terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A última vez?

Primeiro, que fique registado, os Young Gods são a segunda banda estrangeira que mais vezes vi ao vivo. Ontem foi a oitava. Não fui a tempo da estreia no antigo cinema Alvalade, com os Mão Morta, mas fiquei aterrado com eles na Voz do Operário, em Vilar de Mouros, naquele mítico concerto em que o palco andou alguns metros para trás, na ainda assim chamada Gartejo, no Técnico, duas vezes na Aula Magna e a penúltima, em 2007, num surpreendente formato acústico apresentado no São Jorge. Sempre os respeitei, mesmo ontem, no Santiago Alquimista.

Segundo, não menos importante, deve também ficar registado o facto de que, à partida e só por causa disso, nada tenho contra os velhos músicos que anda em palco com os seus mesmos grupos de há 30, 40 ou mais anos. Não é assim tão reduzida a proporção daqueles que continuam a ter mais sangue na guelra que qualquer malmequer acabado de florir numa sala de espectáculos lotada por hipsters adolescentes.

E os Young Gods eram, lamento usar o pretérito perfeito, assim. Em 2005, na Aula Magna, ainda estava ali tudo que me tinha deixado aterrado em 93, na Voz do Operário. Era impossível assistir ao concerto sentado. Mesmo em 2007, a surpresa acústica revelou um trio apostado em reinventar-se, em fazer contorcer as pequenas celulazinhas cinzentas de cada uma das cabeças do seu público. Quem conceberia que um grupo que durante anos e para uma inteira geração assumiu a ideia de um rock cheio de esteróides metido dentro de um teclado midi, quase-inovação tecnológica da época, se poria a recriar o seu reportório em formato acústico?

Mas ontem. O trio já não é trio. Agora apresentam um quarto elemento, mais jovem, que, ironicamente, nada de novo traz ao grupo, a não ser a inclusão de mais um bonequinho no logotipo e, não falemos muito dela, uma guitarra que faz solos a mais e que não justifica de todo a sua presença (ah, e um teclado mais moderno que o do senhor Al). O alinhamento deixou a nu as debilidades das composições mais recentes. A crueza das canções boas, se assim lhe pudermos chamar, deu lugar a tapetes sonoros debruados a arranjos pseudo-sofisticados, mas sem qualquer chama (uma das piores doenças a atacar as bandas mais idosas *). Praticamente só no encore, e já em formação de trio, vieram algumas das melhores canções do passado (e mesmo assim, só a partir do álbum "T.V. Sky", ainda que antes do encore tenha havido uma versão para "Envoyé"). O chamado encore do vamos-lá-dar-lhes-coisas-antigas-senão-eles-ainda-partem-isto-tudo. Há contudo, e genuinamente, que dar aqui valor aos Young Gods. Mais de 20 anos depois, não se limitam a arrastar-se pelos palcos com os mesmos temas de sempre. Têm álbuns novos e tocam-nos ao vivo. Podem não valer um chavo, mas estes veteranos não se deixam repousar à sombra dos antigos sucessos. Respeito.

* Um dia, quando arranjar um estetoscópio, dedico um artigo científico a esta doença. Ataca mais frequentemente quando as bandas deixam de ser um grupo de miúdos que não sabem tocar mas ensaiam todos os dias para terem as melhores canções e passam a ser um convénio de adultos, com as suas vidas, que compõem canções e arranjos cada um para o seu lado, cada um no seu ponto do globo terrestre, por vezes até com a participação de um produtor externo que molda todo o novo som do grupo.

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