quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Quem ganha?

Com o apoio logístico da Música no Coração, a empresa de cerveja de Leça do Balio produz hoje e amanhã, na cidade de Lisboa, mais um evento de promoção da sua principal marca. Um ou vários eventos, se quisermos, já que a ideia passa pela realização, em espaços diferentes e a horas coincidentes, de concertos de diversas bandas, nacionais e internacionais. Se, por um lado, é de aplaudir que o sector institucional da música ao vivo em Portugal explore novas ideias, custa por outro lado entender como se pode, mesmo que este até possa vir a ser visto como o ano zero do festival, dar tanto destaque a algo que pouco ou quase nada traz ao público, sem que haja uma voz na imprensa que fuja do alinhamento ovino.

Imitação do SXSW? A própria organização admite a ligação, ainda que tendo consciência da distância (só faltava que assim não fosse). Mas porquê tentar imitar? Porquê esta tendência eminentemente portuguesinha de forçar por cá o que lá fora surge com naturalidade ou, pelo menos, de forma previamente trabalhada? Só para a marca aparecer com mais destaque nos jornais?

Tudo à mesma hora? Tirando as vezes que o nome da marca de cerveja surge por toda a imprensa, quando esta última relata com entusiasmo a suposta originalidade do festival, qual a vantagem de se ter espectáculos a acontecerem à mesma hora ou em horas praticamente coincidentes, que obrigam à opção entre Santogold e Rui Reininho, por exemplo? Quem é que fica a ganhar com isso, além, claro, da empresa de Leça do Balio? Se fosse o caso de um cartaz extenso, como num festival como o que a mesma empresa produz no Verão... Dirão que agora temos mais de duas dezenas de nomes em dois dias. Claro, mas mais de metade estão lá para encher e vender o conceito...

40 euros? Quem vai gastar 40 euros (!) para ver nem que seja apenas um dos concertos? Dirão que isso já acontece num festival tradicional. Reformulando a questão, quem vai gastar 40 euros (!), nesta altura de falta de liquidez generalizada e de gastos natalícios, pela pulseira mágica para o festival, sabendo que apenas pode escolher dois ou três nomes por dia e que, mesmo para isso, vai ter que andar ao frio e à chuva a subir e a descer a avenida para conseguir ver qualquer coisa, ao mesmo tempo que vai torcendo para que a sala já não esteja esgotada? Talvez o perfil do consumidor do evento de logo e de amanhã não seja muito diferente daquele que vai aos festivais de Verão mais badalados da nossa terra: pertence à classe média alta, não conhece as bandas, foi bombardeado por uma imprensa acrítica e vai, claro, porque se quer divertir com os seus amigos, que pertencem à classe média alta, não conhecem as bandas e foram bombardeados por uma imprensa acrítica. E esses, de facto, não se importam com nada disto. Quem é que se importa pelas bandas, afinal?

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