domingo, 31 de agosto de 2003

A txalaparta é que me parte todo


Acabo de vir da Fábrica da Pólvora, do concerto do Kepa Junkera. Foi mais um óptimo concerto. Não vou falar muito sobre o Kepa, até porque fiquei um pouco incomodado (à falta de melhor termo) com a atitude um pouco irreconhecível dele nesta noite. O homem é um grande, grande músico. Não precisava de embarcar naquelas poses de show-man, de entertainer, a pedir palminhas e "laralas" do público. Este último já estava completamente rendido à forma como ele tocava a sua trikitixa (a concertina basca) e não havia qualquer necessidade de ser arrebitado por jogos de palmas agora à esquerda, agora à direita, agora ao centro, agora aqui, agora acolá. Faz isso quem não sabe envolver um público com a música. Não é o caso dele e da sua banda. E na sua banda há dois músicos incríveis que sempre me deixaram boquiaberto: Harkaitz Martinez e Igor Otxoa, os percussionistas da txalaparta, uma espécie de grande xilofone basco, composto por barrotes de madeira compridos. Nesta noite prestei atenção especial, durante todo o concerto, à forma como os dois tocavam. Dois músicos que tocam no mesmo instrumento uma frase musical comum a ambos, sem se atropelarem um ao outro e, por várias vezes, a uma velocidade estonteante. Não é o caso de estar um a marcar o ritmo e outro a fazer partes melódicas, ou de um fazer uma segunda voz do outro. Há uma melodia e um ritmo que são comuns aos dois, mas em que um toca o que o outro não toca. Imaginem o que seria dois guitarristas a fazer um único solo de guitarra. O primeiro a tocar uma nota e outro as duas seguintes, para depois voltar ao primeiro e assim sucessivamente. Já alguma vez viram uma coisa assim? Pois é isso exactamente que os dois bascos fazem na sua txalaparta. Não é impressionante, é "siamesco"!
Em jeito de nota de rodapé, vai daqui um protesto pelos preços do café da Fábrica da Pólvora -- o primeiro, não o bar junto ao palco. Um euro e meio por um café que sabe mal, que não é servido à mesa, que vem com colheres de plástico? Numa infraestrutura da Câmara Municipal de Oeiras? O sobrinho taxista do Isaltino passará por lá todas as semanas para conferir a caixa? Dava por mais bem empregue três ou quatro contos de reis para ver o Kepa Junkera do que um euro e meio por aquele café.

quinta-feira, 28 de agosto de 2003

Ainda os blogues na Wire

Do tal artigo sobre blogues na Wire, que referi mais abaixo, apetece-me fazer algumas citações de frases que eu julgo serem interessantes. O artigo foi escrito por Kodwo Eshun, que diz, entre muitas coisas, isto:

«The recent closure of music magazines Seven and Muzik confirmed what we already know: 99 per cent of music print media is fattaly compromised by its lack of vision and its commercial imperatives.»

«Some of these, like Simon Reynolds, Ian Penman, Philip Sherburne and Sasha Frere-Jones use their blogs as the id to their print media ego; the real-deal director's cut as opposed to the populist offline edits.»

«[a propósito de um dos blogues referidos:] scrambled zones that allow him [Tom Ewing] to access an ethical urgency in which music writing is as serious as your life.»

«Like all bloggers, Ewing is driven by a committed generosity; no one's getting paid, the network is its own reward.»

«In his occasional reviews for Uncut, Carlin seems cramped and awkward; the blog format allows him to strech out, uncensored.»

Deixo-vos também alguns dos blogues citados pelo jornalista:
minima-moralia.blogspot.com (Philip Sherburne, colega na Wire)
sfj.blogspot.com (Sasha Frere-Jones, músico - dos ui, por ex. - e também colega na Wire)
www.netcomuk.co.uk/~tewing/singlesb.html (Tom Ewing)
apawboy.blogspot.com (Ian Penman, colega na Wire)
k-punk.blogspot.com (Mark de Rosario)
...

