Pondo logo de parte a abordagem pela via da estética (isto é, que sentido faria uma banda influenciada no punk e na música industrial aparecer assim hoje, tal como apareceram os Mão Morta em Novembro de '84? Francamente, por aí nem me quero meter), a resposta que dei, e que agora posso desenvolver, assentava numa dupla abordagem, contraditória em si mesma (ou talvez não, a dialéctica que entre em acção):
1) Os Mão Morta teriam mais dificuldade em aparecer hoje. A indústria da música em Portugal (ou a mercearia da música, como muitos bem lhe chamam) é hoje muito diferente do que era há vinte anos atrás (por mim até nem vou tão longe, pois até nem tenho idade para tal). Como dizia ontem o Rui Monteiro, no Blitz, tinha-se maior empenho na busca das coisas mais interessantes, em virtude de não sermos bombardeados com um excesso de lançamentos de discos de novas bandas, nacionais ou estrangeiras. Hoje, com as exíguas redacções que temos, é quase impossível ao jornalista ter tempo de procurar os fenómenos ("há ali uma pilha de discos que convém falar"; "bolas, esta semana já é a quarta entrevista que me mandam fazer e ainda não consegui preparar nada"). Há, por isso, todo um maelström de informação, na maior parte das vezes acessória ou desnecessária, que impede: a) de ir mais ao pormenor das coisas que interessam; b) de descobrir fenómenos enquanto estes ainda estão na sua génese. Hoje, por exemplo, afigura-se-me como impossível termos um Fernando Sobral a chamar uma nova banda como a "melhor banda portuguesa do momento" quando a mesma está ainda distante de gravar um disco, como ele fez com os Mão Morta, em Novembro de 1985 (apenas um ano após a formação do grupo). Parece-me também impossível que uma rádio esteja apta a eleger um novo grupo como "Melhor Grupo Sem Registo em Vinil [CD, nos dias de hoje], como a RUT fez em 86, com os Mão Morta. Temos actualmente diversos exemplos de bandas interessantíssimas que não conseguem chamar mais do que os amigos aos seus concertos (e estou a falar de algumas que dão muitos concertos, como os Fat Freddy ou os Bypass), porque não há quem as divulgue ou, o que é igual, a divulgação que é feita perde-se no meio do turbilhão de caracteres.
2) Por outro lado, os Mão Morta têm mostrado, ao longo destes vinte anos, uma persistência ímpar e uma perspectiva diletante e anti-comercial que poderiam servir, ainda no campo da hipótese "e se fosse hoje?", de anti-corpos aos malefícios do crescimento da indústria. Uma das coisas que falta a muitas bandas actuais é a persistência. Não querendo partir para um juízo de valor excessivo, até porque só os músicos sabem os sacrifícios que desempenham muitas das vezes em prol de pouco mais do que o engate da loira mais boazona da escola (e já não é nada mau), acontece que muitas das vezes as bandas de hoje prendem-se na sua arrogância, na sua sala de ensaios, exigem cachets exorbitantes, esquecem que precisam é de muitos concertos e não de um disco que ninguém vai ouvir. Ora, se os Mão Morta tivessem surgido hoje, conforme o elemento do público questionava, talvez conseguissem, à força da insistência e do diletantismo (leia-se aqui como "não precisar da música para pagar as contas") ultrapassar as barreiras que descrevi no parágrafo anterior.
O nme.com já divulgou o alinhamento do próximo álbum de PJ Harvey, "Uh Huh Her", cuja edição está prevista para 17 de Maio, uma vez mais com o selo Island. Aqui vai então o alinhamento de um dos discos mais esperados do ano:
A
Calexico ao vivo no Porto, a 28 de Abril, e em Lisboa (Santiago Alquimista), no dia seguinte. Parabéns aos respectivos organizadores, por terem conseguido dar a volta a uma situação que parecia ser irreversível.
Começa amanhã, sábado, a ser distribuído mais um número -- o 18 -- da revista Mondo Bizarre. Neste mês, os destaques vão para:
É já no próximo sábado que vai acontecer o primeiro Club Forum Sons, no Bairro Alto, em Lisboa. O Club Forum Sons pretende ser uma reunião mensal aberta a todo o público, em que os pratos ficam por conta dos habituais participantes do
Em 2002, foi dos melhores espectáculos que tive oportunidade de assistir. Aliás, quem ouvir "C'Était Ici", o disco duplo com que o músico bretão documentou essa digressão, ficará certamente com a ideia que não é nada descabido pensar-se numa deslocação no dia 12 de Junho ao Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz... (E os menos informados tirem da cabeça a ideia que aquilo é só "Amélie"... Pensem antes numa mistura entre Pascal Comelade e Bad Seeds...)
É por demais conhecida a paixão (o fanatismo?) do magno radialista John Peel pelo Liverpool FC. Sabiam que ele tem por hábito iniciar as sessões de deejaying para as quais é convidado com o golo marcado por Alan Kennedy ao Real Madrid, a 9 minutos do fim, que ajudou, em 1981, o Liverpool a conquistar a sua terceira Taça dos Campeões? Eu fui disso testemunha em Barcelona, num Sonar. É um momento de relato fantástico de ouvir em disco, mesmo para quem nunca teve qualquer afecto pelo Liverpool FC, como eu.
A organização do Primavera Sound, festival de Barcelona que este ano decorre entre 27 e 29 de Maio, no Poble Espanyol, anunciou na passada sexta-feira o cartaz oficial do evento, o qual ainda deverá ver-se aumentado durante os próximos dias com alguns nomes adicionais. Os maiores destaques vão para Pixies, para os Mudhoney (que se juntaram, diz-se, apenas para o Primavera) e para PJ Harvey, mas há muito mais que ver.



