terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os One Direction e o velho negócio

Já toda a gente sabe que os One Direction vêm novamente a Portugal, desta vez para um mega-espetáculo no Estádio do Dragão, depois de recentemente terem esgotado num ápice o Pavilhão Atlântico. Bem sei que forço a semântica nesta última frase um pouco para além do que é aconselhável: eles não vêm, eles virão, já que o concerto será apenas em julho do próximo ano; da mesma generosidade gramatical beneficia a associação direta desta vinda à última manifestação do fenómeno, ainda fresca nas notícias de espetáculo deste país e implícita na expressão "depois de recentemente". São, se calhar, percalços de linguagem em que ninguém repara, mas talvez seja interessante perdermos algum tempo a divagar sobre o assunto, que vai além da linguagem.

Até aqui há alguns anos, quando o mundo da pop era feito de artistas que conseguiam chegar ao topo e aí manter-se por longos períodos de tempo, mesmo quando a chama criativa, se é que alguma vez tivesse existido, se reduzia apenas à edição de coletâneas de sucessos e de reedições do catálogo passado, o modelo de negócio das editoras (e do meio em geral, ainda que aqui as editoras tivessem um destaque óbvio) passava por apostar nestes artistas enquanto jovens, com contratos frequentemente exploratórios (não sou eu que o digo, mas os artistas de sucesso de então, nas biografias e nos comentários que hoje vão fazendo aos tempos "antigos"). Em termos muito básicos, as editoras avançavam aos artistas quantias mais ou menos chorudas ao início, por conta de royalties e outros direitos futuros, e os artistas comprometiam-se a gravar mais dois ou três álbuns, se a editora exercesse o direito de opção. Alguns destes artistas, os que conseguiam chegar ao coração do grande público, garantiam a sustentabilidade financeira do negócio, permitindo que a editora continuasse a apostar noutros, mesmo que estes outros não viessem a conseguir subir ao topo. Basicamente, o sucesso de uns financiava o risco corrido com outros.

Mas, como tantas outras coisas que mudaram neste negócio, também estas longas carreiras de sucesso parecem ser história do passado. Frequentemente se ouve ou lê que já não é hoje possível manter aquele modelo de negócio. A "next-big-thing" ganhou definitivamente destaque na atenção dos media, do grande público, dos promotores de espetáculos, dos gestores das editoras, mas já não consegue vir a ser a tal "big-thing", pelo menos na medida e na duração de tempo em que outras foram no passado. Agora estamos mais na era do "sabor da semana", não é assim?

Voltemos ao concerto dos One Direction. A haver por parte da máquina que tem a ganhar com a boy band inglesa uma estratégia implícita na promoção do espetáculo com tamanha antecedência, talvez seja a de conseguir prolongar mais o tempo de vida do grupo, de fazer sentir junto do público que eles vão estar cá mais tempo do que tem sido habitual, particularmente neste tipo de música para a miudagem (ou, para usar de maior rigor, neste tipo de música que começa pela miudagem, como tanto artista da pop começou no passado). Mais, a corrida aos bilhetes do próximo dia 28 (vão esgotar em minutos, vão ver), vai garantir que o próprio público fica "agarrado" aos One Direction por quase mais um ano. E se a máquina conseguir fazer disto sistema, os One Direction (e outros) vão continuar nas notícias e vão ter menos motivos para terminarem a carreira, como tem acontecido a tantos outros. Talvez o público envelheça com eles. A coisa até pode vir a funcionar como funcionou no passado. Ou não, mas a máquina tentou.

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