Revista de imprensa: The Wire #235

A Wire deste mês, que traz os Matmos na capa, conta com artigos sobre Erase Errata, Leafcutter John, Eric Glick Rieman, Kaffe Matthews, Borah Bergman, Mike Kelley e Rob Geesin. O David Byrne, que tem uma banda sonora nova para o filme "Young Adam", onde trabalhou com várias bandas escocesas, é posto à prova na jukebox invisível deste mês, ao passo que na secção dos discos, podem ler-se críticas a, entre outros, Kraftwerk (e falam muito bem do novo álbum), ao regresso do Robert Wyatt e ainda ao quarteto português de improvisada Assemblage (Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Manuel Mota e José Oliveira). Há ainda um artigo interessante sobre blogues de música. Para o mês que vem regressa o Tapper, em formato duplo (até que enfim... as Wires do ano passado traziam quase todas CDs; este ano, nem por isso...).

Cidade o quê? À janela do quê?

Prólogo. Não gosto de ver músicos a participarem em publicidade. Goste ou não do trabalho deles, a partir do momento em que autorizam o uso da sua arte para vender telemóveis, cervejas, sabonetes, bolachas de água e sal ou alguidares de plástico, deviam deixar de passar a ser chamados de músicos. Chamem-lhes fornecedores de música. Ou fornecedores de conteúdos musicais. Não músicos.
Facto. Admito que nem todos vejam as coisas desta forma. Mas o que dirão os que se mostram indiferentes à música na publicidade ao mais recente anúncio radiofónico de um banco português, com a utilização de uma moda tradicional alentejana (de quem são os direitos?) popularizada por Vitorino. Chama-se -- a original -- "Menina Estás à Janela" e ouvi-a -- o anúncio -- há dois dias, numa rádio noticiosa privada. A letra é qualquer coisa como isto (vá, vão buscar à vossa memória a melodia e cantem):
Cidade estás à janela...
...do meu computador...
O que é que está à janela? E à janela de quem? Ridículo. Perfeitamente ridículo. E não fica por aqui Eu é que, felizmente, não me recordo de mais.
Do mal o menos: Sempre podiam ter ido pegar numa moda que nada dissesse aos portugueses, como o "Mary had a Lamb" ou o "Old MacDonald". Vá lá. Poder-se ia cantar "Maria tem uma cidade" ou "O velho Magalhães tem uma cidade, ialá ialá".
Epílogo. Já não há nada que lhes escape? Qualquer dia temos as marcas a serem mais importantes do que as bandas. Ah, ooops. Esqueçam. Isso já acontece nos Festivais de Verão.

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Finalmente, a chuva!

Adoro a chuva, principalmente quando ela vem acabar com a estação do ano que menos suporto, o Verão com o seu calor sufocante (só houve uma vez que terei vertido uma lágrima de tristeza com a chuva de final de Verão: foi no último episódio do "Verão Azul"! :>)
Quando era puto, andava sempre à chuva, com os headphones nos ouvidos (completamente encharcados -- sabe-se lá como nunca apanhei um curto-circuito). Um dos mais do que prováveis temas na altura seria este:

"Happy When it Rains"
Step back and watch the sweet thing
breaking everything she sees
she can take my darkest feeling
tear it up till i'm on me knees
plug into her electric cool
where things bend and break
and shake to the rule
talking fast couldn't tell me something
i would shed my skin for you
talking fast on the edge of nothing
i would break my back for you
don't know why, don't know why
things vaporise and rise to the sky
and we tried so hard
and we looked so good
and we lived our lives in black
but something about you felt like pain
you were my sunny day rain
you were the clouds in the sky
you were the darkest sky
but your lips spoke gold and honey
that's why i'm happy when it rains
i'm happy when it pours
looking at me enjoying something
that feels like feels like pain
to my brain
and if i tell you something
you take me back to nothing
i'm on the edge of something
you take me back
and i'm happy when it rains


Isto é, claro, Jesus and Mary Chain, do álbum "Darklands".

(esta posta foi lamecha demais para quem não pretendia que este blogue fosse assim... não será. é uma blogo-influência a corrigir urgentemente.)

