Não é habitual ver-se por cá guitarristas como ele. Apesar de arriscar tocar Paredes numa guitarra clássica com cordas de nylon, apesar de recuperar um ou outro tema de origem tradicional portuguesa, Norberto fá-lo de uma forma pouco ou nada ibérica, pouco ou nada europeia, o que agrada à nova geração indie, que agora recupera avidamente as raízes da folk americana, os blues, o bluegrass, o fingerpicking de guitarristas como John Fahey. É no fingerpicking, na doutrina da mão direita, que Norberto vai buscar o seu modus operandi. Sozinho, consegue providenciar toda uma gama de ritmos (leia-se groove) que tornava perfeitamente dispensável a companhia, ontem, do percussionista IanCarlo Mendonza. Não por culpa deste, que acabou por evidenciar de forma suprema o seu métier, e apenas com ajuda de uma lata de refrigerante, de um banco e do seu próprio corpo (coisas destas deviam aparecer no youtube...)
Como em Paredes, não é só a execução de um conjunto de peças musicais que sobe ao palco. O que ali se assiste é a uma relação, ora de amor, ora de arrufo (mas mais de amor do que de arrufo) entre músico e instrumento, entre sujeito e objecto. Norberto não é o mais exímio dos guitarristas, note-se. Erra e salta por cima das notas. Mas a música que oferece aos espectadores carrega um pulsar orgânico que poucos se podem gabar de conseguir transmitir.
Há que contar a toda a gente esta prodigiosa relação. Para quem não teve ainda oportunidade de o ver, aconselha-se a visita a www.myspace.com/norbertolobo.
(O trocadilho do título não é original. Confesso que o li algures e que desavergonhadamente o estou a roubar... Ah, e parabéns à Merzbau e ao Má Fama pela festa de ontem.)
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