quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Cemitério do bairro

(nota: perigosa aproximação a conteúdo de diário nas próximas linhas.)
Ontem, após conversa com o meu amigo JFB, no intuito de ajudá-lo no trabalho de sociologia acerca do Bairro Alto, vim para casa a pensar nos antigos bares e tascas onde tantas noites foram passadas e que hoje não existem mais.

Gingão
Travessa da Boa Hora
Gingão, gingão, és a puta da confusão, como cantavam os Peste & Sida. Não seria tanto assim, ou melhor, não seria sempre assim. Seja como for, aquele ambiente de tasca decadente, com pouca luz, máquina de flippers, mesas sujas e frequência da fauna metálica lisboeta (eram sempre os mesmos) já não existe hoje... Até porque hoje, nu-metaleiro que se preze deve preferir sítios bem arejados, com luz e cores berrantes por todo o lado.

Marão
Travessa da Boa Hora
Mesmo ao lado do Gingão, a outra tasca era poiso habitual para os rockabillies (das colunas manhosas só saía rock'n'roll) e outra tribo que frequentemente se confundia com esta, os skinheads. Volta e meia havia zaragata na rua entre metálicos e skinheads. Ambas as tascas fecharam definitivamente há cerca de meia-dúzia de anos, quando a travessa entrou num complicado e demorado processo de obras. O sr. Henrique, dono (?) do Marão, era uma das pessoas mais simpáticas do bairro naquela altura.

Gráfico's
Travessa da Água da Flor
Não muito longe dali, em frente ao espaço onde hoje se situa a loja de discos AnAnAnA, e exactamente no mesmo sítio onde hoje funciona um novo bar radical cujo nome me escapa, ficava o Gráfico's. Já era, por oposição às referências anteriores, um bar, com luz sóbria, decoração sombria a apelar os "vanguardas" de então e música ambiente mais audível.

Bar da FAUL
Rua Teixeira
FAUL significa Federação da Área Urbana de Lisboa da Juventude Socialista e este era o bar que aquela organização manteve aberto para as traseiras durante algum tempo, até as queixas dos vizinhos tornarem impossível a sobrevivência do espaço naqueles moldes. Música sempre boa -- lembro-me de ser o único sítio até então onde tinha ouvido Jorge Reyes, por exemplo -- e decoração a fazer lembrar, mesmo que inadvertidamente, o "céu" do Twin Peaks. Foi o primeiro local em que vi ser servida a cerveja mexicana Sol Corona (blargh), anos antes de ela entrar para o goto dos portugueses.

Nova
Rua da Rosa
Felizmente, e apenas por culpa do Agito, que agora ocupa aquele espaço, não há grande espaço para saudades do Nova. Era simpático, calmo e serviu de inspiração a uma verdadeira praga -- hoje insuportável, não na altura -- de bares *cool*, com música *cool*, para pessoas *cool*.

Captain Kirk
Rua do Norte
Ouvi ontem dizer que o espaço onde esteve durante dois ou três anos o Captain Kirk é hoje um bar de betos, com televisões a passar imagens de desportos radicais. Aqui há uns sete ou oito anos era algo que talvez hoje esteja em falta no bairro, isto é, um sítio para onde se ir depois da uma da manhã e dançar ao som de bons DJs (na altura era a fezada do drum'n'bass em Lisboa).

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