Blogue puxa blogue

Andava eu entretido a ler o recomendável blogue Cimbalino quando dou por uma referência áquele que tenho para mim como o maior génio da música brasileira: o Tom Zé. Não é que o sacaninha também tem um blogue? E carregado de humor e sarcasmo, como não podia deixar de ser. Tomem lá esta passagem:
«Vejo com muita apreensão a intenção do Senado brasileiro que pretende indicar o nome de Sergio Vieira de Mello para o Prêmio Nobel da Paz. Faço um apelo aos Srs. Senadores para que não permitam que o nome deste homem íntegro misture-se a nomes nada recomendáveis. Seria um insulto à memória de Sérgio fazê-lo disputar este prêmio como nomes de seres abjetos, tais como Bush e Blair, indicados para o prêmio por uma besta norueguesa, em 09 de Maio, deste ano.»
Há mais, em www.tomze.blogger.com.br.

terça-feira, 26 de agosto de 2003

O susto ou como tirar rendimento da dislexia dos outros

Provavelmente esta história já deve ter acontecido a outros frequentadores de blogues. Tinha eu acabado de digitar o url deste blogue (ainda não lhe criei o atalho) e eis o meu espanto quando vou parar a uma página que tudo menos a ver comigo. Já me deram cabo do blogue, pensei. Mas não. Fui verificar o que tinha digitado e estava lá "blogpsot" em vez de "blogspot". Experimentem ir, então, a juramentosembandeira.blogpsot.com...

Em busca dos clubes recreativos

Tenho algum fascínio pelas colectividades ou clubes recreativos. Principalmente aqueles construídos em Lisboa (porque não conheço os outros) na primeira metade do século passado. Uma boa parte deles têm um palco pequeno desenhado de acordo com as inspirações da arte nova ou do classicismo. Há um imenso "subterrâneo" de locais destes a explorar (e a usar) em Lisboa. Principalmente nos tempos em que atravessamos, onde a falta de espaços para as bandas tocarem na capital é gritante. No outro dia fui assistir a um festival de bandas de rock -- o 1º Sonic Fest (espero que haja mais) -- num desses clubes recreativos, o da Associação Os Combatentes, ali entre a Estrela e os Prazeres. Isso inspirou-me para ir coligindo uma lista de espaços do género. Segue-se o que reuni até agora. Se alguém conhecer outros, que deixe a sugestão.
CAIXA ECONÓMICA OPERÁRIA (R. Voz do Operário) - já lá trabalhei, integrado na Associação O Grito; o espaço tem uma sala com palco e um mezanino; lotação: aí umas 500 pessoas (ou mais); tem bar e um pequeno PA de som e luz.
OS COMBATENTES (entre a Estrela e os Prazeres) - tem uma sala, com palco, para umas 500 pessoas; tem bar bem equipado ao lado.
? (Braço de Prata/Poço do Bispo) - tem uma sala, com palco, para umas 500 pessoas; não sei como aquilo está agora; aqui há uns 15 anos, na altura em que eu ia lá frequentemente, pois duas bandas de amigos meus lá ensaiavam, parecia já estar num estado avançado de decadência.
RITZ CLUB (Rua da Glória) - o mais conhecido de todos os espaços, dada a actividade que por lá existiu há anos; os sócios do espaço desentenderam-se e o caso está em tribunal a aguardar por um futuro mais risonho.
COMUNA (Praça de Espanha) - o café-concerto da Comuna não entra a 100% na definição de clube recreativo que dei mais acima, mas acaba por ter muitas semelhanças, entre as quais o facto de estar sub-aproveitado; tem uma sala aí para umas 600 pessoas, com palco e bar; creio que existe um PA mínimo de som e luz.
CLUBE MUSICAL JOAQUIM XAVIER PINHEIRO (ao lado do Estádio de Alvalade) - não conheço; quem mo sugeriu lembrou-se dos concertos de punk que por lá já aconteceram.
CLUBE PRIMEIRO DE JANEIRO (Bairro Alto - Rua da Atalaia) - Há uns 10/12 anos assisti lá a um concerto de Tina & The Top Ten e Ena Pá 2000, se não me falha a memória; É pena que não tenha sido aproveitado para mais coisas - aquele ringue de boxe dá-lhe um toque muito especial.
SOCIEDADE FILARMÓNICA JOÃO RODRIGUES CORDEIRO (Rua da Fé - Freguesia de S.José) - É onde se instalou a mais recente (já com uns largos anos) versão da Jukebox. Do que me recordo, tem um palco e uma sala bem grande.

