECM
Produtor(es): Manfred Eicher
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Primeiro álbum do baixista Dave Holland enquanto líder. Consigo estão Anthony Braxton e Sam Rivers, ambos nas madeiras e nas flautas, e o percussionista Barry Altschul, numa espécie de recriação do trio/quarteto Circle, sem Chick Corea, que entretanto tinha partido para os terrenos da fusão. O álbum tornou-se clássico na história do avant-jazz dos anos 70.

sábado, 9 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 25, Roxy Music (rep.)



FOR YOUR PLEASURE
ROXY MUSIC (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Chris Thomas, John Anthony, Roxy Music
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Ao segundo álbum, os Roxy Music, que prosseguiam o combate Bryan vs Brian, procuravam equilibrar-se entre a pop experimental, como em "Bogus Man", que Eno aparentava aos Can, e as canções mais estruturadas, como os singles "Do The Strand" e "Editions of You". É talvez por terem conseguido sobreviver à tensão da forma como o fizeram, aqui espelhada, que "For Your Pleasure" é um disco tão curioso e interessante. Há pouco tempo, Morrissey dizia que apenas se lembrava de um álbum britânico verdadeiramente grande. Este, precisamente.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 26, Milton Nascimento (rep.)



MILAGRE DOS PEIXES
MILTON NASCIMENTO (Brasil)
Edição original: Odeon
Produtor(es): Milton Miranda
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O duplo "Clube da Esquina", que lançou Milton Nascimento para fora do Brasil, havia saído no ano anterior. Em 1973, rodeado novamente de um extenso grupo de músicos de excelência, entre os quais, Naná Vasconcelos e o habitual Wagner Tiso, Milton volta a conseguir um disco desconcertante. A censura levou a que a maior parte de "Milagre dos Peixes" surgisse rarefeito de letras cantadas, o que confere ainda uma dimensão extra ao caráter experimental do disco. No ano seguinte, Milton juntar-se-ia aos Som Imaginário para uma versão do álbum ao vivo.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 27, Jefferson Airplane (rep.)



THIRTY SECONDS OVER WINTERLAND
JEFFERSON AIRPLANE (EUA)
Edição original: Grunt
Produtor(es): Jefferson Airplane
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Segundo álbum ao vivo nesta lista (e ainda vai haver mais um). Também é o segundo álbum ao vivo dos Jefferson Airplane, depois de "Bless Its Pointed Little Head" (1969). Documenta os últimos concertos do coletivo, antes do regresso em 1989. É um dos melhores álbuns ao vivo da história do rock.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

100 de 1973, nº 28, David Bowie (rep.)



ALADDIN SANE
DAVID BOWIE (Inglaterra)
Edição original: RCA
Produtor(es): Ken Scott, David Bowie
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"Ziggy goes to America." A expressão é do próprio David Bowie, que escreveu boa parte das canções de "Aladdin Sane" durante a parte que a Ziggy Tour passou pelos EUA. Na edição original, no alinhamento das canções, há referências a nome de cidades e até a um navio transatlântico (no tema-título). No baile de máscaras em que Bowie se divertia nestes tempos, a nova personagem Aladdin Sane (jogo de palavras com "A Lad Insane") era muito parecida com a anterior, Ziggy Stardust, embora sem a mesma obsessão futurista. Musicalmente, continua o glam, ainda que se escute uma maior aproximação de Bowie aos Stones da altura (há até mesmo uma versão, "Let's Spend the Night Together"), mas há também uma maior dispersão por outros estilos pouco habituais, que a crítica teve dificuldades em compreender na altura.

terça-feira, 5 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 29, Hermeto Pascoal (rep.)



A MÚSICA LIVRE DE HERMETO PASCHOAL
HERMETO PASCOAL (Brasil)
Edição original: Sinter
Produtor(es): Rubinho Barsotti
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"Gaio da Roseira", o tema com que encerra o disco, havia sido composto por seu pai, "seu Pascoal". Em 1971, Airto Moreira, que havia sido companheiro de Hermeto no Quarteto Novo e que nesta altura iniciava a sua carreira bem sucedida pelos EUA, incluía-o em "Seeds on the Ground", sob as designações de "Galho da Roseira" ou "Branches", para sucesso que ainda perdura até hoje nas colectâneas que vão saindo. Hermeto voltou a usá-lo em 1973, numa versão com uma introdução arrepiante e arranjos ainda mais arrojados (escute-se, por exemplo, a parte da orquestra de garrafas, tocadas por todos os elementos do grupo). Bastaria este tema final para "A Música Livre de Hermeto Paschoal" ser já um disco fundamental. Mas há mais. Há coisas mais facilmente audíveis, como o jazz de raça latina de "Bebê", há as versões incríveis de "Asa Branca", de Gonzaguinha, e de "Carinhoso", do ícone do choro Pixinguinha, há "Sereiarei", um tema absolutamente chanfrado onde até os porcos, os gansos, os coelhos e os patos, provavelmente os mesmos que se dizia que Pascoal levava para os palcos, participam. Ao lado de "Missa dos Escravos", de 1977, é o melhor que o imenso génio de Pascoal produziu.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 30, Sun Ra (rep.)



