sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Teoria da relatividade

Ontem ao assistir a "Hiss", filme afegão de terror -- sim, afegão e de terror -- incluído no programa do MOTELx lembrei-me das palavras do director do FMM logo após o concerto do Cui Jian, na edição deste ano. Na altura, face às minhas críticas negativas, o Carlos defendia o músico chinês com um argumento inapelável: Cui Jian tinha crescido enquanto pessoa e enquanto músico num país virado para dentro, com pouquíssimas referências de fora. Aquilo era a forma dele entender o rock. Nunca poderia ser a mesma de um europeu como eu, criado num ambiente de de acesso livre aos produtos e aos meios da cultura de massas ocidental, seja no mainstream ou nas suas expressões mais subterrâneas. Juízo semelhante pode ser feito ao filme de ontem. De uma pobreza assustadora em todos os aspectos, na técnica e na narrativa, "Hiss" terá de ser visto por olhos de um ocidental que não se esqueçam do Afeganistão como um país longe do Ocidente, que viveu anos de combate do poder taliban à cultura do espectáculo e, depois, anos de guerra absolutamente sanguinária. Mas até que ponto poderá ou deverá ir esta desculpabilização (termo feio, porque não se exige desculpas a ninguém)? No fundo, este confronto entre objectividade e subjectividade é um dos factores que influencia desde sempre a formação do gosto em cada um de nós. Quanto de nós, enquanto assistimos a um concerto ou ouvimos um disco, ouve apenas melodias, ritmos e harmonias, e quanto de nós as processa perante um contexto, de forma científica, como faz um musicólogo? Cada um terá a sua medida e, daí, cada um achará injustiças nas críticas de outros, mas é disso mesmo que se fala quando se fala de gostos e de conhecimentos. Uma coisa é certa: uns e outros não devem andar separados.

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