quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Música a mais?

Há dois ou três dias, o músico e compositor António Pinho Vargas, num momento da entrevista ao Pessoal e Transmissível, da TSF, recordava um episódio vivido na Dinamarca, num parque de diversões onde não se ouvia qualquer música. Servia este exemplo para demonstrar o excesso de música com que, por cá, somos habitualmente bombardeados. Foi mais longe ainda, ao defender a tese de que se sente uma necessidade permanente de sermos entretidos e de, mais grave, não pensarmos. Ao princípio, e porque somos sempre levados a ir buscar a nossa própria experiência, não concordei em absoluto com a tese. Afinal, não sendo nenhum Sherlock Holmes, cujo raciocínio dedutivo vencia os obstáculos mais difíceis enquanto ia tocando violino, sempre preferi também estudar e trabalhar ao som de música. Mas, na verdade, há aí uma grande diferença, tal como no próprio Sherlock Holmes. A música que oiço enquanto analiso uma tabela de dados, enquanto procuro as palavras mais adequadas para exprimir uma ideia, enquanto resolvo um kakuro, enquanto tento decifrar o mistério do Lost, enquanto, enfim, ponho os neurónios solitários a jogarem paint-ball uns com os outros, é escolhida por mim. Não estou a ser invadido pelas escolhas de outrem. Entretenho-me a mim próprio, por pior que isto soe. O António Pinho Vargas, que falava de um outro fenómeno, tocou mesmo num ponto essencial, afinal. Há por aí música a mais.

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