Saí da Musicnet em Maio de 2002. O clima que estava instalado no Terravista era, conforme toda a gente sabia, bastante dramático. Não havia quaisquer perspectivas de futuro para aquele negócio. Mantinham-se os projectos que existiam a grande custo moral daqueles que os coordenavam. A piorar o cenário, as mudanças a nível de direcção do projecto global davam indícios de que tudo iria ser encaminhado para vias menos éticas e menos dignas de projectos como a Musicnet, o mais antigo orgão de comunicação social na Internet portuguesa (não falo apenas de música, falo do global). A mim calhou-me um director que vinha do departamento comercial da Rádio Cidade. Não me incomodava particularmente a forma incisiva e agressiva como ele queria tirar rendimento da Musicnet, porque, afinal, era aquilo que eu tinha exigido ao longo dos anos anteriores. Só assim a Musicnet poderia sobreviver. Incomodou-me mais saber que, de mãos dadas com aquela agressividade comercial, vinha um conjunto de ideias que eu apelidava de atropelos à ética jornalística, de atropelos ao respeito que tínhamos granjeado entre os leitores, de atropelos à imagem que a Musicnet, bem ou mal, havia conseguido instituir. Uma das ideias -- a pior delas -- era deixarmos de termos colaboradores para passarmos a servir de correia de transmissão aos press-releases dos eventuais novos "fornecedores de conteúdos": as editoras. Não pensem que aqui se pensava em diminuição drástica de custos, até porque o peso das remunerações dos colaboradores (entre os que eram pagos) nem representava muito na estrutura de custos do projecto. A ideia fantástica residia em conseguir obter receitas da parte dos "fornecedores de conteúdos". Ou seja, já não era apenas uma questão de publicar press-releases (tal como muitos orgãos hoje fazem, infelizmente), era ainda estar permeável à influência de fornecedores que pagavam para terem lá os seus conteúdos...
Houve mais motivos, mas só por estes -- ficar sem colaboradores e prosseguir um modelo de negócio sujo como o que estava na mesa -- teria que abandonar a Musicnet. Foi o que fiz, com grande pena, depois de mais de quatro anos cheios de boas histórias e de boa camaradagem. A Musicnet levou uma lavagem de cara -- diferente daquela que eu tinha proposto durante meses e que estava já a ser feita na altura de todos estes tumultos -- e continuou por mais algum tempo, a tentar prosseguir o fantástico novo modelo de negócio. Acabou.
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