terça-feira, 26 de outubro de 2004

A batalha mais importante do nosso tempo (sic)

«(...) Alguém se lembra do que é uma surpresa? Alguém se lembra de ouvir uma estação de rádio e não fazer ideia da música que vão passar a seguir?
«Faz parte da essência do entretenimento sermos entretidos. Mesmo na mais primitiva história da carochinha, a narrativa é concebida para nos colocar numa situação deliciosa de impotência e de captura: 'O que irá acontecer a seguir?'.
«Na música, precisamos da mesma dependência: temos de ser assaltados; confrontados; sacudidos; perturbados; comovidos. Se ouvimos um bom programa de rádio, temos de sentir que 'isto, sim, é música!' ou 'não, isto não pode ser música!' ou, melhor do que tudo, 'será isto música?'.
«Hoje, quando ligamos o rádio, apenas bocejamos: vemo-nos ao espelho. Isto aqui é para as minhas filhas; isto é para a minha empregada; isto é para os meus pais e, mais desolador de todas as experiências, isto aqui é para mim. (...)
«Impõe-se a desobediêcia; o comportamento imprevisível e a recusa absoluta de ser segmentado, arrumado e classificado. E sempre que lhe pedirem para responder a uma sondagem, sacrifique uns minutos e responda tudo torto. (...)»


Miguel Esteves Cardoso, in Blitz (26 de Outubro de 2004)
Não me canso de citar as prodigiosas crónicas do MEC.

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