domingo, 21 de junho de 2009

O guitar hero do deserto e o azeite da Síria

É bonito ver o anfiteatro da Gulbenkian quase cheio e a dançar a músicas pouco frequentes por Lisboa, interpretadas por grupos que poucos terão ouvido previamente, de uma pequena editora norte-americana cujo magnífico trabalho de pesquisa poucos conhecerão. O final da digressão europeia da Sublime Frequencies aconteceu neste fim-de-tarde de domingo, num clima de grande festa, num espaço cuja descrição fica sempre a carecer de superlativos suficientes. Tirando o Jazz em Agosto, que outros eventos tomam desta forma partido das características magníficas do anfiteatro ao ar livre e do jardim que o circunda?
O palco abriu com o Group Doueh. Duas vozes, uma masculina e uma feminina, e um teclista com programações de percussão um tanto ou quanto parolas orbitam à volta da guitarra eléctrica de Salmou "Doueh" Baamar (é, a propósito, o senhor que encabeça esta página por estes dias). Encantaram o público durante uma hora -- pena que não tenha sido mais -- com uma qualidade de som excelente, por comparação com aquilo que se encontra nos dois discos que a Sublime Frequencies lançou, incluindo o recente "Treeg Salaam". E Doueh é mesmo o guitar hero do deserto, como alguns lhe chamam, tendo aliás feito gala de imitar um dos seus "mestres", Jimi Hendrix, quando se pôs a tocar com a guitarra às costas.
Depois veio Omar "carrinhos de choque" Souleyman, acompanhado de outro teclista-programador, particularmente ágil, um saz eléctrico e um... poeta, supostamente o autor das letras que a estrela cantava, com direito a permanência, nitidamente desconfortável, em palco. Ao vivo, o grupo de Omar Souleyman fez lembrar, por vezes, aqueles grupos espanhóis com gajas boas que se ouviam em tudo o que era discoteca de nuestros hermanos nos anos 90 (uma chungaria pegada que rapidamente chegaria a nós para dar origem ao "pimba"), com as excepções de não haver gajas boas, por um lado, e de haver um saz, uma espécie de alaúde mais pequeno típico do Médio Oriente, a substituir a guitarra clássica do flamenco que aqueles grupos tinham. Fez também lembrar os grupos indianos e paquistaneses do Bhangra Pop, mas numa versão mais despida, mais pobre, mais cansativa. Foi divertido, ao princípio, mas às tantas a música de feira começou a fartar por estes lados (numa opinião que não será certamente partilhada pela boa parte do público que dançou do princípio ao fim). Se ao menos houvesse farturas na Gulbenkian... Azeite não faltou.
Para a semana há mais na Gulbenkian, no âmbito da programação "Próximo Futuro", com a fusão afro-britânica de A.J. Holmes, no sábado (21h30), e os tangos dos argentinos Dema y su Orquesta Petitera, no domingo (19h).

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