Ou talvez não. Mas há quem utilize a ferramenta de forma que só pode ser classificada de genial. Um desses casos é o do inglês David Thomas Broughton, que passou nestes dias por Portugal, para concertos no Mercado Negro, em Aveiro, e na ZDB, em Lisboa. Podem ir ouvi-lo ao myspace, mas não vão perceber por inteiro, como eu não percebi ao final desta tarde, o que ele consegue fazer da sua actuação. Toca guitarra como um folkman inglês do tempo de Donovan, de Vashti Bunyan ou da Incredible String Band. Tem um vozeirão incrível, comparável em parte a Nick Drake ou ao mais recente Antony. Mas é na utilização descomprometida e lúdica dos loops que a sua genialidade sobressai. Do nada, de onde não se espera, surge matéria para fazer uma e outra e ainda mais outra camada de som que se complementam de forma soberba. Do arrastar da cadeira, faz-se um ritmo. De um sussurro, faz-se um ambiente. Com o som de rewind de um walkman ou de um ukelele, faz-se um solo que arranca sorrisos da assistência. Só com vozes -- e que voz que ele tem, não é de mais repeti-lo -- faz-se um coro a capella. E, ao contrário do que acontece com a generalidade dos outros viciados em loops, as camadas não duram ad aeternum. Nem há propriamente as canções do costume para os loopers, com o irritante início de "fazer a cama". Há um longo set, inspirado, sem pausas, que agarra o espectador, curioso que fica pelo que pode acontecer a qualquer instante. É o concerto do ano, para já, aqui por estas bandas.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Farto dos loops (ou talvez não)
Farto dos loops. Desde há alguns dois ou três anos para cá, com o desenvolvimento do mercado dos concertos de pequena envergadura, tem-se visto nos nossos palcos muitos músicos a solo, alguns deles elementos de bandas bastante conhecidas, a apoiar-se num looper para fazer algo que se aproxima, em teoria, do som de uma banda completa. Em teoria. O músico traz a sua guitarra e os pedais miraculosos da Boss ou de outras marcas. Mete o resguardo, grava. Mete o lençol de baixo, grava. Mete o lençol de cima, grava. Mete o cobertor, grava. Não é raro o caso em que, à custa de tanta repetição do processo, levamos a metáfora a sério e deixamo-nos atacar pelo sono. O Final Fantasy, dos Arcade Fire, faz a cama, o Andrew Bird faz a cama, o Fabrizio Palumbo, que no outro dia estava na primeira parte do Michael Gira, faz a cama. Até a Louise Rhodes, dos Lamb, terá feito a cama no concerto do Santiago Alquimista. E a lista de músicos que têm cá vindo mostrar-se desta forma é infindável. Há casos em que, por uma razão ou outra, o processo, apesar de formalmente idêntico a todos os outros, até acaba por ter algum interesse, como têm demonstrado os concertos a solo do Tó Trips. Mas, na maioria dos casos, convenhamos, já chega.
Ou talvez não. Mas há quem utilize a ferramenta de forma que só pode ser classificada de genial. Um desses casos é o do inglês David Thomas Broughton, que passou nestes dias por Portugal, para concertos no Mercado Negro, em Aveiro, e na ZDB, em Lisboa. Podem ir ouvi-lo ao myspace, mas não vão perceber por inteiro, como eu não percebi ao final desta tarde, o que ele consegue fazer da sua actuação. Toca guitarra como um folkman inglês do tempo de Donovan, de Vashti Bunyan ou da Incredible String Band. Tem um vozeirão incrível, comparável em parte a Nick Drake ou ao mais recente Antony. Mas é na utilização descomprometida e lúdica dos loops que a sua genialidade sobressai. Do nada, de onde não se espera, surge matéria para fazer uma e outra e ainda mais outra camada de som que se complementam de forma soberba. Do arrastar da cadeira, faz-se um ritmo. De um sussurro, faz-se um ambiente. Com o som de rewind de um walkman ou de um ukelele, faz-se um solo que arranca sorrisos da assistência. Só com vozes -- e que voz que ele tem, não é de mais repeti-lo -- faz-se um coro a capella. E, ao contrário do que acontece com a generalidade dos outros viciados em loops, as camadas não duram ad aeternum. Nem há propriamente as canções do costume para os loopers, com o irritante início de "fazer a cama". Há um longo set, inspirado, sem pausas, que agarra o espectador, curioso que fica pelo que pode acontecer a qualquer instante. É o concerto do ano, para já, aqui por estas bandas.
Ou talvez não. Mas há quem utilize a ferramenta de forma que só pode ser classificada de genial. Um desses casos é o do inglês David Thomas Broughton, que passou nestes dias por Portugal, para concertos no Mercado Negro, em Aveiro, e na ZDB, em Lisboa. Podem ir ouvi-lo ao myspace, mas não vão perceber por inteiro, como eu não percebi ao final desta tarde, o que ele consegue fazer da sua actuação. Toca guitarra como um folkman inglês do tempo de Donovan, de Vashti Bunyan ou da Incredible String Band. Tem um vozeirão incrível, comparável em parte a Nick Drake ou ao mais recente Antony. Mas é na utilização descomprometida e lúdica dos loops que a sua genialidade sobressai. Do nada, de onde não se espera, surge matéria para fazer uma e outra e ainda mais outra camada de som que se complementam de forma soberba. Do arrastar da cadeira, faz-se um ritmo. De um sussurro, faz-se um ambiente. Com o som de rewind de um walkman ou de um ukelele, faz-se um solo que arranca sorrisos da assistência. Só com vozes -- e que voz que ele tem, não é de mais repeti-lo -- faz-se um coro a capella. E, ao contrário do que acontece com a generalidade dos outros viciados em loops, as camadas não duram ad aeternum. Nem há propriamente as canções do costume para os loopers, com o irritante início de "fazer a cama". Há um longo set, inspirado, sem pausas, que agarra o espectador, curioso que fica pelo que pode acontecer a qualquer instante. É o concerto do ano, para já, aqui por estas bandas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários antigos, da haloscan/echo, desapareceram. Estão por isso de regresso estes comentários do blogger/google.