SPACE IS THE PLACE
SUN RA (EUA)
Edição original: Blue Thumb
Produtor(es): Alton Abraham, Ed Michel
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There's no limit
To the things that you can do
There's no limit
To the things that you can be


Importa apenas o longo tema-título com que abre o disco. Nada mais interessa, seja bom, seja mau. O ícone do jazz mais estranho de todos os tempos, que acreditava provir de Saturno e que tocava e punha os outros a tocar sem os pés assentarem na Terra, alcançava aqui um momento fundamental na sua já longa carreira. O tema, que expõe em música a filosofia de Sun Ra, é também tratado num filme com o mesmo nome (vejam-no aqui, por exemplo).

domingo, 3 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 31, Kevin Ayers (rep.)



BANANAMOUR
KEVIN AYERS (Inglaterra)
Edição original: Harvest
Produtor(es): Kevin Ayers, Andrew King
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É o mais acessível, mas também o mais eclético, o mais completo e, provavelmente, o melhor disco a solo de Kevin Ayers, um dos fundadores dos Soft Machine, o homem de cujo talento John Peel disse ser "tão aguçado que se pode fazer cirurgia ocular profunda com ele". Ao quarto álbum, Ayers exprime-se das mais diversas formas. Anda pela soul à Van Morrison, pela pop freak à Robert Wyatt, pelo blues rock e até pelo ska (num dos temas bónus da reedição). Mas o tema central de "Bananamour", diferente de tudo o resto no disco, e que deixa todos os ouvidos estupefactos, é a majestosa composição épica "Decadence", um poema dedicado a Nico e uma cópia chapada, não fosse ter sido escrito muitos anos antes, daquilo que os Spiritualized viriam a fazer. Jason Pierce deve ter passado anos inteiros da sua vida a ouvir "Decadence". Só pode. "Bananamour" é também um ponto de encontro de velhos amigos de Ayers: Robert Wyatt participa nos coros de "Hymn"; Mike Ratledge, outro Soft Machine, toca orgão em "Interview"; Steve Hillage, guitarrista dos Gong, participa em "Souting In A Bucket Blues"; David Bedford, o maestro da versão orquestral de "Tubular Bells", dirige "Beware Of The Dog" (Bedford e Oldfield tinham feito parte da primeira banda de suporte de Ayers, The Whole World).

sábado, 2 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 32, Agitation Free (rep.)



2ND
AGITATION FREE (Alemanha)
Edição original: Vertigo
Produtor(es):
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Não conseguiram a fama de uns Can, de uns Neu! ou de uns Faust, ou até mesmo, numa segunda linha, de uns Guru Guru ou de uns Novalis, mas os alemães Agitation Free, ao segundo álbum, deixaram uma marca indelével na história do kraut e do prog. Há diversos momentos deste "2nd", e em particular no tema "Laila" (youtube abaixo) que fazem lembrar as jams dos Can dos primeiros álbuns. É um fausto para qualquer fã de kraut.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

100 de 1973, n.º 33, Fripp & Eno (rep.)



(NO PUSSYFOOTING)
FRIPP & ENO (Inglaterra)
Edição original: Island
Produtor(es): Robert Fripp, Brian Eno
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Ponha-se no mesmo estúdio dois dos maiores músicos e estetas que a Inglaterra viu nascer, deixe-se a marinar o tempo suficiente, e sirva-se o resultado. "(No Pussyfooting)" é um marco incontornável da música ambiente, o primeiro de uma trilogia de trabalho levada a cabo pelo guitarrista Robert Fripp (voltará a esta lista, mais à frente, com o seu maior projeto de sempre) e pelo multi-facetado Brian Eno (também voltará aqui, e por duas vezes, ora a solo, ora com a sua banda). Eram ainda apenas jovens homens (Fripp tinha 27, Eno era dois anos mais novo), mas artistas maduros que deixavam a sua afirmação inequívoca.