quinta-feira, 1 de junho de 2006

ENTREVISTA: Badawi aka Raz Mesinai, o nómada

Raz Mesinai nasceu em 1973 em Jerusalém, mas desde muito novo que Nova Iorque é a sua cidade. E se ele sabe dizer onde fica a sua casa, mais difícil é tentar encontrar-lhe residência fixa na música. À parte das tradições médio-orientais que lhe correm no sangue, Mesinai tem vindo a absorver e a unir diversas outras formas de entender e trabalhar a música, da electrónica pura à electro-acústica, das técnicas do dub aos esoterismos do jazz moderno, do gira-discos de uma festa ao piano de cauda de um concerto. O seu currículo é igualmente diversificado, destacando-se as experiências na cena "illbient", com DJ Spooky e DJ Olive, as ligações à cena nova-iorquina que circula em torno de John Zorn, a sonorização de filmes e uma extensa e variada discografia repartida por várias editoras, como a Asphodelic, a ROIR ou a Tzadik.
"Safe" é o título do novo álbum editado sob o nome Badawi (provavelmente, o último). Desde logo, ajuda a perceber, para quem não conhecia nada até agora, que a biografia não era enganadora. Por ali passa mesmo um pouco disto e daquilo, num trabalho de fusão que é mais do que um simples trabalho de fusão e que só está ao alcance de verdadeiros músicos nómadas como Raz Mesinai (Bill Laswell, Jah Wobble e Marc Ribot seriam outros exemplos).
Raz Mesinai vai estar em Portugal, ao vivo, já neste próximo fim-de-semana. Na sexta-feira, dia 2, toca em Lisboa, na ZDB, num cartaz que inclui ainda Bryan Eubanks e Natasha Anderson (o 1º concerto começa às 23h). No dia seguinte, toca no Porto, inserido no programa das 40 horas non-stop da Fundação Serralves (o concerto de Mesinai está marcado para as 20h30).
E, agora, a entrevista, realizada recentemente por email:

Eyvind Kang na viola d?arco, Mark Feldman no violino, Marc Ribot na guitarra e toda a outra gente. Mais uma vez, reuniu um ensemble notável. Como conheceu e como veio a trabalhar no seio da cena downtown nova-iorquina?
O Elliot Sharp convidou-me para tocar numa das suas performances no The Cooler quando eu tinha cerca de 20 anos. Isso fez-me pensar muito em improvisação e eu acabei por me tornar frequentador habitual da cena, conhecendo mais tarde o John Zorn assim como muitos outros. Sempre fui um nómada que vaguei por várias cenas.
Como é que se processa, isto é, funciona como um grupo em tempo real, eventualmente respondendo a si como director, ou grava-os separadamente?
É uma coisa que varia de disco para disco. Tenho que chegar à melhor forma de obter um determinado efeito a partir dos músicos. Passa-se algo parecido com um director musical, mas eu também tenho composto muita música em papel primeiro.
Poder-se-á dizer que prossegue com o seu passado enquanto giradisquista, ao lado de DJ Olive e DJ Spooky? Isto é, colecciona e transforma as peças dos outros no seu trabalho próprio e único?
Na verdade, não. O giradisquismo é uma forma de xamanismo e também uma boa maneira de apreender o ritmo universal de que ando à procura.
Educado nas tradições médio-orientais, contaminado pela cena electro de NY e por tudo o resto como o hip hop, o dub, as novas formas do jazz, a composição clássica, as músicas do mundo, etc., acabou por dominar diferentes noções de música: os propósitos, as técnicas, os instrumentos, etc. Verdade ou não, os franceses dizem que ?Qui a deux femmes perd son ame, qui a deux maisons perd sa raison?. Como lida com isso?
Antes de mais, apenas tenho uma casa, que é Nova Iorque. E a minha música não é DO Médio Oriente. Apenas PASSA por lá. Para mim, é apenas som. Não penso em géneros, mas apenas no som.
Vê a percussão e o dub como possíveis pontes entre as diferentes culturas musicais? Que outras formas ou aspectos da música poderiam ter esta qualidade?
Não sei. Não tento salvar o mundo. Sou um anarquista e se não o posso ter no meu país, então insisto em fazê-lo na minha música.
Que Raz Mesinai estará presente nos concertos em Portugal? O pianista e percussionista? O programador? O director de ensembles? O giradisquista? Ou uma mistura de tudo isto?
Eu estou a atingir uma nova fase no meu trabalho. Não tenciono fazer mais discos sob o nome de Badawi. Sinto que só agora estou a sentir que a minha música está a chegar onde eu quero que chegue. Este disco, ?Safe?, já tem, na verdade, quatro anos. Daí que não mostre onde é que eu estou agora. O concerto vai dar às pessoas o sabor de um "trance" futurista livre de religião.

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