segunda-feira, 25 de agosto de 2003

Regresso ao passado #1: Ik Mux

Todas as segundas-feiras (assim espero) hei-de ligar a máquina do tempo e recordar o melhor da música que se fazia em Portugal. Nesta primeira vez, trago à memória os Ik Mux.
Surgiram em 1986, em Lisboa. A formação mais sólida, aquela que gravou o disco "Alma do Insecto", contava com Paulo Coelho (More República Masónica), Armando Teixeira (ex-Da Weasel, Bizarra Locomotiva, Balla, Bulllet, etc.) e Luís Paiva. A atitude dos Ik Mux era bastante inovadora para a altura, em Portugal. Um sintetizador, uma caixa de ritmos, uma guitarra e a voz de Paulo Coelho preenchiam os requisitos do que era na altura o chamado rock industrial, apanhando ainda a fase da experimentação dos novos meios tecnológicos ao serviço da música. Em 1991, se não me falha a memória, ganharam o primeiro lugar de um concurso patrocinado por uma rádio nacional e uma bebida norte-americana. Lembro-me relativamente bem dessa noite na Alameda D. Afonso Henriques. As restantes bandas finalistas eram paupérrimas, mas ainda assim não foi nada fácil aos Ik Mux conseguirem algum respeito do público que estava presente. Afinal, havia um tema chamado "Novo Estado Novo", onde estava samplada a voz de Salazar, o que provocou uma enorme confusão entre o público, a quem Paulo Coelho se dirigiu no final do tema: "esta é dedicada a todos aqueles que não compreendem uma ironia". Esse primeiro lugar possibilitou aos Ik Mux a gravação de um CD, que só viria a sair bastante tempo depois (um ano? dois anos?), numa altura em que o projecto estava já a acabar. Talvez por isso, o disco não tenha saído tão conseguido como se esperaria.
Deixo disponível o tema "Lugosi e Garbo", possivelmente a minha faixa preferida de Ik Mux, gravado ao vivo no tal concerto da Alameda: download.
(Atenção que, como o meu espaço no servidor da netcabo não é ilimitado, só poderei apresentar um tema por semana, apagando sucessivamente os mp3s da semana anterior.)
Ah, existe ainda um site sobre os Ik Mux: aqui.

Histórias da Musicnet. Parte 1: A marcha dos press releases

Já há algum tempo passou desde que deixei a Musicnet.pt. Creio também que já passou um ano desde que ela acabou, por isso sinto que posso falar à vontade deste tema. Alguns poderão ver naquilo que agora publico um crime de falta de lealdade profissional, ainda que póstuma, mas nesse campeonato dos valores acho que ainda tenho vantagem suficiente para não me preocupar com o que tenho para dizer. Outros, no entanto, poderão achar que estou a contar estas histórias tarde demais. Não me interessa.
Saí da Musicnet em Maio de 2002. O clima que estava instalado no Terravista era, conforme toda a gente sabia, bastante dramático. Não havia quaisquer perspectivas de futuro para aquele negócio. Mantinham-se os projectos que existiam a grande custo moral daqueles que os coordenavam. A piorar o cenário, as mudanças a nível de direcção do projecto global davam indícios de que tudo iria ser encaminhado para vias menos éticas e menos dignas de projectos como a Musicnet, o mais antigo orgão de comunicação social na Internet portuguesa (não falo apenas de música, falo do global). A mim calhou-me um director que vinha do departamento comercial da Rádio Cidade. Não me incomodava particularmente a forma incisiva e agressiva como ele queria tirar rendimento da Musicnet, porque, afinal, era aquilo que eu tinha exigido ao longo dos anos anteriores. Só assim a Musicnet poderia sobreviver. Incomodou-me mais saber que, de mãos dadas com aquela agressividade comercial, vinha um conjunto de ideias que eu apelidava de atropelos à ética jornalística, de atropelos ao respeito que tínhamos granjeado entre os leitores, de atropelos à imagem que a Musicnet, bem ou mal, havia conseguido instituir. Uma das ideias -- a pior delas -- era deixarmos de termos colaboradores para passarmos a servir de correia de transmissão aos press-releases dos eventuais novos "fornecedores de conteúdos": as editoras. Não pensem que aqui se pensava em diminuição drástica de custos, até porque o peso das remunerações dos colaboradores (entre os que eram pagos) nem representava muito na estrutura de custos do projecto. A ideia fantástica residia em conseguir obter receitas da parte dos "fornecedores de conteúdos". Ou seja, já não era apenas uma questão de publicar press-releases (tal como muitos orgãos hoje fazem, infelizmente), era ainda estar permeável à influência de fornecedores que pagavam para terem lá os seus conteúdos...
Houve mais motivos, mas só por estes -- ficar sem colaboradores e prosseguir um modelo de negócio sujo como o que estava na mesa -- teria que abandonar a Musicnet. Foi o que fiz, com grande pena, depois de mais de quatro anos cheios de boas histórias e de boa camaradagem. A Musicnet levou uma lavagem de cara -- diferente daquela que eu tinha proposto durante meses e que estava já a ser feita na altura de todos estes tumultos -- e continuou por mais algum tempo, a tentar prosseguir o fantástico novo modelo de negócio. Acabou.

