A aldeia de Cem Soldos, em Tomar, é grande. Não chega ao tamanho de uma vila, mas quase. E tem vida. Claro que neste fim-de-semana até tem vida a mais, mas não é difícil de perceber que, pela quantidade de cafés e restaurantes ali existentes (há desde tascas como as que se querem numa aldeia a coisas mais modernaças com nomes como... "Casa das Ratas"), e ainda pelas excelentes estradas que a servem, é uma aldeia viva. E, apesar deste dinamismo aparente, moeda cujo reverso é normalmente a descaracterização urbana e paisagística que encontramos noutros locais semelhantes ao longo deste país, é uma aldeia ainda bonita. Junte-se a isso o facto de estar a um tirinho de Lisboa, Porto ou Coimbra, e temos as condições ideais para a realização de um festival, como este Bons Sons, que ali é organizado, dois a dois anos, desde 2006.
O festival cresceu muito, diz quem foi às edições anteriores. E percebe-se, quando neste fim-de-semana, que é a primeira edição paga (ainda que apenas uns meros seis euros por dia ou 10 pelo festival completo), o povo acorre aos milhares à aldeia. Há um lado menos bom nisto e que ontem me impediu de ver a Lula Pena e o Norberto Lobo na igreja, que encheu enquanto o diabo esfrega o olho. Faltou à organização lembrar-se, por exemplo, de estender o PA para as ruas ou até mesmo chegar à perfeição com o acrescento de écrans com transmissão de imagem. Mais tarde, também, tornou-se praticamente impossível ver os Diabo na Cruz no palco secundário, numa rua estreita da aldeia. Deu para ouvir, contudo.
E então, o que deu para ver? B Fachada, por exemplo. Foi uma actuação magnífica, que começou com um dos temas que ele vai incluir no álbum de Natal para crianças que está a preparar. E alguém que faz uma canção infantil em que o refrão é "Que se lixe o Pai Natal, que se lixe o Pai Natal" só pode ser boa pessoa. Foram tocados quase todos os temas de "Há Festa na Moradia" (pena que tenha faltado o próprio tema que dá o título ao EP) e outros de discos anteriores, com a boa disposição, o humor e o sarcasmo a roçar a arrogância que fazem parte do universo B Fachada. Mais tarde, os Diabo na Cruz, que tiveram novamente B Fachada em palco, lado a lado com o mentor Jorge Cruz, secção rítmica e teclado, deram a mostrar aos ignorantes (como eu) que já são um fenómeno bastante popular, com imensa gente a cantar todas as letras de cor. E são muito bons quando estão, por exemplo, no registo das polifonias populares portuguesas, mas espalham-se ao comprido por vezes, na opinião daqui, quando uma banalíssima secção rítmica os transforma numa banda de música ligeira, como se dizia antigamente, quando também eram frequentes estas bandas, com arranjos a arruinarem o talento de grandes vozes deste país nos anos 80 e 90. Até os Sitiados, o ponto de referência mais próximo dos Diabo na Cruz quando olhamos para trás, passaram por isso. E francamente não valia a pena assassinarem o "Lengalenga" dos Gaiteiros. Mais para o fim da noite ainda houve Dazkarieh, com um espectáculo muito aborrecido, e Terrakota, que já não vi por estar a caminho de Lisboa. E esta noite, quem quiser e puder, ainda vai a tempo de chegar para ver o grande nome desta edição: Fausto.
Daqui a dois anos, volta a haver motivos para ir Cem Soldos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários antigos, da haloscan/echo, desapareceram. Estão por isso de regresso estes comentários do blogger/google.