JAJOUKA MAIS PERTO
Setembro de 2000
Os Master Musicians of Jajouka são uma instituição sólida da cultura marroquina. A "mais velha música da terra", como William S. Burroughs um dia a ela se referiu, é feita por este colectivo há vários milhares de anos, numa aldeia do sopé das montanhas Rif. Há menos tempo, há cerca de quarenta anos, o mundo ocidental descobriu-os pela mão de Brian Jones, guitarrista dos Rolling Stones, e desde essa altura muitos outros músicos, como os saxofonista Ornette Coleman e Maceo Parker ou os guitarristas Lee Ranaldo e Thurston Moore, dos Sonic Youth, visitaram a aldeia marroquina. A mais recente colaboração entre os dois mundos ocorreu recentemente, entre o colectivo e o produtor/DJ britânico de origem indiana Talvin Singh. O resultado ficou gravado num disco onde as "ghaitas" hipnotizantes e rudes de Jajouka se misturam com a electrónica do autor de "Ok". A Musicnet quis saber um pouco mais dos Master Musicians of Jajouka e falou, via telefone, com o actual líder do colectivo, Bachir Attar.
Como surgiu a ideia de gravar um álbum com Talvin Singh?
Há cerca de três anos eu estava à procura de um bom produtor, americano ou europeu, para este disco. A ligação ao Talvin Singh veio através da editora. Disseram-me que era um bom tipo, que podia falar com ele. Contaram-me também que ele tinha a ver com a música indiana e que tinha abertura de espírito e então eu disse que seria uma boa ideia. Ele trouxe um estúdio inteiro para a [nossa] aldeia e aí gravámos algumas coisas. Depois fui para Londres, onde gravámos as restantes faixas, no seu estúdio.
Foi o Talvin Singh que gravou os Master Musicians of Jajouka e que depois escolheu o que saiu e como saiu no disco ou foi uma decisão conjunta?
Algumas faixas trabalhámos em conjunto em Londres. Vivemos estas canções em conjunto. As restantes foi ele que as trabalhou.
Viveu a fase em que Brian Jones trabalhou em conjunto com a sua banda, nos anos 60?
Eu tinha apenas quatro anos e meio, mas lembro-me (risos).
E do que se lembra?
Ele permaneceu apenas uma noite na aldeia. Gravou, com a ajuda de um engenheiro de som dos Rolling Stones, uma longa noite de música. Lembro-me que foi uma noite diabólica. Era o primeiro tipo de cabelo comprido que aparecia na aldeia, mexia-se por todo o lado, dançava... Nós não sabíamos quem eram os Rolling Stones na altura, até à sua morte. E então alguém trouxe música dos Rolling Stones e eu ouvi pela primeira vez rock'n'roll e vi que ele era um grande músico. Nunca o vimos mais, obviamente, mas ele está na história de Jajouka para sempre.
Os Master Musicians of Jajouka são muito respeitados em Marrocos. Poderão estes encontros entre mundo árabe e mundo ocidental afectar de alguma forma esse respeito?
As pessoas ouvem muito a nossa música em Marrocos e não creio que isto possa afectar o respeito que sentem por nós. Isto é uma coisa fantástica porque podemos mudar a cultura, misturá-la, etc. O mundo de hoje é muito pequeno. Temos que fazer pontes entre a cultura de Marrocos e outras culturas. Toda a gente quer isto. Marrocos está muito aberto a outras culturas. É o país norte-africano que está, por excelência, aberto ao mundo. E temos um grande rei - Deus o abençoe - que apoia a verdadeira cultura de Marrocos. É por causa do nosso rei que a música tradicional de Marrocos tem sobrevivido. A música de Jajouka é bastante respeitada. A família real adora-nos e isso é muito bom porque podemos sobreviver.
Voltando ao disco, como é para a banda, que está habituada a tocar peças de longa duração, fazer faixas de cinco minutos ou menos?
Temos que ser como todos os outros... cinco ou seis minutos por canção. Julgo que não há problema nisso. Foi algo que não nos preocupou. É normal, acho.
É verdade que alguns dos vossos espectáculos demoram várias horas?
Temos um festival anual na aldeia - Pipes of Pan at Jajouka Festival - que é uma semana de música. E por vezes chegamos a tocar durante umas dez horas...
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