quarta-feira, 27 de abril de 2005

Mais bandas portuguesas de outros tempos que podiam ser (re)editadas

Sendo a próxima edição das canções perdidas dos Émasfoi-se um momento importante do rock português, como se falava ontem, a ocasião faz também lembrar que há mais património perdido nos tempos, à espera de ser recuperado. Assim sendo, aqui vai uma escolha breve:

1. OCASO ÉPICO
Origem: Lisboa; Época: anos 80.

"Muito Obrigado", o único álbum dos Ocaso Épico, não reflectia de uma forma inteiramente fiel o reportório avant-pop que o grupo do falecido Farinha apresentava nos concertos, mas é, ainda assim, um objecto incontornável da chamada música moderna portuguesa.

2. CORPO DIPLOMÁTICO
Origem: Lisboa; Época: 1979-80.

Talvez a versão que os Mão Morta fizeram recentemente de "Kayatronic" recupere o interesse das pessoas num dos mais importantes projectos pós-punk cá da terra. Na transição entre os Faíscas e os Heróis do Mar, os Corpo Diplomático sobreviveram pouco tempo, mas deixaram um documento, o álbum "Música Moderna", que merece ser reeditado um dia destes.

3. LUCRETIA DIVINA
Origem: Viseu; Época: transição 80s/90s.

José Valor faleceu há alguns meses, Rini Luyks é visto habitualmente pelas ruas da baixa de Lisboa já sem o seu acordeão às costas e Alagoa desapareceu sem deixar rasto. Os três formaram um dos mais divertidos e empolgantes projectos que a MMP conheceu. As danças de tradição europeia com um cheirinho de folclore francês dado pelo acordeão de Luyks, ao que se juntava as programações minimais e tuxedomoonianas de Valor mais a postura dramatico-provocatória de Alagoa, ficaram retratadas num único CD, editado sob condições mais ou menos obscuras, por volta de 1993.

4. OS PUNKS
Origem: essencialmente Lisboa e arredores; Época: essencialmente finais dos anos 70.

Não será um facto conhecido e até pode surpreender muito boa gente, mas a verdade é que os estilhaços do punk demoraram muito pouco tempo a fazerem sentir-se em Portugal, ou melhor, pela zona de Lisboa. Em 1978, os Aqui d'El Rock davam o seu primeiro concerto. Mais ou menos pela mesma altura, outros projectos declaradamente punk surgiriam, como os Faíscas, os Minas & Armadilhas ou os UHF. Tocavam mal que doía e tinham letras de fugir, mas existiram e alguns deles continuaram ou deram origem a outros grupos com peso mediático nos dias de hoje. Não eram muitos, mas tinham uma legião de punks fiéis que passava os concertos a fazer pogo e a cuspir para o ar. Poucos anos depois, viria ainda a vaga do hardcore, com os Ku de Judas, N.A.M. ou Crise Total, entre outros. Poucos registos sonoros terão sobrado e fala-se destes grupos quase como um biólogo fala de expécies extintas há milhões de anos. Pode ser um trabalho difícil, mas justificava-se uma compilação que recuperasse o punk português.

Certamente que muitos outros projectos ficaram esquecidos no tempo. Este é apenas um esforço de memória superficial, porventura demasiado centralizado na cena lisboeta, como espero que se entenda. Se tiverem outras ideias, deixem-nas em comentário. Não deixarmos de falar das coisas já é darmos um passo valente no sentido de não nos esquecermos delas.

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