A 6ª edição do Festival de Músicas do Mundo de Sines fica marcada na História a letras bem carregadas. O melhor cartaz de sempre (e não houve um mau concerto), o concerto do século (Tom Zé, ora) e um conjunto agradável de acções paralelas aos espectáculos do castelo.
Quinta-feira
À tarde, o ambiente no backstage era castiço. Aos poucos e poucos iam chegando os grupos de cante alentejano e demais músicos que acompanhariam à noite a Ronda dos Quatro Caminhos em palco (seriam mais de uma centena de elementos), afirmando o alentejano como língua oficial e espalhando a boa disposição por aqueles lados. De polaco ainda nada se ouvia, pois os Warsaw Village Band tinham perdido o voo para Portugal. Um percalço que não veio manchar a actuação explosiva do grupo ao fim da noite. Se a comparação é permitida, os Hednignarna dicilmente fariam melhor. Do lado dos alentejanos ficou a ideia que os grupos corais ali estavam apenas para fazer boneco.
Notas: Ronda dos Quatro Caminhos (6,5/10), Warsaw Village Band (9,5/10)
Sexta-feira
É o grande dia do festival. As dezenas de pessoas que encheram a capela da Misericórdia para ouvir Tom Zé na sua "conferência-de-não-conferencista" e os cinco ou seis milhares que assistiram ao seu concerto dificilmente terão abandonado Sines com opinião diferente. Por vezes rimos, por vezes chorámos, por vezes dançámos, por vezes saltámos e a toda a hora fomos levados por um moleque safado de 67 anos. Não há palavras suficientemente justas para Tom Zé, para as suas palavras, para as suas músicas, para a sua banda. O único senão desta sexta-feira esteve nas condições sonoras dos espectáculos, com volumes demasiado baixos para se poder assistir aos concertos noutros pontos do castelo que não as primeiras filas em frente ao palco, algo que já não se veria ou, melhor, ouviria no último dia. Talvez por isso tenha sido tão frio o concerto da grega Savina Yanatou. Talvez por isso as opiniões se dividam em relação ao espectáculo de jazz meets caraíbas de David Murray e Pharoah Sanders. Mas tanto num como noutro espectáculo houve momentos particularmente interessantes.
Notas: Savina Yannatou (7/10), David Murray e Pharoah Sanders (8/10), Tom Zé (10/10)
(Ah, dão-se alvíssaras às equipas de imagem que gravaram o Tom Zé tanto na capela como em palco...)
Sábado
A maior surpresa do festival, aqui para o tasco, foi Roberto Juan Rodriguez. Klezmer, muito klezmer, irrepreensivelmente tocado, com os timbalões de Rodriguez a evocar os ritmos da sua terra natal, Cuba. E Rodriguez é mesmo um colosso na bateria, algo que ficou por demais evidente no encore final. As muralhas do castelo de Sines não ruiram por pouco. A bela Rokia Traoré trouxe a sua revisão aos sons dos griots do Mali e para o fim um Femi Kuti em grande forma.
Notas: Septeto Roberto Juan Rodriguez (9,5/10), Rokia Traoré (7,5/10), Femi Kuti (8,5/10)
Concertos e outras actividades paralelas
Destaque para o concerto de Vítor Gama/Pangeia Instrumentos (9/10), na capela, local onde ainda tocaram os München (o apelo ao descanso, à cerveja, a uma cartada, etc., foi mais forte). No palco secundário, junto à praia, houve também bons concertos, com realce para as "kusturicadas" dos alemães Di Grine Kuzine (6,5/10) e dos portugueses Nike Ensemble (7/10). No sábado ainda tocaram os luso-cabo-verdianos Refilon (5,5/10), antes da sessão de giradisquismo a meias entre o escriba e o grande Mário Dias, que durou até às... 8 e tal da manhã!