A surpresa, algumas horas depois

Estou francamente surpreendido. Algumas horas depois de ter dado início a este blogue, já existe um comentário à primeira posta. O extraordinário disto é que não lhe fiz qualquer publicidade... A única pessoa a quem ontem, às três da manhã, indiquei o url do blogue foi o meu amigo João Gonçalves. E ele jura que não contou a mais ninguém. Isto é um excelente ponto de partida para começar a mudar a minha ideia em relação à visibilidade dos blogues. Obrigado Rui, quem quer que sejas.

O arranque

Depois de meses a dizer para mim próprio que não iria fazer um blogue, eis que dou por mim a escrever a primeira posta do "Juramento sem Bandeira", aproveitando uma pausa na cansativa tarefa que tem sido, nestes últimos meses, a biografia dos Mão Morta.
Esta mudança repentina deve muito ao interesse com que fui descobrindo todos estes gadgets, do design do template às funcionalidades do blogger.com, dos comentários do enetation.co.uk a todos os outros add-ons que por aí circulam e que eventualmente virei a experimentar. Mas deve também ao entusiasmo que sinto neste momento por poder vir a encher este espaço de assuntos, ideias, questões, desabafos, etc. Não pretendo que isto seja mais um blogue como muitos outros que nestes últimos dois anos vieram a rebentar, quais diários íntimos dos Adrian Moles do século XXI. Não interpretem isto como uma crítica. Afinal, os blogues existem para isso mesmo e para muitas outras coisas, isto é, para se fazer deles o que cada um entender. No "Juramento sem Bandeira", a filosofia de partida é -- e também me reservo a esse direito -- diferente, ainda que não inédita, naturalmente. Mesmo que isto possa ser lido como um diário, não será um diário exclusivamente meu. A curto prazo vou convidar outras pessoas, com quem partilho de alguns pontos de vista (ou não) para também irem participando.
Não tenho grande prazer em definir regras, mas acho que convém, aqui já à partida, balizar o universo de opções que pretendo seguir neste blogue. Quando há quinze anos ouvia o "Juramento sem Bandeira", dos Pop Dell'Arte, de cuja letra citei um excerto que ficará patente na divisa deste blogue, havia ali algo de utópico que me fazia acreditar que o mundo não tinha de sucumbir por inteiro à avalanche da uniformização, dos gostos iguais por todo o lado, dos pontos de vista universais. Decorrido este tempo, talvez seja mesmo verdade que "todos os fascistas no poder se transformaram em balas perdidas na multidão", sendo, daí, mais do que altura de "sairmos à rua, sermos mais fortes" e de "nada nos calar, nada nada nos debelar". Esta é, talvez, uma via tímida e bastante modesta (mas talvez das poucas ao alcance de cada um de nós, nos dias que correm), de fazer cumprir esse juramento. É pouco visível? Certamente! Quem mais do que eu e dos amigos que eu convidar irá visitar este blogue? :)
Mais concretamente, vou aproveitar este blogue para falar da música (e provavelmente de outras artes) que vai acontecendo por cá (e possivelmente também lá por fora -- ainda não me decidi). Falar de concertos nas nossas salas. Falar de novas e velhas bandas portuguesas. Deixar questões sobre a forma como as coisas vão acontecendo. Lançar ideias.